sábado, 3 de janeiro de 2015

Sporting 3x0 Estoril

Imagens: Portal do jornal desportivo A Bola

A espinha dorsal de todas as sociedades foi, é e, provavelmente, será sempre o poder – eixo da força e da dominação. A balança da submissão versus dominação revela resultados impressionantes quanto ao exercício do poder: quanto mais um indivíduo permite, aceita e se baixa, mais a dominação cresce. Assim como as instituições totalitárias das nossas sociedades impõem a sua vontade mediante dogmas que são tanto maiores quanto menor for a luta pela liberdade de escolha, também as ditaduras duradouras são sempre feitas de grandes submissões, enquanto outras não resistem à força social dos seus opositores em luta pela liberdade.

Estou a falar, obviamente, do braço de ferro que, segundo a comunicação social, se estabeleceu entre o presidente e o treinador do Sporting. Na semana passada Marco Silva caiu na esparrela da venenosa comunicação social e fez declarações altamente favoráveis aos jogadores e aos torcedores Leoninos, ignorando completamente o presidente.

Esta semana, talvez mais entendido sobre a manipulação em que caiu, e provavelmente devido ao presidente, que se senta no banco de reservas à beira do campo, assumir a dura posição de o ignorar após declarações menos boas, eis que esta semana, após mais uma vitória Sportinguista, o treinador declarou:

– “Estamos todos juntos para trabalhar e conseguir vitórias, que é isso que os nossos adeptos merecem. Estamos todos juntos para trabalhar em prol do Sporting. É isso que tenho a dizer, acho que já se fala demais de muitas situações. Digo claramente que estamos todos juntos para que os adeptos sintam alegrias. Tem que haver sintonia entre todas as pessoas que trabalham no Sporting, o presidente no seu cargo e os outros também no seu.”

Há que referir que durante a semana, José Eduardo, um destacado Sportinguista comentador na TV, antigo jogador e conselheiro Leonino, figura de peso mas sem nenhum cargo na atual direção do Clube, tratou de implodir a situação afirmando:

Marco Silva não quer fazer parte do projeto, tem agenda e interesses próprios, que não são do Sporting. Talvez sejam interesses do seu empresrio ou pessoas ligadas a ele. […] O projeto de base da Academia nunca foi agarrado pelo treinador. Quantos jogadores da Academia é que o treinador aproveitou? […] Ele não tem cultura Leonina. […] Marco Silva quer demitir o presidente do Sporting

Isto é, se o treinador mostrar, doravante, que tem realmente agenda e interesses próprios, ficará sem pé. Logo, só lhe restava tomar juízo, e não andar a exigir contratações com dinheiro que o Sporting não tem, devido à sua rigorosa gestão financeira, aproveitando finalmente nos jovens da Academia, que no último jogo para a Taça da Liga revelaram-se muito positivamente na sua estreia (o treinador teve que jogar com a equipe júnior porque o presidente boicotou a Taça da Liga em retaliação a decisões da Federação no ano passado).

Claro que a comunicação social veio dizer que o presidente teria que se demarcar de José Eduardo para provar que as suas declarações não foram combinadas. Porém, Bruno de Carvalho simplesmente defendeu José Eduardo, reiterou que Marco Silva é o treinador do Clube, e hoje, antes do jogo, deu o toque final:

– “A nossa missão é agregar e não dividir. Faremos todos os esforços para que o Clube viva em harmonia. Há muitas notícias que só aproveitam aos nossos rivais. Há dias vim desmentir as notícias do despedimento de Marco Silva. E alertei que iriam continuar a sair notícias manipuladas… reitero: Marco foi escolha minha e vai continuar a ser treinador do Sporting. Tanto eu, como os Sportinguistas e Marco Silva, queremos vencer.”

E aí está: não só o treinador não pode mostrar ter agenda própria, caso contrário descredibiliza-se, como também tem que ganhar, sob pena de se justificar o seu despedimento. E se não mostrar atitudes para viver “em harmonia”, pior ainda.

A reforçar a postura do presidente como paladino da transparência e da verdade, eis que durante a semana o New York Times o cita a propósito da proibição da FIFA aos Fundos de Investimento que têm servido os especuladores para comprarem passes de jogadores e manipularem as vendas a seu bel-prazer. Depois de ter lançado o importante seminário internacional de novembro no qual compareceram as grandes personalidades do futebol mundial na discussão sobre o futuro do futebol, Bruno de Carvalho viu-se assim citado no importante jornal americano:

– “Sou contra os fundos dos quais não sabemos de onde é que vem o dinheiro e que tentam manipular o futebol. Os fundos são uma ameaça para o desporto.”

Coincidência, não?...

Em suma, um combate que, em minha opinião, o treinador perdeu para já, e por isso declarou após o jogo de hoje que “estamos todos juntos para trabalhar em prol do Sporting. Tem que haver sintonia entre todas as pessoas…

Um tolo – com grandes qualidades de treinador – que embarcou em certas coisas e perdeu. Certo mesmo é que todos tentam desestabilizar o Sporting, e as declarações de José Eduardo sobre os interesses do seu empresário ou de outras pessoas ligadas ao treinador, fazendo-o criar uma “agenda própria”, foram também no sentido de que se quer prejudicar o Sporting.

Parece que Marco Silva percebeu que jogar o poder na balança da dominação / submissão ser-lhe-ia fatal. Arrepiou caminho e parece que as reprimendas do presidente estão a dar fruto: pela primeira vez nesta temporada o Sporting ganhou quatro jogos seguidos e ascendeu ao 3º lugar, que já dá direito a disputar o play-off da Liga dos Campeões em 2015/2016.

O último toque de Bruno de Carvalho foi cumprimentar o treinador com um sorriso após o jogo. Contudo, penso que Marco Silva já não está nos planos futuros de Bruno de Carvalho… Ou então terá que mudar radicalmente e ‘vestir’ a propalada cultura Leonina.

A torcida declarara apoio ao treinador, mas ao contrário do que Marco Silva esperava, a torcida declarou hoje que “abraça ambos”. Como pode agora o treinador não corresponder àquela torcida à qual apelou e que não o deixou cair, mas que também se manifestou a favor de Bruno de Carvalho?...

A balança do poder pendeu…

E quando é que teremos uma direção forte à frente do Botafogo capaz de enfrentar os rivais olhos nos olhos e manobrar inteligentemente a favor das suas convicções para o futuro do Clube?...

Quanto ao jogo, confesso que não sei dizer muito, porque com os ‘crimes’ cometidos pelo NÓDOA na presidência do Botafogo e as consequentes piores campanhas de sempre na Taça Libertadores e no Campeonato Carioca e o rebaixamento à 2ª divisão – fazendo a Tríplice Coroa da Incompetência e da Maldade –, não consigo ver futebol que não seja de altíssimo nível. Quer no campeonato brasileiro, quer no campeonato português, os favorecimentos e as trapaças são tantos – evidentemente com um enormíssimo destaque para o pior clube do mundo sediado na Beira da Lagoa –, que a vontade de me misturar com esta gente partilhando da sua mediocridade (mesmo sendo por TV e a distância) não me entusiasma.

Portanto, se quero assistir a futebol de altíssimo nível resta-me os clássicos do futebol Inglês – que são muitos em cada ano – e o clássico espanhol Real x Barcelona. Tudo o que há no futebol Inglês é o que está em vias de desaparecimento nos outros dois campeonatos que formavam com a Premier League o trio das melhores competições nacionais de futebol no planeta, isto é, o espanhol (alvo de uma perniciosa ‘espanholização’) e o italiano (desde que os surtos de corrupção atingiram diversos clubes).

Em todo o caso, creio que o comentário do jornal Record sobre a partida é esclarecedor:

– “O Sporting conseguiu tranquilamente os três pontos, num jogo onde foi a única equipa a querer ganhar. O Estoril não mostrou argumentos para, sequer, incomodar a baliza de Rui Patrício.”

FICHA TÉCNICA
Sporting 3x0 Estoril
» Gols: Adrien Silva, aos 20’ e 85’ (pen) e Slimani, aos 57’
» Competição: Campeonato Português
» Data: 03.01.2015
» Local: Estádio José Alvalade, em Lisboa
» Público: 32.793 pessoas
» Árbitro: Artur Soares Dias (Porto); Assistentes: Rui Licínio e Sérgio Jesus; 4º Árbitro: Ricardo Baixinho
» Disciplina: Maurício e Nani (Sporting); Mano e Rúben Fernandes (Estoril)
» Sporting: Rui Patrício; Cédric, Paulo Oliveira, Maurício e Jefferson; William Carvalho e Adrien Silva; Nani, Carlos Mané (João Mário) e Carrillo; Slimani (Fredy Montero). Técnico: Marco Silva.
» Estoril: Kieszek; Mano, Yohan Tavares, Rúben Fernandes e Emídio Rafael; Diogo Amado e (Cabrera); Sebá, (Balboa) e (Fernandinho); Kléber. Técnico: José Couceiro.

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