terça-feira, 1 de julho de 2014

A propósito dos atletas que habitam o Olimpo do futebol…

Tenho ouvido alguns ‘artistas’ dizendo que para um atleta entrar no seleto clube dos maiores futebolistas de todos os tempos precisa ganhar uma Copa do Mundo. Que é a Copa do Mundo o sítio que consagra a entrada no dito clube.

E que, portanto, se pode dispensar as performances dos atletas em todas as demais competições que seriam, assim, secundárias e fora da conta do ‘clube dos maiores’.

Yashin, o maior goleiro da história da Rússia e do futebol, eleito entre os 18 melhores jogadores da Seleção FIFA do século XXI, não venceu nenhum campeonato do mundo. Não tem direito a integrar o restrito clube dos maiores futebolistas de todos os tempos?

Cruijff, o mais extraordinário futebolista holandês que encheu os olhos dos adeptos com as suas brilhantes exibições ao serviço do ‘futebol total’ do Ajax, eleito entre os 18 melhores jogadores da Seleção FIFA XXI, não venceu nenhum campeonato do mundo. Não têm direito a integrar o restrito clube dos maiores futebolistas de todos os tempos?

Puskás, o mais extraordinário futebolista húngaro que marcou os anais da história do futebol, que foi eleito entre os 18 melhores jogadores da Seleção FIFA XXI, não venceu nenhum campeonato do mundo. Não tem direito a integrar o restrito clube dos maiores futebolistas de todos os tempos?

Di Stéfano, o mais extraordinário futebolista argentino antes de Maradona, um ‘deus da bola’ que jogou pelas seleções da Argentina, Colômbia e Espanha, eleito entre os 18 jogadores da Seleção FIFA XXI, não venceu nenhum campeonato do mundo. Não tem direito a integrar o restrito clube dos maiores futebolistas de todos os tempos?

George Best, o maior futebolista britânico (irlandês) de todos os tempos, eleito entre os 18 jogadores melhores jogadores da Seleção FIFA XXI, não venceu nenhum campeonato do mundo. Não tem direito a integrar o restrito clube dos maiores futebolistas de todos os tempos?

E quanto a treinadores, os maiores revolucionários na maneira de jogar futebol, o argentino Heleno Herrera, consagrado na década de 1960 na Internazionale de itália, e o holandês Rinus Michels, consagrado na década seguinte como o inventor do ‘futebol total’ do Ajax, nunca ganharam um campeonato do mundo. Não têm direito a integrar o restrito clube dos maiores treinadores de todos os tempos?

Quantas centenas de futebolistas nunca tiveram realmente nível suficiente para integrarem o restrito clube dos melhores, embora tenham sido campeões do mundo, alguns mais do que uma vez? …ou

…dito de outro modo:

Nos dois últimos campeonatos do mundo, que tiveram 46 campeões do mundo no conjunto, qual é o futebolista italiano campeão em 2006 e o futebolista espanhol campeão do mundo em 2010 que fez jus a entrar para o clube dos melhores futebolistas do mundo?

Quer dizer, um futebolista para pertencer ao clube dos melhores atletas do mundo, o qual se baseia na arte individual, necessita de fazer depender a sua consagração de outros indivíduos que integram o coletivo da Seleção do seu país, que lhe são muito inferiores e sem capacidade coletiva para se tornarem campeões do mundo?

Se, por exemplo, os prêmios de melhores do mundo são de natureza individual, tal como outras dezenas de premiações, o que é necessário para entrar no ‘clube dos eleitos’? Um coletivo atrás do craque?

Se, por exemplo, um atleta supremo nasceu em um país com poucas possibilidades de ser campeão do mundo pelo seu passado e pelo seu presente, não tem direito a entrar para o ‘clube’? Está para sempre destinado ao ostracismo?

Se a entrada de um futebolista no ‘clube’ é por aquilo que vale individualmente, precisa ser campeão do mundo ou, em vez disso, precisa sobretudo de revelar permanentes atributos superiores ao longo de uma carreira?

Cristiano Ronaldo e Lionel Messi nem sequer precisam de ganhar um campeonato do mundo para integrarem a galeria dos melhores futebolistas de sempre: - Eles já lá estão!

2 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Estou absolutamente de acordo com você Rui: nem sempre ser campeão do mundo de seleções é prova de que este ou aquele jogador campeão do mundo é melhor do que grandes e geniais jogadores que nunca foram campeões. Poderia citar uma dezena de jogadores que foram campeões mundiais que eram jogadores apenas medianos. Porém, eu acho que o problema maior não é ser ou não ser campeão do mundo, mas sim fazer uma copa apagada como muitos ditos craques fizeram, amarelaram seria o mais correto. Cruiff, Di Stéfano, Puskas, e muitos outros jogadores não foram campeões do mundo, mas mostraram nos campeonatos mundiais que disputaram a marca do grande jogador, do craque. Esse é o diferencial na minha opinião. O Heleno de Freitas não conquistou nenhum título pelo Botafogo e na sua carreira muito poucos, se não me engano menos de 3 títulos e no entanto está na galeria dos grandes craques do Botafogo, foi eternizado. Acho que ser ou não campeão depende de muitos fatores, e nem sempre a equipe campeã é a melhor, mas quem faz a história do futebol é o craque. Prova maior disso é a fama de Hungria e Holanda e seus jogadores, que são muito mais exaltados que os campeões de 54 e 74. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Compreendo, Sergio, mas vou dar uma opinião divergente da sua. Importa notar que nenhum dos eleitos 'melhor do mundo', em ano de campeonato do mundo, fez uma boa apresentação. Dizem alguns entendidos que os esforços para se alcançar tal prêmio 'rebenta' com o dito 'melhor do mundo'. Bem, mas existem outros fatores, tais como equipas fracas, lesões e afins. Confirmou-se com Messi e CR7. Na verdade, se não me falha a memória, é a 3ª Copa do Mundo que o Messi e o CR7 disputam - seis no total - e nenhum fez exibições de regalar. O melhor foi feito por Portugal quando ficou em 4º lugar na Copa de 2006. A Argentina de Messi foi eliminada pela Alemanha em 2006 nas quartas e novamente em 2010 pela mesma Alemanha com uma sonora goleada de 4x0. Em 2006, a Seleção de CR7 ficou em 4º lugar e em 2010 não passou das oitavas, perdendo para a então poderosa Espanha por 1x0, com uma arbitragem desfavorável. O CR7, além de nesta Copa de 2014 ter jogado com muitas dores e sido vítima do péssimo plane(j)amento da federação Portuguesa, ainda conseguiu ser eleito o melhor jogador em campo no último jogo e fazer o gol da vitória. O Messi, que se preparou intensamente para esta Copa, prejudicando inclusivamente a sua participação no Barcelona, que este ano teve derrotas ‘humilhantes’ devido à sua ausência, nem por isso tem feito exibições espetaculares. Marcou quatro gols, mas pouco mais fez. Aliás, a Argentina não tem um bom time, não é organizada e vive desses lampejos de Messi ou Di María, o que é pouco para uma Seleção. Quer dizer, se a Argentina for eliminada (podia tê-lo sido ontem se a sorte não estivesse do outro lado), o Messi não terá direito ao Olimpo? E o CR7 também não?

– Não creio, meu amigo. Continuarão certamente sendo os melhores atacantes do mundo e baterão praticamente todos os recordes conhecidos no futebol – e que muitos anos passarão para que sejam novamente batidos por outros.

De resto, todos eles, embora perdendo, tiveram lampejos dos craques que eram. CR7 e Messi também já tiveram lampejos desss nas suas seleções, mas foi pouco.

Quanto a Di Si Stéfano e Puskás, o primeiro não participou em nenhuma Copa do Mundo e o 2º participou na Copa do Mundo de 1954, lesionou-se logo de início e a Hungria fez a campanha sem ele. Portanto, nenhum deles brilhou em Copas do Mundo. Quanto ao holandês, participou nas Copas de 1966 e 1970 sem sucesso e somente na Copa de 1974, integrado no carrossel de Rinus Michel, fez diabruras. Mas não foi decisivo no momento decisivo. E depois negou-se a participar na Copa de 1978 apesar de ter apenas 31 anos… Porquê?... Porque certamente receava não fazer uma boa Copa.

Isto é, os craques com direito a Olimpo que não ganharam Copas do Mundo também não fizeram grandes exibições, ou se fizeram, não foram decisivos no derradeiro momento. Nem por isso deixam de pertencer ao ‘Olimpo’.

Abraços Gloriosos.

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