Na vida
nem sempre a arrogância é penalizada. Basta ver tantos políticos arrogantes que
nunca se regeneraram e morreram arrogantes com prestígio. Mas isso costuma
acontecer muito mais frequentemente com os ‘arrogantes inteligentes’ do que com
os ‘arrogantes burros’. No desporto as arrogâncias inteligentes e burras tendem
a ser mais penalizadas do que no conjunto da vida, porque o sucesso no desporto
depende em grande parte das performances de cada um e da sua ‘humildade’
relativamente ao adversário – e não raras vezes são os atletas que sabem ganhar
com galhardia e perder com fidalguia que obtêm sucesso.
Infelizmente,
muitas e muitas vezes na vida são os monopólios, os oligopólios e outros
‘mimos’ semelhantes que, na balança da força que estrutura a vida humana
sustentada numa ótica de dominador / dominado – para mim absurda –, conseguem
vencer os melhores e os mais trabalhadores, impondo-se ao mundo os piores e
aqueles que vivem exclusivamente do trabalho dos outros.
É talvez
esta a razão fundamental pela qual, desde os meus 12 anos, me posicionei contra
os abusos do poder, contra o exercício dos usurpadores, contra as maiorias que
querem à força impor o seu domínio sobre os outros. Penso, neste caso específico,
no desporto e, em especial, no futebol, cuja dominação excessiva no quadro do
sistema-mundo não me agrada.
E é neste
quadro que me proponho hoje um comentário baseado em três jogos ocorridos
ontem: Botafogo (RJ) x Botafogo (PB), Paris Saint-Germain (França) x Barcelona
(Espanha) e Porto (Portugal) x Bayern München (Alemanha).
Até agora o
time de futebol do nosso Clube (embirro solenemente com os idiotas do Facebook
que perguntam insistentemente “qual é o seu time?” em vez de perguntarem o que
se pergunta em todo o mundo: “Qual é o teu clube?”) tem sido um time humilde e
trabalhador. Humildes temos sido em geral porque desde há muitos anos temos
sido comedidos e valorizamos o lema “ética, respeito e atitude” da torcida –
passada a euforia da fabulosa década de 1960 em que o nosso domínio
futebolístico também nos levou à arrogância.
Porém, tem
faltado trabalho. Que me recorde, desde o tempo do treinador Carlos Roberto
nunca acertamos num treinador ‘realmente’ profissional: Cuca fazia ‘panelinhas’
nos vestiários apoiado pelo seu irmão Cuquinha que, segundo a imprensa,
escutava atrás das portas (só a distinção ‘cuca’ e ‘cuquinha’ já é por si mesma
ridícula); Joel Santana com a mania de ser ‘paizão’ nunca percebeu que o atual
futebol competitivo não é para ‘paizão’ mas para profissionais; Ney Franco pensava
que as baladas da sua cançoneta embalavam os atletas; e depois os completamente
erráticos de profissão: Mário Sérgio, Péricles Chamusca, PC Gusmão, Estevam
Soares, Eduardo Húngaro, Vagner Mancini; e ainda um Geninho cansado e um
Osvaldo Oliveira arrogante que nunca conquistou coisa nenhuma que tenha sido
obra de trabalho seu.
Não sei se
o homem se revelará tecnicamente consistente ao longo do tempo, mas René Simões
impôs finalmente ao Botafogo as virtudes do trabalho e da justeza. O que não é
fácil num país em que os futebolistas e a maioria dos adeptos não se interessam
por táticas e acreditam que tudo se resolve no drible e no talento. No futebol
de equilíbrios que atualmente se pratica, talento sem tática ou tática sem
talento estão condenados ao fracasso. A conjugação de ambos – aliada ao esforço
e à dedicação – é fundamental, tendo sido assim que conseguimos ver equipes
vencedoras na Liga dos Campeões sem serem as melhores do mundo: por exemplo,
Chelsea (2011-2012) e Internazionale (2009-2010), que venceram o arrogância do
Bayern München, e o Porto (2003-2004), num século já completamente dominado
pelos clubes financeiramente mais apetrechados. E vimos variados times
‘galáticos’ do Real Madrid não ganharem nada ou o já superpoderoso Bayern
München (2013-2014) ser goleado e eliminado em casa pelo Real Madrid por…
4x0!!!
Os nossos
adversários e inimigos continuam a querer menorizar o Botafogo, um Clube que
saiu de seis anos de tragédia absoluta – como sempre anunciei e poucos quiseram
crer – para uma surpreendente conquista da Taça Guanabara. Não é uma equipe com
grandes artistas nem consolidada com os recursos que tem. Na verdade, é muito
oscilante, necessita de reforços e, em minha opinião, vive do trabalho semanal
que René Simões impõe com uma orientação absolutamente profissionalizada e sem
dar margem a estúpidos benefícios a este, àquele ou aqueloutro jogador. São
todos iguais, todos têm que trabalhar pela titularidade, todos têm que suar em
campo, ou então não são escalados.
A
comunicação social continua a desmerecer-nos. O que não é novidade. Mas que
tais desmerecimentos partam da parte mais imbecilizada dos torcedores de
futebol, especialmente quando pretendem elevar os seus times medíocres ao
pódio, é de rir e de chorar, é uma tragicomédia desportiva. A título de
exemplo (será que 'timinho' era referência ao outro Botafogo da várzea paraibana?...):
Para
infelicidade deste e de outros idiotas, o nosso time geriu esforços – e não concordo
com René Simões na sua visão sobre o jogo de ontem – parecendo-me estar a
pensar na semifinal contra o Fluminense. Porque quer se queira ou não se
queira, não há só o ‘jogo seguinte’ como muitos querem fazer crer. Tal como a
nossa vida não se projeta apenas no dia seguinte, também no futebol é
impossível vencer coisas ‘grandes’ sem um plano anual e até plurianual
pormenorizado – ou sem as arbitragens no caso paradigmático da roubalheira dos
cathartiformes hansenianos.
Alega-se que
ontem o nosso Clube dominou 20 minutos de jogo e no restante tempo tudo podia
acontecer. É verdade. Mas também é verdade que houve um doseamento à medida.
Sofremos alguma coisa – e eu incluo-me –, mas pareceu-me um sofrimento
calculado. Diz-se que o nosso time não dominou o jogo – mas tampouco o fizeram
os homens da Paraíba. Efetivamente, entregar a posse de bola ao adversário e
explorar os erros da defesa contrária é uma estratégia que dá muitos resultados
– e quem prepara melhor o equilíbrio entre o talento, a tática e a humildade,
geralmente ganha. Foi assim que o Bayern dominou completamente as finais da
Liga dos Campeões em 2009-2010 e 2011-2012 em termos de posse de bola e foi
ainda assim que perdeu ambas as finais. O ´papão’ sucumbiu com um claríssimo
2x0 na final contra a Internazionale e não foi capaz de vencer o limitado
Chelsea da época sequer nas grandes penalidades!
O próprio
Barcelona – e agora também o Bayern –, com o seu irritante e anti-futebolístico
tiki-taka, tem ficado pelo caminho em diversas ocasiões.
Voltando ao
nosso Clube, eu diria que o simpático ‘Belo’ é um time muito fraco, que vive da
sua vontade e pouco mais. De cada vez que diminuiu o marcador o Botafogo foi lá
e repôs a diferença. E tudo pareceu com muita facilidade, embora por alguns
períodos nos tenhamos colocado à defesa. Mas foi isso que permitiu depois
chegar a 3x1 e 4x2, sem arrogância e até com humildade. Ninguém se vangloriou
além do contentamento natural de se ganhar um jogo e obter uma classificação.
Ao contrário, diga-se, de perfeitos idiotas como Joseph Blatter, Michel Platini
ou Thomas Müller.
Blatter,
cuja independência como presidente da FIFA se exige que seja claríssima,
desdenhou de Cristiano Ronaldo num programa televisivo, em favor da sua
‘preferência’ por Lionel Messi, e ridicularizou-se. Teve que pedir desculpas
públicas a CR7 – que trabalha imenso para dar o seu melhor – e ver o atleta
conquistar duas Bolas de Ouro sucessivas. Nas duas últimas Bolas de Ouro de
CR7, o presidente da UEFA, Platini, considerou que a 1ª devia ser entregue a
Ribéry, enquanto no ano passado defendeu que devia ser entregue a Müller.
‘Vendido’ ao poder financeiro e político dos alemães, Platini escolheu atletas
jogando em solo alemão. Disse mais: que se Ribéry não ganhasse não teria mais
possibilidades disso, o que significa que seria atleta conjuntural e não
estrutural como CR7 e Messi – indubitavelmente os dois melhores do mundo a
léguas de distância de Ibrahimovic, Müller, Ribéry, Neuer e companhia. Mas
disse mais: que seria ‘enfadonho’ anualmente entregar a Bola de Ouro a Messi e
depois a CR7 e depois a Messi e depois a CR7… Como se, embora ambos sejam os
melhores do mundo, tivessem que intercalar com as estrelas dos clubes alemães
que não têm nem talento nem trabalho suficiente para serem os melhores do mundo
ano após ano.
Se no ano
anterior (2013) Blatter pediu desculpa a CR7, em 2014 foi a vez de Platini
pedir desculpas a CR7, afirmando, depois da conquista da 3ª Bola de Ouro, que
tudo não passou de uma ‘diversão’ e que CR7 era… o melhor do mundo!
E estamos
entregues a estes ‘senhores’!
Mas o
‘senhor’ Platini não se ficou por aí e agora, em 2015, saiu-se com outra
‘pérola’: recentemente disse que “os parisienses estão prontos para ganhar [a
Liga dos Campeões]. Têm uma equipe capaz de o fazer. O clube está ‘programado’
para ganhar a Liga dos Campeões!
E pumba! O
ataque sul-americano dos ‘barcelonetas’ foi a Paris e pulverizou o clube da
capital do país: dois de Suarez, um de Neymar e quase outro de Messi.
Dificilmente reverterão o resultado em Barcelona, precisando de ganhar por três
gols de diferença em Nou Camp. Pessoalmente nunca gostei do Barcelona sempre
protegido pelos árbitros, especialmente quando os portugueses começaram a
torcer pelo clube desde que atletas lusos para lá foram. Mas desta vez ‘je suis
Barcelona’. A quem Platini dirigirá as desculpas agora?
Também não
costumo torcer pelo Porto, mesmo no estrangeiro. Nem a favor nem contra. Mas
desta vez ‘je suis Porto’. Os alemães merecem a minha torcida pelo Porto.
A arrogância
que constitui a espinha dorsal do povo alemão – não tão arrogante quando alinha
ao lado de governos que conduzem a Europa a duas guerras mundiais por desejos
de ampliação territorial em desrespeito por outros povos – merece que torça
contra eles. São tão arrogantes e insensíveis que querem que a Grécia pague uma
dívida, sem renegociações, que está enchendo os bolsos alemães mediante uma
austeridade que, a manter-se na mesma linha defendida pelos alemães, prospetivamente
só terminará em… 2100! Isto é, à custa do sacrifício de quatro gerações,
enquanto a Alemanha apresenta superavits oriundos precisamente dos juros da
dívida grega, portuguesa, irlandesa e espanhola.
Mas voltemos
ao futebol.
A arrogância
alemã está patente na ‘famosa’ frase que Müller proferiu logo após vencer a
Argentina e conquistar a Copa do Mundo 2014:
– “A Bola de
Ouro? Não me interessa nada essa estúpida merda. Somos campeões do mundo! Pode
pegar na Bola de Ouro e metê-la no cu.” – respondeu a uma pergunta da
jornalista acerca da ‘Bola de Ouro’ entregue a Lionel Messi como melhor jogador
da competição (que Robben mereceu muito mais ganhá-la, mas isso é outra
história).
E depois de
desdenhar (e quem desdenha sem razão quer comprar) afirmou que a Bola de Ouro anual
da FIFA devia ser de Neuer por ser campeão do mundo e inovador na perspetiva de
um goleiro jogar futebol, e que seria ‘muito chato’ entregar a Bola de Ouro da
FIFA a CR7 e a Messi alternadamente…
Esqueceu-se
que, em 2014, na Alemanha, o Real Madrid goleou o Bayern por 4x0 com dois gols
de Ronaldo em cima de Neuer. E ainda não sabia que iria defrontar o Porto em
2015 e Neuer não iria fazer a diferença, mas sim os ‘desconhecidos’ Jackson
Martinez (Colombiano) e Ricardo Quaresma (revelado pelo Sporting).
Müller e o
Bayern, depois de levarem com CR7 em cima em vez de terem como Bolas de Ouro
Ribéry e Neuer, levaram com o ‘gênio’ de Quaresma e a capacidade ‘matadora’ de
Jackson Martinez.
“O Porto
saiu-nos no sorteio? Que bom!” – terão pensado os alemães. Já não pensam o
mesmo depois de perderem ‘surpreendentemente’ por 3x1 em casa do adversário,
desbaratados por um ‘gênio’ e por um ‘matador’ que – pasme-se! – fizeram três
gols em cima de… três erros clamorosos da defesa alemã!
Quando o
campeonato português se iniciou o Porto apresentou como treinador Julien
Lopetegui, cujas conquistas como treinador da Seleção Espanhola foram o
campeonato europeu de sub 19 (2012) e o campeonato europeu de sub 21 (2013).
Em 2014
entra para o Porto e faz uma série de rotatividades na equipe já em pleno
campeonato português. Criticado por isso, Lopetegui não era visto com bons
olhos. No decorrer de uma conversa perguntei a um amigo benfiquista se ele
sabia porque razão o treinador portista aceitara treinar o clube. Disse que
não. Eu dei-lhe a minha versão: quem sai de duas vezes campeão da Europa pelo
seu País para, sem experiência, treinar um clube estrangeiro praticamente pela
primeira vez (teve apenas duas experiências anteriores em 2003 e 2008), fá-lo
porquê? – Não houve resposta e eu expliquei a minha especulação:
– “Porque o
Lopetegui sabe que o Porto tem aspirações nacionais e europeias e que não pode
utilizar o mesmo time sempre e está-se preparando para afinar a equipe
direitinha à conquista da Liga dos Campeões.”
Como a
ambição parecia desmedida, ele ficou surpreendido, e ainda hoje a maioria não
percebeu: o presidente do Porto contratou Lopetegui e reforçou a equipe com jogadores
de muitos milhões porque com 77 anos está em fim de carreira, agravado por
problemas cardíacos, e quer sair no auge como campeão europeu de clubes. Tenho
quase a certeza que foi isso que combinou com Lopetegui. Se o Porto o conseguirá,
é outra história, mas os títulos e os textos que estavam preparados para sair
nos jornais desportivos europeus de hoje foram subitamente mudados.
A título de
exemplo, David Crossan, analista da UEFA, declarou:
– “Pressionar
o Bayern München em zonas avançadas, não o deixar circular a bola na
retaguarda, quebrar-lhe o ritmo e explorar as suas fragilidades na defesa. Foi
essa a receita de Julen Lopetegui para o sucesso na noite mais importante da
sua carreira como treinador de clubes, no triunfo do FC Porto por 3-1.”
Isto é,
enquanto a equipe alemã, assente na arrogância de muitos dos seus jogadores e
num tiki-taka na minha opinião gasto, pensava que teria as contas já feitas,
bastando uma vitória ou mesmo um empate para em Munique resolver facilmente a
coisa, eis que vai ter que suar muito mais do que pensava para eliminar a equipe
portuguesa, mesmo tendo em consideração que os cartões amarelos aos laterais do Porto os excluem do jogo de volta em Munique.
Não
percebeu a ambição de Pinto da Costa e de Lopetegui e que a campanha invicta na
Liga dos Campeões é clara com 8 vitórias e 3 empates (saldo de gols: 27-6):
Porto 1x0
Lille
Porto 2x0
Lille
Porto 6x0
BATE
Porto 2x2
Shakhtar Donetsk
Porto 2x1 Athletic Club
Porto 2x0 Athletic Club
Porto 3x0
BATE
Porto 1x1
Shakhtar Donetsk
Porto 4x0
Basileia
Porto 1x1
Basileia
Porto 3x1
Bayern München
E veja-se
que no jogo de ontem quem teve a posse de bola foi o Bayern. À boa maneira de
Guardiola. E, em minha opinião, Guardiola não se encontra entre os cinco
melhores treinadores do mundo, caso contrário não teria levado um ‘banho’ de
tática de Lopetegui. Ele treinou dois clubes já padronizados e rodados:
Barcelona (treinado antes por Rijkaard) e Bayern (treinado antes por Van Gaal e
Heynckes). Treinadores que passaram por outros campeonatos, tal como o dificílimo
campeonato inglês, montaram equipes e foram campeões da Europa como resultado
do seu próprio trabalho. Se Guardiola se esgotou no Barcelona – tal como
referiu o próprio –, a verdade é que levou o mesmo tiki-taka para o futebol
alemão e para uma equipa que vinha de ser ‘campeã de tudo’ – e que ainda não
reeditou a façanha com Guardiola.
Posto isto,
diria que Guardiola estava razoavelmente descansado, quer porque o Porto não
tem o poderio financeiro do Bayern, quer porque Lopetegui nunca teve resultados
além das equipes de base da Seleção Espanhola, e não estudou devidamente o
adversário. Mas, em contrapartida, foi meticulosamente estudado por Lopetegui,
que conhece bem o trabalho de Guardiola em Barcelona.
E que fez?
Preparou Jackon Martinez – que não jogava há várias semanas – para este jogo.
Quem escalaria, para enfrentar o ‘poderoso’ Bayern, um atleta que vinha de uma
paragem longa? – Lopetegui. Inesperadamente. Que o preparou à parte para ontem
ser o homem que, juntamente com Quaresma (muitas vezes no banco), estraçalhou o
Bayern – e ambos foram inesperados porque não eram titulares indiscutíveis do
time há semanas. E então Lopetegui apontou aos seus jogadores – especulo eu –
as falhas da defesa alemã e o previsível tiki-taka do seu amigo pessoal
Guardiola.
E que
aconteceu? Absolutamente o mais inesperado: manietado à frente na sua
circulação de bola por uma defesa sólida e com alta pressão atrás feita essencialmente por Quaresma e
Martínez, eis que o Porto fez três gols em cima de três erros clamorosos do
Bayern!
Jamais
Guardiola pensou que o Porto teria a ousadia de pressionar o Bayern à entrada da sua
própria área, coisa que nem os adversários alemães arriscam, com medo dos contra-ataques
dos homens de Munique. Pois foi aí que Lopetegui pressionou e conseguiu ganhar
três falhas elementares que deram em três gols. Isto é, o time de Guardiola
pode ser vencido apesar dos seus craques.
E se a
imprensa europeia gaba o Porto, o jumento do Müller continua com as suas
‘pérolas suínas’:
– “O Porto
fez um bom trabalho estacionando o ônibus. Depois do 2x0 deixou de jogar
futebol. […] Para nós foi uma desilusão. […] Foi um jogo aceso, e isso não foi
bom para nós. E pior de tudo foi sofrer o último gol.”
Quer dizer,
segundo o alemão, o Porto faz o seu terceiro gol porque… se pôs à defesa! E no
entanto conseguiu ‘desiludir’ a insolência alemã, que, parece, só sabe jogar
sem ‘jogos acesos’…
E depois diz
que “controlamos o jogo, fizemos boas jogadas e chegamos ao 2x1. Não desperdiçamos
oportunidades, tirando um cabeceamento depois de um livre mesmo antes do
intervalo.”
Quer dizer,
se não perderam oportunidades, exceto uma, o que é absolutamente normal em um
jogo de futebol não se marcar em todas as oportunidades, eis que Müller
implicitamente reconhece a justiça do 3x1.
O Porto
jogou com inteligência tática e baseou os seus ataques e pressões nos
indiscutíveis talentos de Quaresma e Martínez, e manteve a humildade e a crença
de que seria capaz de vencer o Bayern. E, em minha opinião, vai para Munique
com o foco na classificação.
Que noite
para mim! Botafogo classificado, PSG praticamente sem chances de fazer vencer a
‘programação’ de Platini e o Bayern descamisado nos títulos dos jornais
europeus.
As maiorias
qualificadas que dominam as minorias são geralmente presas medíocres do seu
próprio domínio quantitativista. E é por isso que o nosso Botafogo tem que
começar a ser mais inteligente e perceber como se ganham jogos hoje. A vitória
tática de Lopetegui sobre Guardiola e a organização do talento focada em
objetivos bem determinados, levam à vitória.
Sei das
nossas limitações, mas também sei que a tática, o estudo minucioso do
adversário, o aproveitamento maximizado das nossas capacidades para o jogo coletivo,
a disciplina, a humildade, a concentração, a aplicação e a vontade, são mais do
que suficientes para darmos lições em muita gente das maiorias meramente
quantitativas que desdenham dos outros e acabam muitas vezes por serem
surpreendidos.
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