quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Ascensão e queda do Botafogo 1957-1972 (I)

Publicarei uma série de artigos para que os adeptos mais novos do Botafogo entendam o contexto em que o nosso clube se foi afastando do palco mundial que partilhava com o Santos. A entrevista que se segue foi feita a Sandro Moreyra, renomado cronista desportivo adepto do Botafogo, com o título ‘Glória e Agonia da Estrela Solitária’. Trata-se de excertos e conta a parte ‘boa’ do Botafogo: a ascensão.

GLÓRIA E AGONIA DA ESTRELA SOLITÁRIA

Nos anos 50, o Botafogo também estava em péssima situação. Como pôde crescer a partir daí?

Em 1955, o Botafogo viveu uma situação parecida com essa, quase que fica abaixo do Bonsucesso. Então, João Saldanha, Renato Estelita, João Azeredo e eu, tradicionais botafoguenses, fomos até o gabinete do presidente, Paulo Azeredo, um homem muito sério. Chegamos lá e deflagramos uma revolução, mostrando que era uma vergonha o Botafogo virar o São Cristóvão da zona sul. Então, Paulo Azeredo alarmou-se e imediatamente disse: “Não, eu vou providenciar um dinheiro”. O Botafogo comprou Didi, comprou Paulo Valentim, depois comprou Zagalo, depois Manga. Fez um timaço, ganhou o campeonato de 1957, chegou na final com o Fluminense, deu de 6x2. Em 1958, na Copa do Mundo da Suécia, o Botafogo compareceu com esses titulares todos e o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez. E o Botafogo começou a faturar, porque a Europa queria ver Didi, queria ver Nilton Santos, queria ver, principalmente, Garrincha. Então, o Botafogo passou a viajar e a faturar dinheiro – começou a entrar dólar, entrar dólar. Aí, ele foi bicampeão carioca em 1961 e 62 e não ganhou mais campeonatos porque não quis – o Botafogo sempre foi meio malandro. Mas, em 1963, a idade pesou. Aí, todo mundo pensou: bom, acabou o Botafogo. Mas veio a geração do Jairzinho, do Roberto (Miranda), do Paulo César (Caju)…

Todos da escolinha do clube?

Sim. E esse time foi bicampeão em 1967 e 1968. De fora, s+o havia Gérson, que tinha vindo do Flamengo. Então, até 1972 o Botafogo foi um grande time. Depois, veio a tal operação meia-três, veio a crise do país, veio a crise do futebol. Quando Borer saiu, o Botafogo não tinha jogadores. Caso de Alemão é único, pois é uma cria da casa que deu certo. Outros juvenis foram promovidos antes do tempo e acabaram. Ou seja, mataram os jogadores promovendo-os – três, quatro ao mesmo tempo – como salvadores de um time perdido.

Algum exemplo?

Ah, vários deles. Helinho, o próprio Petróleo que está agora lá.

Mas o Botafogo tem um passado muito mais rico do que o que você contou até aqui. Conte mais.

Foi uma grande época do Botafogo [o entrevistado refere-se aos tempos de glória de Carlito Rocha, em finais da década de 1940]. Outra foi em 1957, quando o time chegou a final do campeonato comum ponto a menos que o Fluminense. O tricolor jogava pelo empate, mas o Botafogo ganhou de 6x2. Foi a melhor atuação de Garrincha no Clube. Paulo Valentim fez cinco gols, foi uma exibição notável do Botafogo no Maracanã lotado.

E o bicampeonato de 1961-62?

Em 1961, o Botafogo ganhou com muita folga, só perdendo um único jogo, por 2x1, diante do América. Em 1962, ele chegou à final com um ponto de desvantagem do Falmengo e ganhou de 3x0. Com três gols de Garrincha. E depois, veio aquela fase em que Zagalo foi técnico, em 1967 e 68, quando o Botafogo teve grandes atuações. Organizaram então um jogo da Seleção, dirigida por Zagalo, contra a Seleção Argentina. Zagalo escalou quase o time todo do Botafogo, só com um jogador do Flamengo. Houve protesto, mas o fato é que na hora esse time deu de 4x1 na Seleção Argentina. Esse mesmo time na final com o Vasco, em 1968, ganhou por 4x0. Foi o último título de campeão carioca do Botafogo. Na Taça Guanabara, ainda em 1968, ele jogou contra o Flamengo, que estav com dois pontos à frente, e foi 0x0. Aí, o Botafogo não tinha mais jogo. E o Flamengo ainda tinha um jogo atrasado, com o Bonsucesso no Maracanã, na quarta-feira seguinte, e já achava que era campeão: deu volta olímpica, jogaram camisas para os torcedores e tal. E o Botafogo, na segunda-feira, tinha ido excursionar pelo interior, porque também achava que o Flamengo ganharia do Bonsucesso ou, na pior das hipóteses, empataria e seria campeão. Mas perdeu, e o Botafogo teve de voltar às pressas. Chegou ao Rio de Janeiro na quinta-feira e, no sábado, em jogo extra deu de 4x1 no Flamengo e foi campeão.

Mas, para você, qual foi o grande momento do Botafogo?

Oi a Copa do Chile em 1962, porque o Brasil lutava pelo bicampeonato e o Botafogo tinha a metade do time titular: Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo (que entrou no lugar de Pelé no segundo jogo) e Zagalo.

Qual foi a repercussão disso no clube?

Eu vi, uma vez, na varanda da sede, uma briga entre dois empresários argentinos que disputavam o direito de levar o Botafogo à Europa. O Botafogo era uma atracão. O Botafogo e o Santos de ele andavam pelo mundo inteiro, inclusive se encontravam, às vezes, na Alemanha, na Venezuela, na Colômbia, no México. Pelo mundo.

Que relação você vê entre a queda do Botafogo e os tais problemas do futebol brasileiro?

Bem, hoje existem técnicos que dizem que futebol é 70% de força, como PLACAR até publicou. Quer dizer, não há lugar para um Garrincha, que era só habilidade. Não há lugar para aquele Botafogo de arte e glórias.

Fonte: Placar Magazine, nº 810, de 29.11.1985

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