segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Botafogo 2022-2023: exultações e angústias, um traço persistente (III)

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

O Mundo Botafogo acredita que Textor cometeu erros cruciais começando por Giovanna Waksman e Jeffinho. Ainda em 2022, Giovana, de 13 anos, mostrou-se uma revelação superior a Marta, segundo alguns especialistas. Textor tratou de levá-la para a América, preparando-lhe futuro na equipe feminina do Lyon, campeã europeia. E em janeiro de 2023, a grande revelação Jeffinho seguiu para o Lyon, em mais um erro de quem não sabe muito de futebol e aparentemente anseia por colocar Jeffinho na montra europeia para uma elevada venda posterior. Em ambos os casos pode-se admitir que a prioridade de Textor era o Lyon.

Outros erros desembocaram na demissão de Castro, aos quais acrescentou posteriormente novos equívocos fatais.

Apesar de respaldar Castro, Textor não acreditava no que sucedeu a seguir: liderança disparada do Brasileirão. E não cumpriu a promessa de contratações capazes. Nenhuma contratação da janela de transferências revelou mais-valia. Diversos jogadores estrangeiros foram contratados e não renderam. John Textor optou por contratações baratas, e o barato sai caro.

Precisávamos de dois laterais (esquerdo e direito), um zagueiro polivalente, um criador a meio-campo e um atacante ‘matador’ capaz de substituir Tiquinho Soares no comando do ataque. Promessa gorada por falta de qualidade das contratações. Os dois laterais eram essenciais para cobrir problemas que a equipe evidenciou durante todo o ano; o zagueiro para substituir a ausência de Adryelson ou Cuesta; o meio-campista para cobrir quedas de desempenho e melhorar a criação; o atacante ‘matador’ para substituir Tiquinho nas suas ausências e assegurar os gols que ganham os jogos.

Efetivamente, o Mundo Botafogo sempre temeu uma eventual lesão de Tiquinho, porque todo o ataque da equipe foi preparado e centrado nele, e sem ele o ataque desfazia-se por falta de capacidade de comando e de oportunismo de Vítor Sá, Carlos Alberto, Luís Henrique, Júnior Santos ou Martín Segovia. Somente Júnior Santos, já na reta final do Brasileirão, em novembro, honrou o ataque botafoguense. Tal como em 2007, em que o ataque do Botafogo desfez-se com o doping e a ausência de Dodô, também em 2023 ocorreu coisa semelhante com Tiquinho Soares. Algo elementar que qualquer torcedor perceberia, mas que Textor e os responsáveis pelo futebol esqueceram.

Textor olhou muito mais para investir o mínimo possível – e por isso o que investiu na janela de transferência a meio do ano não rendeu – do que capacitar a componente desportiva, omitindo-se de entender que sem sucesso desportivo não alavancaria a valorização dos jogadores, não ajudaria a que os melhores se aproximassem do Clube, não chamaria melhores parceiros publicitários, não faria crescer outras receitas de bilheteira, vendas de camisas ou promoções de artefactos ligados aos jogadores.

Castro estava verdadeiramente insatisfeito com Textor, com o staff de futebol que aparentemente não o desejava e com a falta de reforços. E magoado com os ataques da mídia à equipe e a si próprio, bem como da torcida, porque tinha consciência de saber bem o caminho para o sucesso. E quando alcançou a liderança disparada do Brasileirão sentiu-se ainda mais injustiçado, e eis que subitamente querem-no noutro sítio do mundo.

Recentemente, René Simões, que conheceu Castro de perto, clarificou um aspecto central da personalidade de Castro e do contexto que a maioria de nós não reconheceu à época:

Penduraram o pescoço dele, pediram para ir embora, saiu vaiado no Campeonato Carioca, estava muito machucado. A torcida machucou muito ele, que é muito sério. Conheci o Castro em um curso, batemos papo por muito tempo e vi a seriedade dele. E a sensibilidade dele. […] Não sei se saiu pelo dinheiro, não acredito que sairia, porque estava para ser campeão, para pegar clubes da Europa. […] E tem também o fato de treinar Cristiano Ronaldo.”

Na opinião do Mundo Botafogo foi tudo isso e outras coisas também: promessas falhadas de Textor, staff não solidário, CEO (Thairo Arruda) sem experiência de futebol para o apoiar eficazmente e dar sequência ao trabalho desenvolvido, xingamentos e ofensas por parte da torcida e ainda a possibilidade de treinar Cristiano Ronaldo e, segundo informações que circularam, Textor terá lhe negado qualquer aumento de salário face à proposta saudita.

Pôs tudo na balança e parece não ter hesitado: Arábia Saudita, muitos milhões, Cristiano Ronaldo e prestígio internacional numa Liga cheia de craques.

O Mundo Botafogo compreende que se queira deixar o local onde não se é grato para rumar a um local onde se é desejado. Porém, Castro nunca será perdoado neste espaço, nem Textor pontualmente pelas suas omissões, nem o staff do departamento de futebol pela falta de solidariedade e por não se ter até hoje entendido a mais-valia de alguns dos seus elementos.

Sobretudo não será perdoado neste espaço porque anunciando sempre como valores essenciais a ética, o caráter e o prestígio, afirmou que nunca fora despedido e cumprira todos os seus contratos, quando na verdade acabou por revelar – certamente já depois de decisão tomada – que em algumas ocasiões houve rompimento de contratos quando pagaram a sua cláusula de rescisão. E ainda mentiu à torcida sobre a sua decisão de sair, porque garantiu que só depois do jogo contra o Magallanes decidiria sobre isso, quando, na verdade, já decidira bastante antes e, segundo circulou, tendo-o comunicado a Textor.

Porém, o Mundo Botafogo considera, principalmente, que Castro foi ingrato com Textor. Quando todos queriam a sua saída, Textor respaldou-o e manteve-o à frente da equipe. Se Textor o tivesse demitido Castro não teria trunfos nem visibilidade para novos convites interessantes no imediato, já que sairia pela porta baixa e sem projeção internacional. E a ingratidão é um dos piores defeitos da humanidade.

Foi um momento de angústia.

De tal modo foi angustiante que a torcida, a partir da saída de Castro, passou a lotar sistematicamente o estádio logo no jogo seguinte contra o Vasco da Gama, dando sinal que iria estar ao lado da equipe líder até ao fim do campeonato.

Textor foi rápido, chamou o brasileiro Cláudio Caçapa do Lyon para aguentar o ‘barco’ até contratar novo treinador. Caçapa aguentou-o bem com 3 vitórias no Brasileirão e 1 vitória na Copa Sul-americana, devendo o seu sucesso a não ter mexido na estrutura da equipe ainda jogando segundo o modelo implementado, além de dar oportunidades a Carlos Alberto. A torcida ovacionou Caçapa e uma boa parte queria-o à frente da equipe, mas não se deve confundir o Caçapa que vinha apenas para realizar 4 jogos com o Caçapa a quem tivesse sido dada continuidade. Ele faria mudanças seguramente e nada garantia que tivesse sucesso, porque faltava-lhe experiência como treinador principal – o que, aliás, aparentemente se tem visto à frente do Molenbeek. Em todo o caso, adotou a postura inteligente de não mexer na equipe, fazendo o quanto baste, embora houvesse pontos fracos ainda a burilar.

As pressões internas para a manutenção de Caçapa e o bloqueio à chegada de Bruno Lage não tiveram eco suficiente em John Textor, que contrariou o departamento de futebol e manteve a sua decisão.

Não obstante a inexperiência como treinador principal, Caçapa foi muito positivo com a conquista de 9 pontos em 3 jogos, mas, ainda assim, cometeu um erro que Castro jamais cometera: pela 1ª vez falou na conquista do título, e esse era assunto tabu para Castro e para o plantel. O Mundo Botafogo defende há muitos anos o que Castro defendeu e depois Bruno Lage também seguiu: treino a treino, jogo a jogo, com foco exclusivamente nos 3 pontos seguintes, evitando-se qualquer distração exterior ao foco definido. Caçapa quebrou a regra e a torcida adotou o discurso. Um erro pelo qual pagamos muito caro.

Foi mais um momento de exultação.

Entretanto, Textor voltou as suas baterias para Bruno Lage. Crê-se publicamente que foi Castro que indicou Lage ao acionista maioritário do Botafogo, mas um rumor que circulou em Lisboa admite que o escolhido inicialmente não fora Castro, mas o próprio Lage, que Textor conheceu. Efetivamente, Textor estivera fascinado pelo Benfica e quis adquirir parte das ações do clube, que acabou por lhe fechar as portas. Nessa altura, Lage estava bem visto, porque fora treinador das bases do Benfica e campeão da equipe principal, e treinava o Wolverhampton com sucesso. Teria sido sondado por Textor, mas não quis sair da Premier League e, segundo consta, foi ele que indicou Luís Castro devido à sua experiência nas bases do Porto e sucesso internacional em curso.

Estando Bruno Lage sem emprego aquando da saída de Castro, Textor voltou à carga e contratou-o, porque reunia o que o empresário desejava: alguém experiente nas bases que assegurasse revelações para a equipe principal, com ida posterior para a Europa e, simultaneamente, que fosse competente na equipe principal.

Bruno Lage chegou aureolado e as coisas até correram razoavelmente bem no início, tendo os jogadores mencionado que Lage estava aprimorando alguns aspetos da equipe em pontos mais fracos, especialmente laterais e meio campo.

A chegada de Lage foi, ainda, um momento de alguma exultação.

É certo que Lage cometeu erros crassos, sobretudo de natureza atitudinal e comportamental que o levaram à demissão, colocando-se numa posição frágil de alvo fácil. Todavia, fora isso, ele procurou resolver o que Textor não quis resolver com contratações adequadas, sobretudo na lateral e no meio campo.

Mesmo sem ter chegado a mostrar os seus eventuais atributos técnicos evidenciados no Benfica e no 1º ano de Wolverhampton, o que precipitou as suas atitudes e as vãs tentativas de superar deficiências técnicas da equipe, foi o verdadeiro epicentro que iniciou o descalabro: a lesão de Tiquinho Soares!

Foi o começo de um conjunto de situações indesejáveis e inimagináveis numa equipe que sem Tiquinho valia menos de metade das suas capacidades técnicas de conjunto e que desde aí foi sucessivamente caindo de produção.

Essa breve Era de Lage, bem como a breve Era de Lúcio Flávio e a falhada ação de Tiago Nunes na tentativa de recuperar uma equipe psicologicamente arrasada, serão objeto da IV Parte da análise ao Botafogo 2022-2023.

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