sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Regatas e remo 'revelaram' a praia aos cariocas


por Felipe Werneck
31 / Outubro / 2010
O Estado de S. Paulo

As regatas e a prática do remo foram responsáveis por difundir no Rio a ideia de que a praia é um local de lazer, na transição dos séculos 19 e 20. Até então, o banho de mar era ignorado ou receitado como atividade terapêutica. Essa é uma das curiosidades contadas no livro Vida Divertida: histórias do lazer no Rio de Janeiro (1830-1930), lançado pela Editora Apicuri.

Público acompanha disputa em 1905

"Antes do futebol, o remo era uma febre na cidade. Foi certamente o mais importante incentivador para que o carioca desenvolvesse o uso da praia", diz o professor Victor Andrade de Melo, que escreveu um dos 11 artigos do livro e organizou a publicação com a historiadora Andrea Marzano. Coordenador do Laboratório de História do Esporte e do Lazer da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele diz que o auge do remo na então capital coincidiu com o início da República.

Desde a chegada da Família Real, o turfe dominava como principal atividade esportiva na cidade. O remo começou a ser difundido em 1875 e teve seu pico no período de 1895 a 1910. Depois, foi suplantado pelo futebol, que continua até hoje como o esporte preferido dos cariocas.

Melo avalia que as regatas foram fundamentais na divulgação de um novo modelo de corpo e vestimenta dos cariocas. "O atleta do turfe era o cavalo", diz. "Os jornais exaltavam esse novo personagem, o remador. Estava ligado à ideia de se construir uma nação moderna, nos moldes europeus. Só o teatro rivalizava com o remo como atividade de lazer na virada dos séculos 19 e 20", afirma o professor.

Futebol. Ele lembra que o esporte era praticado pelas elites, mas diz que o povo comparecia em peso às regatas. "Nesses dias, havia linhas de bonde especiais para a Praia de Botafogo", conta. Não à toa, grandes clubes de futebol como Flamengo e Vasco nasceram de clubes de regatas.

Na gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906), responsável por reformas urbanas que erradicaram inúmeras habitações populares no início do século passado, com o objetivo de "civilizar" a cidade, foram oferecidos incentivos à prática do remo, como construção de garagens, redução de taxas de importação de barcos e prêmios para competições. O esporte era apresentado como substituto para práticas tradicionais como brigas de galo, touradas e capoeira. Um processo de "saneamento", aponta Melo, copiado da Europa.

Entre os registros esportivos mais antigos do País está o da disputa de provas de remo em 13 de maio de 1888, na Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro, com a participação das guarnições da Escola Militar e Naval. Esse evento passou a ser chamado de "Regata da Abolição".

Pelos registros oficiais, no entanto, somente em 5 de junho de 1898 foi realizada a primeira regata no Rio de Janeiro. Já na Lagoa Rodrigo de Freitas houve regatas em que o público foi estimado em 50 mil pessoas.

O livro mostra que as regatas chegaram a ter apostas, mas elas foram excluídas em 1895, com o objetivo de apresentar o remo como "esporte saudável". O Rio chegou a ter cinco hipódromos e o autor Victor Andrade de Melo afirma que 25% da população do Rio apostava em cavalos no auge do turfe.

Já as touradas foram muito populares no Império (de 1822 a 1889). O modelo seguido na cidade era o português, e não o espanhol. "As touradas iniciaram o processo de ocupação do espaço público como forma de lazer", diz Melo. E duraram muito tempo. Na comemoração dos 100 anos da Independência, em 1922, foi montado um campo de tourada na Praça da Cruz Vermelha, no centro.

2 comentários:

hilario muylaert disse...

Valeu Rui,
Muito legal.
Precisamos soerguer o remo do Botafogo já !!!!
Começando já em 2011, com a conquista doo título estadual.

Ruy Moura disse...

Hilario, creio que a maioria esmagadora dos botafoguenses são 'futeboleiros'. Eu gosto muito de futebol, mas admiro, defendo e aplico a diversidade. Gosto de um Botafogo esportivamente eclético. Tal como a vida. Já viu se todos só gostassemos de sushi japonês ou de sopa de serpente indiana?...

E o remo, além de ser muito interessante e ambientalmente belo, é uma das duas raízes do Botafogo de FUTEBOL e REGATAS.

Abraços Gloriosos!

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