por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Tenho visto, lido e ouvido que o futebol tricolor é o mais bonito do Brasil e que Fernando Diniz é o maior craque entre os treinadores brasileiros, e alguns até o colocam acima de toda e qualquer treinador estrangeiro que atua no Brasil, quiçá na América do Sul e no Mundo em tempos futuros próximos.
É legítimo e respeitável que se goste do modelo de jogo do Fluminense. Porém, confesso que nunca gostei do tiki-taka, não o considero futebol bonito, e até certo ponto penso ser chato, e a equipe de Diniz, pelo seu próprio modelo, não é difícil de anular porque, ao contrário do que alguns pensam, considero ser uma equipe - apesar das suas várias nuances - mais previsível do que criativa.
Esta minha asserção pode ser sustentada no caso dos jogos entre alvinegros e tricolores em 2022 e 2023. O Botafogo perdeu três jogos com o Fluminense em 2022: um com Enderson Moreira, tendo Abel Braga no banco adversário; dois com Lúcio Flávio e Vítor Severino, já com Fernando Diniz no banco. Os restantes jogos tiveram Luís Castro no banco e os resultados foram os seguintes: 23.10.2023 – empate 2x2 (com pênalti infantil de Patrick de Paula); 29.01.2023 – vitória 1x0; 20.05.2023 – vitória 1x0.
Nos três jogos Luís Castro anulou taticamente o Fluminense – e venceria os três se não fosse o pênalti de PdP –, o que significa que o tal ‘futebol maravilhoso’ de Diniz ficou no bolso de Castro, que parece conhecer bem o modo de anular o tiki-taka, senão vejamos os números de ontem: Botafogo – em 34% de posse de bola efetuamos 21 remates, 3 enquadrados na baliza e ainda 7 escanteios; Fluminense – em 66% de posse de bola os adversários efetuaram 3 remates, 0 enquadrados na baliza e apenas 4 escanteios.
Isto é, um Botafogo atacante mais eficaz jogando sem bola do que o Fluminense com bola, mostrando as insuficiências do tiki-taka quando os seus protagonistas não são de altíssimo nível. O Botafogo percebeu isso recentemente quando verificou que o seu tiki-taka vazio de eficácia resultava em derrotas porque é um sistema relativamente fácil de anular se houver muito foco e intensidade frente a protagonistas apenas de nível médio ou médio-superior, como é o caso na enormíssima maioria do futebol praticado pelos clubes no campeonato brasileiro. Se estivessemos a falar de protagonistas de alto nível a dificuldade de anulação seria bem maior.
Por isso a comissão técnica tem mudado, em diversas ocasiões, a forma de jogar, e adotou mais recentemente um 4-2-3-1 que está funcionando, com o Botafogo entregando a boa ao adversário, mas, simultaneamente, anulando-o antes de chegar à grande área e contra atacando com precisão e eficácia. Ontem ‘roubou’ o esférico em saída de bola errada dos tricolores e selou a sorte do jogo com Victor Cuesta. Sentado! Mais deitado do que sentado! Pormenor que delicia os torcedores…
Confesso que temi o cansaço dos jogadores, sobretudo porque Castro, após o jogo contra o Atlético Mineiro, não tornou a avançar com a equipe praticamente reserva, o que me sugeriu que subitamente tiveram uma quebra física, justificando as duas viradas que levamos contra Goiás e Athletico. Ledo engano o meu! Tendo o Botafogo evidenciado ontem uma forma física inegável, embora jogando de 3 em 3 dias, e tendo o sistema tático anulado ambos os adversários até inaugurarmos e ampliarmos o marcador, a razão tornou-se aparentemente evidente: falta de humildade e súbita lassidão dos jogadores após 5 vitórias sucessivas e certamente crentes que ao inaugurar o marcador tinham o jogo na mão e poderiam descansar mais o aspecto físico. Porém, em futebol, nunca se tem a certeza de um jogo estar na mão! Espero que tenha sido um bom alerta e que a comissão técnica explore bem essas duas quebras de foco e intensidade dos jogadores nas duas partidas. Há males que vêm por bem…
Finalmente 5 notas finais:
[1] Após as vitórias iniciais e uma derrota do Botafogo no Brasileirão a mídia tratou logo de nos ‘enquadrar’, anunciando que apenas dois clubes líderes à 6ª rodada haviam conquistado o Brasileirão. É chato, ‘camaradas’ da mídia, mas vão ter que dispor de mais tempo para fazer novas contas de atualização sobre quantos clubes líderes à 7ª rodada conquistaram o Brasileirão no final. E depois à 8ª rodada… e etc. até se cansarem…
[2] A arbitragem foi muito ‘inteligente’ ofertando 3 cartões amarelos absolutamente injustos a jogadores do Botafogo na primeira parte, mas ainda assim não foi possível atribuir um segundo amarelo a qualquer deles, e consequentemente não se expulsou ninguém, além de Fernando Diniz no fim do jogo. Que chatice, amigos!...
[3] Realço ainda Fernando Diniz por, em contramão com muitos treinadores de futebol, reconheceu a inteira justiça da vitória botafoguense. É assim mesmo, caro Diniz, gente que é gente também sabe reconhecer os méritos adversários.
[4] Após banquetes com urubus, galos e gaviões eu esperava continuarmos a saborear aves goianas, mas fomos frustrados nas nossas ‘boas intenções’. Ontem fomos de certo modo compensados com uma saborosa salada de Ganso. Soube tão bem, não soube?...
[5] No Mundo Botafogo a crítica é desejada. A crítica feita com probidade intelectual, racionalidade, responsabilidade e serenidade é fundamental na interação entre pessoas e grupos, promove a possibilidade de se corrigirem erros e prevenir outros e, em certos casos, incita a criatividade. Porém, ‘corneteiros’ não têm espaço neste meio de comunicação, e entendo por ‘corneteiro’ o sujeito que não busca racionalidade na compreensão dos eventos e que age persecutoriamente, e por vezes maliciosamente, contra pessoas e instituições, ofendo-as pessoalmente e desconsiderando-as socialmente. Há um frequentador do blogue que decidiu perseguir Luís Castro de modo absolutamente inqualificável, considerando-o um treinador ‘muito mau’, ‘burro’, tenebroso, o pior da história do Botafogo, superado até por Eduardo Barroca, que a continuar levar-nos-ia novamente ao vexame e garantidamente à Série B no final do ano, etc. Bloqueio sempre as suas agressivas e desqualificadas opiniões. Com a invencibilidade e a liderança do Brasileirão, ele sumiu. Voltou após as duas derrotas considerando, já não Luís Castro, mas sim o ‘Botafogo Way’ como pipoqueiro, e os jogadores como pipoqueiros no pior sentido da palavra. Vai sumir novamente, mas regressará, e será novamente ‘censurado’, quando perdermos outra vez. Porém, este não é lugar para atacar de modo irracional e desqualificado os protagonistas do nosso Botafogo e a própria instituição Botafogo – é lugar para criticar construtivamente cada equívoco e elogiar cada sucesso nas diversas fases de construção de um novo Botafogo consistente, resiliente e sustentável no futuro. Amigos, unamo-nos, porque temos um ano difícil pela frente, mas talvez muito interessante se fizermos da nossa União a Força!
VIVA O BOTAFOGO NA ESTRADA DE LOUROS!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 Fluminense
»
Gols: Victor Cuesta, aos 74’
»
Competição: Campeonato Brasileiro
»
Data: 20.05.2023
»
Local: Estádio Olímpico Nilton
Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
»
Árbitro: Braulio da Silva Machado (SC);
Assistentes: Bruno
Boschilia (PR) e Thiago Americano Labes (SC); VAR: Rodrigo D'Alonso Ferreira (SC)
» Disciplina: cartão amarelo – Tiquinho
Soares, Marçal, Cuesta e Eduardo (Botafogo) e Lelê e Nino (Fluminense); cartão
vermelho – Fernando Diniz, técnico (Fluminense)
»
Botafogo: Lucas Perri; Rafael (Di Plácido), Adryelson, Victor
Cuesta e Marçal; Tchê Tchê, Gabriel Pires (Marlon Freitas) e Eduardo (Philipe
Sampaio); Júnior Santos, Luís Henrique (Victor Sá) e Tiquinho Soares. Técnico: Luís Castro.
»
Fluminense: Fábio; Samuel Xavier (John Kennedy), Nino, Felipe Melo
(Manoel) e Guga; André, Gabriel Pirani (Lelê), Lima (Matheus Martinelli) e
Ganso; Árias e Cano. Técnico: Fernando
Diniz.
10 comentários:
Eu andei ocupado, mas voltei para a salada de ganso. Essa não conhecia... (rsrs)
É uma salada bem diversificada, Vanilson, verde, vermelha e branca ! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
Prezado Ruy Moura,
Confesso que ao assistir ao jogo Botafogo x Fluminense, não senti aquele aperto no peito que costumo sentir. Vi um Botafogo muito consciente, consistente e corajoso a buscar a vitória. Ao final, a vitória botafoguense foi muito justa a despeito do tal "posse de bola".
Viva o Botafogo!
Abraços botafoguenses
Humberto
Caro Humberto, diria até que foi uma anunciada vitória tranquila, tal a forma como o jogo decorreu. A equipe/plantel é consistente e resiliente, mas precisa trabalhar algo que escasseia no futebol brasileiro: concentração/foco absoluto durante os 90 minutos das partidas, jogando com mentalidade ganhadora e com intensidade em toda a extensão do terreno.
Então, o Botafogo conquistará troféus a seu tempo, e os nossos corações serão mais longevos.
Abraços Gloriosos.
Grande partida do Botafogo ontem, e o segundo tempo eu diria que foi quase perfeito.
Essa estória de tiki Taka que eu me lembre no Brasil, a selefogo de 67/68 que contra a seleção Argentina trocou passes por alguns minutos e culminou no quarto gol. Lembrando que os grandes times do Botafogo mesmo com jogadores fora de séries sempre jogou no contra ataque. Me lembro de uma entrevista do Saldanha. Que ele falou que o Botafogo sempre atraia o Flamengo, que empurrado pela torcida partia prá cima e aí o contra ataque do Botafogo era mortal.
Sobre as críticas ao Luís Castro só pode ser uma birra ou antipatia gratuita. Ontem ele deu uma aula de tática, engoliu o adversário. Assim como todo treinador ou atleta conte erros, mas quem não comete, mas no conjunto da obra há mais virtudes do que erros, inclusive Castro se tornou provavelmente o maior quebrador de tabus do Botafogo. ABS e SB!
Sem dúvida, Sergio, uma grande partida tática com protagonistas funcionando como a sua orquestra - maestro e músicos executando tudo o que foi preparado nos ensaios. O primeiro tempo foi de certo modo morno e o segundo tempo de climaxes sucessivos,como nas orquestras. Foi um concerto perfeito. Taticamente em termos de harmonia de todas as linhas é o mais profissional Botafogo deste século.
Sobre a comissão técnica apenas dizer que Luís Castro e sua equipe estão criando uma atmosfera cristalina em volta do Botafogo e devolvendo-nos o prestígio perdido na bruma dos tempos.
Textor traçou o novo Botafogo, Castro é o executor-chefe.
Abraços Gloriosos.
Grande Rui,
Mais uma partida brilhante e festa da Torcida!
Também fiquei preocupado com o preparo físico e, se os jogadores conseguiriam manter o ritmo da marcação no campo do adversário.
Estamos bem preparados fisicamente. Sobrando em relação aos adversários. Não tem mais aquelas bolas perdidas ou as invertidas das bolas adversária que não chegavamos a tempo.
A energia e sinergia da Torcida com o elenco no Nilton Santos está Maravilhosa.
Faz tempo que não percebo isso. Estava acostumado com aqueles altos e baixos, ou seja, um jogo bom e no seguinte aquela ducha de água fria.
Abs e Sds, Botafoguenses!
Estamos novamente calcorreando - espero! - a nossa "estrada de louros", Gil!
O preparo físico espantou-me porque eu admitira que a derrota para o Goiás fora por conta disso, mas esta foi a prova que as duas derrotas com viradas foram excesso de confiança dos jogadores. Castro tem que aproveitar esses dois desaires para mostrar o desastre que pode ser perder o foco e a intensidade durante um jogo pensando que o adversário é fraco e está no papo. Em futebol, isso custa derrotas até contra o lanterna vermelha. Acontece por todo o lado. Foi essa soberba que nos fez perder o Carioca de 1971 quando tinhamos 5 pontos à frente do Fluminense, e nessa época uma vitória valia 2 pontos, o que significa que tínhamos duas vitórias e um empate de vantagem. E depois teve que se ir disputar o título no último jogo e o castigo veio pelo apito do 'apitadeiro'. Lamentei a perda do título, mas como castigo não podia ter sido mais exemplar.
Segue o Líder! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
Caro Ruy, excelente e importantíssima vitória do Botafogo! Das nossas seis vitórias no Brasileiro, três foram diante de times considerados favoritos à disputa do título - Galo, o Mais Ajudado e agora o tricolor daqui do bairro.
Importante pelo momento em que se deu, após duas derrotas sofridas, tendo o Botafogo saído na frente do marcador, e também pela forma inequívoca com que ocorreu, com o Flu praticamente sem nos ameaçar - exceção para aquela falha já perto do fim do jogo e muito parecida com a ocorrida ante o Goiás.
Não me pareceu que tenha havido lassidão da parte de nossos jogadores diante do Athletico PR. Contra o Goiás, sim. Era jogo contra um time bem mais fraco que o Botafogo, pressionado, e que começava a perder o controle emocional após sofrer o gol. Cheguei a afirmar para minha filha, que via o jogo comigo, que a equipe goiana não terminaria o jogo com onze em campo. Cedemos o empate e mantivemos uma certa soberba, que deu no que deu.
Já contra os paranaenses considero que fomos superados por um time que jogou melhor, com mais competência, determinação, concentração, com os jogadores saindo-se bem individualmente, enquanto os nossos, salvo raras e honrosas exceções, estavam em noite apagadíssima. Importante lembrarmo-nos que do lado oposto há um adversário a disputar a vitória. E, no caso do Athletico PR, tínhamos por oponente o vice-campeão continental, responsável por eliminar o poderoso Palmeiras, time forte, entrosado, jogando em seu domínio.
Por fim, assisti a entrevista do Luis Castro após o jogo de sábado. Gostei muito do que vi. Gostei de ver o LC reconhecendo a importância da torcida, reverenciando o ídolo maior Nilton Santos, enfatizando a grandeza do Botafogo de Futebol e Regatas.
Que o time mantenha a concentração, o empenho, o espírito vencedor. Que permaneça a boa fase time/comissão técnica/torcida. Não podemos bobear diante do U. Cesar Vallejo, time muito limitado, nem contra o ameaçado América MG no próximo fim de semana no Nilton Santos.
Ah, sim, antes que me esqueça, ocorreu-me agora: que diferença para o ano passado! Estive em vários jogos no Nilton Santos com minha filha e, na maioria das vezes, saímos frustrados e decepcionados. Vimos poucas vitórias. Já neste 2023, mesmo com aquele empate insosso contra a LDU, é só alegria!
Abs.
Meu estimado amigo, reconheço que Atletico é um adversário forte e tem a seu favor diversas viradas. Mas sair de 2x0 para um 2º tempo em que não fizemos nada e acabou 2x3 terá sido só porque o Athletico é uma boa equipe? Não sei... O Atlético MG e o Fluminense também estão em forma, no G4, muito melhres do que o Athletico, e isso não aconteceu. Contra o Goiás e o Athletico acabamos cansados. Contra o Flu foi ao contrário: cansamos o Flu. Estranho...
O Castro ainda é mais do que isso que diz, Eduardo. O Castro é um aglutinador, um motivador, muito maior como Homem - tal como escreveu o meu amigo Zatonio Lahud - do que como treinador, e por isso é respeitado, coloca a mídia no seu devido lugar, está devolvendo o prestígio do Botafogo não apenas como treinador, mas como Homem, dando uma nova atmosfera, uma autoconfiança perdida nas brumas do tempo. Conheço-o há muito anos e pensava que seria um pouco acima da média. Creio que me enganei face ao que tenho visto: é bastante acima da média porque conjuga saber técnico com autoridade cidadã e muita, muita cnfiança e resiliência. Pode ter sido a melhor de todas as decisões de gestão do Textor até agora. O futuro ditará se sim ou não.
A diferença para o ano passado é abismal, e os irmãos de escudo que continuam a bater no Castro - continuam porque não têm coragem de assumir a realidade que negaram, e negacionista nunca volta atrás - são inclassificáveis. O curioso é que 'batem' no homem e embandeiram em arco com a nossa liderança!... Quem pode compreender?...
E sobre o empate insosso contra LDU, agora assumo a sua posição sobre o Athletico: não sei se o empate foi insosso ou se foi a LDU que com competência nos tapou os espaços com maestria. Eles não são de subestimar, Eduardo. Se bobearmos terminam em 1º lugar. Não devemos esquecer que vamos jogar a 2.000 e muitos metros de altitude e não estamos acostumados. Que a sorte nos sorria contra eles depois de despacharmos a equipe do Loco Abreu.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário