por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Façamos uma alegoria. Uma família nascida na classe
média, que viveu a maior parte da sua vida na classe média – com momentos aqui
e ali de classe média-alta e ocasionalmente de classe alta –, embora não tendo
recursos abundantes conseguia viver com alegria e – como é comum entre todas as
gentes – sempre na esperança de novos progressos. Um dia essa esperança concretizou-se.
A família enriqueceu legalmente e a sua felicidade transbordava. Eis, contudo,
que devido a uma certa circunstância teve que regressar à sua classe média – e
classe média inferior. Foi-se a alegria e ficou abalada a esperança.
É o que acontece aproximadamente com o Botafogo. Jogando
durante décadas entre a média qualidade e a média-alta qualidade –
ocasionalmente alta qualidade durante uma década – viu súbita e inesperadamente
a esperança de progresso concretizar-se e jogou um futebol sensacional com
promessas de classe alta permanente, que lhe valeu simultâneas alegrias
nacionais e internacionais, ganhando jogos decisivos contra adversários de 1ª
linha. A felicidade transbordava com os torcedores vendo jogar-se um futebol de
1ª qualidade, ganhando jogos categoricamente e conquistando títulos muito
importantes. Subitamente, devido a uma certa circunstância, regressou a um
futebol simplesmente medíocre típico da classe baixa.
É esse o tipo de futebol da equipe que nos representa atualmente
a nível principal, composta por jogadores muito fracos e sem qualquer sistema
tático eficiente, comprovando duas coisas: (a) o recorrente trabalho péssimo realizado
a nível das camadas de base e (b) a inexistência de uma comissão técnica
incapaz de montar um sistema tático minimamente eficiente com articulação entre
os setores.
Precipitei-me ao iludir-me na segunda rodada com os
tímidos progressos da equipe devido a uma melhor movimentação em campo. Porém,
o que vi ontem foi novamente uma representação botafoguense indigna de um Clube
Campeão Brasileiro e Sul-Americano.
A tristeza sentida foi tão grande que a esperança
desapareceu totalmente quando o Sampaio Corrêa fez 1x0. Entendi tudo
imediatamente, desliguei o botão e fui dedicar-me a algo menos penoso do que assistir
a uma pseudo equipe em representação do Glorioso. Não é que interesse
grandemente conquistar o campeonato estadual, mas interessaria vivamente que na
história não ficasse o registo de derrotas para equipes tão fracas como o
Maricá ou o Sampaio Corrêa e havendo inclusivamente superioridade numérica em
matéria de jogadores em campo.
Porém, creio que estou sendo 'corneteiro', porque em todos os jogos disputados o técnico Carlos Leiria viu "muita coisa positiva"...
Também vi coisas para o Maricá, que fez a sua estreia num campeonato carioca
registrando para a história uma vitória sobre o campeão sul-americano; e vi outras coisas positivas para o Sampaio Corrêa que registra para a história a sua primeira vitória sobre um dos
quatro maiores clubes do Rio de Janeiro...
Amigos, chegar às semifinais é obrigação, e uma eventual
eliminação nessa fase não é penosa nem choca a torcida. O que pode chocar a
torcida é termos que comemorar o tricampeonato da Taça Rio…
Fica, então, o registro da ficha técnica com a promessa
que, enquanto o Botafogo não for condignamente representado, escalando uma equipe capaz de nos honrar, não
assistirei a tais jogos e limitar-me-ei a registar a/s ficha/s técnica/s no
Mundo Botafogo.
FICHA TÉCNICA
Botafogo
1x2 Sampaio Corrêa
» Gols: Serafim, aos 88’ (Botafogo); Rafael Pernão, aos
31’, e Guilherme, aos 73’ (Sampaio Corrêa)
» Competição: Campeonato Estadual | Taça Guanabara
» Data: 18.01.2025
» Local: Estádio Lourival Gomes, em Saquarema (RJ)
» Público: 1.430 espectadores
» Árbitro: Lucas Neves Borja de Almeida (RJ);
Assistentes: Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ) e Júlio César Souza
Gaudêncio (RJ); VAR: Grazianni Maciel Rocha (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Rafael Lobato e Serafim
(Botafogo) e Eduardo Thuram, Lucas Marreta e Ryan (Sampaio Corrêa); cartão
vermelho – Ryan e Zé Carlos (Sampaio Corrêa)
» Botafogo: Raul; Newton, Kawan (Kauan Lindes), Serafim e
Rafael Lobato (Lucyo); Kauê (Kauê Leonardo), Patrick de Paula e Vitinho;
Yarlen, Kayke (Bernardo Valim) e Matheus Nascimento (Adamo). Técnico: Carlos
Faria.
» Sampaio Corrêa: Zé Carlos; Lucas (Luan Gama), Marreta,
Eduardo Thuram e Guilherme; Rodrigo Dantas, Alexandre Souza (Gabriel Agu) e
Rafael Pernão (Pablo); Max, Octávio (Vinícius Kanu) e Elias (Ryan). Técnico:
Josimar Ferreira.
2 comentários:
Nem com a vitória contra a Portuguesa me animei com esse bando que veste a camisa do Botafogo,.mas ontem o que assisti foi algo terrível, tenebroso. Tome sem um mínimo de esquema, jogadores fraquinhos toda vida, o que nos remete a bater na mesma tecla: urge o Botafogo investir na base de forma muito intensa, porque essa turma que está representando o campeão sul americano e brasileiro nos envergonha. Assim como no profissional o Textor quer treinadores de ponto, o mesmo é necessário para as bases.
O que me surpreendeu ontem, foi eu não ter o bom senso de desligar a tv, assisti o jogo até o fim. Acho que deve ter sido alguma penitência, só não sei qual. Triste esse terceiro time do carioca, e para piorar, como pode um país penta campeão de seleções, sempre foi protagonista no futebol, permitir um campo de jogo igual ao de ontem, nem campo de várzea é de tão pouca qualidade como o de ontem. Triste caminho esse que o nosso futebol está tomando. Abs e SB!
Eu animei-me ligeiramente. Tenho esse defeito de acreditar e depois seguem-se as desilusões... Assisti ao 1º tempo até ao gol, mas a coisa estava tão 'tenebrosa' que desliguei o ecrã e fui fazer outra coisa, porque não dá para contagiar tão negativamente a minha extensa e intensa alegria interna desde 30 de novembro passado...
O país pentacampeão já era... a CBF e seus sequazes destruíram tudo de bom que tinha o futebol brasileiro. Só sobraram os atletas, e ainda assim com os melhores jogando no estrangeiro...
Continuamos desequilibrados... Creio que o Textor vai cometer alguns erros que não cometera em 2024. Apesar dos dois fabulosos títulos devidos a circunstâncias inesperadas e especiais, ainda estamos em construção.
E eu não gostaria de perder a Supercopa do Brasil nem a Recopa Sul-americana... Sempre são dois troféus oficiais.
Abraços Gloriosos.
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