sábado, 2 de agosto de 2014

O Brasil nas Copas – Deuses do futebol escrevem por pernas tortas

por RENAN DAMASCENO
Estado de Minas, 09/03/2014

Como Garrincha jogou por ele e por Pelé para se consagrar como o herói do bicampeonato

Garrincha chegou acanhado à Copa do Mundo de 1962. Não bastasse o medo de avião, ele viajara ao Chile descontente com uma advertência do supervisor Carlos Nascimento. Este, na véspera de um amistoso com o País de Gales, pediu ao ponta que driblasse menos e tocasse a bola de primeira. Atormentado, o gênio das pernas tortas, herói e símbolo máximo da conquista do bi, pensou em abandonar a Seleção, chegando mesmo a avisar a amigos de Pau Grande, vilarejo em que nasceu no interior do Rio, que não viajaria para o Mundial.

“Não foi fácil demovê-lo da disposição de desertar. Ele acabou cedendo, mas a verdade é que até agora ninguém pôde vê-lo naquele estado de espírito que o tornou célebre na Suécia, em 1958, quando passava o dia inteiro atormentando e divertindo a delegação”, contam os jornalistas Armando Nogueira e Araújo Netto, no livro Drama e glória dos bicampeões.

A alegria era a marca registrada do Camisa 7 do Botafogo, que encantou o Velho Continente na Copa de 1958 – cinco anos depois de pisar pela primeira vez em General Severiano e aplicar em Nílton Santos o drible que lhe renderia o contrato com o Botafogo. Já destaque no alvinegro, onde conquistara o título carioca de 1957, Mané chegou à Suécia como reserva de Joel e ganhou a posição no terceiro jogo, quando Vicente Feola o escalou de titular contra a União Soviética. Na vitória por 2 a 0 (gols de Vavá), ele desorientou tanto a defesa que, reza a lenda, a certa altura Nílton Santos gritou lá de trás: “Mané, chega, que é demais”.

Agora dono absoluto da ponta direita, no auge da forma e brilhando com a camisa do Botafogo ao lado de quatro companheiros de Seleção – Nílton, Didi, Amarildo e Zagallo –, Garrincha era a esperança brasileira, dividindo as atenções com Pelé. Mas o camisa 7 demorou a brilhar: passou em branco na vitória sobre o México e pouco fez no empate sem gols com a Tchecoslováquia, jogo que marcou a despedida precoce do Rei do Mundial.

Sem Pelé na virada por 2 a 1 sobre a Espanha e nas fases decisivas, Garrincha chamou a responsabilidade para si. Contra os ingleses, nas quartas de final, abriu o placar de cabeça e, quando o jogo estava empatado em 1 a 1, cobrou a falta que resultou no gol de Vavá, no rebote. Aos 14min do segundo tempo, encantou o Estádio Sausalito ao receber de Amarildo e bater colocado no ângulo esquerdo de Springett.

EXPULSÃO E MISTÉRIO. Garrincha fez tanto em 1962 que até expulso foi – algo raro em sua carreira. Na semifinal contra o Chile, foi herói da vitória por 4 a 2, marcando dois gols (um de fora da área, em chute de canhota, outro de cabeça), mas as provocações lhe subiram à cabeça. O chileno Eladio Rojas esperou o árbitro peruano Arturo Yamasaki se virar e deu um tapa na cara de Mané, que revidou com um pontapé, derrubando o adversário. Expulso, o craque se recusou a sair de campo, ficou andando pelo campo e saiu conduzido por Aymoré Moreira.

Com a expulsão, Garrincha precisaria cumprir suspensão no jogo seguinte, logo a decisão com a Tchecoslováquia. Foi quando a política entrou em campo: a súmula do jogo contra os chilenos desapareceu, juntamente com o auxiliar uruguaio Esteban Marino (vinculado à Federação Paulista de Futebol), que denunciou a agressão a Yamasaki. Como não havia provas no dia do julgamento, o craque se tornava apto a entrar em campo contra os tchecos. E assim o fez, mesmo abatido por forte gripe. Não brilhou tanto quanto nos jogos anteriores, e os gols da virada brasileira foram de Amarildo, Zito e Vavá, único jogador a balançar a rede em duas finais consecutivas de Copa – Pelé, Breitner e Zidane também marcariam em duas decisões, mas alternadas.

Há duas versões para o sumiço da súmula e do assistente, nenhuma delas confirmada oficialmente. No fim dos anos 1990, o secretário de João Havelange – então presidente da CBD (atual CBF) –, Mozart di Giorgio, confessou que um avião havia sido fretado para levar Marino até o Paraguai. A outra versão foi revelada pelo ex-árbitro brasileiro Olten Ayres de Abreu, que estava no Chile como suplente. A um programa de TV, ele disse que o juiz brasileiro que apitou naquele Mundial, João Etzel Filho, fora encarregado de oferecer US$ 5 mil a Marino para “desaparecer”.

Para a história, porém, ficaram os dribles de Mané nos Joões.

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