por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Mundo Botafogo acredita
que Textor cometeu erros cruciais começando por Giovanna Waksman e Jeffinho.
Ainda em 2022, Giovana, de 13 anos, mostrou-se uma revelação superior a Marta,
segundo alguns especialistas. Textor tratou de levá-la para a América,
preparando-lhe futuro na equipe feminina do Lyon, campeã europeia. E em janeiro
de 2023, a grande revelação Jeffinho seguiu para o Lyon, em mais um erro de
quem não sabe muito de futebol e aparentemente anseia por colocar Jeffinho na
montra europeia para uma elevada venda posterior. Em ambos os casos pode-se
admitir que a prioridade de Textor era o Lyon.
Outros erros desembocaram na
demissão de Castro, aos quais acrescentou posteriormente novos equívocos
fatais.
Apesar de respaldar Castro,
Textor não acreditava no que sucedeu a seguir: liderança disparada do
Brasileirão. E não cumpriu a promessa de contratações capazes. Nenhuma
contratação da janela de transferências revelou mais-valia. Diversos jogadores
estrangeiros foram contratados e não renderam. John Textor optou por
contratações baratas, e o barato sai caro.
Precisávamos de dois
laterais (esquerdo e direito), um zagueiro polivalente, um criador a meio-campo
e um atacante ‘matador’ capaz de substituir Tiquinho Soares no comando do
ataque. Promessa gorada por falta de qualidade das contratações. Os dois
laterais eram essenciais para cobrir problemas que a equipe evidenciou durante
todo o ano; o zagueiro para substituir a ausência de Adryelson ou Cuesta; o
meio-campista para cobrir quedas de desempenho e melhorar a criação; o atacante
‘matador’ para substituir Tiquinho nas suas ausências e assegurar os gols que
ganham os jogos.
Efetivamente, o Mundo
Botafogo sempre temeu uma eventual lesão de Tiquinho, porque todo o ataque da
equipe foi preparado e centrado nele, e sem ele o ataque desfazia-se por falta
de capacidade de comando e de oportunismo de Vítor Sá, Carlos Alberto, Luís
Henrique, Júnior Santos ou Martín Segovia. Somente Júnior Santos, já na reta final
do Brasileirão, em novembro, honrou o ataque botafoguense. Tal como em 2007, em
que o ataque do Botafogo desfez-se com o doping
e a ausência de Dodô, também em 2023 ocorreu coisa semelhante com Tiquinho
Soares. Algo elementar que qualquer torcedor perceberia, mas que Textor e os
responsáveis pelo futebol esqueceram.
Textor olhou muito mais para
investir o mínimo possível – e por isso o que investiu na janela de
transferência a meio do ano não rendeu – do que capacitar a componente
desportiva, omitindo-se de entender que sem sucesso desportivo não alavancaria
a valorização dos jogadores, não ajudaria a que os melhores se aproximassem do
Clube, não chamaria melhores parceiros publicitários, não faria crescer outras
receitas de bilheteira, vendas de camisas ou promoções de artefactos ligados
aos jogadores.
Castro estava verdadeiramente
insatisfeito com Textor, com o staff
de futebol que aparentemente não o desejava e com a falta de reforços. E
magoado com os ataques da mídia à equipe e a si próprio, bem como da torcida,
porque tinha consciência de saber bem o caminho para o sucesso. E quando
alcançou a liderança disparada do Brasileirão sentiu-se ainda mais injustiçado,
e eis que subitamente querem-no noutro sítio do mundo.
Recentemente, René Simões,
que conheceu Castro de perto, clarificou um aspecto central da personalidade de
Castro e do contexto que a maioria de nós não reconheceu à época:
“Penduraram o pescoço dele, pediram para ir embora, saiu vaiado no
Campeonato Carioca, estava muito machucado. A torcida machucou muito ele, que é
muito sério. Conheci o Castro em um curso, batemos papo por muito tempo e vi a
seriedade dele. E a sensibilidade dele. […] Não sei se saiu pelo dinheiro, não acredito que sairia, porque estava
para ser campeão, para pegar clubes da Europa. […] E tem também o fato de treinar Cristiano Ronaldo.”
Na opinião do Mundo Botafogo
foi tudo isso e outras coisas também: promessas falhadas de Textor, staff não solidário, CEO (Thairo Arruda)
sem experiência de futebol para o apoiar eficazmente e dar sequência ao
trabalho desenvolvido, xingamentos e ofensas por parte da torcida e ainda a
possibilidade de treinar Cristiano Ronaldo e, segundo informações que
circularam, Textor terá lhe negado qualquer aumento de salário face à proposta saudita.
Pôs tudo na balança e parece
não ter hesitado: Arábia Saudita, muitos milhões, Cristiano Ronaldo e prestígio
internacional numa Liga cheia de craques.
O Mundo Botafogo compreende
que se queira deixar o local onde não se é grato para rumar a um local onde se
é desejado. Porém, Castro nunca será perdoado neste espaço, nem Textor
pontualmente pelas suas omissões, nem o staff
do departamento de futebol pela falta de solidariedade e por não se ter até
hoje entendido a mais-valia de alguns dos seus elementos.
Sobretudo não será perdoado
neste espaço porque anunciando sempre como valores essenciais a ética, o
caráter e o prestígio, afirmou que nunca fora despedido e cumprira todos os
seus contratos, quando na verdade acabou por revelar – certamente já depois de
decisão tomada – que em algumas ocasiões houve rompimento de contratos quando
pagaram a sua cláusula de rescisão. E ainda mentiu à torcida sobre a sua
decisão de sair, porque garantiu que só depois do jogo contra o Magallanes
decidiria sobre isso, quando, na verdade, já decidira bastante antes e, segundo
circulou, tendo-o comunicado a Textor.
Porém, o Mundo Botafogo
considera, principalmente, que Castro foi ingrato com Textor. Quando todos
queriam a sua saída, Textor respaldou-o e manteve-o à frente da equipe. Se
Textor o tivesse demitido Castro não teria trunfos nem visibilidade para novos
convites interessantes no imediato, já que sairia pela porta baixa e sem
projeção internacional. E a ingratidão é um dos piores defeitos da humanidade.
Foi um momento de angústia.
De tal modo foi angustiante
que a torcida, a partir da saída de Castro, passou a lotar sistematicamente o estádio
logo no jogo seguinte contra o Vasco da Gama, dando sinal que iria estar ao
lado da equipe líder até ao fim do campeonato.
Textor foi rápido, chamou o
brasileiro Cláudio Caçapa do Lyon para aguentar o ‘barco’ até contratar novo
treinador. Caçapa aguentou-o bem com 3 vitórias no Brasileirão e 1 vitória na
Copa Sul-americana, devendo o seu sucesso a não ter mexido na estrutura da
equipe ainda jogando segundo o modelo implementado, além de dar oportunidades a
Carlos Alberto. A torcida ovacionou Caçapa e uma boa parte queria-o à frente da
equipe, mas não se deve confundir o Caçapa que vinha apenas para realizar 4
jogos com o Caçapa a quem tivesse sido dada continuidade. Ele faria mudanças
seguramente e nada garantia que tivesse sucesso, porque faltava-lhe experiência
como treinador principal – o que, aliás, aparentemente se tem visto à frente do
Molenbeek. Em todo o caso, adotou a postura inteligente de não mexer na equipe,
fazendo o quanto baste, embora houvesse pontos fracos ainda a burilar.
As pressões internas para a
manutenção de Caçapa e o bloqueio à chegada de Bruno Lage não tiveram eco
suficiente em John Textor, que contrariou o departamento de futebol e manteve a
sua decisão.
Não obstante a inexperiência
como treinador principal, Caçapa foi muito positivo com a conquista de 9 pontos
em 3 jogos, mas, ainda assim, cometeu um erro que Castro jamais cometera: pela
1ª vez falou na conquista do título, e esse era assunto tabu para Castro e para
o plantel. O Mundo Botafogo defende há muitos anos o que Castro defendeu e
depois Bruno Lage também seguiu: treino a treino, jogo a jogo, com foco
exclusivamente nos 3 pontos seguintes, evitando-se qualquer distração exterior
ao foco definido. Caçapa quebrou a regra e a torcida adotou o discurso. Um erro
pelo qual pagamos muito caro.
Foi mais um momento de
exultação.
Entretanto, Textor voltou as
suas baterias para Bruno Lage. Crê-se publicamente que foi Castro que indicou
Lage ao acionista maioritário do Botafogo, mas um rumor que circulou em Lisboa
admite que o escolhido inicialmente não fora Castro, mas o próprio Lage, que Textor
conheceu. Efetivamente, Textor estivera fascinado pelo Benfica e quis adquirir
parte das ações do clube, que acabou por lhe fechar as portas. Nessa altura,
Lage estava bem visto, porque fora treinador das bases do Benfica e campeão da
equipe principal, e treinava o Wolverhampton com sucesso. Teria sido sondado
por Textor, mas não quis sair da Premier League e, segundo consta, foi ele que
indicou Luís Castro devido à sua experiência nas bases do Porto e sucesso
internacional em curso.
Estando Bruno Lage sem
emprego aquando da saída de Castro, Textor voltou à carga e contratou-o, porque
reunia o que o empresário desejava: alguém experiente nas bases que assegurasse
revelações para a equipe principal, com ida posterior para a Europa e,
simultaneamente, que fosse competente na equipe principal.
Bruno Lage chegou aureolado
e as coisas até correram razoavelmente bem no início, tendo os jogadores
mencionado que Lage estava aprimorando alguns aspetos da equipe em pontos mais
fracos, especialmente laterais e meio campo.
A chegada de Lage foi,
ainda, um momento de alguma exultação.
É certo que Lage cometeu
erros crassos, sobretudo de natureza atitudinal e comportamental que o levaram
à demissão, colocando-se numa posição frágil de alvo fácil. Todavia, fora isso,
ele procurou resolver o que Textor não quis resolver com contratações
adequadas, sobretudo na lateral e no meio campo.
Mesmo sem ter chegado a
mostrar os seus eventuais atributos técnicos evidenciados no Benfica e no 1º
ano de Wolverhampton, o que precipitou as suas atitudes e as vãs tentativas de
superar deficiências técnicas da equipe, foi o verdadeiro epicentro que iniciou
o descalabro: a lesão de Tiquinho Soares!
Foi o começo de um conjunto
de situações indesejáveis e inimagináveis numa equipe que sem Tiquinho valia
menos de metade das suas capacidades técnicas de conjunto e que desde aí foi
sucessivamente caindo de produção.
Essa breve Era de Lage, bem como a breve Era de Lúcio Flávio e a falhada ação de Tiago Nunes na tentativa de recuperar uma equipe psicologicamente arrasada, serão objeto da IV Parte da análise ao Botafogo 2022-2023.
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