quinta-feira, 4 de maio de 2023

Botafogo: e a lagarta virou borboleta...

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

O Botafogo é líder isolado do Brasileirão com 3 vitórias em 3 jogos e a 2ª equipe com mais gols marcados, apresentando-se, contudo, como a equipe com menos posse de bola e a 2ª com menos finalizações.

O Botafogo tem, em média, apenas 32,7% de posse de bola e apenas um gol a menos do que o vice-líder Fortaleza, que também se apresenta como a 3ª equipe com menos posse de bola (39,7%), o que significa que os seus ataques são tão mortíferos que dispensam a posse de bola e possuem alto nível de eficácia.

Ao contrário, o America é o lanterna vermelha, apesar de a sua posse de bola estar a meio da tabela (10ª posição) dividindo-a com os adversários (49,7%). Portanto, posse de bola não é algo necessariamente determinante no futebol atual e talvez Botafogo e Fortaleza sejam as equipes que melhor sabem jogar sem bola no futebol brasileiro – e tal como já referi bastantes vezes, diversos clubes conquistaram os mais importantes títulos do planeta jogando com bola apenas 30 minutos e sem bola os restantes 60. Essencial nesse sistema de jogo é possuir um goleiro muito acima da média.

A nossa equipe finalizou apenas 29 vezes e marcou 7 gols, precisando apenas de 4 finalizações para marcar e obtendo assim um altíssimo aproveitamento, o que quer dizer que praticamente só finaliza em situação de grande probabilidade de fazer gol, pelo que o percentual de finalizações bem-sucedidas é muito mais elevado do que os remates dos adversários.

Naturalmente que também teremos insucessos e que as dinâmicas de jogo irão mudando à medida dos contextos e dos adversários, mas o que se passa atualmente é uma espécie de ‘mudança radical’ de paradigma.

Efetivamente, os índices anteriormente mencionados (posse de bola, finalizações e gols) mostram que o Botafogo dispõe de um modelo de jogo marcante e atua com uma linha de defesa alta pressionando o adversário, situação que lhe permite recuperar a bola quando o adversário erra e efetuar lançamentos verticais nas costas do adversário em transições ofensivas velozes. Ao contrário do Flamengo, que tem a maior posse de bola à 3ª rodada e está em posição intermédia na classificação geral, o Botafogo não ‘cozinha’ a bola ao seu antigo estilo tiki-taka como faz o Flamengo, oferece a bola ao adversário e rouba-a no momento mais oportuno para movimentar o placar.

Nesses contra ataques rápidos a busca por Tiquinho é constante, mas a equipe também encontra outras alternativas pelas pontas ganhando pênaltis, faltas e escanteios ou cruzando diretamente para a área porque o Botafogo atual tanto defende como ataca em bloco e coloca rapidamente 4 ou 5 jogadores na área.

Em qualquer caso, o Botafogo treina muito bem as bolas paradas e o jogo aéreo: se não marca de cabeça após cruzamento a partir das alas, aproveita as faltas e os escanteios para lançar a bola na área e marcar de cabeça. Mas a versatilidade é ainda maior, porque há jogos em que o Botafogo ganha exclusivamente com gols de bola parada, outros exclusivamente com gols de cabeça, outros ainda com bola rolando no gramado, outros ainda mesclando as diversas maneiras de fazer gols.

Isto significa que Luís Castro mudou radicalmente a forma de jogar, prescindindo da posse de bola que caracterizava a equipe, oferecendo a bola ao adversário e ‘matando-o’ súbita e inesperadamente através de múltiplas variações em transições rápidas, com toda a equipe subindo ao território adversário mediante uma clara melhoria de velocidade, de passe e de automatismos posicionais.

Tenho expressado muitas vezes o lema “ousar criar, ousar vencer”, adaptado do lema “ousar lutar, ousar vencer”, porém, Castro parece-me ter juntado os dois para “ousar criar, ousar lutar, ousar vencer”. Isto é, 10% de criação e 90% de muita luta com foco exclusivamente na vitória.

Na verdade, Castro ousou reinventar-se e levou cada jogador a aplicar-se numa luta titânica para vencer, o que foi menos difícil para eles do que para Castro, que teve que reformular as suas convicções de longa data e adaptar-se às características de cada jogador, porque este elenco não se adaptou ao jogo de propositura com posse de bola, sobretudo porque, devido a lesões e suspensões, a equipe variava muito de titulares e funcionava com metade de jogadores de qualidade e outra metade muito abaixo do mínimo exigível. Porém, perante as mudanças operadas, souberam explorar melhor determinadas características próprias mais ajustadas ao novo modelo objetivo, direto e focado muito mais na eficácia (resultado) do que na eficiência (processo), simplificando a eficiência em favor do aumento exponencial da eficácia, fazendo correr mais a bola do que o jogador e poupando energias para algo que seja preciso fazer na reta final das partidas.

Como já escrevi anteriormente, a comissão técnica abandonou o futebol de posse de bola burocrática com lateralizações típicas do tiki-taka - que basicamente funciona em equipes de muito grande qualidade técnica - e preparou uma arrumação tática predominantemente eficaz e resiliente, facilitando a reinvenção da própria equipe no terreno, a qual entendeu a estratégia, interiorizou o sistema tático, fortaleceu a mente e robusteceu o físico – agindo dinamicamente sob o lema de “mentalidade, foco e intensidade”.

E foi assim que a lagarta se transformou em borboleta!

5 comentários:

leymir disse...

Espetacular!

Contra o Flamengo o esquema foi tão eficaz, que mesmo com um a menos marcou outro gol.

O que me deixou mais impressionado foi o nível de concentração muito alto, que não ruiu sequer com a inferioridade numérica e expulsão do técnico.

É certo que times que jogam como o BFR, se dão ainda melhor quando enfrentam times como o CRF.

O esquema do Botafogo é quase um contra-veneno a esquemas como o do Flamengo.

Estou curioso para quando o BFR jogar com times tecnicamente inferiores a ele, tenho impressão que isso já habita a mente do treinador.

Um grande abraço!





Ruy Moura disse...

Os jogadores eram péssimos no foco (concentração) e na intensidade. Ganharam as duas coisas e isso ajudou muito a reforçar a mentalidade. Entre os piores jogos e os últimos (melhores) vai uma diferença da água para o vinho. Sendo que o vinho tem um quê de cálido e a água é insossa. Eu até andava pálido, mas agora estou bem coradinho. (rs)

Abraços!

leymir disse...

Hahahahahah

Ri alto!

Abraço meu amigo corado! Corado e não colorado!

jornal da grande natal disse...

Kkkkk (rosto rosado). No comentário me chamaram a atenção, significamente, as três ou quatro últimas linhas do penúltimo parágrafo. Lembra o maestro Didi. Exatamente isso que o time precisava. O arranque no momento certo.

Mundo Botafogo disse...

Sim, Vanilson, é uma velha máxima, que continua verdadeira!
Abraços Gloriosos.

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