A equipe
titular do Sporting perdeu há algumas semanas por 3x0 com o Vitória em
Guimarães e o presidente Leonino não gostou nada da equipe ser goleada. Então, enviou
uma mensagem pública do seu facebook aos Sportinguistas pedindo desculpas e criticando
fortemente a equipe e, implicitamente o treinador, exigindo a assunção de
responsabilidades. O argumento é simples: a diretoria havia feito a seu papel e
a sua obrigação, cumprindo já mais de cem medidas das cento e vinte prometidas.
Na verdade,
Bruno de Carvalho já começara a entrar em rota de colisão com o treinador. Duas
foram as razões que eu conheço em que se baseou: os resultados competitivos
abaixo do nível do ano anterior e a não aposta nos jovens da Academia que fazem
parte da equipe B. Por outro lado, o Sporting contratou atletas que são jovens
promessas entre os quais Ryan Gould, um escocês de 19 anos que integra a
seleção da Escócia e que foi a aquisição mais cara (2,5 milhões de euros). E
Gould foi aposta exclusiva do presidente, sem consultar o treinador…
Entretanto,
o presidente fez novo comunicado que pretendeu, entre outras coisas, implicar a
equipe e o treinador na obtenção de bons resultados desportivos. Foi o
suficiente para a comunicação social maioritariamente benfiquista explorar as
eventuais desavenças entre presidente e treinador. Tentaram desestabilizar,
tentaram e conseguiram.
O treinador
do Sporting criticou implicitamente a postura do presidente e só não foi
despedido devido ao custo da indenização. Então, o presidente, além de não
gostar de ser implicitamente criticado, tem sentido na pele o efeito negativo da
comunicação social benfiquista e declarou black out
à imprensa, limitando as ‘falas’ ao canal TV Sporting e às obrigações legais
dos patrocinadores. Se a situação ocorresse no Benfica tudo seria menorizado à
boa moda da imprensa flamenguista e não se dedicava nem um quarto do tempo ao
assunto. Aliás, o Benfica foi eliminado de todas as competições europeias ao
obter o último lugar no seu grupo da Champions League e foi surpreendentemente
eliminado em casa na Taça de Portugal. Mas a comunicação social calou-se e só
fala na liderança deles no campeonato nacional (à custa de cinco ajudas de arbitragem).
E a meio da
semana, após a comunicação social tanto bater no mesmo assunto, o treinador,
que é um ‘júnior’ como treinador (tem 37 anos), caiu na esparrela e, como
escrevi acima, criticou implicitamente o presidente do Sporting. Não foi demitido, mas se os
resultados não melhorassem (empataram em casa mais uma vez), certamente o
presidente pressionaria mais.
Sucede que
esta semana começou a Taça da Liga, a menos importante competição de natureza
nacional, e o Sporting apresentou a sua equipe B no jogo fora contra o Vitória
de Guimarães, favorito absoluto para a partida. A equipa B foi imposição da
diretoria porque o Sporting foi eliminado o ano passado com mais uma matreirice
do Porto: nos jogos decisivos da classificação à fase seguinte era necessário
que as partidas começassem e terminassem ao mesmo tempo, para não haver
favorecimentos. Porém, o Porto atrasou quatro minutos a entrada para o segundo
tempo e foi precisamente um minuto depois do Sporting terminar o seu jogo que o
Porto assinalou o gol da classificação, a três minutos do fim da partida.
Por infração
ao regulamento, o Sporting requereu a eliminação do Porto, mas a Liga não
aceitou e Bruno de Carvalho prometeu que este ano apresentaria a equipe B
durante toda a competição. E fê-lo.
Ocorre que
durante a semana os jogadores uniram-se em torno do treinador e os adeptos do
Sporting acolheram Marco Silva em campo com palmas. O presidente ficara
isolado. Mais ainda quando o treinador, reconhecendo a inferioridade técnica da
equipe B face ao Vitória de Guimarães, decidiu jogar como ‘time pequeno’
explorando o contra-ataque. Surpreendentemente fez 2x0 e ganhou o jogo.
Durante a
partida o treinador ficou sempre à beira do campo e o presidente sentado no
banco de suplentes. Não se falaram durante todo o tempo e não comemoraram os
gols juntos, evidenciando claramente que ambos estão de costas voltadas um
para o outro. Bruno de Carvalho considera o treinador frouxo. O treinador
apostou num bom clima de vestiário e ganhou a confiança da equipe.
Após uma
vitória inesperada, Marco Silva reforçou o seu poder e durante a conferência de
imprensa elogiou os jogadores, realçou a torcida Sportinguista e nem uma
palavra sobre o presidente, apesar de solicitado para o efeito…
Creio que o
divórcio informal já se consumou. O futuro dirá de sua justiça, mas Marco Silva
moveu as suas pedras no tabuleiro de xadrez e a próxima jogada será do
presidente. A torcida está com Marco Silva, mas também com Bruno de Carvalho. A
torcida do Sporting nunca foi submissa e pensa pela sua cabeça. Escolheu ambos.
Vai ser complicado porque está destinado que, algures no futuro, Marco Silva será ‘despejado’ de Alvalade.
No entanto,
o presidente pode, em minha opinião, explorar os bons desempenhos dos atletas
da equipe B e especialmente o de Ryan Gould, a sua aposta maior. Entre os
jogadores utilizados destacaram-se três atletas estreantes vindos da Academia. Então, o
presidente poderá fazer valer que a sua escolha estava correta: apostar na
Academia. Marco Silva nunca apostou na Academia, o que, para o presidente e
para mim, é imperdoável. O Clube tem a 2ª melhor Academia do mundo, apenas
atrás da Academia do Barcelona. E o presidente poderá ter outro trunfo: foi
após a sua pressão que todos os jogadores se uniram em torno do treinador e
deixaram o ‘sangue’ em campo, coisa que os titulares não haviam feito no último
jogo. Talvez se possa dizer que é uma ‘vitória paradoxal’ do presidente.
Aliás, o
presidente não contratou os reforços pedidos pelo treinador e anunciou os nomes
dos reforços a integrar a equipe de futebol: são eles os atletas da equipe B
que demonstrem capacidade para ascender à equipe principal. E haverá pelo menos
oito jogos na desvalorizada Taça da Liga (devido à decisão do Sporting) com a
equipe B. Para bom entendedor, meia palavra basta…
Certo é que
Bruno, sendo bastante autoritário, relançou o prestígio do Sporting, sanou as
finanças, modernizou o Clube e soube escolher bem a equipe dirigente. E não se
verga às convicções dos outros. Anunciou, no último comunicado, que o futuro
será ‘fraturante’ – e obviamente que isso é necessário para mudar o pântano que
é o panorama dos bastidores do futebol português. Vai continuar a pressionar e
já marcou uma Assembleia Geral para janeiro, isto é, vai lançar a cartada aos
sócios: ou o apoiam ou ele toma decisões drásticas. É homem do tipo “antes
quebrar que torcer”…
A grande
vantagem de tudo isto foi a ‘vitória paradoxal' do presidente: o treinador
viu-se obrigado a jogar com os atletas da Academia e pelo menos dois ou três
deles mostraram capacidade para integrar a equipe principal
Nota final
aos companheiros de escudo: considero que o presidente do Sporting deveria ter
abordado o assunto de outra maneira e apoiado/ajudado o treinador, porque uma grande
equipe (ambição do presidente) não se constrói nem em um nem em dois anos –
além de, muito provavelmente, o treinador que escolheu parecer-me apropriado
para construir um bom futuro. Uma equipe regular e consistente constrói-se ao longo dos anos.
A ‘culpa’ de Bruno de Carvalho é a sua ambição de conquistar o título nacional
a qualquer custo, e como percebeu que já não será este ano pressionou novamente
a comissão técnica. Todavia, se fosse necessário eu escolher entre um ou outro, perfilava-me
ao lado do presidente – porque enquanto atletas e treinadores se vão, os
torcedores ficam. Bruno de Carvalho é um grande torcedor.
FICHA
TÉCNICA
Sporting 2x0 Vitória de Guimarães
» Gols:
Heldon, aos 4’ e Dramé, aos 90’+4
»
Competição: Taça da Liga
» Data:
29.12.2014
» Local:
Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães
Público: 7.844 pessoas
» Árbitro:
Manuel Oliveira (Porto); Assistentes: Bruno Rodrigues e Alexandre Freitas
»
Disciplina: Naby Sarr, Ricardo Esgaio, Podence e Heldon (Sporting); João Afonso
e Bernard (Vitória de Guimarães)
» Sporting: Marcelo
Boeck; Ricardo Esgaio, Tobias Figueiredo, Naby Sarr e André Geraldes; Oriol
Russel, Slavechev (Wallyson) e Ryan Gould; Podence (Sacko), Heldon (Dramé) e
Tanaka. Técnico: Marco Silva.
» Vitória de
Guimarães: Gouglas; Nii Plange, Josué, João Afonso e Traoré; Cafú, André André e Bernard; Hernâni, Gui e
Ricardo Gomes. Técnico: Rui Vitória.
Sem comentários:
Enviar um comentário