por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Braz Francisco Raul Santiago Winkler Pepe nasceu no dia 31 de outubro de 1943, na cidade do Rio de
Janeiro, e faleceu a 15 de novembro de 2018, na mesma cidade.
Filho de Francisco Pepe e de Maria Appolonia Winkler Pepe,
sobrinho de Raul Roulien Pepe e neto do Cavaliere Biagio, Nobile Pepe Accolti
Gil Vidal, Braz Pepe descendeu, por varonia, de antiga família do Reino das
Duas Sicílias e, por linha materna, de Áustria.
Casou-se por duas vezes, tendo dois filhos do primeiro
casamento, que vivem em Itália, e uma filha, do segundo casamento, que vive no
Rio de Janeiro.
Apaixonado torcedor e dirigente do Botafogo de Futebol e
Regatas, do qual era socio-proprietário, tornou-se benemérito em 1984 e Grande
Benemérito na década de 1990.
Em 1968, aos 25 anos, era Diretor da Divisão do Patrimônio Histórico e, desde então, dedicou-se à preservação dos arquivos do Botafogo e dos troféus conquistados em todas as modalidades desportivas.
Durante os anos tumultuosos em que o Botafogo esteve
afastado da sua sede histórica até recuperar o espaço anteriormente perdido para
a Companhia Vale do Rio Doce, muito do trabalho de Braz Pepe perdeu-se.
Após a retoma do mítico casarão, Braz Pepe reuniu, em
texto e pesquisa iconográfica, juntamente com Luiz Felipe de Carneiro de
Miranda e Ney Oscar Ribeiro de Carvalho, e reprodução fotográfica de Pedro
Oswaldo Cruz, o maior acervo ilustrado do Botafogo de Futebol e Regatas,
publicado pelos três autores em 1996, sob o título ‘Botafogo o Glorioso, Uma
História em Preto e Branco’.
Trata-se do livro preferido pelo editor do Mundo Botafogo
dentre todos os que foram publicados até à data.
Já neste século o resiliente Braz Pepe retomou a imensa tarefa de recuperar o legado de troféus botafoguenses abandonados por gerações sucessivas de ímpios desportistas presidentes e dirigentes do Botafogo.
O Salão de Troféus e mais recentemente o Museu do
Botafogo, são empreendimentos que muito devem à dedicação de Braz Pepe pela
preservação da história do d’O Glorioso.
Aquando da sua morte, o Mundo Botafogo assinalou a triste
ocorrência e publicou o seguinte trecho:
“Mas o Botafogo é assim: a Taça correspondente à sua única grande conquista internacional oficial desapareceu. Braz Pepe, em tempos, procedeu à notável tarefa de resgatar troféus que estavam abandonados ao sol, à chuva e ao vento num quintal qualquer. Recuperou 300, entre os quais o troféu do simbólico Campeonato Carioca de 1989, imagine-se! Agora temos um artesão a recuperar a Taça da CONMEBOL, conquistada em 1993, concluindo mais um projeto de resgate ao centro de memória de General Severiano.” – In http://mundobotafogo.blogspot.com/2017/12/requiem-uma-diretoria-ainda-por-empossar.html?q=braz+pepe
Figura ímpar da galeria histórica do Botafogo, Braz Pepe licenciou-se
em Letras pela Faculdade Nacional de Filosofia (1966) e em Museologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967). Cursos de Arqueologia e Antropologia:
nos Estados Unidos – Universidade da Pensilvânia e de Temple, Filadélfia e na Inglaterra
– Franklin and Marshall College, de Lancaster (1964-1965). Mestrado no
Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967-1969) e
Doutorado em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo.
Foi Professor Titular de Antropologia, Etnologia e
Arqueologia da Universidade Gama Filho e Coordenador dessas disciplinas na
Sociedade Universitária Augusto Motta. Sócio fundador do Instituto de
Arqueologia Brasileira e da Sociedade de Ecologia do Brasil.
Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Geografia, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, do Instituto Genealógico Brasileiro e da Heraldish – Geneaçlogische Gesellsrchaft “Adler” (Viena, Áustria), da Societédes Americanistes (Paris, França) e da Società Napolitana di Storia Pátria (Nápoles, Itália).
Além do sublime livro sobre o Botafogo de Futebol e
Regatas, escreveu, ainda, ‘Etnologia e História através da Pesquisa Genealógica’
(1973) e ‘Puglia Aragonese – Reações e Compromissos ao Domínio Real’ (1441-1516),
sua tese de doutoramento.
A grandeza de espírito de Braz Pepe, um monarquista
convicto, pode-se medir por um texto publicado no dia da sua morte pelo amigo
Luiz Lampert Conde, outro ilustre botafoguense, revelando uma mensagem de Braz
Pepe para ele uns anos antes de falecer:
“Conde, só o Botafogo poderia proporcionar um
trotskista e um monarquista na mesma trincheira. Se vivêssemos na Rússia no
início do século XX, eu estaria no exército Branco e você no exército Vermelho,
e, ainda assim, estaríamos na mesma trincheira: Botafogo!” – Braz Pepe, Grande Benemérito
do Botafogo de Futebol e Regatas.
Fontes: Blogue Mundo Botafogo; Braz Francisco Winkler Pepe. Etnologia e História através da Pesquisa Genealógica, Centro de Estudos Sociais da Sociedade Universitária Augusto Motta, Rio de Janeiro, 1973; Portal doo Botafogo de Futebol e Regatas; Portal do Colégio Brasileiro de Genealogia; Revista Oficial do Botafogo, 1972.
6 comentários:
Eu tenho esse magnífico livro, realmente um primor. Mostra como o Botafogo é gigante, e isso não é só no futebol de outrora.
Sobre o Braz Pepe só posso dizer que foi um Botafoguense de altíssima qualidade, e que curriculum ele tinha.
O mais absurdo é o descaso total com as taças e outros documentos importantes do Botafogo, mostrando dessa forma a devastação que o
clube sofreu pós venda de GS e pior, o descaso dos amadores com o clube, estes que se diziam botafoguenses apaixonados, imagina se não fossem! Pelo exposto no texto da postagem, percebe-se a razão
da situação pré SAF do descaso com o clube e porque as dificuldades para recuperação do BFR não serão poucas, o desafio é muito grande, pois o clube abandonado e que perdeu sua auto estima, em especial no futebol. Que o futuro nos reserve dias melhores. ABS e SB!
Historicamente diria que Alceu Mendes de Oliveira Castro, registrando as memoráveis épocas de futebol botafoguense 1904-1950, e Braz Pepe, recuperando e preservando um patrimônio histórico de arquivos e troféus, foram os dois mais importantes guardiões da história do Botafogo. Gravados a letras de ouro no Panteão Botafoguense.
Abraços Gloriosos.
Entre Mancheviques e Bolcheviques, mais um drible do Mané. ;)
Muito bem lembrado, Leymir, a propósito da citação "Conde, só o Botafogo poderia proporcionar um trotskista e um monarquista na mesma trincheira. Se vivêssemos na Rússia no início do século XX, eu estaria no exército Branco e você no exército Vermelho, e, ainda assim, estaríamos na mesma trincheira: Botafogo!”
Grande abraço!
Que publicação espetacular!
Lembro-me bem das aulas que eram as discussões no saudoso fórum do MITOB, princípio até meados dos anos 2000. Ainda houve alguma continuação no fórum da ComFogo, mas depois não pude mais acompanhar. É de se ressaltar que Luiz Caldas, fundador "de tudo isto", era também um entusiasmado monarquista.
S.A.N.
Companheiro, confesso que este tipo de trabalho de investigação dá-me muito prazer. Ademais, admirava Braz Pepe pela sua dedicação ao patrimônio do Clube, o que reforça o prazer - e quem não tem memória do que foi pode um dia encontrar-se num sítio qualquer.
Temos grandes tradições de botafoguenes de caráter com ideologias diversas. Dois exemplos distintos: o Luiz Caldas, monarquista convicto, de grande caráter e adverso das apostas no remo, e Althemar Dutra Castilho que reagiu contra a ditadura em 1968 quando a PM invadiu o nosso estádio para bater e prender os estudantes que fugiam das cargas policiais.
Um Clube de grandes histórias, tragédias e glórias, e sempre botafoguíssimo!
Ah... e lembro-me perfeitamente do MITOB e fórum ComFogo.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário