sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Botafogo 1x1 Fluminense



Creio que o conjunto de jogos realizados pelo Botafogo na Taça Guanabara pode ser considerado positivo. Inicialmente Oswaldo de Oliveira não me pareceu ter entrado bem, ainda não convenceu, mas a equipa apresenta mais consistência do que no tempo de Estevam Soares, Joel Santana ou Caio Júnior.

Isso é importante para mim porque considero, desde há anos, que o campeonato carioca devia ser o campo de treino da equipa no início de cada temporada. Obviamente que se se mantivesse o treinador e a equipa, isso faria menos sentido, mas as mudanças sucessivas que a cultura futebolística do país impõe, fazem com que cada ano seja uma nova incógnita. Ademais, enquanto um clube europeu joga 50 partidas por ano, o Botafogo jogou 69,5 partidas, em média, nas últimas quatro temporadas. Portanto, não pode desgastar-se logo no início do ano sob o calor escaldante do Rio de Janeiro: o campeonato carioca, nos moldes em que se disputa, é um homicídio futebolístico em 1º grau.

Não obstante a avaliação positiva que faço deste mês de jogos, na partida de ontem registrou-se novamente defeitos verificáveis há muito tempo. E digo-o com tranquilidade, porque não considero essencial a disputa do campeonato carioca (ainda mais com tantas decisões por penalties, que é coisa que nunca gostei) e opto por priorizar a conquista da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana e fazer um Brasileirão positivo.

Sucintamente, direi que ontem a equipa se mostrou mais entrosada e esquematizada e que a propalada tranquilidade de Oswaldo de Oliveira parece estar sendo interiorizada. Não obstante, se olharmos a distribuição dos jogadores do Fluminense, o adversário foi melhor e mais consistente nesse domínio, chegando mais vezes com perigo à baliza alvinegra.

O Fluminense pôde fazer isso porque falta velocidade à equipa do Botafogo para destroçar as defesas adversárias. Entrosamento sem velocidade resulta em escassez de oportunidades de gol. Além da falta de velocidade falta também ‘agilidade’, isto é, reflexos rápidos para roubar a bola ou não perdê-la. Quando a bola é perdida, muitas vezes a meio campo, o contra-ataque adversário é muito perigoso, como se viu novamente ontem.

À velocidade e agilidade deve-se acrescentar a qualidade do toque de bola. A equipa não tem craques para drible, e devia ter consciência disso. Tenta driblar, perde a bola. Os toques devem ser cada vez mais de primeira, com velocidade para destroçar a defesa adversária e agilidade para se chegar à cara do gol.

A concentração é outro quesito muito importante. Geralmente, quando o Botafogo marca gol a concentração diminui, e isso verificou-se novamente ontem com o gol ‘infantil’ tomado pela equipa; enquanto todo o mundo avançava para deixar 4 ou 5 fluminenses fora de jogo, eis que Márcio Azevedo se ‘esqueceu’ de o fazer… Aliás, a defesa continua a evidenciar as fraquezas costumeiras, e se não for reformulada nenhum de nós pense em ganhar seja o que for em 2012.

Finalmente, quero dizer que futebol é um jogo coletivo, não uma competição individual. Quando todos e cada um perceber isso, mas perceber realmente, poderemos ser uma equipa melhor. Sem craques, e bem melhor. Admitindo, é claro, que Oswaldo de Oliveira será um técnico que não vai inventar como os outros e fará sempre o mais simples.

Deixo uma última nota que pode vir a revelar-se útil. Loco Abreu tem mostrado ‘não existir’ nos últimos jogos e a sua eficácia desapareceu até na cobrança de penalties. O atleta uruguaio não corre, não se posiciona bem, não é útil à equipa enquanto conjunto – é como se jogássemos com 10 atletas. Então, considero duas hipóteses: ou o atleta retoma os níveis de antigamente (o que me parece difícil face à idade e à falta de velocidade e agilidade) e faz sentido um 4-2-3-1 que aposte nele, ou não deverá ser escalado e encontrar-se outra solução de esquema tático. Isso poderá ser essencial para a evolução de uma equipa que, neste momento, tem precisamente ineficácia ao último toque e incapacidade de romper as defesas adversárias mais fortes. 

Sou adepto de Loco Abreu, mas antes disso sou botafoguense e já vi muitas o filme ‘Ascensão e Queda’. Espero que não deitemos tudo a perder devido à insistência em Loco Abreu, mesmo quando não rende. Isso mostra também que precisamos de mais um atacante, além de, pelo menos, dois laterais e um zagueiro. E quanto a mim só vejo uma chance de introduzir uma dinâmica nova na equipa: apesar de ser contra a manutenção de Jobson no clube, penso que se ele tomar juízo desta vez poderá ser o tal atacante que falta e o grande desequilibrador das defesas adversárias.

[PS: Confesso temer que a mania de ‘ir com tudo’ para o campeonato carioca, faça a comissão técnica concentrar-se novamente na Taça Rio e acabar por ser eliminada da Copa do Brasil, já que Oswaldo de Oliveira tem-se mostrado muito mais conservador do que ousado.]

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x1 Fluminense [pen. 3x4]
» Gols: Elkeson 73' (Botafogo); Leandro Euzébio 79' (Fluminense)
» Competição: Campeonato Carioca
» Data: 23.02.2012
» Local: Estádio Olímpico João Havelange, o ‘Engenhão’ (RJ)
» Público: 17.027 pagantes
» Renda: R$ 541.615
» Arbitragem: Péricles Bassols (RJ); Assistentes: Wagner Santos (RJ) e Jackson dos Santos (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Antônio Carlos (Botafogo) e Edinho (Fluminense)
» Botafogo: Jefferson, Lucas, Antônio Carlos, Fábio Ferreira e Márcio Azevedo; Marcelo Mattos (Caio), Renato, Andrezinho e Elkeson (Lucas Zen); Herrera e Loco Abreu. Técnico: Oswaldo de Oliveira.
» Fluminense: Diego Cavalieri, Bruno (Rafael Moura), Leandro Euzébio, Anderson e Carlinhos; Edinho, Diguinho, Deco (Jean) e Thiago Neves; Wellington Nem (Araújo ) e Fred. Técnico: Abel Braga.

6 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Meu caro Rui, gosto imensamente dos seus comentários, são de uma clareza e precisão de um relojoeiro suiço. parece que vimos o mesmo jogo. Li várias lamúrias da torcida sobre o time do Botafogo ontem, mas sinceramente, não vi um time tão ruim assim. Claro que precisamos de duas ou três peças para o time tiular, fora peças de reposição. Sobre a desatenção do Marcio Azevedo, foi realmente inacreditável. Pelo investimento, esperava muito mais do time do Fluminense, que é menos medíocre que o do Botafogo. Digo medíocre, porque no atual futebol brasileiro temos times medíocres e menos medíocres, nada que realmente preste, e pior, os treinadores são de uma mesmice sem tamanho. Abs e SB!

Émerson disse...

Rui,
Não gostei de Osvaldo Oliveira, ontem. Não sei se por falta de peças de reposição ou porque não se apercebeu disso, mas ele não fez nada para que o time tentasse ganhar o meio-campo. O adversário dominou a meia-cancha, principalmente na segunda etapa e, ao meu ver, se fosse outro adversário, teríamos levado uma goleada. Nosso meio-campo apenas cercava, dando muito espaço aos meias do outro time, não ganhávamos um rebote, nem armávamos bem. Sem meio-campo, é muito mais difícil.

Ruy Moura disse...

Sergio, completamente de acordo sobre a sua avaliação aos times da atualidade e à qualidade dos treinadores no ativo.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Émerson, eu estou tentando efetuar análises serenas e generosas, na premissa que Oswaldo de Oliveira vai ver, em tempo útil, as mudanças a fazer. Porém, se a minha análise fosse para lhe tirar o tapete, até que as declarações dele permitiriam isso. Veja, pelas declarações de O.O., o jogo que ele viu o Botafogo fazer. Não viu o mesmo jogo que nós, e como viu que dominámos a partida, poderei dizer que essa análise faz temer pelo futuro. Mas, por enquanto, sejamos generosos... admitindo que o Cariocazinho é para afinar a equipa...

Abraços Gloriosos!

Gil disse...

Rui,

Não sei se me farei entender, mas bate um desespero danado quando perdemos uma decisão. Penso que o medo e a mediocridade fizeram moradia em GS!
Trememos ou nos acovardamos quando a partida vale qualquer coisa. Vai ser difícil mudar essa tacanhice ou mentalidade.
O carioquinha deveria ou serviria ao menos para testar os garotos e ninguem faz isso. Preferem emprestar para times sem expressão e que nada acrescentarão na vida dos atletas.
Entra e sai ano e nada muda! Quantas decisões, seja semi-final, final ou campeonatos que empatamos por tremer ou respeitar em demasia o adversário e depois perdemos nas penalidades?
Muda comissão técnica, treinador, e os jogadores continuam estourando a musculatura no início da temporada! Tudo igual aos anos anteriores!

Ao término do jogo lembrei das frases e fanfarrices do presidente. Devemos mesmo disputar os títulos na lua, pois aqui na terra a torcida está com os burros na água. Quem sabe a escola de samba Portela ganhe o campeonato no próximo ano, pois a exibição e desfile do Botafogo deve ser na próxima quinta ou quem sabe na quinta dos infernos.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Tens razão, Gil. Perder representa sempre uma dor qualquer. No meu caso tento diminui-la à dimensão da competição em disputa, porque eu sou mesmo contra esta história de "ir com tudo" para o campeonato carioca, especialmente quando se trata de um novo treinador que o que deveria fazer é o que dizes: testar juniores, testar esquemas, etc. Não obstante, é claro que é complicado qualquer decisão. Apesar de não ser muito importante para mim estas disputas regionais quando precisamos é de títulos de outro nível, os penalties tiram-me do sério. Andei pela casa toda durante os penalties; não consigo estar sentado ou parado. Mas assim que acabou fui logo fazer outra coisa para espairecer. Não me quero envolver demasiado com os erros que são evidentes para qualquer sujeito com mediania intelectual. Mas segundo o teinador o Botafogo dominou o Fluminense!!!

Abraços Gloriosos!

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