
por Lorismario E. Simonassi
Escrito para Mundo Botafogo
Era o ano de 1953. Eu havia completado cinco anos no mês de abril. Filho mais novo e com mais quatro irmãos morávamos em uma pequena cidade do interior do Estado do Espírito Santo, às margens do Rio Doce que descia lá das serras de Minas Gerais. A cidade se chama Colatina em homenagem à esposa de Muniz Freire, ex- governador lá pelos anos de 1930, se bem me lembro de datas históricas.
Certo dia de 1953 meu pai chegou em casa com dois pacotes e disse aos filhos: “aqui está um álbum de figurinhas de jogadores de futebol”. Cada figurinha com a estampa de um jogador vinha embrulhando uma balinha que rapidamente era desembrulhada por todos os vascaínos da família, ou seja, meu pai, minha mãe, minhas duas irmãs e dois irmãos. Lembro-me como se fosse hoje. As figurinhas dos jogadores do Vasco da Gama eram disputadas por todos. Eu, muito criança, gostava mesmo das balinhas e de olhar as cores das camisas.
Os dias foram passando e gradualmente as páginas coladas com as figurinhas iam completando cada um dos times. Havia uma página que tinha poucas figuras coladas, mas me chamava atenção porque eram listradas em preto e branco. Não que não olhasse as demais, especialmente a do América, pois era toda vermelha.
Aproximadamente uns dois meses depois o álbum estava quase totalmente completo. Não éramos a única família a colecionar na rua onde morávamos. Havia à época um outro hábito dominical que era sentar-se aos domingos à tarde na porta das casas e ouvir a Rádio Nacional do Rio de Janeiro transmitir os jogos de futebol. Depois de encerradas as partidas, os comentários dos vizinhos sobre os resultados eram variados. Vasco e Flamengo eram os preferidos da maioria, quase unanimemente.
Em um domingo deste ano meu pai chegou para mim e me perguntou: “e você Loris, também torce para o Vasco, não é meu filho?”. Olhei para os quase 1.90 m de altura de meu pai e abaixei a cabeça sem responder nada. Meu pai não se importou. Passados mais alguns dias, tomado de uma coragem hercúlea, me aproximei de meu pai e lhe perguntei se eu não podia torcer pelo Botafogo. Para minha surpresa ele me disse que sim, mas só se eu dissesse alguns nomes de jogadores do Botafogo. Para surpresa dele eu mandei na hora: Gilson, Gerson e Santos. Aratí, Bob e Juvenal. Garrincha, Dino, Carlyle, Gino e Vinícius. É que meu irmão mais velho havia me ensinado o nome dos onze jogadores do Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo. Sei recitá-los até hoje.
Os anos passaram-se rapidamente e eu, com a devida permissão, ouvia pelo rádio os jogos do Botafogo. Quando perdia, eu chorava. Minha irmã mais velha havia se casado e, em 1958, eu então com dez anos, recebi dela um embrulho que me disse haver trazido do Rio de Janeiro para ser meu presente de Natal. Era uma camisa listrada do Botafogo com a estrela. Imediatamente coloquei-a e saí para a rua. Era pouco usual existirem camisas de futebol naquela época e nada habitual serem usadas, principalmente em cidades pequenas e do interior. Mas lá estava eu, a dizer para todos que aquela era a camisa do meu time, o Botafogo.
Passados 52 anos, olho para a listrada e a branca retrô do Nilton Santos e viajo regressivamente até aos dez anos de idade. Era a minha primeira camisa botafoguense. Acompanhou-me por pouco tempo, pois o tamanho não foi devidamente avaliado por minha irmã.
Lá pelos anos de 1968 cheguei em casa usando uma outra listrada e descobri que minha saudosa mãe se declarava botafoguense. Talvez por solidariedade.
2 comentários:
São geniais esses relatos que nos levam tão fundo na memória. A minha também vem de muito longe, de 1957, na final do Carioca.
Caro amigo, estás convidado a fazer o teu relato da 1ª camisa ou da camisa mais representativa. ´´E só enviar e eu publico.
Abraços Gloriosos!
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