quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Fragmentos ‘futebol do botafogo 1966-70’: Brasil x Portugal na Copa do Mundo de 1966 [05]


Publicação da 3ª parte de excerto inédito extraído do III volume de O Futebol do Botafogo, obra de Carlos Vilarinho, ainda por publicar. O I volume desta grandiosa e magnífica obra de pesquisa sobre a vida botafoguense pode ser adquirido nas principais livrarias ou através do sítio www.ofuteboldobotafogo.com.

3ª Parte do excerto extraído do III volume:

por CARLOS FERREIRA VILARINHO
especialmente para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário e historiador do Botafogo de Futebol e Regatas

“Na terça-feira, o Brasil decidiu sua sorte. Como era provável a vitória da Hungria sobre a Bulgária, o Brasil teria de vencer Portugal por 3x0 ou mais. Então, Feola enforcou-se com a própria corda, fazendo nove alterações. Manga (na falta de Gilmar) e Rildo entraram numa fria. Denílson voltou, mas quem saiu foi Gérson (crucificado). Jairzinho foi escalado na direita. Silva foi imposto pela imprensa. Pelé voltou com tudo. Nascimento e Paulo Amaral queriam Tostão, mas Feola não cedeu (ameaçou demitir-se): escalou Paraná.

Rola a pelota. Com 40 segundos, batendo uma falta próxima ao bico esquerdo da área, Eusébio vence a barreira com um tijolo que quica no chão e explode no peito de Manga. Orlando protege. Simões tromba com ele. O couro espirra. Orlando divide com Torres. Manga mergulha, abraça o couro, mas se machuca. Aos 2, Torres corta um passe de Denílson. Gira no grande círculo e toca para Eusébio. Deste a Simões. Eusébio recebe nas costas de Brito e atira outra bala (desviada na zaga). Aos 9 e meio, próximo à meia lua, Pelé gira, mas leva um pontapé de Morais. Coluna completa o serviço. Aos 15, Simões toca para Eusébio, que bate Brito com um giro de corpo e cruza do fundo. Manga só consegue tocar a bola com a ponta dos dedos e Simões enfia a testa: 0x1. Um soco resolveria. Portugal, armado em 4-5-1, dita o ritmo (frenético). Aos 26, Coluna cobra a falta de Rildo em Eusébio. Torres vence Brito e cabeceia para Eusébio, que supera Orlando e enfia a testa, cara a cara: 0x2. O Brasil desperta do sono. Aos 30, Jairzinho cruza. Silva disputa na cabeça, mas perde para Morais. Pelé apanha a sobra, mas leva um chute de Morais. Pelé cai de quatro, tenta se levantar, mas sofre uma segunda agressão, ainda mais violenta. O inglês George McCabe se limita a apontar a falta. Só aos 33, Pelé sai de campo, amparado nos ombros de Hilton Gosling e Mário Américo. Aos 36, Lima estica para Jairzinho, que invade a área pela esquerda. Vicente é driblado e dá a rasteira. Morais completa com um tranco por trás. Pênalti! Parado no grande círculo, McCabe acha normal. Meio minuto depois, Pelé retorna mancando. Aos 37, Silva divide. Jairzinho apanha a sobra, invade em diagonal e fuzila quase da pequena área, mas Pereira defende com muita chance. Aos 45, na cobrança de uma falta violenta sobre Paraná (na direita), Silva atira uma bomba que raspa o travessão.

Na etapa final, Pelé voltou com o joelho direito enfaixado e plantou-se na esquerda, deslocando Paraná para a outra ponta. Rildo e Lima adiantaram-se. Aos 5, Simões desarma Fidélis e dispara até o bico da área. Eusébio recebe, passa por Fidélis e fuzila de canhota, quase do bico da pequena área, mas Manga defende sensacionalmente e Brito alivia. Por um triz, Jairzinho não reduz aos 14. Aos 19, Jairzinho ganha a disputa, penetra e atira violentamente do bico da pequena área, mas o couro passa zunindo, rente à forquilha direita. Aos 25, Manga pratica uma defesa espetacular num tiro livre executado por Eusébio de longa distância. Aos 28, Pelé toca para Rildo (ótimo). Próximo à meia lua. Jairzinho recebe e devolve para Rildo, que dispara da entrada da área, vazando o canto direito: 1x2. Aos 32, na risca da grande área, Silva recebe de Paraná e toca para Jairzinho, que invade a pequena área e devolve, mas não encontra Silva, parado lá atrás. Aos 40, lançado por Morais, Eusébio bate Rildo na corrida, invade a grande área e fuzila a meia altura no canto direito, mas Manga evita o gol certo. Córner! Eusébio toca para Simões cruzar. Torres sobe mais que Brito e cabeceia para Eusébio (mais rápido que Orlando) queimar de sem-pulo: 1x3. Manga não merecia este gol.

Na quarta-feira, o circo pegou fogo. Em várias capitais, a polícia reprimiu multidões que tentavam agredir cidadãos ou apedrejar estabelecimentos comerciais identificados com Portugal. Feola e Nascimento foram “enterrados” e “enforcados”.

Em Liverpool, a Hungria derrotou a Bulgária (3x1) e ficou com a segunda vaga. Foi-se o tricampeonato.”

Excerto autorizado pelo autor. In: VILARINHO, C. F. O Futebol do Botafogo 1966-70. Rio de Janeiro: Edição do Autor, no prelo.

7 comentários:

MAM disse...

Esse jogo esta quase completo no youtube, apesar do resultado negativo para nós brasileiros, foi realmente um jogaço e com jogadas de alto nível técnico, como era de costume naquela época. O jogo anterior Brasil x Hungria está numa lista das maiores partidas da história da copas. Nível técnico altíssimo, parecia "Harlem globe trotters" Tanto do lado brasileiro como do húngaro foi um festival de jogadas de pura categoria!

Ruy Moura disse...

Eu tenho o jogo completo. Passou na TV portuguesa há pouco tempo e gravei. Grande jogo. O jogo que mostrou aos brasileiros mais idiotas (todos os povos têm os seus idiotas) que embora Portugal fosse / seja um país pequeno, é grande no futebol.

Eu estava no Brasil e ainda me lembro de terem assaltado lojas de portugueses em represália...

Em Portugal, quando o Brasil nos ganha justamente, reconhecemos, e quando o Brasil ganha aos outros, ficamos contentes.

Um locutor desportivo disse esta semana, durante a Gala da FIFA, a propósito das escolhas de Ronaldo e de uma aopresentadora brasileira para a final ideal - em que ambos escolheram para a final da CM 2014 o Brasil contra outras seleções que não Portugal - o seguinte: "os brasileiros são irmão para nós, mas nós não somos irmãos para eles". Uma pena, porque Portugal teve bum papel fundamental na emergência do Brasil desde que a corte Portuguesa rumou para o Rio de Janeiro em 1808, levando 15.000 pessoas da nobreza e a modernidade europeia da época, além de ter sido o colonizador das Américas Central e do Sul a não dividir as terras em mil países, como fizeram os espanóis para reinarem dividindo, mas traçando fronteiras para a constituição de um grande país.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ruy Moura disse...

Ah... e terminámos fazendo o trabalho completo ao ser um príncipe português a declarar a independência do Brasil.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Marco, e se fizesses uma charge sobre 'El Tanque' para publicar assim que ele fosse anunciado?...

Abraços Gloriosos!

MAM disse...

Faço sim...
Eu sinceramente não sabia desse episódio lamentável, que vergonha!

Essa camisa da seleção Portuguesa era uma das camisas mais bonitas que eu ja vi um selecionado usar, linda!

Eu cheguei a comprar uma réplica com o numero 13 verde as costas e dar ao meu pai que era português, sportinguista e botafoguense, é lógico.

Ruy Moura disse...

Caramba, eu e seu pai temos características bem comuns: português, botafoguense, sportinguista!

Não há uma foto dele com a camisa do Glorioso para publicação? Seria uma honra...

Abraços Gloriosos!

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