quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Entre algumas novidades e mais do mesmo: a Libertadores em perigo!

Em Portugal e no resto da Europa existe uma grande regularidade no que respeita ao desempenho das melhores equipas, salvo breves exceções que confirmam a regra.

Os títulos do campeonato português são sempre disputados entre Benfica, Porto e Sporting; o espanhol entre Real Madrid e Barcelona; o inglês entre Arsenal, Chelsea e Manchester United (uma única exceção nos últimos 18 anos com um título do Manchester United); o italiano entre Internazionale, Juventus e Milan; o alemão entre Bayern München e Borussia Dortmund, predominantemente; apenas o campeonato francês, após o heptacampeonato conquistado pelo Lyon, tem sido dividido entre diversos times.

Quer isto dizer que não é absolutamente nada normal que se verifique grandes oscilações na colocação dos grandes clubes europeus dos principais campeonatos. Porém, como sempre se diz que a exceção confirma a regra, em Portugal o Sporting classificou-se em 7º lugar na temporada passada e atualmente – com mais de metade do campeonato decorrido – encontra-se na vice-liderança. Quer dizer, também, que após a pior temporada em 107 anos de existência do clube, e com um orçamento seis vezes inferior aos do Benfica e do Porto, não seria previsível uma grande campanha este ano. Mas está a ser uma grande campanha porque a diretoria mudou e com ela veio a mudança de tudo aquilo em que o Sporting persistiu erradamente nos últimos 12 anos.

Adianto, desde já, que a opinião que agora publico pretende mostrar que as mudanças radicais são possíveis com diretorias competentes e que as opções relativas a diretor de futebol, comissão técnica, departamento médico e gestão do plantel são cruciais no competitivo futebol moderno.

“Existe um clube em Portugal [o autor deste excerto refere-se ao Sporting] que há um ano estava pelas ruas da amargura. Jogadores a receberem muito e a jogarem pouco. Treinadores contratados e despedidos. Necessidade de vender ativos abaixo do preço de mercado para equilibrar contas. Vontade de jogadores abandonarem o clube porque “não queriam lutar pelo 5º ou 6º lugar”. Uma massa associativa que passava grande parte dos jogos em casa mandando o líder da direção do clube para uma certa parte da anatomia humana. Hoje, esse mesmo clube está nos lugares da frente do campeonato português, metade do seu onze habitual é vindo da sua Academia e onde quer que jogue tem milhares de adeptos a apoiar, faça sol ou chuva, jogue num relvado ou num batatal. E, hoje, o tal jogador que não queria jogar para o quinto ou o sexto lugar está num clube que ocupa um oitavo lugar. Alguém sabe como se diz “é tramado” em holandês?” [o autor refere-se ao tal jogador, que é holandês] – jornal Record, coluna de Vasco Palmeirim, 20.01.2014

O novo presidente do Sporting contratou um diretor de futebol sportinguista, um técnico sportinguista, livrou-se de quem ganhava muito e jogava pouco, foi contratar bem novos jogadores a clubes pouco conhecidos, blindou toda a equipa com cláusulas de rescisão elevadas e os melhores atletas da Academia foram promovidos ao time principal.

O desinteresse dos jogadores na temporada passada foi completamente anulado. Veja-se, após um jogo dificílimo num gramado em péssimas condições devidos às chuvas, em que os adversários esperavam que o Sporting sucumbisse, eis que ganhou o jogo de virada e os atletas expressaram-se hoje nos seus meios de comunicação pessoal assim:

- “Mais uma grande vitória! Glória a Deus! Parabéns a todos pela luta até ao fim.” – Maurício, no facebook.

- “Nada nos pode deter!” – Slimani, no facebook.

- “Grande vitória num campo impossível de jogar! Orgulhoso da minha equipa e dos adeptos que apoiaram, apesar do mau tempo! Grandes!” – Capel, no twitter.

- “É assim mesmo, ‘bora Sporting!’ Outra grande vitória, com entrega e sacrifício. Parabéns a toda a equipa e perdão por vos deixar com um a menos!” – Rojo, no twitter.

- “Com esta união, com todos os que representam e seguem o Sporting em qualquer sítio, vamos longe! Grande vitória!” Adrien, no instagram.

- “Todos juntos.” – Rui Patrício, no instagram.

- “O que não nos mata, torna-nos mais fortes. Obrigado a todos aqueles que, mesmo com a chuva, não deixaram de nos apoiar. Isto é o Sporting!” – André Martins, no instagram.

- “Sabe sempre bem fazer estas viagens depois de uma grande vitória. Isto é união, uma grande família… Em grande!” – Wilson Eduardo, no instagram.

Uma 1ª grande lição – relativa aos adeptos – que pode ser dada a Maurício Assumpção, a Oswaldo Oliveira e à maioria dos jogadores que criticaram a torcida botafoguense por se afastar dos estádios: não é a torcida que tem que apoiar custe o que custar; é o time que tem que conquistar a torcida custe o que custar, tal como o time fez com os sportinguistas de sofá que passaram a ir em peso a todos os jogos do Sporting batendo recordes de bilheteira.

Uma 2ª grande lição – relativa ao presidente – é a de a diretoria se rodear de gente capaz: contratar dirigentes para o futebol, comissão técnica e departamento médico que sejam preferencialmente torcedores do clube e que, simultaneamente, sejam competentes.

Uma 3ª grande lição – relativa ao diretor de futebol – é que é fundamental saber gerir um plantel: livrarmo-nos de quem ganha muito e joga pouco; ter ‘olheiros’ por esse mundo fora em busca de jogadores de oportunidade, que sejam relativamente baratos, contribuam bastante para o clube e depois sejam vendidos a preços muito mais elevados. A esta lição pode-se agregar a questão da ‘blindagem’ dos atletas mediante cláusulas de rescisão elevadas e o equilíbrio numérico do plantel, que deve ser rondar entre 25 a 28 atletas efetivos. O Sporting possui um Plantel A com 20 atletas apenas e um Plantel B com 26 atletas oriundos da Academia que disputam a 2ª divisão e podem, a qualquer momento, integrar o plantel principal (em Portugal, os clubes podem ter equipas B na 2ª divisão para fazerem rodagem de atletas, mas não podem ascender à 1ª divisão).

Uma 4ª lição – relativa ao treinador e ao corpo clínico, e que adiante se explicitará – é que hoje em dia os treinadores e os médicos também ganham jogos, isto é, as metodologias de treino e de preparação física, as escalações adequadas face ao adversário, a boa leitura de jogo, as mudanças táticas durante a partida e as substituições à medida, são elementos cruciais que alimentam o sucesso (ou o insucesso) dos protagonistas em campo.

No último jogo do Sporting já se esperava um campo muito difícil, que favorecia o Arouca, equipa da casa, a subir de rendimento. Então, o treinador projetou que era natural que fosse necessário mudar de tática na 2ª parte e fazer entrar Slimani para resolver o jogo, já que o argelino tem sido a ‘arma secreta’ que salta do banco para marcar o gol da vitória. Sucede, porém, que Slimani tinha um traumatismo nos gêmeos e apenas pode realizar um treino durante a semana de modo a estar apto para o jogo contra o Arouca. Mas a sua aptidão não duraria 90 minutos e o treinador fez a sua previsão para o caso de ser necessário lançá-lo, como efetivamente foi. Ouçamos o treinador Leonardo Jardim sobre Slimani, após o jogo:

Só podia jogar 30 a 40 minutos e tivemos de o gerir ao máximo. Foi extremamente útil, pois é dos jogadores que melhor se adapta a este tipo de jogo. No final do encontro, se repararam, já apresentou algum desgaste físico”.

E foi assim que Leonardo Jardim lançou Slimani, efetuou mudanças táticas com a sua entrada e o argelino obteve o gol da vitória 18’ depois, cumprindo a missão prevista.

Em suma, é possível ao Sporting possuir um plantel de 20 atletas, metade dos quais oriundos da Academia, gerido a ‘pinças’ pelo seu treinador e pelos responsáveis da preparação física, mesmo em circunstâncias difíceis. Ademais, é fundamental precaver as contusões; existem técnicas modernas de gestão dos atletas evitando as lesões. O caso de Cristiano Ronaldo é exemplar, porque o acompanhamento constante da sua preparação física permite-lhe não ter lesões devido à robustez física que foi ganhando ao longo dos anos – e que lhe permitirá, provavelmente, fazer uma carreira mais longa do que muitos dos melhores jogadores da atualidade.

Alguns ‘segredos’ para melhores performances são fundamentais: os conselhos de Seedorf aos seus companheiros de equipa – à falta de sabedoria do treinador – foram fundamentais, por exemplo, para o grande desempenho de Fellype Gabriel e de vitinho. Repare-se que foi depois de Seedorf aconselhar FG sobre a forma como devia gerir os quilómetros que fazia em campo que o seu desempenho disparou, tal como no caso de vitinho, e que foi a sua orientação em campo – à falta de orientação de um treinador incapaz de ler adequadamente o jogo e de fazer mudanças táticas – que permitiu chegarmos nos lugares da frente no último campeonato brasileiro.

Seria muito bom que as minhas opiniões, fundadas em muitas leituras de peritos internacionais de futebol, servissem de alguma coisa ao nosso Botafogo – mas parece que toda a minha conversa de anos é desperdiçada por aqueles que dentro do clube lêem o Mundo Botafogo. Desde o tempo de Emil Pinheiro – e com a exceção honrosa de Bebeto de Freitas, que foi cilindrado por não aceitar pactuar com as matreirices dos cartolas – que o Botafogo não tem diretorias capazes, porque Montenegro, Palmeiro, Rolim e Assumpção são farinha do mesmo saco. Após a conquista do Brasileirão de 1995, Montenegro desmanchou o time para a Libertadores, em vez de reforçá-lo. Assumpção desmanchou dois times em meados de 2012 e 2013 e prepara-se para iniciar a Libertadores com um treinador sem experiência e um plantel com inúmeras saídas neste início de ano, sem que ainda esteja definido o plantel definitivo a uma semana de se iniciar a Libertadores em dois jogos decisivos.

Entre outras conclusões, deixo uma nota final acerca da importância da função de treinador.

A grande exceção à regularidade neste ano futebolístico europeu chama-se ‘Manchester United’. O campeão inglês que, com Alex Ferguson, conquistou 13 dos últimos 21 campeonatos da Premier League, encontra-se atualmente em 7º lugar, a 14 pontos do líder após 22 jogos; e só uma variável mudou entre a temporada passada e a atual – o treinador!

Atualmente, treinador de futebol também ganha jogos! Ou perde!

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