Confirmou-se
o que sempre temi. Em todo o campeonato mantive-me prudente e alguns
companheiros não concordavam com as minhas críticas e os meus avisos. Que se
confirmaram, tal como a lógica apontava, tendo em consideração o plantel curto
do Botafogo após o desmanche ocorrido.
Cedi
à minha proverbial prudência analítica quando o Botafogo venceu Criciúma e Santos
fora de casa e Corinthians em casa, porque tudo apontava para um calendário mais
favorável que o do Cruzeiro e a equipa parecia não perder o fôlego – e o Hyuri
prometia ser uma arma impressionante. Mas foi justamente quando admiti
acreditar que o Botafogo podia disputar o título, que o time se afundou. Enganei-me
por duas semanas apenas. Tivemos, então, nada mais, nada menos, do que uma
sequência de três derrotas e um empate, sendo que três jogos foram com equipas
de 2ª linha e lutando para fugirem à ameaça do rebaixamento. É certo que houve
arbitragens desfavoráveis, mas não são suficientes para justificar a nulidade
da equipa.
Alguns
companheiros, quando eu escrevia que a gestão da capacidade física não estava a
ser feita, que devíamos privilegiar a Copa do Brasil e manter o time a disputar
apenas o G4, e que o time estourou devido às exigências de estar sendo
pressionado por todos nós para fazer mais do que podia, alguns companheiros,
dizia eu, afirmavam que não era o cansaço o responsável por tantas asneiras
sucessivas nos últimos quatro jogos - e que ainda 'acreditavam' no título.
Se
não era o cansaço, o que era? Se a equipa mostrava capacidade técnica e os
mesmos jogadores deixaram de a ter subitamente, o que se passaria então? Se Seedorf
parou de correr e de jogar, o que seria se não cansaço? Se até Dória começou a
fazer asneiras inacreditáveis, o que seria se não cansaço? Se Rafael Marques
caiu de produção radicalmente, o que teria acontecido?
Em
minha opinião, foi mais um ano sem planos com navegação à vista, e como as
coisas foram correndo bem, o diretor de futebol chegou a dizer, mais do que uma
vez, que íamos conquistar tudo. A torcida, nas redes sociais, tinha como
adquirido o título e a Copa do Brasil. E cornetava todos aqueles que mantinham
a prudência. Agora, essa parte da torcida deve estar refugiada nas suas
carcaças vazias à espera de mais um período brilhante num 2014 sem planos, mas
fugazmente capaz de exacerbar novamente as emoções para, em seguida, nos fazer
mergulhar em mais uma desesperada imagem de Cri-Cri arrancando cabelos como
sugeria Nelson Rodrigues. Ano após ano. Ano após ano. Ano após ano.
Há
um clube que foi muito mais sagaz do que nós, está ‘voando’ surpreendentemente
e merece ganhar alguma coisa pela inteligência mostrada ao estender a sua
pré-época e disputar o estadual com a equipa de juniores: o Atlético
Paranaense. A comissão técnica fez uma gestão espetacular do preparo físico e
está ganhando devido às forças que conseguiu acumular, arriscando-se a ser
o time vice-campeão brasileiro e vencedor da Copa do Brasil. E não poderá ser
campeão porque, como me escreveu o meu amigo Luiz Biriba num e-mail de Agosto,
o Cruzeiro estava destinado ‘oficialmente’ a ser o campeão de 2013. Nunca revelei
isto para não levantar celeumas, mas parece que estava escrito nas estrelas do
Cruzeiro do Sul e nós fomos incapazes de ultrapassar a situação com a nossa
única Estrela Solitária.
Meus
amigos, convençamo-nos de uma vez por todas que só com um plane(j)amento sério
e seguido à risca, tal como eu referi nos meus últimos comentários aos jogos do
Botafogo, e em todos estes anos de blogue, se pode ter a veleidade de disputar
títulos difíceis. Desmanchamos um plantel, ‘voamos’ no inexpressivo Campeonato
Carioca, apostamos acima das nossas possibilidades e caímos como anjos
desamparados quando, ultrapassados os limites do time, não havia mais fôlego. E
agora todos sabem como bloquear uma equipa cansada.
Ano
após ano digo o mesmo: o campeonato estadual é para preparação, para testar
jogadores, para servir de laboratório. A aposta seria nas outras competições,
designadamente lutar pelo G4 e pela conquista da Copa do Brasil ou da Copa
Sul-Americana. E gerir a equipa para essas metas. No ano seguinte, com a equipa
mais consolidada, então tornaríamos a dispensar o estadual, a investir na Taça
Libertadores das Américas e tornar a ficar no G4. No 3º ano disputaríamos,
então, o título brasileiro – consistentemente. E, quem sabe, teríamos
conquistado a Copa do Brasil no 1º ano, a Libertadores no 2º ano e o Campeonato
Brasileiro no 3º ano.
Porém,
não é assim que funciona o Botafogo, não é assim que funciona a torcida. O
amadorismo e a excessiva emocionalidade superam a racionalidade, superam a
prospectiva, superam o discernimento. Não há consistência nos curtos prazos, só
nos médios e nos longos prazos.
Quando
se parte à aventura sem uma rota, pode ser emocionante andarmos por aqui e por
ali descobrindo coisas novas e obtendo algum sucesso na caminhada, mas isso não
nos leva longe porque não há um plano guia que nos reoriente para retomar a rota
e chegar ao destino. Transformamo-nos em Jobson. Muitas vidas prometedoras têm
ficado pelo caminho porque a emoção, como diz um amigo meu, também deve ser
alvo de um plano, de treino, de contenção, de persistência, e quando a emoção
estoura em vitória e alegria, ela é tributária da razão que lhe sustentou o
caminho do sucesso.
E
enquanto não pensarmos bem e não discernirmos melhor ainda, como muito bem fez
o Atlético Paranaense, não passaremos das emoções frustradas ano após ano. Não
temos uma torcida globalmente capaz de mudar as coisas pressionando a diretoria,
não temos uma diretoria sabedora de futebol para pressionar as comissões
técnicas, não temos comissões técnicas com treinadores estudiosos, os quais não
se atualizam e não trocam experiências com homólogos internacionais, não buscam
as melhores práticas e seguem ensinando aos jogadores um futebol baseado no seu
empirismo de ex-jogadores. Dificilmente se conseguirá fazer melhor em 2014, porque os erros vão repetir-se novamente e não teremos uma equipa bem preparada tecnicamente, emocionalmente e fisicamente - tudo o que necessita um campeão.
Lamento
ter cedido à minha emoção e abandonado a sageza do meu racionalismo após a
sequência de vitórias sobre o Curitiba, o Criciúma, o Corinthians e o Santos,
todos jogos difíceis, para cairmos logo em seguida perante os ‘poderosíssimos’
times do Bahia, do Flamengo, da Ponte Preta… Esfarrapados, sem brilho nem arte.
É
claro que o que resta agora é, finalmente, hem, finalmente!, após os fracassos
e, mais uma vez, sem o aconselhável plano preventivo, priorizar a Copa do
Brasil. Creio, contudo, que é tarde. O estado de graça perdeu-se e dificilmente
aguentaremos o G4, assim como dificilmente venceremos a Copa do Brasil. O nosso
tempo esgotou-se. Desejo estar enganado.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 0x1 Ponte Preta
» Gol: Elias, aos 42’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 28.09.2013
» Local: Estádio do Maracanã
» Arbitragem: Francisco Carlos do
Nascimento (AL) Auxiliares: Luiz Carlos Silva Teixeira (AL) e
Fábio Pereira (AL)
» Disciplina: cartão amarelo – Hyuri (Botafogo)
e Elias e Artur (Ponte Preta)
» Botafogo: Jefferson, Edilson,
Bolívar, Dória e Lima; Marcelo Mattos (Alex), Gabriel, Lodeiro, Seedorf
(Henrique) e Hyuri (Otávio); Rafael Marques. Técnico: Oswaldo de Oliveira.
Ponte
Preta: Roberto,
Artur, Ferron, Diego Sacoman e Uendel; Baraka, Fellipe Bastos, Alef (Magal) e
Elias (Fernando Bob); Rildo e Adaílton (Adrianinho). Técnico: Jorginho.