Nota oficial do Botafogo de Futebol e Regatas e do
Fluminense Football Club
"Em respeito às tradições seculares e suas conquistas históricas no
futebol brasileiro, Botafogo de Futebol e Regatas e o Fluminense Football Club
se unem neste manifesto. Primeiramente para reafirmar seu compromisso e sua
determinação em cumprir com nosso dever social de pregar a estrita observância
das normas recomendadas para a proteção da população. Respeitamos o próximo, no
que este termo tem de mais precioso, que é a integridade da saúde e a
preservação da vida.
Todos os brasileiros sabem que nossa construção como nação passa pelo
futebol, que tem uma responsabilidade social enorme por ser forte fator de
influência sobre atitudes e comportamentos da população. O futebol, em sua
essência, traz o espírito de solidariedade, a empatia e o respeito ao adversário,
sem o qual não há jogo possível. Sem o qual não há ludicidade e, a partir daí,
a vida perde um pouco de seu sentido.
Honrados em mantermos nossa posição e nossos princípios é que protestamos
contra o que se está vendo do atual cenário do futebol do Rio de Janeiro. Uma
cena triste cujo pano de fundo é este momento tão difícil da história nacional,
quando vidas estão sendo ceifadas não apenas pela pandemia, mas também a golpes
de insensatez e de falta de empatia. O que todos estão assistindo em primeiro
plano nesse show de horrores é o espetáculo de desmandos e desrespeito com que
os clubes e seus torcedores vêm sendo tratados.
Listamos abaixo os pontos mais tristes desse roteiro desolador:
- Botafogo e Fluminense foram obrigados a sair de seus domínios, em várias
ocasiões, para jogar em estádios precários, em condições de risco e de
exaustão, enquanto outros clubes, mais alinhados, mandaram todos os seus jogos
em seus estádios; Apesar de dizer que os jogos do retorno seriam apenas em três
estádios – Maracanã, São Januário e Nilton Santos, a Ferj fez o Botafogo jogar
na Ilha do Governador e o Fluminense em Bacaxá, sem poder se concentrar, ou
seja, tendo que viajar duas horas de ônibus no dia do jogo;
- Botafogo e Fluminense tiveram que lutar para não serem obrigados a jogar
após apenas um ou dois dias de treinamento, colocando em risco a saúde e a
integridade física de seus atletas. E tudo isso sob o argumento pueril de que
treinamentos estariam liberados, quando o índice de contaminação explodia e vidas
estavam sendo perdidas em filas de hospital. Quando serviços muito mais
importantes estavam ainda proibidos de funcionar por razões tão óbvias que
dispensariam discussões. Muito menos retaliações.
- Em atitude que em tudo contraria o espírito democrático e a liberdade de
expressão, o treinador Paulo Autuori foi punido na véspera do primeiro jogo em
razão de declarações em entrevista em que brilhou pela sensatez. Em sinal de
protesto, Autuori não comandou a equipe na partida, mas suas palavras estavam em
campo, para nos representar. A todos os que professam a empatia, o respeito ao
próximo.
- O Botafogo foi punido ainda com perda de mando porque contestou a conta
absurda e astronômica para a operação do Estádio Nilton Santos, dez vezes mais
cara do que a que outros clubes pagaram para jogar no... Maracanã! Uma clara
atitude de retaliação por seu posicionamento a favor da vida. Somente de nossos
clubes foram cobrados valores exorbitantes por despesas operacionais. A mesma
cobrança exorbitante ocorreu com Fluminense, ao jogar no estádio Nilton Santos
e em... Bacaxá!
- Quando tudo parecia já grotesco, os clubes se viram punidos com a perda
de um contrato essencial para sua subsistência, que é o contrato de direitos de
transmissão da Globo. A emissora argumentou em sua notificação que a Ferj
falhou em garantir a exclusividade na transmissão de um jogo de um dos cedentes
de diretos, o que gerou a ruptura do contrato de TV e que causa prejuízos a
Fluminense e Botafogo no montante estimado de 120 milhões de reais, somados o
que os dois clubes têm a receber nos próximos quatro anos. Sem entrar aqui em
considerações sobre a responsabilidade da emissora por sua participação na
condução do episódio, sem deixar de entender a forte influência de discussões
paralelas com um dos clubes, o fato é que o conjunto de agremiações se viu
arrastado de roldão, embrulhado em uma confusão para a qual não contribuiu.
Sequer fomos consultados em Arbitral sobre os riscos desta decisão;
- Estamos chegando ao fim de uma competição em que as verdadeiras lutas se
deram fora de campo e de forma totalmente inadequada. Com reuniões às escuras,
intensa atividade em práticas de bastidores, indisfarçável ligação simbiótica
com outros clubes, descumprimento de contratos, chuva de liminares e um comportamento
incompatível com a de uma liderança em momentos de crise. A FERJ se esforçou e
conseguiu desvalorizar sobremaneira o produto pelo qual deveria trabalhar
visando o sucesso, que é o Campeonato Carioca.
- Não bastasse o constrangimento de sermos obrigados a retomar o Campeonato
Carioca, convivendo com registros de mais de 63 mil mortes no Brasil, com média
superior a 1.200 por dia, tivemos que relembrar, em vão, esse marco fúnebre em
reuniões sucessivas do Conselho Arbitral da FERJ. A insensibilidade evidenciou
que os números alarmantes não passam de fria estatística àqueles que parecem
não entender a função social do futebol: impactar a vida das pessoas, pautar
costumes e atitudes.
- Fluminense e Botafogo foram fortemente atacados pela FERJ e por outros
clubes quando tiveram posição de bom senso de preservar seus atletas e
funcionários ao seguir as recomendações da quarentena. Definitivamente,
retornar competições com o inexplicável açodamento - com o calendário nacional
ainda indefinido - não era a melhor mensagem a se transmitir por parte de tão
importantes influenciadores.
Botafogo e Fluminense entendem que este é um momento em que a solidariedade
deve prevalecer. Por isso, estão unidos e pedem que seus torcedores façam o
mesmo. Unidos em torno da exigência de respeito. Do tratamento digno. Da
preservação da honradez nas relações. Por isso estão lançando aqui as bases de
uma associação entre os dois clubes para a discussão de direitos. Quem quiser
participar será bem-vindo. Importante frisar: no futebol ou na vida, ninguém
joga sozinho. É tempo de solidariedade".
2 comentários:
Parabéns ao Botafogo e ao Fluminense pelo manifesto. Uma pena que a indignação seja apenas de uns poucos, mas que ou o futebol muda ou vamos cada vez mais para o buraco. Na verdade ou o país muda e consequentemente o futebol ou nunca mais sairemos do buraco em que estamos metidos.
Como disse com muito propriedade o Luis Fernando Veríssimo: "O fundo do poço no brasil é apenas o meio do caminho". Abs e SB!
Os vovôs do futebol foram os únicos dois ajuizados. O ensandecimento alastra...
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário