Foto de Paulão Novaes
por Paulo Marcelo Sampaio
Jornalista, Botafoguense
15/setembro/2013
“Didi,
olha que engraçado a cena lá em baixo”, falou baixinho Quarentinha. O Príncipe
Etíope de Rancho achou que fosse alguma artimanha do companheiro para
distraí-lo. Jogavam pôquer, que exige concentração e, em caso de prática
celeste, um olho no prefeito Pedro, que reprime essa prática. Não pelas apostas
em si, mas nas desavenças que ela pode causar. Didi coça o queixo: tem um straight
flush, cartas boas nas mãos. “É sério, senhor Valdir Pereira. Não tô
querendo te prejudicar não”, diz o paraense cabeçudo. E aponta para dois
cidadãos a caminho do Maracanã, na última quarta-feira, dia 10 de setembro.
Eles saem da estação do metrô. “Aquele ali é o Paulo César, aquele pirralho
filho do Marinho Rodrigues que acompanhava nossos treinos em General
Severiano”, reconhece Didi. “O outro é o Carlinhos Roberto. Você chegou a
treiná-lo, Didi?”, quer saber Quarenta. Didi não responde, não se sabe porque
Faz tanto tempo ou o Senhor Futebol não quer se prender muito ao
passado.
Não
demora muito e um torcedor, acompanhado do filho e de amigos, recebe um tapinha
nas costas. Quando se vira pra trás, vê que é Paulo César quem o chama.
Enche-se de orgulho. Afinal de contas, tem 45 anos e ainda era um bebê quando
Caju brilhou. Conheceram-se depois que o primeiro se meteu a escrever sobre as
memórias da paixão comum aos dois, o Botafogo. Tudo é festa nesse encontro.
Troca de abraços, expectativas para o jogo contra o corinthians, que começará
dali a 40 minutos. Não demora muito e pedidos de fotos começam a ficar cada vez
mais frequentes. Pela postura outrora e ainda hoje polêmica, PC é o mais
reconhecido. Mas isso não o faz esquecer do amigo. Educadíssimo, apresenta a
quem não o reconhece o “também campeão pelo nosso clube o Carlos Roberto”. E o
chama para todas as fotos.
Lá
em cima Didi e Quarentinha já não ligam mais para os flushs, full hands, os fours of a kind ou
os straights. Eles observam a cena. “Rapaz, sabe como o Gérson foi parar
no Botafogo?”, pergunta Quarentinha a Didi. O meio-campista sabia. Mas fingiu
esquecer. Porque nunca ouvira a história da boca do personagem. “Tava esperando
consertarem meu Fusca perto da Gávea e ele esperando o lotação pra Niterói. Ele
quis saber o que estava fazendo lá e acabou me dizendo que tinha brigado com o
presidente do flamengo. Logo vi ali uma oportunidade pra reforçar nosso time”,
lembra Quarentinha. Didi sorri. “Mas você já conhecia essa história, né Didi?”.
“Conhecia sim. Mas estou rindo porque essa cena hoje jamais se repetiria. Hoje
os jogadores desfilam em carrões, tem assessores de marketing, assessores de
imprensa, procuradores, empresários. Mais fácil chegar ao Papa”. “Ídolos de antigamente
são ídolos eternos” pensa alto o artilheiro que não comemorava seus gols.
Os
amigos se separam. E os craques lá de cima continuam ligados. Lá pela metade do
segundo tempo entra um crioulinho atrevido em campo. É o tal do Hyuri, que já
ganhou a simpatia de Saldanha por ser xará do cosmonauta soviético Gagarin.
Didi e Quarentinha não se empolgam muito. Ainda assim estão confiantes. O
Botafogo domina o jogo, não corre riscos, como no jogo contra o são paulo. Mas
nada de o gol sair. A cinco minutos do fim, o torcedor recebe um SMS. “Pra
botar o Hyuri deslocou o Rafael Marques pro centro. Hyuri vai fazer o gol aos
44 minutos”, vaticina Paulinho Criciúma. O ídolo de 1989 erra por míseras dez
segundos. E todos vamos felizes para casa.
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