Imagens: Portal do jornal desportivo
A Bola
A espinha dorsal de todas as
sociedades foi, é e, provavelmente, será sempre o poder – eixo da força e da
dominação. A balança da submissão versus dominação revela resultados
impressionantes quanto ao exercício do poder: quanto mais um indivíduo permite,
aceita e se baixa, mais a dominação cresce. Assim como as instituições
totalitárias das nossas sociedades impõem a sua vontade mediante dogmas que são
tanto maiores quanto menor for a luta pela liberdade de escolha, também as
ditaduras duradouras são sempre feitas de grandes submissões, enquanto outras
não resistem à força social dos seus opositores em luta pela liberdade.
Estou a falar, obviamente, do braço
de ferro que, segundo a comunicação social, se estabeleceu entre o presidente e
o treinador do Sporting. Na semana passada Marco Silva caiu na esparrela da
venenosa comunicação social e fez declarações altamente favoráveis aos
jogadores e aos torcedores Leoninos, ignorando completamente o presidente.
Esta semana, talvez mais entendido
sobre a manipulação em que caiu, e provavelmente devido ao presidente, que se
senta no banco de reservas à beira do campo, assumir a dura posição de o
ignorar após declarações menos boas, eis que esta semana, após mais uma vitória
Sportinguista, o treinador declarou:
– “Estamos todos juntos para trabalhar e conseguir vitórias, que é isso
que os nossos adeptos merecem. Estamos todos juntos para trabalhar em prol do
Sporting. É isso que tenho a dizer, acho que já se fala demais de muitas
situações. Digo claramente que estamos todos juntos para que os adeptos sintam
alegrias. Tem que haver sintonia entre todas as pessoas que trabalham no
Sporting, o presidente no seu cargo e os outros também no seu.”
Há que referir que durante a semana, José
Eduardo, um destacado Sportinguista comentador na TV, antigo jogador e
conselheiro Leonino, figura de peso mas sem nenhum cargo na atual direção do
Clube, tratou de implodir a situação afirmando:
“Marco
Silva não quer fazer parte do projeto, tem agenda e interesses próprios, que
não são do Sporting. Talvez sejam interesses do seu empresrio ou pessoas
ligadas a ele. […] O projeto de base
da Academia nunca foi agarrado pelo treinador. Quantos jogadores da Academia é
que o treinador aproveitou? […] Ele
não tem cultura Leonina. […] Marco
Silva quer demitir o presidente do Sporting”
Isto é, se o treinador mostrar,
doravante, que tem realmente agenda e interesses próprios, ficará sem pé. Logo,
só lhe restava tomar juízo, e não andar a exigir contratações com dinheiro que
o Sporting não tem, devido à sua rigorosa gestão financeira, aproveitando
finalmente nos jovens da Academia, que no último jogo para a Taça da Liga
revelaram-se muito positivamente na sua estreia (o treinador teve que jogar com
a equipe júnior porque o presidente boicotou a Taça da Liga em retaliação a
decisões da Federação no ano passado).
Claro que a comunicação social veio
dizer que o presidente teria que se demarcar de José Eduardo para provar que as
suas declarações não foram combinadas. Porém, Bruno de Carvalho simplesmente
defendeu José Eduardo, reiterou que Marco Silva é o treinador do Clube, e hoje,
antes do jogo, deu o toque final:
– “A nossa missão é agregar e não dividir. Faremos todos os esforços para
que o Clube viva em harmonia. Há muitas notícias que só aproveitam aos nossos
rivais. Há dias vim desmentir as notícias do despedimento de Marco Silva. E
alertei que iriam continuar a sair notícias manipuladas… reitero: Marco foi
escolha minha e vai continuar a ser treinador do Sporting. Tanto eu, como os
Sportinguistas e Marco Silva, queremos vencer.”
E aí está: não só o treinador não
pode mostrar ter agenda própria, caso contrário descredibiliza-se, como também
tem que ganhar, sob pena de se justificar o seu despedimento. E se não mostrar
atitudes para viver “em harmonia”, pior ainda.
A reforçar a postura do presidente
como paladino da transparência e da verdade, eis que durante a semana o New
York Times o cita a propósito da proibição da FIFA aos Fundos de Investimento
que têm servido os especuladores para comprarem passes de jogadores e
manipularem as vendas a seu bel-prazer. Depois de ter lançado o importante
seminário internacional de novembro no qual compareceram as grandes
personalidades do futebol mundial na discussão sobre o futuro do futebol, Bruno
de Carvalho viu-se assim citado no importante jornal americano:
– “Sou contra os fundos dos quais não sabemos de onde é que vem o dinheiro
e que tentam manipular o futebol. Os fundos são uma ameaça para o desporto.”
Coincidência, não?...
Em suma, um combate que, em minha
opinião, o treinador perdeu para já, e por isso declarou após o jogo de hoje
que “estamos todos juntos para trabalhar
em prol do Sporting. Tem que haver sintonia entre todas as pessoas…”
Um tolo – com grandes qualidades de
treinador – que embarcou em certas coisas e perdeu. Certo mesmo é que todos
tentam desestabilizar o Sporting, e as declarações de José Eduardo sobre os
interesses do seu empresário ou de outras pessoas ligadas ao treinador,
fazendo-o criar uma “agenda própria”, foram também no sentido de que se quer
prejudicar o Sporting.
Parece que Marco Silva percebeu que
jogar o poder na balança da dominação / submissão ser-lhe-ia fatal. Arrepiou
caminho e parece que as reprimendas do presidente estão a dar fruto: pela
primeira vez nesta temporada o Sporting ganhou quatro jogos seguidos e ascendeu
ao 3º lugar, que já dá direito a disputar o play-off
da Liga dos Campeões em 2015/2016.
O último toque de Bruno
de Carvalho foi cumprimentar o treinador com um sorriso após o jogo. Contudo,
penso que Marco Silva já não está nos planos futuros de Bruno de Carvalho… Ou
então terá que mudar radicalmente e ‘vestir’ a propalada cultura Leonina.
A torcida declarara
apoio ao treinador, mas ao contrário do que Marco Silva esperava, a torcida
declarou hoje que “abraça ambos”. Como pode agora o treinador não corresponder
àquela torcida à qual apelou e que não o deixou cair, mas que também se
manifestou a favor de Bruno de Carvalho?...
A balança do poder
pendeu…
E quando é que teremos uma direção
forte à frente do Botafogo capaz de enfrentar os rivais olhos nos olhos e
manobrar inteligentemente a favor das suas convicções para o futuro do Clube?...
Quanto ao jogo, confesso que não sei
dizer muito, porque com os ‘crimes’ cometidos pelo NÓDOA na presidência do
Botafogo e as consequentes piores campanhas de sempre na Taça Libertadores e no
Campeonato Carioca e o rebaixamento à 2ª divisão – fazendo a Tríplice Coroa da
Incompetência e da Maldade –, não consigo ver futebol que não seja de altíssimo
nível. Quer no campeonato brasileiro, quer no campeonato português, os
favorecimentos e as trapaças são tantos – evidentemente com um enormíssimo
destaque para o pior clube do mundo sediado na Beira da Lagoa –, que a vontade
de me misturar com esta gente partilhando da sua mediocridade (mesmo sendo por
TV e a distância) não me entusiasma.
Portanto, se quero assistir a futebol
de altíssimo nível resta-me os clássicos do futebol Inglês – que são muitos em
cada ano – e o clássico espanhol Real x Barcelona. Tudo o que há no futebol
Inglês é o que está em vias de desaparecimento nos outros dois campeonatos que
formavam com a Premier League o trio das melhores competições nacionais de
futebol no planeta, isto é, o espanhol (alvo de uma perniciosa ‘espanholização’)
e o italiano (desde que os surtos de corrupção atingiram diversos clubes).
Em todo o caso, creio que o
comentário do jornal Record sobre a partida é esclarecedor:
– “O Sporting conseguiu tranquilamente os três
pontos, num jogo onde foi a única equipa a querer ganhar. O Estoril não mostrou
argumentos para, sequer, incomodar a baliza de Rui Patrício.”
FICHA TÉCNICA
Sporting 3x0 Estoril
» Gols: Adrien
Silva, aos 20’ e 85’ (pen) e Slimani, aos 57’
» Competição:
Campeonato Português
» Data: 03.01.2015
» Local: Estádio José Alvalade, em
Lisboa
» Público: 32.793 pessoas
» Árbitro: Artur Soares Dias (Porto);
Assistentes: Rui Licínio e Sérgio Jesus; 4º Árbitro: Ricardo Baixinho
» Disciplina: Maurício e Nani
(Sporting); Mano e Rúben Fernandes (Estoril)
» Sporting: Rui Patrício; Cédric,
Paulo Oliveira, Maurício e Jefferson; William Carvalho e Adrien Silva; Nani,
Carlos Mané (João Mário) e Carrillo; Slimani (Fredy Montero). Técnico: Marco
Silva.
» Estoril: Kieszek; Mano, Yohan
Tavares, Rúben Fernandes e Emídio Rafael; Diogo Amado e (Cabrera); Sebá, (Balboa)
e (Fernandinho); Kléber. Técnico: José Couceiro.
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