segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Narrativa do mais louco torneio internacional conquistado pelo Botafogo

 
Crédito: Reprodução/Internet.

por AUTOR DESCONHECIDO | Excertos da Revista Oficial do Botafogo, 1996.

Título original: “Um Show do Botafogo em Dois Continentes” | Gentileza de Angelo Antonio Seraphini

Partimos então para La Coruña, onde disputamos o mais tradicional torneio do mundo, o Teresa Herrera. O nível era, sem dúvida, o melhor possível. Além do BOTAFOGO, atual campeão brasileiro, havia o Ajax, da Holanda, último vencedor da Taça Toyota (conhecida no Brasil como mundial interclubes); a Juventus, da Itália, atual campeã européia; e o time da casa, o Deportivo, que dentro do seu estádio, o Riazor, e diante da fanática torcida, era considerado como quase imbatível.

Quase! Estreamos contra eles e dominamos todo o primeiro tempo, mandando no jogo. Mesmo um pênalti, bem marcado, de Wagner em Manjarín, perfeitamente cobrado por Beguristáin logo aos sete minutos de partida, não nos assustou. A virada veio de forma natural, com intervalo de menos de cinco minutos de um gol para o outro. Aos 38, Bentinho avançou desde o meio de campo até à entrada da área adversária e atirou de forma indefensável no canto direito do bom goleiro tcheco Kouba. Aos 42, Marcelo Alves enfiou na medida para Túlio que rapidamente virou para marcar seu quinto tento na excursão sacramentando a vitória na estréia do Teresa Herrera. No segundo tempo, logo no começo, Bentinho se machucou, dando lugar a França, um jogador com características mais defensivas. A tendência foi segurar o resultado, que foi conseguido mesmo diante de alguns grandes sustos.

Bastava, então, esperar a partida entre Ajax e Juventus, no dia seguinte. […] A equipe italiana derrotou a holandesa por 6x0! Para muitos iríamos cumprir tabela contra a Juventus. […]

Veio o primeiro tempo e o predomínio da Juventus confirmava a previsão de muitos. Saímos perdendo por um a zero, gol de Vieri, de cabeça, aos 23 minutos. Um bom resultado, considerando o andamento da partida. No tempo final, ele, Túlio, empatou a partida logo aos cinco minutos, desviando de cabeça um cruzamento de Wilson Goiano. O BOTAFOGO cresceu e, aos poucos, empurrado pela torcida, foi tomando conta do jogo. Porém, aos 30 minutos, veio o primeiro golpe quase fatal dos italianos. Grande jogada de De Livio pela esquerda e Amoruso faria seu primeiro gol na partida.

“Poxa, faltam só quinze minutos e… GOL DO BOTAFOGO!!!”. Córner cobrado pela direita, rebatida da zaga, e França, que há pouco caíra no gramado se contorcendo por causa de cãimbras, renascia para reempatar a decisão, um minuto e meio após o segundo da Juventus.

Crédito: Revista do Botafogo, 1996.

Mais um pouco e confusão em campo: Mauricinho, que havia entrado no lugar de Sorato, se estranha com Torricelli. Dedo em riste, mostra ao grandão italiano que tamanho não é documento. Briga para lá, empurrão para cá, e Otacílio e Torricelli são expulsos. O fraquíssimo árbitro espanhol Antonio Lopez se perdia de vez. E o pau comia solto. O zagueiro-gladiador Montero, da Juve, distribuía pancadas em todos impunemente. França não aguentou mais o ritmo e foi substituído por Marco Aurélio. Marcelo Alves, moído por tantas faltas violentas, se arrastava em campo. Não voltaria mais para a intrépida guerra da prorrogação.

Começa a tal prorrogação e…gol de Amoruso. Apenas dois minutos de jogo e voltava a pergunta: o BOTAFOGO terá condições de reagir? Além de Marco Aurélio, outro júnior, Zé Carlos (que entrara no lugar de Marcelo Alves), estava em campo: jogadores inexperientes, porém de muita garra. Não havia mais opções no banco de reservas, tornando a situação ainda mais crítica. Era duro, porém possível, e lá se foi o alvinegro em busca de um terceiro empate que veio quando Souza, o grande nome do jogo, bateu falta, na entrada da área, com violência. Após a defesa parcial de Peruzzi, Ferrara cabeceou contra sua própria meta: 3x3. Montero reclamou de… sei lá o que? e foi expulso. Vínhamos com um homem a mais para o segundo tempo.

Sem dúvida, as coisas haviam melhorado, porém, faltava pernas. O glorioso buscava espaços para penetrar e a Juve se defendia tentando raros contra-ataques. Num deles, Amoruso – outra vez – dava um golpe fatal. Eram doze minutos, e pela quarta vez o time italiano estava à frente do placar. Não deveria haver mais forças, mais tempo para… Ah! Temos Túlio! Quem sabe ele… é pênalti! Encima dele. Ele cobra. Ele marca! Ah, os deuses de Carlito, os deuses do futebol, o Deus Túlio. Quatro a quatro, não há tempo para mais nada, vamos para os pênaltis.

Para quem acompanha pela TV a cabo, lá vai Jéferson… e lá se vai a imagem!!! Não é possível, depois de tanto sacrifício! Vem a informação, o lateral perdera a cobrança. A imagem volta a tempo de ver Wagner defender dois pênaltis: o de Amoruso symbol – enfim – e o de De Livio. Wilson Goiano e Gottardo marcam e Jugovic chuta a bola e a sorte para fora. Souza então define: 3x0, e a Teresa Herrera era nossa.

Conquistou-se, assim, um maravilhoso troféu […] que, muito mais do que o valor material que tem, resgata uma época em que ver o BOTAFOGO encantar a Europa era a coisa mais natural do mundo [realce a negrito da autoria do Mundo Botafogo].

Notas: (1) O Botafogo envergou a camisa azul-e-branca do Deportivo devido ao árbitro considerar que as camisas do Botafogo e da Juventus se confundiam; (2) confira a conquista e as fichas técnicas do XLVIII Troféu Teresa Herrera na seguinte publicação do Mundo Botafogo: 1996: Botafogo, campeão internacional em Espanha.

Fonte: Revista Oficial do Botafogo, 1996.

11 comentários:

Sergio disse...

Foi um jogo épico esse do Botafogo, conquista muito importante.
De 1989 a 1998 o Botafogo estava renascendo, mas o amadorismo e erros crassos fizeram o clube retroceder a partir de 1999, os incompetentes dirigentes ao invés de reconstruir o clube com inteligência aumentaram assustadoramente a dívida do clube, e o resultado é sentido de forma dura neste século. Augusto Frederico Schimidt tinha razão. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

À excepção de Bebeto de Freitas - contextado pela velha oligarquia botafguense -, todos os presidentes pós Montenegro foram respaldados por ele... Até mesmo o atual, que em entrevista considerou Montenegro o maior botafoguense de todos os tempos... Maior do que Paulo Azeredo? Sergio Darcy? Carlito Rocha? Adhemar Bebianno? e etc.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Adenda: tenho pelo menos 20 nomes de dirigentes fantásticos e totalmente desinteressados que serviram incondicionalmente o Botafogo antes de chegar ao nome de Montenegro. Todos antes dele...

leymir disse...

Perai gente, o BFR foi campeão com a camisa do La Coruna, é isso?

Eu entendi certo?

Como é lindo o futebol!

Ruy Moura disse...

Leymir, "há coisas que só acontecem ao Botafogo". (rsrsrs)
Abraços.

leymir disse...

Hahahaha muito justo!

leymir disse...

O Botafogo montou vários bons times nesse período e alguns ótimos.

89, 90, bi carioca 92 vice brasileiro, 95 campeao brasileiro , em minha opinião são timaços.

O time de 98 ganhou o Rio - SP e era bom e até um time mais fraco como o de 93 ainda ganhou a conmebol.

Ainda em 99 quase veio a a Copa do Brasil.

Foi um grande período que foi realmente sabotado posteriormente.


Ruy Moura disse...

É mesmo, Leymir - sabotado é a palavra certa. Bebeto de Freitas foi permanentemente sabotado porque não pertencia à velha oligarquia da brigada do reumático. Um homem seríssimo que foi acusado de roubar um broche, por despeito e vingança, já depois de ter prestado tão bons serviços ao Botafogo. Quando chegou a presidente não havia dinheiro para comprar papel higiênico ou bolas para os treinos. Recuperou o clube da 2ª divisão, avançou com a Cmpnhia Botafogo, foi campeão carioca e montou boas equipes em 2006, 2007, 2008, 2009.

Grande abraço.

BFR Números disse...

Este torneio, que sempre considerei um título mundial, foi não só a edição de maior sucesso e investimento do Teresa Herrera (inclusive foi a 50ª edição do torneio inter-temporadas de maior prestígio na Europa na altura), como também serviu de base para o que seria o Mundial da FIFA. Cabe lembrar que o torneio da FIFA estava em 'gestação' entre 1993 e 1997, e a repercussão que teve o Teresa Herrera em 96 influenciou certos dirigentes, conforme me foi confidenciado há cerca de duas décadas por uma destacada personalidade que trabalhou para a mesma, pela forma de disputa e abrangência de apontamento.

No que se refere aos participantes, nunca houve um torneio deste âmbito (Euro-Americano, que à época do futebol, era o que se definia por 'Mundial') com tamanho quilate: O atual campeão intercontinental e da Super Copa da UEFA, Ajax; O atual campeão da Liga dos Campeões e que se tornaria campeão intercontinental ao fim daquele ano e da Super Copa da UEFA no princípio do seguinte, Juventus; O campeão nacional do Brasil - atual campeão da Copa do Mundo e que liderava o ranking de seleções, Botafogo; O anfitrião, atual campeão do torneio, da Copa do Rei e da Supercopa Espanhola, Deportivo La Coruña). Estiveram em campo ao menos 70% dos titulares absolutos de Ajax, Juventus e La Coruña - ao contrário do que costumam dizer, basta consultar as fontes primárias - e, também ao contrário do dizem os detratores, o torneio foi tão disputado que saiu até briga na final.

Também os designeos providenciais se fizeram valer na ocasião pelo fato do Botafogo, cujo futebol fora fundado no Largo dos Leões, ter sagrado-se campeão mundial (sim, mundial) contra a equipe cujas cores foram a inspiração para seu uniforme e jogando com a camisa de uma equipe da Galícia, num território que, séculos e séculos antes, fora o Reino de... Leão - território que, penso eu, o editor saiba bem que abrangia a hoje região autônoma da Galícia e o norte de Portugal (antes Minho, Douro, Trás-os-Montes e as Beiras).

Nunca houve e dificilmente haverá no futebol uma ocasião combinadamente tão poética, tão transcendental e em tão alto nível de critérios técnicos da bola para apontar o vencedor de um torneio. Este foi o título dos títulos. Reconhecimento oficial por instituições corruptas da bola, só servem, como dizia Nelson Rodrigues, para os "idiotas da objetividade". Mais valor tem a nossa Teresa Herrera de 1996 do que uma partida única contra um time de ressaca e indiferente do Liverpool, por exemplo, que muita gente por aí bate no peito e se orgulha até hoje.

S.A.N.

Ruy Moura disse...

Estimado BFR Números, o que agora vou mencionar nunca o fiz publicamente, especialmente para não levantar polêmicas e não ferir suscetibilidades de ‘crentes’ em títulos mundiais de clubes, porque às vezes levantam-se polêmicas complicadas por coisas à toa.

Depois de muito refletir sobre o dito 'tricampeonato mundial', sobre o qual fui mudando de opinião ao longo dos anos, cheguei à mesma conclusão: se há troféu que mereça ser 'título mundial de clubes' é - claramente! - o Troféu Teresa Herrera, devido à qualidade dos participantes e pelo prestígio alcançado.

Não atribuo nenhum valor à disputa Intercontinental Toyota, primeiro porque um jogo único – e puramente de propaganda comercial – não será nunca um título significativo, segundo porque os europeus nunca deram valor ao troféu e jogaram-no displicentemente até há pouco tempo, quando a FIFA organizou, finalmente, um torneio mundial com os clubes campeões dos diversos continentes, e ainda assim de pouco valor porque nem sequer se trata de dois jogos interessantes nas semifinais, mas apenas o jogo da final - que continua, nessa perspetiva de jogo (quase) único, a ter pouco valor.

E há, ainda, outro pormenor: esses clubes europeus não se empenhavam nesse jogo único, mas indubitavelmente que todos os participantes se empenhavam quando se tratava de conquistar o Troféu Teresa Herrera. Então, estamos alinhados – o Teresa Herrera é muito mais significativo ao nível dos competidores e do seu desejo de conquista do que o atual mundial de clubes.

Creio que a nova versão a estrear pela FIFA, com fase grupos e eliminatórias posteriores, essa sim, constituirá um verdadeiro campeonato mundial de clubes, segundo a lógica de uma Copa do Mundo.

Abraços gloriosos.

Ruy Moura disse...

Estimado BFR Números, o que agora vou mencionar nunca o fiz publicamente, especialmente para não levantar polêmicas e não ferir suscetibilidades de ‘crentes’ em títulos mundiais de clubes, porque às vezes levantam-se polêmicas complicadas por coisas à toa.

Depois de muito refletir sobre o dito 'tricampeonato mundial', sobre o qual fui mudando de opinião ao longo dos anos, cheguei à mesma conclusão: se há troféu que mereça ser 'título mundial de clubes' é - claramente! - o Troféu Teresa Herrera, devido à qualidade dos participantes e pelo prestígio alcançado.

Não atribuo nenhum valor à disputa Intercontinental Toyota, primeiro porque um jogo único – e puramente de propaganda comercial – não será nunca um título significativo, segundo porque os europeus nunca deram valor ao troféu e jogaram-no displicentemente até há pouco tempo, quando a FIFA organizou, finalmente, um torneio mundial com os clubes campeões dos diversos continentes, e ainda assim de pouco valor porque nem sequer se trata de dois jogos interessantes nas semifinais, mas apenas o jogo da final - que continua, nessa perspetiva de jogo (quase) único, a ter pouco valor.

E há, ainda, outro pormenor: esses clubes europeus não se empenhavam nesse jogo único, mas indubitavelmente que todos os participantes se empenhavam quando se tratava de conquistar o Troféu Teresa Herrera. Então, estamos alinhados – o Teresa Herrera é muito mais significativo ao nível dos competidores e do seu desejo de conquista do que o atual mundial de clubes.

Creio que a nova versão a estrear pela FIFA, com fase grupos e eliminatórias posteriores, essa sim, constituirá um verdadeiro campeonato mundial de clubes, segundo a lógica de uma Copa do Mundo.

Abraços gloriosos.

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