terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sporting 2x0 Vitória de Guimarães

A equipe titular do Sporting perdeu há algumas semanas por 3x0 com o Vitória em Guimarães e o presidente Leonino não gostou nada da equipe ser goleada. Então, enviou uma mensagem pública do seu facebook aos Sportinguistas pedindo desculpas e criticando fortemente a equipe e, implicitamente o treinador, exigindo a assunção de responsabilidades. O argumento é simples: a diretoria havia feito a seu papel e a sua obrigação, cumprindo já mais de cem medidas das cento e vinte prometidas.

Na verdade, Bruno de Carvalho já começara a entrar em rota de colisão com o treinador. Duas foram as razões que eu conheço em que se baseou: os resultados competitivos abaixo do nível do ano anterior e a não aposta nos jovens da Academia que fazem parte da equipe B. Por outro lado, o Sporting contratou atletas que são jovens promessas entre os quais Ryan Gould, um escocês de 19 anos que integra a seleção da Escócia e que foi a aquisição mais cara (2,5 milhões de euros). E Gould foi aposta exclusiva do presidente, sem consultar o treinador…

Entretanto, o presidente fez novo comunicado que pretendeu, entre outras coisas, implicar a equipe e o treinador na obtenção de bons resultados desportivos. Foi o suficiente para a comunicação social maioritariamente benfiquista explorar as eventuais desavenças entre presidente e treinador. Tentaram desestabilizar, tentaram e conseguiram.

O treinador do Sporting criticou implicitamente a postura do presidente e só não foi despedido devido ao custo da indenização. Então, o presidente, além de não gostar de ser implicitamente criticado, tem sentido na pele o efeito negativo da comunicação social benfiquista e declarou black out à imprensa, limitando as ‘falas’ ao canal TV Sporting e às obrigações legais dos patrocinadores. Se a situação ocorresse no Benfica tudo seria menorizado à boa moda da imprensa flamenguista e não se dedicava nem um quarto do tempo ao assunto. Aliás, o Benfica foi eliminado de todas as competições europeias ao obter o último lugar no seu grupo da Champions League e foi surpreendentemente eliminado em casa na Taça de Portugal. Mas a comunicação social calou-se e só fala na liderança deles no campeonato nacional (à custa de cinco ajudas de arbitragem).

E a meio da semana, após a comunicação social tanto bater no mesmo assunto, o treinador, que é um ‘júnior’ como treinador (tem 37 anos), caiu na esparrela e, como escrevi acima, criticou implicitamente o presidente do Sporting. Não foi demitido, mas se os resultados não melhorassem (empataram em casa mais uma vez), certamente o presidente pressionaria mais.

Sucede que esta semana começou a Taça da Liga, a menos importante competição de natureza nacional, e o Sporting apresentou a sua equipe B no jogo fora contra o Vitória de Guimarães, favorito absoluto para a partida. A equipa B foi imposição da diretoria porque o Sporting foi eliminado o ano passado com mais uma matreirice do Porto: nos jogos decisivos da classificação à fase seguinte era necessário que as partidas começassem e terminassem ao mesmo tempo, para não haver favorecimentos. Porém, o Porto atrasou quatro minutos a entrada para o segundo tempo e foi precisamente um minuto depois do Sporting terminar o seu jogo que o Porto assinalou o gol da classificação, a três minutos do fim da partida.

Por infração ao regulamento, o Sporting requereu a eliminação do Porto, mas a Liga não aceitou e Bruno de Carvalho prometeu que este ano apresentaria a equipe B durante toda a competição. E fê-lo.

Ocorre que durante a semana os jogadores uniram-se em torno do treinador e os adeptos do Sporting acolheram Marco Silva em campo com palmas. O presidente ficara isolado. Mais ainda quando o treinador, reconhecendo a inferioridade técnica da equipe B face ao Vitória de Guimarães, decidiu jogar como ‘time pequeno’ explorando o contra-ataque. Surpreendentemente fez 2x0 e ganhou o jogo.

Durante a partida o treinador ficou sempre à beira do campo e o presidente sentado no banco de suplentes. Não se falaram durante todo o tempo e não comemoraram os gols juntos, evidenciando claramente que ambos estão de costas voltadas um para o outro. Bruno de Carvalho considera o treinador frouxo. O treinador apostou num bom clima de vestiário e ganhou a confiança da equipe.

Após uma vitória inesperada, Marco Silva reforçou o seu poder e durante a conferência de imprensa elogiou os jogadores, realçou a torcida Sportinguista e nem uma palavra sobre o presidente, apesar de solicitado para o efeito…

Creio que o divórcio informal já se consumou. O futuro dirá de sua justiça, mas Marco Silva moveu as suas pedras no tabuleiro de xadrez e a próxima jogada será do presidente. A torcida está com Marco Silva, mas também com Bruno de Carvalho. A torcida do Sporting nunca foi submissa e pensa pela sua cabeça. Escolheu ambos. Vai ser complicado porque está destinado que, algures no futuro, Marco Silva será ‘despejado’ de Alvalade.

No entanto, o presidente pode, em minha opinião, explorar os bons desempenhos dos atletas da equipe B e especialmente o de Ryan Gould, a sua aposta maior. Entre os jogadores utilizados destacaram-se três atletas estreantes vindos da Academia. Então, o presidente poderá fazer valer que a sua escolha estava correta: apostar na Academia. Marco Silva nunca apostou na Academia, o que, para o presidente e para mim, é imperdoável. O Clube tem a 2ª melhor Academia do mundo, apenas atrás da Academia do Barcelona. E o presidente poderá ter outro trunfo: foi após a sua pressão que todos os jogadores se uniram em torno do treinador e deixaram o ‘sangue’ em campo, coisa que os titulares não haviam feito no último jogo. Talvez se possa dizer que é uma ‘vitória paradoxal’ do presidente.

Aliás, o presidente não contratou os reforços pedidos pelo treinador e anunciou os nomes dos reforços a integrar a equipe de futebol: são eles os atletas da equipe B que demonstrem capacidade para ascender à equipe principal. E haverá pelo menos oito jogos na desvalorizada Taça da Liga (devido à decisão do Sporting) com a equipe B. Para bom entendedor, meia palavra basta…

Certo é que Bruno, sendo bastante autoritário, relançou o prestígio do Sporting, sanou as finanças, modernizou o Clube e soube escolher bem a equipe dirigente. E não se verga às convicções dos outros. Anunciou, no último comunicado, que o futuro será ‘fraturante’ – e obviamente que isso é necessário para mudar o pântano que é o panorama dos bastidores do futebol português. Vai continuar a pressionar e já marcou uma Assembleia Geral para janeiro, isto é, vai lançar a cartada aos sócios: ou o apoiam ou ele toma decisões drásticas. É homem do tipo “antes quebrar que torcer”…

A grande vantagem de tudo isto foi a ‘vitória paradoxal' do presidente: o treinador viu-se obrigado a jogar com os atletas da Academia e pelo menos dois ou três deles mostraram capacidade para integrar a equipe principal

Nota final aos companheiros de escudo: considero que o presidente do Sporting deveria ter abordado o assunto de outra maneira e apoiado/ajudado o treinador, porque uma grande equipe (ambição do presidente) não se constrói nem em um nem em dois anos – além de, muito provavelmente, o treinador que escolheu parecer-me apropriado para construir um bom futuro. Uma equipe regular e consistente constrói-se ao longo dos anos. A ‘culpa’ de Bruno de Carvalho é a sua ambição de conquistar o título nacional a qualquer custo, e como percebeu que já não será este ano pressionou novamente a comissão técnica. Todavia, se fosse necessário eu escolher entre um ou outro, perfilava-me ao lado do presidente – porque enquanto atletas e treinadores se vão, os torcedores ficam. Bruno de Carvalho é um grande torcedor.

FICHA TÉCNICA
Sporting 2x0 Vitória de Guimarães
» Gols: Heldon, aos 4’ e Dramé, aos 90’+4
» Competição: Taça da Liga
» Data: 29.12.2014
» Local: Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães
 Público: 7.844 pessoas
» Árbitro: Manuel Oliveira (Porto); Assistentes: Bruno Rodrigues e Alexandre Freitas
» Disciplina: Naby Sarr, Ricardo Esgaio, Podence e Heldon (Sporting); João Afonso e Bernard (Vitória de Guimarães)
» Sporting: Marcelo Boeck; Ricardo Esgaio, Tobias Figueiredo, Naby Sarr e André Geraldes; Oriol Russel, Slavechev (Wallyson) e Ryan Gould; Podence (Sacko), Heldon (Dramé) e Tanaka. Técnico: Marco Silva.
» Vitória de Guimarães: Gouglas; Nii Plange, Josué, João Afonso e Traoré;  Cafú, André André e Bernard; Hernâni, Gui e Ricardo Gomes. Técnico: Rui Vitória.

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