por
BERNARDO SANTORO
[Nota
do Mundo Botafogo: Há anos que acompanho as propostas de Bernardo Santoro para
o Botafogo. Há anos, tal como ele, tenho avisado da total incompetência do atual presidente do Botafogo e da ruína que nos espreitava ao nos aproximarmos dos 700 milhões de reais no passivo. Mas Santoro fez muito mais do que eu fiz: durante o primeiro mandato do atual presidente (que a esta hora já deveria
ter sido impugnado por quem de direito), Santoro escreveu umas dezenas de
páginas, que tenho guardadas, com um programa absolutamente notável para reposição
do Botafogo no seu devido lugar desportivo. O presidente NÓDOA jamais poderá
dizer que não havia alternativa ou que ninguém avançara com um programa.
Bernardo Santoro fê-lo. NÓDOA olvidou-o.]
Para
quem não me conhece, meu nome é Bernardo Santoro, sou sócio-proprietário do
clube (mat. 400333), mestre em direito (UERJ) e pós-graduado e mestrando em
economia (UFM-OMMA), prof. de Economia e Direito da UFRJ, Diretor-Executivo do
Instituto Liberal do Rio de Janeiro e Assessor de Políticas Públicas do PSC,
tendo escrito o plano de governo do candidato do PSC à Presidência da
República, Pastor Everaldo Pereira, além de escrever regularmente artigos sobre
economia, política e direito para mais de 50 jornais do país. Sou colunista do
site Canal Botafogo e um dos primeiros Loucos pelo Botafogo.
Quis
apresentar meu currículo de antemão para dar legitimidade ao que vou escrever
agora.
Em
2011, eu previ basicamente tudo o que está acontecendo agora. No artigo abaixo,
de 22/12/2011, eu deixei claro que sem responsabilidade administrativa e no
passo da época, o Presidente Assumpção entregaria o clube com mais de meio
bilhão de reais em dívidas e que naquela época já estávamos “vendendo o jantar
para comprarmos o almoço”. O artigo na íntegra está com link abaixo:
Ainda
em 2011, eu resumi o que era necessário fazer para impedir a falência do clube:
(i) responsabilidade administrativa; (ii) democracia com sócio-torcedor com
direito a voto; (iii) futebol integrado; (iv) engenhão popular; (v)
institucionalização da relação entre torcidas organizadas e clube; (vi) cisão
total entre clube social e futebol; e (vii) participação em todos os esportes
olímpicos com atletas formados na base, ainda que com times fracos, para
fortalecer a marca de clube multi-desportivo com atuação social. O artigo na
íntegra está com link abaixo:
Esses
pontos agora parecem ser unânimes para todos os candidatos, seja Durcésio,
Carlos Eduardo (meu amigo pessoal), Vinícius (outro amigo, embora mais
afastado), Marcelo ou Mantuano.
Só
que eu tenho uma notícia realística para todos vocês: o tempo passou. Há três
ou seis anos atrás era possível salvar o clube com esse receituário. Hoje não é
mais. Com uma dívida acima de 700 milhões de reais, sendo mais de 200 milhões
em dívidas tributárias, ela é impagável.
Se
hoje fizéssemos um empréstimo a juros de 5% ao ano para pagarmos todas as
dívidas do clube, reduzindo assim nosso pagamento de juros de maneira radical,
para pagamento em 25 anos, precisaríamos, apenas para pagá-las, de algo em
torno de 8 milhões de reais por mês.
Sendo
nossa receita ordinária (descontadas as vendas ocasionais de um ou outro
jogador, que nem faz tanta diferença assim) algo em torno de 8 milhões de reais
por mês, precisaríamos canalizar todas as nossas receitas para pagamento de
dívidas, nos restando absolutamente nada para pagamento das despesas correntes
atuais do clube.
Para
que fosse possível pagar a atual dívida do clube e nos manter com um time
minimamente decente, precisaríamos que as novas receitas do clube (melhor uso
do estádio, naming rights e programa de sócio-torcedor) gerassem pelo menos 80
milhões de reais anuais, o que eu acho impossível de acontecer, e mesmo assim
sem ter expectativa de ser campeão nacional ou internacional do que quer que
seja.
E
eu estou falando aqui do melhor dos mundos, ou seja, achar algum louco que
quisesse nos emprestar 700 milhões de reais a juros de 5% ao ano, o que é
impossível. Na prática, essa conta seria muito maior.
O
que eu prevejo que irá acontecer daqui pro futuro: o próximo Presidente será um
novo Borer, pois em algum momento perderemos novamente a sede do clube para
dívidas, mesmo que o Proforte seja aprovado e o Botafogo participe dele, mesmo
destacando que nossa relação dívida financiada/receita anual não fecha o
cálculo atuarial, ou seja, hoje o Botafogo estaria fora do Proforte. Lembro que
as dívidas trabalhistas e cíveis não são abarcadas pelo acordo e suas execuções
continuam. Ainda que voltássemos ao ato trabalhista, agora não teríamos como
arcar com 15% das nossas receitas brutas mensais.
A
insolvência civil do clube hoje é, na minha opinião, inevitável, e o Botafogo já
morreu, por culpa de qualquer um, menos minha, pois sempre estive do lado
certo, em todos os momentos. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde, e
resta saber quem vai controlar esse processo, se os associados ou os credores.
Se
forem os credores, é possível que esse processo dure anos e o clube deixe de
disputar campeonatos durante esse período, vindo a deixar de existir em médio
prazo como clube grande. Se forem os associados, podemos vir a garantir que a
atividade futebolística do clube não cesse durante esse período.
Lembro
que tal situação se deu com clubes tão grandes quanto o Botafogo, como Napoli,
Fiorentina e Glasgow Rangers.
Esse
cenário apocalíptico só não acontecerá nas seguintes situações: (i) se
realmente houver uma ANISTIA das dívidas tributárias dos clubes, como era o
projeto original substituído pelo projeto do Otávio Leite; (ii) se algum(ns)
abnegado(s) investir(em) a fundo perdido algo em torno de 150 a 200 milhões de
reais apenas para pagamento de dívidas. E mesmo assim ainda precisaríamos de
muito esforço administrativo/fiscal por pelo menos 15 anos, com times fracos e
sem títulos.
Como
não acredito em “Sócio-Noel”, precisaremos tomar uma posição forte em relação
ao futuro do clube. O tempo de salvar o clube através de responsabilidade
administrativa e ST com voto acabou. Insistir com isso é adiar o futuro com uma
morte lenta, dolorosa e que pode resultar em mais vergonhas esportivas.
Escrito
isso, e reiterando que nada do que está acontecendo hoje é culpa minha, pois
sempre fui oposição a tudo isso e crítico inconteste, daqui a três anos eu já
posso voltar a dizer: eu avisei.
Fonte:
Facebook de Bernardo Santoro
2 comentários:
Rui,
há alguns anos, estive na sede do Botafogo com minha família. Na ocasião, meu pai botafoguense, sócio desde os anos 80, que nunca tinha ido ao Rio por falta de interesse, estava no Rio. Era sábado. Entramos em uma visita guiada e pudemos adentrar a todos os cantos de General Severiano (inclusive no alojamento dos jogadores). O que importa: ao cabo do passeio nos vimos conversando com um daqueles senhores sócios-beneméritos, que nos falava da recuperação da sede e de sua reconstrução. Então, ele nos disse: em alguns anos, em 2015, o espaço cedido para o shopping que fica em nosso terreno, volta para nossas mãos. Teremos uma fonte segura de renda doravante. Por que nunca ouvimos falar desse ativo quando se fala em dívidas? A quantas anda essa história? Outro dia, alguém me disse que o aluguel de um carrinho de sorvete no corredor de um shopping não sai por menos do que 20 mil reais/mês. Qual seria a renda gerada pelos aluguéis das lojas que ocupam esse espaço? Qualquer planejamento de longo prazo não deveria incluir essas futuras receitas? Ou será que estamos entrando num momento de grave crise exatamente quando esse espaço retornará para nossas mãos para que se justifique sua concessão a preço de banana?
Te escrevo isso apenas para registrar essa conversa e o que pensamos a partir dela.
um abraço, Marlon
Meu amigo Marlon, em termos de mundo Ocidental já vi muita coisa estranha, mas garanto que nunca vi nada como os esquemas diabólicos que ocorrem no futebol brasileiro dos quais um exemplo flagrante é o Engenhão: foi-nos roubado com o beneplácito do presidente e hoje já s ediz à boca cheia que foi tudo montado para favorecer um acerta empresa... Mesmo que isso pudesse implicar no caminho mais rápido para o fundo. E sem nenhum decoro, ninguém se importou com isso e o Engenhão continua fechado, provavelmente à espera de se poder retirar a concessão por inadimplência do BFR.
Porque não com o shopping também, já que ninguém respeita o Botafogo que o NÓDOA atirou para a sarjeta?
Abraços Gloriosos.
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