quinta-feira, 10 de julho de 2014

Foi triste. Foi chato. Mas é só um jogo de futebol.

LEONARDO SAKAMOTO
Blog do Sakamoto
09/julho/2014
UOL.com.br

[As passagens realçadas a negrito são da autoria do editor do blogue Mundo Botafogo.]

É claro que estou #xatiado em ver a seleção brasileira tomando um chocolate no Mineirão. Mas a Alemanha foi melhor em campo. E se esta é a Copa da Zoeira, o time alemão merece nosso respeito: está se divertindo horrores em sua passagem na costa da Bahia. Estada divertida, como o futebol deveria ser.

Não vou dar pitaco em área que não é a minha. Até porque o que não vão faltar são análises buscando culpados e tentando entender o que deu errado.

Mas após consumir todos os memes possíveis e as piadinhas de redes sociais daqui e de fora, religo a TV só para pegar o exato momento em que nosso narrador-mor, Galvão Bueno, diz que consolou seu filho dizendo que há coisas mais importantes na vida e que isso é só um jogo de futebol.

E SÓ AGORA VOCÊ DIZ ISSO, MEU BOM HOMEM?!

E todos aqueles discursos sobre a seleção ser a pátria de chuteiras, as canções de que “somos um só'', os jogos chamados de batalhas e os jogadores de guerreiros, as narrativas que transformam adversários em inimigos, além de toda aquela papagaiada que parte da mídia e das empresas, via anúncios, despejaram em cima de nós – durante décadas – para que encaremos um jogo como a coisa mais importante do universo?

Por mais que seja humilhante essa derrota, concordo com o Galvão da noite desta terça: é só um jogo. Pena que esse não foi o discurso defendido até aqui por muitos dos envolvidos – inclusive ele próprio em transmissões de TV. Isso sem falar de oposição e governo.

Ajudamos a colocar as coisas em um nível em que elas não deveriam estar. E, agora, diante de uma frustração homérica, quando descontrolados ferem gravemente torcedores alemães em pleno estádio, bandidos colocam fogo em ônibus e outros resolvem descontar a raiva em suas comunidades, filhos e família, dizemos “puxa, que coisa''. A responsabilidade é deles, claro, mas quem construiu o contexto nessa perspectiva e de forma tão acrítica?

Como já disse aqui, não somos nós, jornalistas, publicitários e comunicadores, que vamos a público cometer agressões. Da mesma forma que não é a mão de pastores ou deputados que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam gays e lésbicas. Mas somos nós que, muitas vezes, na busca por audiência ou para encaixar um fato em nossa visão de mundo, construímos uma visão de mundo. Nela, por vezes, a violência e o linchamento de culpados se torna quase uma necessidade para restabelecer a ordem das coisas.

Enfim, amo futebol e estou me divertindo com a Copa. E como ninguém solicitou minha sugestão, não vou dar. Se alguém tivesse pedido, eu diria: não fiquem tristes por muito tempo. Riam da situação, riam da seleção e, principalmente, riam de si mesmos. Encarem isso como deve ser encarado: perdemos. Eles foram melhores e dignos – porque o estrago podia ser maior. Uma derrota como essa não faz da gente pior ou melhor como povo diante dos outros e de nós mesmos.

E, da próxima vez, bora ser um pouco mais crítico aos discursos que colocam um título como instrumento de reafirmação nacional e de redenção dos pecados.

Afinal, a Copa é tudo. Mas é nada.

Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/07/09/foi-triste-foi-chato-mas-e-so-um-jogo-de-futebol/

9 comentários:

Daniel Pablo disse...

Caro Rui, deveria ser só um jogo de futebol, mas é muito mais, é um negócio milionário e um instrumento de propaganda política.

Galvão e a mídia esportiva em geral faziam dos jogos do Brasil guerras patrióticas contra os inimigos do país porque tinham um produto a ser vendido.

O que me irrita é o comportamento do povo mesmo, que não tem o menor senso crítico. E engole essas baboseiras e se comporta como palhaço, se pintando de amarelo, enfeitando ruas e gastando dinheiro com fogos para homenagear uma equipe de futebol pessimamente treinada, que representa uma entidade privada e corrupta.

E para fechar o caixão, vi no blog do Cosme Rimoli que a CBF irá doar a premiação pelo 4ª lugar aos necessitados. É depois dos 7 x 1 e da rejeição em massa os caras ficam bonzinhos! Oportunismo mais felaputista esse!

abraços !!!!!!

Lorismario disse...

Meu caro Rui. Faz alguns anos vi um grande amigo meu ficar chateado e triste porque o time dele havia perdido. Embora ele fosse flamenguista(não sei se ainda é) eu disse a ele: " vou lhe dizer uma sentença para você nunca esquecer - " Jamais dependa de outras pessoas para obter reforçadores (aqui simplificado como alegria). Produza você mesmo seus reforçadores-." Alguns anos depois ao me encontrar com o velho amigo lhe perguntei: "Como vai o seu Flamengo?" Ele me respondeu que havia seguido meu conselho e que estava buscando os reforçadores sem depender de outras pessoas. Infelizmente a maior parte da educação das pessoas é por competitividade e não por cooperação. Então me lembro de uma frase do professor Skinner que disse: " O que seria do vencedor se não houvesse o perdedor?" Sem dúvida, não deveria haver perdedores mas sim cooperadores. Eles tem uma função muito importante.Fazer os vencedores felizes. Sem ficarem entristecidos mas sim compreenderem que cooperaram para a felicidade de muitas pessoas. Parece inconsistente mas não é. É só uma questão educacional. Grande abraço. Loris

Ruy Moura disse...

O que significa dizer que é só um jogo é o mesmo que dizer que tudo o esteja para além disso é alienação popular.

Milionário será, mas só se aliena quem quer. Que o povo irrita?.... Pois irrita... Mas hoje as sociedades não são muito diferentes de antigamente. À parte o nascimento de uma pequena burguesa relativamente recente, a trilogia Clero, Povo e Nobreza ainda anda por aí. Isolar o Clero é fácil, a Nobreza é a burguesia, os intelectuais e os artistas, o Povo continua a ser o povo. Mediano e abaixo disso. Em todo o mundo. Sempre me irritou solenemente esse acriticismo, mas não consigo ficar indiferente à postura do povo, o verdadeiro e principal responsável por todas as atrocidades do mundo porque se demite de agir, de participar, de se solidarizar, de mudar o mundo a favor da maioria, alargando o bem estar de si próprio, e deixa-se submeter. E quando uns se submetem, significa que outros dominam. Nunca me dei bem com o poder exatamente por isso.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Nada inconsistente, Loris. O oposto da competitividade nmo sentido de só haver lugar para um é a cooperação. Do ponto de vista das sociedades é a cooperação o fenómeno que seria capaz de transformar as sociedades e torná-las mais igualitárias. Por isso é que as 'elites' (?) que dominam as sociedades impõem a competitividade - ela evita que mais pessoas ascendam.

Como dizia uma colunista idiota, "já não tem piada visitar Nova Iorque, porque todos já fazem isso..."

Abraços Gloriosos.

Gil disse...

Rui,

O narrador mor é contumaz!
Incrível que logo após os alienados se violentarem, ele, com a maior cara de pau, culpar a todos.
Fala na terceira e quinta pessoa. São sempre os outros. Nunca ele.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Gil disse...

Rui,

Permita comentar sobre outro assunto e quem sabe o Loris leia.

Dias atrás, trocando mensagens pelo facebook com uma prima sobre o Botafogo, indiquei o teu sitio.
Ela disse que já conhecia e que foi indicado por um ex-professor e amigo.
Lembrei logo do Loris e inbox trocamos outras conversas confirmando a minha suspeita.

Loris, o nome dela é Sylvia Rodriguez.

Como diz um ditado popular: Esse mundo é pequeno! kkk

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

A culpa morre empre solteira, Gil, e o narrador mor é coisa da pior espécie. Ainda estou para entender como é que certos narradores ainda têm programas televisivos, mesmo pertencendo à 'família'. É porque a mediocridade é tão grande que não devia resistir a tantos 'atentados
públicos'.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Um abraço para a Sylvia Rodriguez.

Lorismario disse...

Gil. A Sylvia foi minha aluna na UnB lá pelos anos de 1978. Mantenho sempre contato com ela. Uma botafoguense como nós. O mundo é muito pequeno. Por isto a gente tem que aguentar idiotas como o narrador mor. Um idiota generalizado. Loris

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