O Bangu conta, em sua história, com dois campeonatos dignos de nota: os
Cariocas de 1933 e 1966. Vamos relevar o que contam os homens da época, que
garantem que em 1966 o Bangu era um timaço, um verdadeiro escrete de ouro, um
rolo compressor – sua campanha foi de 15 vitórias, dois empates e apenas uma
derrota, para o Flamengo, no primeiro turno. Logo, convenhamos, mesmo que seja
uma derrota em final para o Bangu, o Flamengo não havia perdido para um Bangu
qualquer, mas para O BANGU. Portanto, cadê o vexame? Então, consta que aos 25
do segundo tempo, tal placar de 3x0 já estava feito em favor do Bangu. Veja
abaixo reportagem de Placar sobre o ocorrido no dia 18 de dezembro de 1966 e
sinta o drama:
“Aos três minutos do segundo tempo, a maioria dos torcedores rubros negros
estavam calados. O placar de 3x0 para o Bangu era um sinal vidente da derrota,
pois, além da diferença nos números, o adversário dominava o jogo. Os caminhos
da reação pareciam fechados. Vinte e seis minutos e tudo estava na mesma. De
repente, o futebol acaba, cedendo lugar a uma das maiores confusões já
registradas no maracanã.
O lateral Paulo Henrique se preparava para cobrar um lateral quando Ladeira
tentou impedir e provocou o jogador do Flamengo. Paulo respondeu com palavrões
e recebeu uma bofetada do atacante do Bangu. Almir estava ligado na partida e
disposto a tudo para não aumentar a humilhação. Era demais para uma tarde só.
Primeiro, os frangos de Valdomiro, que mais tarde foi acusado pelo próprio
Almir de ter se vendido. Depois, as contusões de Carlos Alberto e Nelsinho.
Agora, o tapa de Ladeira.
2 Almir perde inteiramente o controle. Partiu, desesperadamente, na direção
a Ladeira, que prefere correr, mas em direção a zaga do Flamengo. Itamar, um
negro forte de 1,85 e chuteira 43, pula com os dois pés no peito do atacante,
que cai. Almir que vinha correndo chutou sua cabeça. A esta altura, o gramado
do Maracanã já era palco de uma verdadeira loucura coletiva. Ari Clemente do
Bangu, vem por trás de Almir e agride o pernambuquinho. Imediatamente é cercado
por Silva, Itamar e o próprio Almir.
A torcida do Flamengo, até então calada com a derrota, resolve agitar suas
bandeiras, como se cada soco, cada pontapé, valessem como um gol que o time não
conseguiu fazer. E num desabafo começa a gritar – Almir, Almir, Almir.
Ladeira deixa o campo de maca. O juiz Airton Vieira de Moraes, conversa com
o treinador Reganeschi, que consegue tirar Almir do campo. Mas, quando Almir
vai descendo o túnel ouve alguém gritar – “Volta Almir. Acabe de vez com a festa
deles”. Foi o suficiente. Ele dá meia volta e parte novamente para o gramado. É
ameaçado pelo goleiro Ubirajara e lhe dá um soco. É cercado por Ari Clemente,
Mario Tito, Luis Alberto e Fideles. Almir começa a distribuir socos prá todo
lado. Bate e apanha. Silva e Itamar correm em seu socorro.
A muito custo, os policiais conseguem dominar Almir e levá-lo
definitivamente para fora do campo. Sua saída lembra um lutador de box deixando
ringue após um combate. Os espectadores se dividem em vaias e aplausos. No meio
do campo, o juiz Airton Vieira de Moraes resolve expulsar cinco jogadores do
Flamengo: Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Almir e Silva. E mais quatro do
Bangu: Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente e Ladeira.
Futebol não teve mais. Os banguenses deram a volta olímpica com poucos
aplausos. A torcidas do Flamengo vaiava e gritava o nome de Almir.”
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