por ANTERO GRECO
ESPN,
21.11.2021
Ando emotivo – acho que é idade,
pandemia, sensibilidade. Ou tudo isso junto.
Pois não é que me flagrei até com
os olhos marejados ao ver a alegria dos jogadores do Botafogo assim que
terminou a partida contra o Brasil? A festa dos rapazes, após o 1 a 0 em
Pelotas, me contagiou. A euforia pela conquista do título da Série B saiu da
telinha da tevê em que acompanhava o jogo e chegou à minha sala. Assim como
deve ter chegado na casa de milhões de alvinegros pelo País.
A reação daquele grupo de
profissionais resumiu satisfação, alívio, perspectiva de 2022 melhor.
Representou redenção, ascensão, visibilidade. Foi o fecho de um ano complicado,
de trajetória nada fácil na segunda divisão nacional. O Botafogo chegou à
penúltima das 38 rodadas da competição classificado para o retorno à elite e
com direito a colocar também a mão na taça. Antes, porém, passou por
incertezas, tropeços, mudanças, temor e apreensão. Por isso, a festa foi maior.
Disse no título que o Botafogo me
fez dar um salto no tempo e voltar para a infância. Sabe por que, amigo
torcedor? Porque sou de uma época em que os grandes clubes do Brasil, aqueles
que mais chamavam a atenção, eram Santos, Botafogo, Palmeiras, Cruzeiro. Fim
dos anos 50, começo e meio dos anos 60, esse quarteto brilhava, por reunir
craque em pencas em seus elencos. Quando se encontravam, o que era raro, a
gente parava para ver na tevê (também esporadicamente) ou ouvir no rádio. Não
dava outra: era só jogaço.
Cresci cheio de admiração pelo
uniforme do Botafogo, com aquela estrela linda e com os meiões de cor cinza,
pra mim até hoje símbolo de futebol. Mas cresci admirando à distância - sou de
São Paulo - astros como Manga, Didi, Paulistinha, Quarentinha, Zagalo, Nilton
Santos, Amarildo, Airton, Rildo, Pampolini e tantos outros. Era fã também de
João Saldanha, técnico, jornalista e polemista de primeira. Muitas vezes, nas
peladas de rua, meu time era o Botafogo, "o time da Estrela
Solitária". Achava bonito falar assim, parecia uma coisa pomposa, nobre,
brilhante.
O Botafogo faz parte da minha
formação como fanático por futebol. No meu time de botão, ele era um dos
favoritos aos torneios Rio-São Paulo que inventava com meus amigos. Colecionava
figurinhas desses craques acima, tenho até hoje o time completo de Onze de
Ouro, jogo de botões que a gente comprava em banca de jornal. No cinema,
esperava com ansiedade o Canal 100 para ver imagens dos dribles de Garrincha em
tamanho gigante e em câmera lenta.
O Botafogo é uma das lendas em
minha vida. Assim como o Santos de Pelé, o Palmeiras de Ademir da Guia, o
Cruzeiro de Tostão.
Sei que o Botafogo de hoje não é
sombra daquele glorioso. Dói ver as dificuldades que enfrenta, assim como
magoam as quedas. Mas, caramba, é sempre Botafogo! Não é qualquer clube que
teve Garrincha, um dos gênios da bola em todos os tempos. Só por isso sempre
tive e terei simpatia, apreço, respeito por ele.
Espero que o retorno à Série A
represente reviravolta, ressurgimento, renascimento. Que o Botafogo honre sua
tradição e o amor de seus torcedores.
Parabéns, campeões! Parabéns para
Diego Loureiro, Carlinhos, Diego Gonçalves, Marco Antônio, Pedro Castro,
Romildo e Ronald, a turma que começou o jogo contra o Brasil. Parabéns para
Enderson Moreira, que pegou o barco andando e o conduziu a porto seguro e
vitorioso!
Fonte: https://www.espn.com.br/blogs/anterogreco/798083_botafogo-campeao-da-serie-b-me-fez-voltar-para-os-tempos-de-infancia
2 comentários:
Grande Rui,
Um trecho me chamou muito a atenção e destaco, pois pensava isso.
Quando me deixavam jogar uma pelada na rua (sempre fui um perna de pau), imitava o ponta direita Zequinha.
"Muitas vezes, nas peladas de rua, meu time era o Botafogo, "o time da Estrela Solitária". Achava bonito falar assim, parecia uma coisa pomposa, nobre, brilhante."
Abs e Sds Botafoguenses!
Eterno Irmão de Escudo, nos primórdios de criança eu era um 'desastre' a jogar futebol em posições de linha e acabei por ficar a defender as redes. Em boa hora, porque revelei-me: campeão escolar de futebol e futsal e campeão militar de futebol. Era um 'craque' debaixo do travessão! Inspiração?... Já sabes onde fui buscá-la: MANGA!!! - O meu maior ídolo de criança.
Ainda hoje sou fã da posição de goleiro porque sempre defendi os mais fracos, e goleiro é bode expiatório para tudo: pode fazer mil defesas num jogo, podem os atacantes perder mil gols num jogo, mas se o goleiro falha uma vez apenas, ou se supõe que falhou (como foi o infeliz e injusto caso de bode expiatório Barbosa na Copa de 1950 porque os torcedores tinham que arrumar um culpado), então está crucificado! É a posição mais traiçoeira do futebol, é a que garante tantas vezes muitos títulos, é provavelmente a menos glorificada pelos torcedores. E que defesas lindas fazem, tantas vezes bem mais bonitas do que os gols, tantos deles por pura sorte (ou azar...).
Abraços Gloriosos.
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