terça-feira, 6 de julho de 2010

Ser Botafoguense é ser supersticioso


por Jairo Silva
07/outubro/2009
http://www.futebolparanaense.net


Meu clube de infância é o Botafogo de Futebol e Regatas, o Glorioso time da estrela solitária, e como foi boa a minha infância. Ver o Botafogo jogar no Maracanã era incrível, covardia para com os demais adversários que também eram bons.

Tenho saudades dos tempos em que saía da Tijuca caminhando pelas ruas do Rio com destino ao Maracanã, sem ao menos saber quem era o adversário, mas com a certeza que voltaria para casa comemorando mais uma vitória.

Eu não sei exatamente porque me tornei Botafogo. Meu pai era Flamengo, minha mãe América, meu tio José gostava de futebol e torcia pelo Fluminense, mas foi Deus que me deu a dica. Afinal, um time de futebol que tinha Manga, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Quarentinha, Zagalo e, principalmente, Garrincha, não poderia decepcionar ao mais pessimista torcedor.

Depois vieram Zé Carlos, Leônidas, Rildo, Airton, Gerson, Roberto Miranda, Sicupira, Jairzinho, Paulo César Caju, Afonsinho e outros grandes craques.

Ir ao Maracanã era ter felicidade e a roupa tinha que ser sempre a mesma: bermuda, camiseta preta e chinelo de dedo. Quando eu mudava a roupa o time perdia. Fui me acostumando com a superstição e comecei a achar que o time vencia se eu repetisse a roupa e outros acessórios, mas um dia a ocasião me marcou.

No dia 12 de maio de 1965 uma quarta-feira à noite no Maracanã, o Botafogo jogaria contra o Fluminense pelo Torneio Rio-São Paulo.

Era o Tricolor de Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Altair; Denílson, Amoroso, Evaldo, Antunes (irmão mais velho do Zico) e o reserva Gilson Nunes. Era também um timaço, e minha mãe nunca soube dessa história que vou contar.

Eu tinha que conseguir alguma coisa para prestigiar o Fogão e não tive dúvidas: peguei um guarda-chuva de minha mãe com tecido preto, cortei em forma de retângulo e colei uma estrela branca no meio do tecido preto. Ali estava a estrela solitária da sorte, era o batismo da bandeira e fui feliz ao Maracanã, já pensando como faria para esconder a bandeira da minha mãe. Mas o importante era o Botafogo e lá estava eu desfraldando o novo símbolo alvi negro.

No final do jogo, 7x2 para o Fluminense, com gols de Antunes (2), Evaldo (2), Gilson Nunes (2) e Amoroso; para o Botafogo marcaram Jairzinho e Gerson. Ao retornar para casa já não sabia o que fazer com a bandeira, e com a derrota tive facilitada a missão, queimando minha bandeira que não deu sorte.

Para Botafoguense supersticioso, nada melhor que desaparecer com aquele guarda-chuva cortado em forma de bandeira.

Passados 44 anos, finalmente minha mãe saberá do paradeiro do guarda-chuva que desapareceu queimado depois daquele desastre do Maracanã.

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