No dia 30 de
janeiro de 1976, Charles Borer, o pior presidente botafoguense de todos os
tempos, assina a venda da mítica sede de General Severiano para saldar dívidas
feitas por corpos gerentes absolutamente inacreditáveis.
Desde aí, ano
após ano, o Botafogo arrastava-se cada vez mais, sem sede e sem rumo. Porém,
muitas lutas foram travadas pelo regresso ao mítico Casarão, destacando-se
nesse combate César Maia, então Secretário de Fazenda do Estado, Marcelo
Alencar, Prefeito, Marco Antônio Alencar, filho do Prefeito, e seu tio
Guilherme Arinos (Presidente do Conselho Deliberativo), Althemar Dutra Castilho
e Luís Antônio Catappan.
Por
iniciativa de Marco Antônio e do Vereador Luiz Henrique Lima, do PDT, a sede de
General Severiano, vendida à Companhia Vale do Rio Doce, em Janeiro de 1976,
por Charles Borer, negócio que foi apontado como “início do fim”, foi tombada
pela Lei Municipal nº 477, de 15 de Dezembro de 1983, que proclamava:
O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO, Faço saber que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
Art. 1º - É declarado de
interesse da comunidade, para efeito de tombamento e respectiva inscrição nos
livros das Belas-Artes, do Tombo Histórico, Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria
Municipal de Educação e Cultura do Município do Rio de Janeiro, a antiga sede
do Botafogo de Futebol e Regatas, situada na Avenida Vesceslau Brás nº 72,
Botafogo.
Art. 2º - Esta Lei entrará em
vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de
1983.
MARCELLO ALENCAR
Prefeito
César Maia
referiu-se então ao assunto desta forma: “O
Botafogo tem dívidas trabalhistas históricas, que sempre receberam um
tratamento irresponsável, mas que não significam a falência do clube.”
Antes de ser
economista, o Secretário de Fazenda do Estado, César Maia, já era botafoguense.
Ele recordava-se que, em menino, frequentava os vestiários do clube ao lado de
Renato Estelita. Lembrava-se que os jogadores ficavam conversando com
dirigentes e torcedores nas varandas de General Severiano, numa integração
invejada pelos atletas de outros clubes. “Era
uma curtição”, dizia ele em 1983. Com o fim da Sede, essa união havia sido
desfeita.
A nova Lei
dava o 1º passo decisivo para um regresso, embora ainda demorado, porque o
imóvel tombado deixava de ter interesse para a Companhia Vale do Rio Doce.
A 25 de
Março de 1985, ainda sem a sede, e após mais uma derrota copiosa por 6x1 para o
Flamengo pelo campeonato carioca, Carlito Rocha mostrava toda a sua mágoa de um
passado glorioso: – “Vendam General
Severiano mas deixem, pelo menos, um pequeno pedaço de terra onde possa
tremular a nossa gloriosa bandeira e ser lida uma frase curta: aqui existiu o
Botafogo de Futebol e Regatas.” (O Globo, 25.03.1985)
Por sua vez,
Maneco Müller realçava o paradoxo: – “Já
vi clube de futebol sem time, mas é a primeira vez que vejo um time sem clube.”
(O Globo, idem)
Nilton
Santos, a velha Glória botafoguense, rechaçava o Botafogo de então: – “Este não é o meu Botafogo. Não é o meu, de
General Severiano. Meu Botafogo defendia um bairro. Este time aí deveria
chamar-se Marechal Hermes Futebol Clube.” (O Globo, idem)
O bicampeão
do mundo recordava-se dos tempos de Carlito Rocha, Bebiano ou Paulo Azeredo: – “A gente fazia treinos com duas, três mil
pessoas. Quando treinava, a gente ia para a varanda e ficava conversando com os
dirigentes. Era uma grande família.” (O Globo, idem)
Porém, em
novembro desse ano, a concretização do regresso antevia-se: – “Agora é definitivo. Convencidos de que a
situação do clube assume contornos quase catastróficos, torcedores e dirigentes
estão apostando alto naquela que é apontada como solução definitiva para as
sucessivas crises que têm abatido o clube: a volta para a Zona Sul.” (O
Globo, 10.11.1985)
Xisto
Toniato animava-se: – “Enquanto não
voltarmos a General Severiano, não seremos campeões. O torcedor tem que ver de
perto os jogadores, tem que conhecer seus ídolos. E 90 por cento de nossa
torcida está na Zona Sul.” (O Globo, idem)
E Maneco Müller
mostrava um novo otimismo: – “Acho que o
Botafogo tem agora coisas parecidas com a República. Por isso surgirá o Novo
Botafogo com o espírito das Diretas Já e coisas assim. Tenho certeza.” (O
Globo, idem)
Porém, somente
em 1994 é que o Botafogo de Futebol e Regatas regressou à sua sede histórica, recuperando
o seu bem patrimonial mais precioso, logo a seguir à torcida.
Pesquisa e
texto de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)
10 comentários:
Curioso que o Botafogo tenha sido o único clube do Rio forçado a pagar suas dívidas para com o Estado ao custo de sua sede histórica, mesmo tendo boas conexões nas esferas de poder estadual e federal.
Não custa lembrar também que a volta a General Severiano se deu às custas de nossa sede no Mourisco, que contava inclusive com prédio projetado por Oscar Niemeyer. Fomos duplamente prejudicados, quando tiraram nossa sede e quando foi exigido que abríssemos mão da sede do Mourisco para reavermos GS.
Mas isso não é de admirar, Antonio. Quase tudo o que ocorre com o Botafogo é surreal. Veja agora que não vamos ter os nossos jogos televisionados pela Globo mesmo depois de Maurício Assumpção se abaixar e andar a puxar o saco da Globo. Está aí à vista o resultado. Estes gestores incompetentes não sabem que quanto mais baixarem as calças mais mostram a... bunda.
Abraços Gloriosos!
Mais um detalhe que passou desapercebido, nobre Rui:
O então senador do Estado do Rio de Janeiro era o também botafoguense Saturnino Braga, que foi reeleito em 1982. Ou seja as estrelas do universo conspiraram a favor do Botafogo numa trama política que parece ser de cinema estilo ficção.
Rui e amigos,
Mas, terá sido Borer realmente o pior presidente do Botafogo?
Daqui há alguns anos, veremos os resultados catastróficos da (des)administração Pinóquio Assumpção, que, entre outras coisas, triplicou a dívida (no mínimo), "implodiu" o Clube dos 13 em favor da Globo e, assim como Borer, viu nosso clube perder um estádio, e, como dizem os mais velhos, socou a língua onde o macaco socou o caju.
Mais nefasto que isso, não vejo.
Saudações Gloriosas!
E foi mesmo 'conspiração', Hangman. Se não tivesse sido tombada a sede jamais regressaríamos a General Severiano e seria bem provável que o Botafogo tivesse o fim do América ainda no século XX.
Aliás, a conquista do Engenhão foi favorecida pela sorte, mas também andou 'dedo' botafoguense a mexer por ali.
Abtaços Gloriosos!
Émersons, os piores são tantos que é difícil escolher, mas Borer fica marcado pela 'flagrante gestão' que fez e porque entregou o nosso bem material mais precioso - o emblemático Casarão.
É claro que se a atual gestão desastrosa levar o BFR ao fundo, ganhará a medalha de ouro da pior diretoria de sempre. Torço para que não aconteça.
Abraços Gloriosos!
Sinceramente, sem querer defendê-lo, não creio que possamos botar a administração do MA entre as piores. Diria que sua gestão do clube é temerária, mas não desonesta; e esportivamente ela é razoável (no máximo). Tem muita gente ruim e que se aproveitou do clube para botar na frente de MA. E sobre o Estádio Olímpico, podemos criticar sua omissão, mas não "perdemos" o estádio e não acho certo botar em sua conta as razões pelas quais o estádio fechou.
Meu bom amigo Antonio, sobre esse assunto eu precisaria de estar pessoalmente consigo, num bar simpático a beber uma cervejinha com um calor de 30º no máximo, porque tenho muitos considerandos a fazer sobre isso.
Serei o mais breve possível, portanto.
Não acho que seja a pior diretoria, como disse atrás, mas será a pior diretoria se o rombo financeiro que temos nos levar, a prazo, à americanização. Aí sim seria a pior administração de sempre. Claro que até agora - para mim - as piores diretorias de sempre foram as do Borer, do Rolim e do Palmeiro (e ambos foram repescados pelo sr. M.A. para cargos no clube).
De resto, creio que a gestão é bem mais do que temerária. Foi M.A. que não quis a Record, que liderou os televisionamentos de jogos a favor da Globo e agora vemos como se estão se comportando conosco. As atitudes de M.A. no Clube dos 13 firam, no mínimo, altamente duvidosas.
Todos (ou a maioria) sabem que a diretoria é coisa mole e não coisa dura, porque se fosse coisa dura talvez o sr. Eduardo Paes não tivesse a coragem de fazer o que fez, mas... ele e M.A. são do mesmo partido e M.A. quer fazer política.
Entre um continuum de honestidade e desonestidade material não sei como posso classificar a diretoria, obviamente, porque não tenho os dados. Mas num continuum de honestidade e desonestidade intelectual, que essa sim pudde observar, analisar e concluir, então eu colocaria bem mais próximo da desonestidade do que da honestidade.
Tenho consciência que pelo menos metade dos torcedores não pensam como eu, tal como acontece com o Antonio, e espero que no futuro não tenhamos que dar o galardão de ouro a M.A. pelo que fez no passado como presidente do Glorioso.
Desejo, aliás, que a razão esteja inteiramente do seu lado, Antonio. Isso faria com que eu estivesse menos preocupado do que estou, porque receio muito as contas que a nova diretoria encontrará...
Abraços Gloriosos!
Queridíssimo Rui, anota aí: estou planejando uma viajem em breve para Portugal. Quem sabe não encontramos e podemos então bebar a tal cerveja?
Grande abraço e SA.
Antonio.
PS: Acho a hipótese de americanização do BFR totalmente irreal. Estamos atualmente em uma condição material (apesar da dívida), esportiva e de torcida muito além de um ponto sem retorno. Já estivemos bem pior e nada aconteceu. O BFR, mesmo em seus piores momentos, é muito maior do que uma equipe com o tamanho de um América chegou a ser, não é parâmetro, não existem simetrias.
Amigo Antonio, eu terei muito prazer em estar consigo. Avise quando as datas estiverem definidas.
Desejo que realmente não haja paralelo com o América. Recentemente o maior clube da Escócia, o Rangers, faliu. Reiniciaram-se na 4ª divisão registrados com outro nome.
Abraços Gloriosos!
Enviar um comentário