por RUY
MOURA | Editor do Mundo Botafogo
A iniciar este artigo analítico convém sublinhar
três ou quatro eixos prévios: (1) que em início de temporada os atletas
apresentam-se fora de forma; (b) que não havendo pré-época decente para
enfrentar o novo ano as tentativas de acerto e erro são normais; (c) que a
equipe nunca foi tecnicamente tão boa quanto muita gente anunciou em 2023; (4)
que – e talvez acima de tudo – John Textor é um gestor totalmente despreparado
em matéria de compra e venda de jogadores, iniciando um campeonato sem as
contratações adequadas e devidamente fechadas para quem vai enfrentar uma Copa
Libertadores.
Dito isto, entremos na análise da equipe.
Tiago Nunes optou por uma equipe quase totalmente
reserva no início da partida (exceptua-se Júnior Santos, porque Matías Segovia
nunca teve nível de titular e Marçal não passa de um reserva em fim de prazo).
É absolutamente normal para testar em tempo real todo o plantel e tendo em
conta que não está disputando um título de um campeonato em fim de linha, mas
apenas fazendo a sua pré-temporada.
Nunes testou e percebeu: são pior que maus. O
trabalho que tem pela frente é hercúleo.
Todavia, a sorte bafejou a equipe porque aos 2’ Marçal
centrou rasteiro da linha de fundo, um jogador do Botafogo tocou mal na bola, a
pelota atravessou então toda a pequena área e foi encontrar Júnior Santos no
lado oposto para rematar, abrir o placar e tranquilizar a equipe para o resto
do 1º tempo.
Um 1º tempo onde se realçaram os mesmos problemas do
1º jogo: lentidão, falta de qualidade sobretudo do último passe e a clássica
desafinação no remate. Jogadas ensaiadas não foi possível identificar,
organização em campo também, armação de ataques consistentes idem e quando o
Bangu subiu as suas linhas a saída de bola do Botafogo passou da bola no chão
para o estilo ‘ligação direta’, sem qualquer resultado prático.
Ainda assim são criadas pelo menos duas
oportunidades desperdiçadas e o Bangu termina o 1º tempo com uma oportunidade
de gol atacando pela direita – sempre pela direita em cima de Marçal –, mas Igo
Gabriel apresenta-se para defender.
O 2º tempo inicia-se com a mesma equipe e mantém o
padrão anterior, mas uma grande maratona de Júnior Santos atravessa o campo,
serve Segovia cara a cara com o guardião banguense e, como sempre, Segovia
desperdiçou.
Aquando da elaboração do perfil de M. Segovia pelo
Mundo Botafogo, ainda antes de ser contratado, escreveu-se que “seu defeito até hoje é a
estatura e o físico. Mede apenas 1,65m e tem pouca massa muscular, o que faz
com que seja muito frágil e complica para ter boa finalização nas jogadas”. E
que conste, nenhum plano individual foi desenhado para desenvolver as potenciais
qualidades do jogador: drible, velocidade e intensidade.
A propósito: alguém sabe se Segovia já marcou algum
gol já sua carreira profissional?
Após os 60’ Tiago procurou reanimar o ataque
substituindo Jacob Montes, Diego Hernández, Janderson e Segovia por
Marlon Freitas, Jeffinho, Matheus Nascimento e Eduardo. A equipe melhorou
ligeiramente, mas apenas por via de Jeffinho. Os ‘grandes’ atacantes
substitutos de Tiquinho Soares – designadamente Matheus Nascimento e Janderson
– aí estão mostrando o que (não) valem.
Duas ou
três oportunidades de gol ainda surgiram, mas a monotonia da replicação
manteve-se: erros no último passe e nos remates, e aos 90+1’ Cleyton cobrou uma
falta a favor do Bangu que o travessão defendeu e evitou o empate já no tempo
de acréscimo.
A
encerrar a partida Jeffinho ainda brilhou ao seu estilo; recebeu um passou
longo, atravessou a bola entre dois zagueiros do Bangu, disparou em correria
ladeado por ambos e do lado direito da grande área desferiu um remate cruzado
para um belo gol e sacramentar o resultado.
Em suma,
em dois jogos de preparação encontramos apenas dois atletas que se comportaram
aceitavelmente: Jeffinho e Júnior Santos. É pouco.
Dirá o
otimista: 2 jogos, 2 vitórias, 0 gols sofridos, liderança ex-aequo da Taça
Guanabara. Dirá o pessimista: esta equipe é uma porcaria, o técnico não presta,
fora Textor, fora Nunes. O realista dirá que não são os pontos conquistados que
interessa observar de momento – porque como muitos dizem, vencer Madureira ou
Bangu é obrigação –, mas sim a qualidade da equipe, o potencial a desenvolver,
o seu crescimento rodada a rodada, a integração da equipe antiga com os novos
reforços, a recuperação da resiliência mental, o modelo de jogo e a dinâmica
coletiva. E exigir que todos estes aspectos sejam melhorados jogo a jogo numa
competição de pré-temporada.
Confesso
não ter assistido à Coletiva por antever que tenha sido de grande elogio ao
jogo do Botafogo. Se foi, isso ajuda pouco os jogadores, se não foi e Tiago usou
de racionalidade e assertividade apontando TODOS os pontos fracos a tornar
consistentes, então tem as minhas palmas.
Na
verdade, não vejo Tiago como um treinador para se impor a Textor, aos
burocratas do departamento de futebol e aos atletas ainda desmoralizados.
A
dinâmica necessária para recuperar mentalmente os jogadores é nula. A chegada
de reforços capazes para as laterais meio campo e ataque, são desesperantes.
Fora os dois zagueiros, Savarino e um goleiro por enquanto suplente,
provavelmente até à reforma de Gatito, não parece que haja qualquer outra
novidade interessante, tanto mais quando a ’grande’ contratação como lateral
seria Manafá com a carreira abalada desde a lesão no FC Porto em 2021.
E,
contudo, não só Manafá parece um erro de contratação, como Textor o oficializou
sem que o pudesse fazer, mostrando à vista de todos o enorme AMADORISMO DA SAF
PROFISSIONAL: o contrato não estava fechado e Textor evidenciou a sua total
despreparação para intervenções públicas e gestão de contratações. Efetivamente,
depois da bronca pública, veio dizer que se a contratação não se confirmar é
porque ele, Textor, não quer, esperando contudo que o Granada cumpra a sua
palavra de transferência do jogador. Há algo mais contraditório? Se não vier, “é porque eu não quero”, de modo a não
menorizar o Botafogo, “mas espero que se
cumpra”, do tipo se não vier é “porque
sou intransigente” na defesa do Botafogo, se vier é porque nos impusemos ao
Granada.
Desculpe-me,
Textor, que salvou o Botafogo da falência, mas para falastrão já tivemos um
melhor e mais divertido: Túlio Maravilha. Textor é o proprietário do Clube e
devemos exigir-lhe muito melhor comportamento público e profissional e muita
maior capacidade de gestão, que não tem demonstrado nem no Botafogo nem no Crystal
Palace, Lyon ou Molenbeek.
Ovação
para Textor no início de 2022, sim, mas agora, caros membros mais ativos das
várias torcidas organizadas, em vez de vaia para uma equipe que na verdade
nunca foi extraordinária, como sempre foi dito pelo Mundo Botafogo – o
diferencial era a estratégia, a tática, o preparo físico e a resiliência mental
impostas pelo comando técnico inicial – dediquem a John Textor as nossas
reclamações e angústias.
Subamos
o nível da vaia de natureza emocional primária para um patamar de intervenção
racional que incomode verdadeiramente John Textor e se lhe exija muito maior
atenção ao que está sendo permitindo fazer no nosso Clube, de modo a mudar o
rumo dos acontecimentos previsivelmente dramáticos em 2024.
Porque
em 2024, após a perda de um título tão desejado, esperado e totalmente ao
alcance do Glorioso, a Torcida não exigirá nada menos do que ganhar a Copa do
Brasil, ou o Campeonato Brasileiro, ou a Copa Sul-Americana. De fora o Carioca
que pouco interessa e a Copa Libertadores impossível de alcançar no atual
quadro de desenvolvimento da equipe e da gestão do Clube.
Precisamos
de Torcidas que, em vez de vaias neste momento decisivo, funcionem com críticas
acertadas, por exemplo, através das redes sociais mediante textos pertinentes e
socialmente visíveis e através de cartazes racionais, pertinentes e
cirurgicamente críticos nas arquibancadas, em torno de temas como:
– Fim da
gestão amadora, por uma gestão profissionalizada
–
Estratégia de comunicação concertada e eficaz
– Não a
contrações inúteis como em julho/2023
– Sim a
reforços por competências e não por custos baixos
– Criar
gabinete caça talentos
–
Desenvolver infraestruturas de treino
–
Reformular totalmente a gestão das bases
Acreditem,
amigos, que Tiago Nunes não conseguirá erguer uma equipe competitiva se a Torcida
do Botafogo – as organizadas e os torcedores individuais – não se unirem e obrigarem
Textor a mudar de atitude, porque ao que parece, Tiago não tem nenhuma capacidade
de pressão sobre o acionista maioritário dada SAF ou sobre o departamento de
futebol – que o escolheu – de modo a construir uma equipe à medida da dimensão
exigida e à medida das suas próprias convicções técnicas.
Ovacionar
pode ser necessário em dado momento, vaiar também, mas num momento tão decisivo
para o futuro do Botafogo a emoção serve de pouco, é facilmente combatível,
enquanto a atitude racional e assertiva exige respostas concretas e obriga os
responsáveis a dá-las publicamente.
Afinal, a missão do Botafogo, senhor Textor, não é puramente servir desígnios comerciais, mas antes de mais servir todos aqueles que ansiosamente esperam cada atuação do Clube nas suas diversas modalidades e o alimentam com a sua paixão – Os seus Torcedores!
FICHA TÉCNICA
Botafogo
2x0 Bangu
» Gols:
Júnior Santos, aos 2’, e Jeffinho, aos 90+3’
»
Competição: Campeonato Carioca / Taça Guanabara
» Data:
20.01.2024
» Local:
Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
»
Público: 5.566 pagantes; 6.474 espectadores
» Renda:
R$ 142.428,00
»
Árbitro: Yuri Elino Ferreira da Cruz (RJ); Assistentes: Thiago Henrique Neto Corrêa Farinha (RJ) e
Wallace Muller Barros Santos (RJ)
»
Disciplina: cartão amarelo – Felipe Soares e Renatinho (Bangu)
»
Botafogo: Igo Gabriel; Jefferson Maciel (Lucas Halter), Bastos e Newton; Júnior
Santos, Kauê, Jacob Montes (Marlon Freitas) e Marçal; Diego Hernández
(Jeffinho), Janderson (Matheus Nascimento) e Segovinha (Eduardo). Técnico:
Tiago Nunes.
» Bangu:
Gabriel Leite; Ricardo Cerqueira (Walney), Felipe Soares, Victor Oliveira
(André Santos) e Erick Daltro (Ruan); Adsson, Renatinho e Cleyton; Saulo
(Lorran), Maranhão e Edgar Neto (Canela). Técnico: Alexandre Gomes.
2 comentários:
Entre muitos problemas de bastidores eu vejo que Tiago Nunes o mesmo erro de Bruno Lage. Não consegue resolver de forma simples a lateral direita num primeiro momento e aí improvisa. Se é pra improvisar, improvisa um zagueiro, no caso Bastos, que já atuou como lateral.
Totalmente de acordo. A tentativa deveria ser com o Bastos. Se Bastos não desse certo, então seguir outra opção. Aliás, o Bastos chegou para ser coringa na zaga e nas lateriais, porque já jogou em todas essas posições.
Abraços Gloriosos.
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