domingo, 19 de janeiro de 2025

Botafogo 1x2 Sampaio Corrêa – futebol de pólvora seca

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Façamos uma alegoria. Uma família nascida na classe média, que viveu a maior parte da sua vida na classe média – com momentos aqui e ali de classe média-alta e ocasionalmente de classe alta –, embora não tendo recursos abundantes conseguia viver com alegria e – como é comum entre todas as gentes – sempre na esperança de novos progressos. Um dia essa esperança concretizou-se. A família enriqueceu legalmente e a sua felicidade transbordava. Eis, contudo, que devido a uma certa circunstância teve que regressar à sua classe média – e classe média inferior. Foi-se a alegria e ficou abalada a esperança.

É o que acontece aproximadamente com o Botafogo. Jogando durante décadas entre a média qualidade e a média-alta qualidade – ocasionalmente alta qualidade durante uma década – viu súbita e inesperadamente a esperança de progresso concretizar-se e jogou um futebol sensacional com promessas de classe alta permanente, que lhe valeu simultâneas alegrias nacionais e internacionais, ganhando jogos decisivos contra adversários de 1ª linha. A felicidade transbordava com os torcedores vendo jogar-se um futebol de 1ª qualidade, ganhando jogos categoricamente e conquistando títulos muito importantes. Subitamente, devido a uma certa circunstância, regressou a um futebol simplesmente medíocre típico da classe baixa.

É esse o tipo de futebol da equipe que nos representa atualmente a nível principal, composta por jogadores muito fracos e sem qualquer sistema tático eficiente, comprovando duas coisas: (a) o recorrente trabalho péssimo realizado a nível das camadas de base e (b) a inexistência de uma comissão técnica incapaz de montar um sistema tático minimamente eficiente com articulação entre os setores.

Precipitei-me ao iludir-me na segunda rodada com os tímidos progressos da equipe devido a uma melhor movimentação em campo. Porém, o que vi ontem foi novamente uma representação botafoguense indigna de um Clube Campeão Brasileiro e Sul-Americano.

A tristeza sentida foi tão grande que a esperança desapareceu totalmente quando o Sampaio Corrêa fez 1x0. Entendi tudo imediatamente, desliguei o botão e fui dedicar-me a algo menos penoso do que assistir a uma pseudo equipe em representação do Glorioso. Não é que interesse grandemente conquistar o campeonato estadual, mas interessaria vivamente que na história não ficasse o registo de derrotas para equipes tão fracas como o Maricá ou o Sampaio Corrêa e havendo inclusivamente superioridade numérica em matéria de jogadores em campo.

Porém, creio que estou sendo 'corneteiro', porque em todos os jogos disputados o técnico Carlos Leiria viu "muita coisa positiva"...

Também vi coisas para o Maricá, que fez a sua estreia num campeonato carioca registrando para a história uma vitória sobre o campeão sul-americano; e vi outras coisas positivas para o Sampaio Corrêa que registra para a história a sua primeira vitória sobre um dos quatro maiores clubes do Rio de Janeiro...

Amigos, chegar às semifinais é obrigação, e uma eventual eliminação nessa fase não é penosa nem choca a torcida. O que pode chocar a torcida é termos que comemorar o tricampeonato da Taça Rio…

Fica, então, o registro da ficha técnica com a promessa que, enquanto o Botafogo não for condignamente representado, escalando uma equipe capaz de nos honrar, não assistirei a tais jogos e limitar-me-ei a registar a/s ficha/s técnica/s no Mundo Botafogo.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x2 Sampaio Corrêa

» Gols: Serafim, aos 88’ (Botafogo); Rafael Pernão, aos 31’, e Guilherme, aos 73’ (Sampaio Corrêa)

» Competição: Campeonato Estadual | Taça Guanabara

» Data: 18.01.2025

» Local: Estádio Lourival Gomes, em Saquarema (RJ)

» Público: 1.430 espectadores

» Árbitro: Lucas Neves Borja de Almeida (RJ); Assistentes: Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ) e Júlio César Souza Gaudêncio (RJ); VAR: Grazianni Maciel Rocha (RJ)

» Disciplina: cartão amarelo – Rafael Lobato e Serafim (Botafogo) e Eduardo Thuram, Lucas Marreta e Ryan (Sampaio Corrêa); cartão vermelho – Ryan e Zé Carlos (Sampaio Corrêa)

» Botafogo: Raul; Newton, Kawan (Kauan Lindes), Serafim e Rafael Lobato (Lucyo); Kauê (Kauê Leonardo), Patrick de Paula e Vitinho; Yarlen, Kayke (Bernardo Valim) e Matheus Nascimento (Adamo). Técnico: Carlos Faria.

» Sampaio Corrêa: Zé Carlos; Lucas (Luan Gama), Marreta, Eduardo Thuram e Guilherme; Rodrigo Dantas, Alexandre Souza (Gabriel Agu) e Rafael Pernão (Pablo); Max, Octávio (Vinícius Kanu) e Elias (Ryan). Técnico: Josimar Ferreira.

2 comentários:

Sergio disse...

Nem com a vitória contra a Portuguesa me animei com esse bando que veste a camisa do Botafogo,.mas ontem o que assisti foi algo terrível, tenebroso. Tome sem um mínimo de esquema, jogadores fraquinhos toda vida, o que nos remete a bater na mesma tecla: urge o Botafogo investir na base de forma muito intensa, porque essa turma que está representando o campeão sul americano e brasileiro nos envergonha. Assim como no profissional o Textor quer treinadores de ponto, o mesmo é necessário para as bases.
O que me surpreendeu ontem, foi eu não ter o bom senso de desligar a tv, assisti o jogo até o fim. Acho que deve ter sido alguma penitência, só não sei qual. Triste esse terceiro time do carioca, e para piorar, como pode um país penta campeão de seleções, sempre foi protagonista no futebol, permitir um campo de jogo igual ao de ontem, nem campo de várzea é de tão pouca qualidade como o de ontem. Triste caminho esse que o nosso futebol está tomando. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Eu animei-me ligeiramente. Tenho esse defeito de acreditar e depois seguem-se as desilusões... Assisti ao 1º tempo até ao gol, mas a coisa estava tão 'tenebrosa' que desliguei o ecrã e fui fazer outra coisa, porque não dá para contagiar tão negativamente a minha extensa e intensa alegria interna desde 30 de novembro passado...

O país pentacampeão já era... a CBF e seus sequazes destruíram tudo de bom que tinha o futebol brasileiro. Só sobraram os atletas, e ainda assim com os melhores jogando no estrangeiro...

Continuamos desequilibrados... Creio que o Textor vai cometer alguns erros que não cometera em 2024. Apesar dos dois fabulosos títulos devidos a circunstâncias inesperadas e especiais, ainda estamos em construção.

E eu não gostaria de perder a Supercopa do Brasil nem a Recopa Sul-americana... Sempre são dois troféus oficiais.

Abraços Gloriosos.

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