quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Um dia de 1936...

Dia 26 de janeiro de 1936. Botafogo x Andaraí. Decisão do campeonato carioca de 1935. Três rodadas antes Carlito Rocha quis demitir-se da direção do futebol, porque no jogo contra o Vasco da Gama foi anulado um gol de Leônidas da Silva, sob o falso pretexto de impedimento de Nilo. O Vasco acabou por ganhar por 1x0 e ficou apenas a um ponto do Botafogo, que precisava ganhar os três últimos e difíceis jogos. Após vencer o Madureira por 3x2 e o Bangu por 3x1, o Botafogo enfrenta o Andaraí na última rodada. Se o Botafogo perdesse, o Vasco seria campeão, se empatasse teria que decidir o título com o Vasco à melhor de três, se vencesse tornar-se-ia campeão carioca.

 

O jogo foi dramático. Quando o Botafogo alcançou 3x1 a seu favor, o título parecia conquistado, mas o Andaraí, numa reação fulminante, fez três gols de rajada e passou a vencer por 4x3. O sonho do tetracampeonato desfazia-se… Mas eis que a fibra de campeão se renova e o Botafogo vira novamente o jogo para 5x4 a cinco minutos do final da partida. A descrição é do Jornal do Brasil:

 

“O Botafogo sagrou-se campeão carioca de futebol

 

Este jogo era esperado com enorme ansiedade, pois dele dependia o desfecho do Campeonato Carioca de Futebol.

 

O Botafogo caminhava á frente da tabela com um ponto de diferença sobre o Vasco da Gama, e disputava com o Andaraí o seu último jogo, de sorte que vencendo, como venceu, teria assegurado o cubiçado título de campeão carioca. (…)

 

Daí o grande interesse pelo jogo e o entusiasmo que ele despertou. Realmente o jogo foi empolgante desde o começa até ao final.

 

O Andaraí, de início, carregou impetuosamente. (…) Aos oito minutos de jogo Chagas conseguiu abrir o “score” da tarde com um tiro forte. (…) O Botafogo reagindo, passou, por sua vez, a atacar (…) até que Alvaro, com bom “kick”, empatou a peleja. (…) Ainda Alvaro obtem o 2º goal botafoguense desempatando a peleja. (…) O 1º “half-time” termina com a contagem de 2 x 1 a favor do Botafogo.

 

Recomeçada a peleja com a mesma animação, os botafoguenses fazem cargas sucessivas (…) e Patesko, fechando sobre o goal do Andaraí, assinala o 3º ponto do Botafogo.

 

Segue-se forte reação dos andaraienses. Mineiro, com bom tiro marca o 2º goal do Andaraí. Mais animados os alvi-verdes prosseguem na ofensiva e Mineiro conquista o 3º goal do Andaraí, sob fartos aplausos da torcida vascaína. Estava novamente empatada a partida.

 

O “match” assume grandes proporções. Bastante estimulados pelos dois pontos obtidos, os andaraienses continuam a atacar impetuosamente e Bianco, de cabeça, marca o 4º goal do Andaraí, com grandes aclamações.

 

Diante do perigo, vendo fugir o campeonato [para o Vasco da Gama], os botafoguenses reagem impetuosamente (…) e aos 10 minutos para completar o tempo Carvalho Leite empata outra vez o jogo, assinalando o 4º goal do Botafogo e Russinho, pouco depois o 5º, desempatando e assegurando a vitória do Botafogo pelo “score” de 5x4 e com ela o Campeonato Carioca de 1935.”

 

Por sua vez, o Correio da Manhã evidenciou bem as adversidades enfrentadas pelo Botafogo:

 

“O Botafogo F. C., campeão de 1930 e 1932, conseguiu ante ontem levantar merecidamente o título de campeão carioca de 1935, abatendo o seu último adversário, o Andaraí, por 5x4. Mas o difícil triunfo do clube da Avenida Wenceslau Braz, não deixa dúvida. Foi liquido e justo, atuando contra tudo e contra todos e jamais vimos coisa igual. (…)

 

Era natural e aceitável que os adeptos vascaínos torcessem pelo Andaraí, que jamais teve tantos aplausos em suas mínimas jogadas. Basta que se diga, sem exagerar, que talvês uns 90% da assistência era francamente favorável ao bando alvi-verde, porque a torcida do alvi-negro, diminutíssima, nem aparecia, tal a sua inferioridade. Mas o irregular desse fato, residiu no modo como foi tratado pelos vascaínos, especialmente da parte social. Jamais assistimos um jogo debaixo de tantas hostilidades aos players botafoguenses, que bastante avisados, procuravam apenas ganhar o jôgo.”

 

Alceu Mendes de Oliveira Castro descreve entusiasticamente o feito:

 

“O jôgo parecia ganho, quando de maneira incrível e surpreendente, o Andaraí marca seguidamente três goals, passando para a frente do placar, sob tal delírio da torcida vascaína [o jogo realizou-se em São Januário], que chega a descontrolar o nosso quadro, onde ninguem mais se entende, falhando a linha média por completo.

 

Faltavam apenas cinco minutos para terminar a luta e o Botafogo, transfigurando-se, reage como leão, agigantando-se na cancha e atacando em massa, bem impulsionado pelo magistral Martin. Russo investe e atira. O keeper defende com dificuldade e C. Leite, entrando admiràvelmente, empata o jogo, o que já nos garantia uma “melhor de três” contra o Vasco.

 

Mas os botafoguenses sentem que não é o bastante e insistem terrivelmente. Há um free-kick contra o Andaraí que Canali bate admiràvelmente, com um tiro alto sôbre o arco, Os alvi-negros carregam e Russinho, com magistral cabeçada, envia a bola as rêdes, marcando o goal que garantiu ao Botafogo o Tetra-Campeonato Oficial da Cidade. (…)

 

Levantava, pois, o Glorioso, o seu tetra-campeonato oficial, o quinto em seis temporadas, de 1930 a 1935, sendo que em 30 e 32 contra todos os grandes clubes e em 35 contra os mais poderosos de então.

 

Nesse aureo periodo de absoluta hegemonia, o Botafogo disputou 113 jogos oficiais, vencendo 75, empatando 22 e perdendo 16, com uma percentagem mínima de menos de três derrotas por ano. Marcou 320 goals contra 176, com um saldo de 144 pontos.”

 

O aproveitamento, em seis temporadas, foi de 75%.

 

O Botafogo alinhou com Alberto, Octacílio e Nariz; Affonso (Luciano), Martin e Canalli; Álvaro, Leônidas da Silva (Eurico Viveiros), Carvalho Leite, Russinho e Patesko.

 

Pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo); fontes: Alceu Mendes de Oliveira Castro: O Futebol no Botafogo (1904-1950), Rio de Janeiro, 1951; Correio da Manhã; Jornal do Brasil.

2 comentários:

Gil disse...

Rui,

Homens de Fibra!!!

Esse feito perdura até hoje e nenhum outro clube no Rio é verdadeiramente tetra campeão!

Quando saio das derrotas, como da última quarta-feira, me questiono o quanto custa ser imortalizado? Nunca ser esquecido e ficar eternamente na vida de uma Instituição que teve inúmeros ídolos mundiais!

Pobre do atual Botafogo, com seus jogadores profissionais que apenas prometem da boca para fora!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Muitas glórias foram as nossas. Outras glórias certamente surgirão, mas o campeonato de 1910, o tetracampeonato, os campeonatos de 1948 e 1957, e todos os títulos da década de 1960 são imortais. Em minha opinião, o campeonato brasileiro de 1995 não se compara às outras glórias, apesar de ser o galardão máximo do futebol brasileiro.

Abraços Gloriosos!

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