Dia 7 de Agosto de 1968. ‘Selefogo’ x Seleção da
Argentina. Muitos clubes desportivos do mundo colecionam enormes glórias. O
desporto é, aliás, uma glória por si mesmo. Muitos clubes detêm recordes,
façanhas e coisas únicas que os distinguem de outros. O nosso amado clube, não
possuindo uma torcida numericamente fabulosa – ainda bem! –, nem títulos de
‘cegar’ meio mundo, possui, contudo, uma imensidão de acontecimentos sui
generis que lhe permite considerar-se um clube distinto da maioria esmagadora
dos clubes do mundo – pela sua história e pelas suas originalidades
imperdíveis.
O ‘jogo inesquecível’ de hoje não foi jogado pelo
Botafogo, mas por uma seleção brasileira que entrou em campo com oito jogadores
botafoguenses e goleou a Argentina por 4x1. Quantos clubes do mundo viram a
seleção de futebol do seu país representada por oito jogadores simultaneamente
e bater de goleada o grande rival de sempre?!
Nesse dia, no Estádio do Maracanã, os jogadores
botafoguenses realizaram um dos mais célebres jogos de futebol perante 39.375
torcedores absolutamente maravilhados com a sua Selefogo. A CBD, em rota de
colisão com os clubes paulistas, colocou em campo um combinado carioca com oito
jogadores do Botafogo, sob o comando do técnico Zagallo do Botafogo. O nosso
tetracampeão do mundo (como jogador, treinador e dirigente) recordou o jogo:
– “Em 1968, fui convidado para dirigir a Seleção
contra a Argentina em um amistoso no Maracanã. Formei a Seleção com a base do
Botafogo, que tinha sido campeão estadual em 67 e acabaria bicampeão no final
de 68, e goleamos por 4 a 1. Foi o meu primeiro jogo como treinador da Seleção,
para onde voltei oficialmente em 70.”
O time do Botafogo foi todo convocado e só não
entraram em campo o goleiro Cao, o zagueiro Zé Carlos e o ponta direita
Rogério. A equipa alinhou inicialmente com Félix (Fluminense), Moreira
(Botafogo), Brito (Vasco), Leônidas (Botafogo) e Valtencir (Botafogo); Carlos
Roberto (Botafogo) e Gérson (Botafogo); Nado (Vasco), Roberto (Botafogo),
Jairzinho (Botafogo) e Paulo César (Botafogo). Murilo (Flamengo) substituiu
Moreira do Botafogo); Ney Oliveira (Vasco da Gama) substituiu Roberto
(Botafogo). Os gols foram obtidos por Valtencir, Roberto, Jairzinho e Paulo
César.
Gérson comandou o espetáculo, que se traduziu, além da
goleada, por uma ‘roda de bobo’ feita aos jogadores argentinos, durante a qual
os brasileiros trocaram 52 passes consecutivos, que culminaram no 4º gol que
coroou aquele que ficou conhecido por ‘Jogo do Olé’.
Zagallo recorda esse momento inesquecível na memória
de quase 40 mil pessoas:
– Trocamos os 52 passes, com os argentinos na roda,
até sair o gol do Paulo César.
Foi um lance que dificilmente será visto de novo no
futebol”.
Essa cena jamais foi repetida e, como se costuma
dizer, “quem viu, viu; quem não viu, perdeu”.
Os minutos iniciais foram de contenção dos argentinos,
que formavam um muro compacto para impedir as jogadas do adversário. A Selefogo
jogava com a defesa em linha, mas Gérson e Carlos Roberto, recuados,
asseguravam a consistência defensiva, sendo função de Paulo César e de Nado
irem buscar jogo atrás.
Os argentinos ameaçaram por duas vezes, a meio da 1ª
parte, mas Félix correspondeu com duas boas defesas. Aos 40 minutos quase que
Yazalde marcava (futuro jogador do Sporting que conquistou a Bola de Ouro de
melhor marcador europeu), mas logo a seguir Valtencir avançou pela esquerda,
recebeu a bola e chutou de fora da área inaugurando o marcador.
Entretanto, os argentinos tiveram que procurar o gol
na 2ª parte e o jogo tornou-se mais aberto. Nado aproveitou-se disso aos 5
minutos, fez um lançamento longo para o flanco direito e, já próximo à trave,
Roberto cobre o goleiro adversário e faz Selefogo 2x0.
Montagem: Iram Santos
O Brasil ampliou a sua liderança em campo e aos 28
minutos Roberto quase que aumentava o placar a passe de Jairzinho. Porém,
quatro minutos depois, Gérson arranca pela esquerda, toca para Paulo César, que
chuta rasteiro para a marca de grande penalidade, onde Roberto ajeita a bola e
fuzila o ângulo direito da Argentina. Selefogo 3x0.
Entretanto Roberto foi substituído por Ney e
iniciou-se a famosa cena do ‘olé’ aos 83 minutos de jogo, que durou dois
artísticos minutos e meio. Os últimos passes redundaram de uma tabelinha entre
Ney e Jairzinho, que completou para o fundo da baliza perante o delírio
absoluto de quarenta mil pessoas. Selefogo 4x0. Mesmo no encerrar do pano os
argentinos marcaram o seu gol de honra.
FICHA TÉCNICA
Brasil 4x1 Argentina
» Gols: Valtencir, Roberto, Paulo César e Jairzinho
(Brasil); Basile (Argentina)
» Competição: Amistoso
» Data: 07.08.1968
» Local: Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro
» Público: 39.375 pagantes
» Árbitro: Armando Marques
» Brasil: Félix (Fluminense), Moreira (Botafogo),
depois Murilo (Flamengo), Brito (Vasco), Leônidas (Botafogo) e Valtencir
(Botafogo); Carlos Roberto (Botafogo) e Gérson (Botafogo); Nado (Vasco),
Roberto (Botafogo), depois Ney Oliveira (Vasco), Jairzinho (Botafogo) e Paulo
César (Botafogo). Técnico: Mário Zagallo (Botafogo).
» Argentina: Sanchez, Ostua, Perfumo, Basile e
Malbernat; Solari (Savoy) e Rendo; Aguirre, Yazalde, Veglio (Minitti) e Más.
Técnico: José Maria Minella.
6 comentários:
Quase todos que presenciaram esse jogo ficaram maravilhados. Conheci vários e vários torcedores, principalmente do Vasco que iam ao Maracanã para ver o Botafogo 67/68 jogar, tal era o espetáculo de futebol que aquele time oferecia. Eis que certa vez o PC Guimarães publicou esse jogo em seu blog e um recalcado cathiforme alegou que o time da Argentina era muito ruim e que nem se classificou para a copa de 70, querendo desmerecer completamente o feito da selefogo. Eu não me lembro de nenhum jogo fácil entre Brasil e Argentina e também me lembro que essa mesma seleção Argentina em amistoso contra a seleção brasileira que viria a ser campeã em 70 só venceu os argentinos com um gol sofrido de Pelé no finzinho do jogo. Pobres cathiformes, nunca tiveram nada que prestasse, ganham tudo na mão grande e morrem de inveja do Botafogo. Coitado, são uns recalcados invejosos. Abs e SB!
Grande façanha. Ainda por cima todos os gols da Selefogo foram marcados por jogadores do Fogão !!!
abraços!
Sergio, eu lembraria à miserabilista intelectualidade dos cathartiformes que em 81 ganharam a Libertadores após aquela vergonha do Zero Roberto Wright ao expulsar cinco jogadores do Atlético Mineiro, sendo o flamengo xdeclarado vencedor. É uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro de todo os tempos. A Libertadores foi roubada, como, aliás, a maior parte dos títulos cathartiformes.
Abraços Gloriosos.
Daniel, jamaia algum clube brasileiro terá oito jogadores num só jogo e capazes de golear a sempre poderosa Argentina.
É por isso que nos detestam: não têm coisas bonitas como nós na sua história, cheia de roubos e falcatruas. E embora não reconheçam, eles sabem que os títulos não são justos e sofrem, sofrem, sofrem, por não terem um título EXCLUSIVA E VERDADEIRAMENTE SEU para comemorar.
Gentinha...
Abnraços Gloriosos.
Rui, Sergio,
No jogo que perdemos para o time do Papa conheci um senhor (pai de uma moça Botafoguense, amiga do Danilo Paiva) que descreveu o time do Botafogo dessa época. Ele escalava os times do Botafogo dessa época e comentava sobre o futebol daquele tempo.
No início pensei que era Botafoguense. Engano, é vascaíno e disse que naquele tempo ia mais aos jogos do Botafogo que do Vasco. Ele e muitos torcedores de outros times, principalmente para ver Garrincha.
Descreveu um jogo que o Botafogo deu olé no esgoto da Gávea em trocas de passes de cabeça. Disse que nunca mais viu e verá aquilo. “Pena não ter a facilidade de hoje para filmar”, palavras dele.
Pobre do atual Botafogo!
Pobre de nós, Torcedores!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Brilhantes as tuas observações, Gil. Percebes então porque é que os cathartiformes nos destestam? Em boa verdade, têm razão para isso...
Pena que o Brasil jamais terá um time tão repleto de craques como tinha o Botafogo da década de 1960. Agora é assim: o Santos vai a Barcelona e toma de 8x0; a Alemanha chega ao Brasil e vai de presentear a Sekleção canarinho com 7x1.
Porém... tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes... Na Seleção e nos clubes...
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário