por Gerson
Nogueira
11 de maio
de 2013
Foi tão tranquilo que nem parecia uma final
de campeonato com o Botafogo. Como se sabe, nada que envolve o Botafogo é
rotineiro ou convencional. Quase tudo vira drama. Quis o destino que o Carioca
2013 flagrasse um Botafogo menos tenso que o normal. Seguro quanto a suas
forças e limites, levou a disputa assim como quem não quer nada. Sem querer,
querendo. Quando a vitória final chegou, sem solavancos, foi até meio
esquisito. Fácil demais para um coração botafoguense forjado nas dificuldades
da vida.
Por tradição, quando vejo o Botafogo abrir
uma sequência vitoriosa, cumpro um período de espera para começar a acreditar
de verdade. É a quarentena que previne dissabores. Com anos de estrada nessa
delícia que é torcer pela Estrela Solitária criei alguns truques particulares
para me certificar se a coisa vai terminar bem ou é apenas nuvem passageira.
Por conta desses cuidados já escapei de me
entusiasmar com aquele time treinado por Joel Santana, que ameaçou chegar às
finais do Brasileiro e acabou entregando o ouro aos emergentes – Avaí, Ponte.
No ano passado, com um meio-de-campo rápido e
habilidoso, que tinha Renato, Andrezinho, Seedorf e Elkeson, a expectativa era
alta. Osvaldo de Oliveira, ou Osvaldinho da Cuíca para quem acompanha meus
escritos, encarregou-se de fulminar todas as chances ao abdicar de atacantes.
Deixou Herrera, Maicosuel e Loco Abreu partirem. Desde os tempos de Parreira
não tinha notícia de um treinador tão desinteressado em relação ao ataque.
Sem empecilhos pelo caminho, Osvaldinho ficou
à vontade para dar a camisa 9 a Rafael Marques, sensação no futebol japonês.
Apesar da resignação inabalável que acompanha todo botafoguense, foi duro ver
Marques apanhando da bola e desperdiçando as jogadas construídas pela
meia-cancha mais ilustre do país. Passou o campeonato em branco, desafiando a
lógica e a paciência da torcida.
Sob esse cenário, o time fechou 2012 em
baixa, apesar do privilégio de contar com um astro de primeira grandeza.
Cidadão do mundo, Clarence Seedorf chegou, ocupou seu espaço e hoje é um
legítimo astro alvinegro. Antes de seguir em frente, cabe a explicação. Astros
da bola podem ser maravilhosos, deslumbrar o planeta, mas só se eternizam ao
botar sobre o peito o escudo imortal.
Vamos a um exemplo recente. Quem era Loco
Abreu antes de ser botafoguense? Foi ídolo do Nacional de Montevidéu, passou
uma chuva no Grêmio e perambulou por mais de 20 clubes. Seu currículo hoje
começa pela citação à passagem rápida, mas feliz, pelo Botafogo. Assim é a
vida.
Seedorf, que encantou plateias holandesas,
espanholas e italianas, sabia que só um clube mítico como o Botafogo é capaz de
estabelecer um portal com a história. Sábio, veio em busca disso. Ou alguém
imagina que a essa altura o maestro está em busca de contratos milionários?
Certamente só quer sossego, reconhecimento e honra. Pois bateu no lugar certo.
É fato que nenhum outro clube brasileiro
convive tão bem com os artistas da bola, até por ter sido povoado por eles
desde priscas eras. No Botafogo, ser craque não representa nenhuma graduação
especial, é quase rotina. Seedorf está onde deveria estar, sente-se em casa. No
topo.
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