sábado, 22 de janeiro de 2022

Botafogo campeão da Série B me fez voltar para os tempos de infância

por ANTERO GRECO

ESPN, 21.11.2021

 

Ando emotivo – acho que é idade, pandemia, sensibilidade. Ou tudo isso junto.

 

Pois não é que me flagrei até com os olhos marejados ao ver a alegria dos jogadores do Botafogo assim que terminou a partida contra o Brasil? A festa dos rapazes, após o 1 a 0 em Pelotas, me contagiou. A euforia pela conquista do título da Série B saiu da telinha da tevê em que acompanhava o jogo e chegou à minha sala. Assim como deve ter chegado na casa de milhões de alvinegros pelo País.

 

A reação daquele grupo de profissionais resumiu satisfação, alívio, perspectiva de 2022 melhor. Representou redenção, ascensão, visibilidade. Foi o fecho de um ano complicado, de trajetória nada fácil na segunda divisão nacional. O Botafogo chegou à penúltima das 38 rodadas da competição classificado para o retorno à elite e com direito a colocar também a mão na taça. Antes, porém, passou por incertezas, tropeços, mudanças, temor e apreensão. Por isso, a festa foi maior.

 

Disse no título que o Botafogo me fez dar um salto no tempo e voltar para a infância. Sabe por que, amigo torcedor? Porque sou de uma época em que os grandes clubes do Brasil, aqueles que mais chamavam a atenção, eram Santos, Botafogo, Palmeiras, Cruzeiro. Fim dos anos 50, começo e meio dos anos 60, esse quarteto brilhava, por reunir craque em pencas em seus elencos. Quando se encontravam, o que era raro, a gente parava para ver na tevê (também esporadicamente) ou ouvir no rádio. Não dava outra: era só jogaço.

 

Cresci cheio de admiração pelo uniforme do Botafogo, com aquela estrela linda e com os meiões de cor cinza, pra mim até hoje símbolo de futebol. Mas cresci admirando à distância - sou de São Paulo - astros como Manga, Didi, Paulistinha, Quarentinha, Zagalo, Nilton Santos, Amarildo, Airton, Rildo, Pampolini e tantos outros. Era fã também de João Saldanha, técnico, jornalista e polemista de primeira. Muitas vezes, nas peladas de rua, meu time era o Botafogo, "o time da Estrela Solitária". Achava bonito falar assim, parecia uma coisa pomposa, nobre, brilhante.

 

O Botafogo faz parte da minha formação como fanático por futebol. No meu time de botão, ele era um dos favoritos aos torneios Rio-São Paulo que inventava com meus amigos. Colecionava figurinhas desses craques acima, tenho até hoje o time completo de Onze de Ouro, jogo de botões que a gente comprava em banca de jornal. No cinema, esperava com ansiedade o Canal 100 para ver imagens dos dribles de Garrincha em tamanho gigante e em câmera lenta.

 

O Botafogo é uma das lendas em minha vida. Assim como o Santos de Pelé, o Palmeiras de Ademir da Guia, o Cruzeiro de Tostão.

 

Sei que o Botafogo de hoje não é sombra daquele glorioso. Dói ver as dificuldades que enfrenta, assim como magoam as quedas. Mas, caramba, é sempre Botafogo! Não é qualquer clube que teve Garrincha, um dos gênios da bola em todos os tempos. Só por isso sempre tive e terei simpatia, apreço, respeito por ele.

 

Espero que o retorno à Série A represente reviravolta, ressurgimento, renascimento. Que o Botafogo honre sua tradição e o amor de seus torcedores.

 

Parabéns, campeões! Parabéns para Diego Loureiro, Carlinhos, Diego Gonçalves, Marco Antônio, Pedro Castro, Romildo e Ronald, a turma que começou o jogo contra o Brasil. Parabéns para Enderson Moreira, que pegou o barco andando e o conduziu a porto seguro e vitorioso!

 

Fonte: https://www.espn.com.br/blogs/anterogreco/798083_botafogo-campeao-da-serie-b-me-fez-voltar-para-os-tempos-de-infancia

2 comentários:

Gil disse...

Grande Rui,

Um trecho me chamou muito a atenção e destaco, pois pensava isso.
Quando me deixavam jogar uma pelada na rua (sempre fui um perna de pau), imitava o ponta direita Zequinha.

"Muitas vezes, nas peladas de rua, meu time era o Botafogo, "o time da Estrela Solitária". Achava bonito falar assim, parecia uma coisa pomposa, nobre, brilhante."

Abs e Sds Botafoguenses!

Ruy Moura disse...

Eterno Irmão de Escudo, nos primórdios de criança eu era um 'desastre' a jogar futebol em posições de linha e acabei por ficar a defender as redes. Em boa hora, porque revelei-me: campeão escolar de futebol e futsal e campeão militar de futebol. Era um 'craque' debaixo do travessão! Inspiração?... Já sabes onde fui buscá-la: MANGA!!! - O meu maior ídolo de criança.

Ainda hoje sou fã da posição de goleiro porque sempre defendi os mais fracos, e goleiro é bode expiatório para tudo: pode fazer mil defesas num jogo, podem os atacantes perder mil gols num jogo, mas se o goleiro falha uma vez apenas, ou se supõe que falhou (como foi o infeliz e injusto caso de bode expiatório Barbosa na Copa de 1950 porque os torcedores tinham que arrumar um culpado), então está crucificado! É a posição mais traiçoeira do futebol, é a que garante tantas vezes muitos títulos, é provavelmente a menos glorificada pelos torcedores. E que defesas lindas fazem, tantas vezes bem mais bonitas do que os gols, tantos deles por pura sorte (ou azar...).

Abraços Gloriosos.

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