por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo é líder isolado
do Brasileirão com 3 vitórias em 3 jogos e a 2ª equipe com mais gols marcados,
apresentando-se, contudo, como a equipe com menos posse de bola e a 2ª com
menos finalizações.
O Botafogo tem, em média,
apenas 32,7% de posse de bola e apenas um gol a menos do que o vice-líder
Fortaleza, que também se apresenta como a 3ª equipe com menos posse de bola
(39,7%), o que significa que os seus ataques são tão mortíferos que dispensam a
posse de bola e possuem alto nível de eficácia.
Ao contrário, o America é o
lanterna vermelha, apesar de a sua posse de bola estar a meio da tabela (10ª
posição) dividindo-a com os adversários (49,7%). Portanto, posse de bola não é
algo necessariamente determinante no futebol atual e talvez Botafogo e
Fortaleza sejam as equipes que melhor sabem jogar sem bola no futebol
brasileiro – e tal como já referi bastantes vezes, diversos clubes conquistaram
os mais importantes títulos do planeta jogando com bola apenas 30 minutos e sem
bola os restantes 60. Essencial nesse sistema de jogo é possuir um goleiro
muito acima da média.
A nossa equipe finalizou
apenas 29 vezes e marcou 7 gols, precisando apenas de 4 finalizações para
marcar e obtendo assim um altíssimo aproveitamento, o que quer dizer que
praticamente só finaliza em situação de grande probabilidade de fazer gol, pelo
que o percentual de finalizações bem-sucedidas é muito mais elevado do que os
remates dos adversários.
Naturalmente que também
teremos insucessos e que as dinâmicas de jogo irão mudando à medida dos
contextos e dos adversários, mas o que se passa atualmente é uma espécie de
‘mudança radical’ de paradigma.
Efetivamente, os índices anteriormente
mencionados (posse de bola, finalizações e gols) mostram que o Botafogo dispõe
de um modelo de jogo marcante e atua com uma linha de defesa alta
pressionando o adversário, situação que lhe permite recuperar a bola quando o
adversário erra e efetuar lançamentos verticais nas costas do adversário em
transições ofensivas velozes. Ao contrário do Flamengo, que tem a maior posse
de bola à 3ª rodada e está em posição intermédia na classificação geral, o
Botafogo não ‘cozinha’ a bola ao seu antigo estilo tiki-taka como faz o
Flamengo, oferece a bola ao adversário e rouba-a no momento mais oportuno para
movimentar o placar.
Nesses contra ataques
rápidos a busca por Tiquinho é constante, mas a equipe também encontra outras alternativas
pelas pontas ganhando pênaltis, faltas e escanteios ou cruzando diretamente
para a área porque o Botafogo atual tanto defende como ataca em bloco e coloca
rapidamente 4 ou 5 jogadores na área.
Em qualquer caso, o Botafogo
treina muito bem as bolas paradas e o jogo aéreo: se não marca de cabeça após
cruzamento a partir das alas, aproveita as faltas e os escanteios para lançar a
bola na área e marcar de cabeça. Mas a versatilidade é ainda maior, porque há
jogos em que o Botafogo ganha exclusivamente com gols de bola parada, outros
exclusivamente com gols de cabeça, outros ainda com bola rolando no gramado,
outros ainda mesclando as diversas maneiras de fazer gols.
Isto significa que Luís
Castro mudou radicalmente a forma de jogar, prescindindo da posse de bola que
caracterizava a equipe, oferecendo a bola ao adversário e ‘matando-o’ súbita e
inesperadamente através de múltiplas variações em transições rápidas, com toda
a equipe subindo ao território adversário mediante uma clara melhoria de
velocidade, de passe e de automatismos posicionais.
Tenho expressado muitas
vezes o lema “ousar criar, ousar vencer”, adaptado do lema “ousar lutar, ousar
vencer”, porém, Castro parece-me ter juntado os dois para “ousar criar, ousar
lutar, ousar vencer”. Isto é, 10% de criação e 90% de muita luta com foco
exclusivamente na vitória.
Na verdade, Castro ousou
reinventar-se e levou cada jogador a aplicar-se numa luta titânica para vencer,
o que foi menos difícil para eles do que para Castro, que teve que reformular
as suas convicções de longa data e adaptar-se às características de cada
jogador, porque este elenco não se adaptou ao jogo de propositura com posse de bola, sobretudo porque, devido a lesões e suspensões, a equipe variava muito de titulares e funcionava com metade de jogadores de qualidade e outra metade muito abaixo do mínimo exigível. Porém, perante as mudanças operadas, souberam explorar melhor determinadas características próprias mais ajustadas
ao novo modelo objetivo, direto e focado muito mais na eficácia (resultado) do
que na eficiência (processo), simplificando a eficiência em favor do aumento
exponencial da eficácia, fazendo correr mais a bola do que o jogador e poupando energias para algo que seja preciso fazer na reta final das partidas.
Como já escrevi
anteriormente, a comissão técnica abandonou o futebol de posse de bola burocrática com lateralizações típicas do tiki-taka - que basicamente funciona em equipes de muito grande qualidade técnica - e preparou uma arrumação tática predominantemente eficaz e
resiliente, facilitando a reinvenção da própria equipe no terreno, a qual
entendeu a estratégia, interiorizou o sistema tático, fortaleceu a mente e
robusteceu o físico – agindo dinamicamente sob o lema de “mentalidade, foco e intensidade”.
E foi assim que a lagarta se transformou em
borboleta!
5 comentários:
Espetacular!
Contra o Flamengo o esquema foi tão eficaz, que mesmo com um a menos marcou outro gol.
O que me deixou mais impressionado foi o nível de concentração muito alto, que não ruiu sequer com a inferioridade numérica e expulsão do técnico.
É certo que times que jogam como o BFR, se dão ainda melhor quando enfrentam times como o CRF.
O esquema do Botafogo é quase um contra-veneno a esquemas como o do Flamengo.
Estou curioso para quando o BFR jogar com times tecnicamente inferiores a ele, tenho impressão que isso já habita a mente do treinador.
Um grande abraço!
Os jogadores eram péssimos no foco (concentração) e na intensidade. Ganharam as duas coisas e isso ajudou muito a reforçar a mentalidade. Entre os piores jogos e os últimos (melhores) vai uma diferença da água para o vinho. Sendo que o vinho tem um quê de cálido e a água é insossa. Eu até andava pálido, mas agora estou bem coradinho. (rs)
Abraços!
Hahahahahah
Ri alto!
Abraço meu amigo corado! Corado e não colorado!
Kkkkk (rosto rosado). No comentário me chamaram a atenção, significamente, as três ou quatro últimas linhas do penúltimo parágrafo. Lembra o maestro Didi. Exatamente isso que o time precisava. O arranque no momento certo.
Sim, Vanilson, é uma velha máxima, que continua verdadeira!
Abraços Gloriosos.
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