por PETRONIO PORTELLA FILHO | editado por Juca Kfouri
| www.uol.com.br
«No dia 30 de outubro, quando o
Botafogo se classificou para a final da Libertadores, comemorei muito. Mas, ao
final da noite, senti a volta de dois velhos conhecidos, a ansiedade e o
pessimismo:
"Deus do céu. A final da
Libertadores vai ser em 30 de novembro, daqui a 31 dias. Como é que eu vou
conseguir esperar tanto tempo? E o Botafogo tem contra si o favoritismo. Meu
time só vence decisões quando entra como azarão."
Fui socorrido por outro defeito
botafoguense, a superstição. Pensei algo que eu não tinha lido ou ouvido de
nenhum jornalista profissional ou torcedor:
"Vem cá, o último título
sul-americano do Botafogo foi na Conmebol de 1993. Naquele torneio enfrentamos,
na semifinal e final, Atlético-MG e Peñarol. Por incrível coincidência, na
Libertadores de 2024, os adversários da semifinal e final são os mesmos de
1993, com ordem invertida.
Papai do Céu aparentemente não
gosta do Botafogo. Mas não acredito em coincidências. Desta vez o Todo-Poderoso
mandou um sinal de que o Fogão vai ser campeão. Quaisquer que sejam as heresias
e sacrilégios que cometemos no passado, fomos perdoados.
Toda superstição é ridícula,
assim como todo fanatismo. No meu trabalho de economista, me esforço para ser
científico, racional e não aderir à manada de místicos que idolatram o Mercado.
Aí vem o Botafogo e estraga tudo. Ele me faz aderir a uma manada de loucos. E
sou pior que a média. Outro dia um colega consultor disse que, quando o
Botafogo entra na discussão, minha inteligência desaparece. O colega em questão
não é flamenguista, é botafoguense. Ou seja, meu caso é grave.
Pois bem, lá estava eu, no 30 de
outubro, ansioso por um jogo que iria se realizar no longínquo 30 de novembro.
No dia seguinte, iniciei a lenta e dolorosa contagem regressiva. Faltam 30
dias, 29, 28…
Na semana do jogo, levantei da
cama com frio na barriga todos os dias. No dia do jogo, estava tão tenso que
pensei em tomar uma jarra de café para justificar o estado de superaquecimento
em que já me encontrava.
Não tomei nada, não ia me fazer
bem. Eu preferia tomar um calmante, mas não tinha nenhum em casa. Fiquei
irritado comigo. "Sou um idiota. Tive 31 dias para me preparar e, sendo
cardiopata, não pedi calmante a nenhum médico."
Foi quando me lembrei de um
estratagema mental que usava quando era criança e entrava no consultório do
dentista. Eu mentalizava a paz que sentiria 1 hora no futuro, quando saísse
daquela sala de torturas.
No 30 de novembro, entrei na sala
de tv com a seguinte atitude mental. "Às 19 horas, o teste de resistência
cardíaca estará terminado. O tempo é meu amigo. Eu consigo suportar a derrota.
O que eu não consigo mais suportar é o suspense."
Completamente pilhado, comecei a
assistir ao jogo. Logo vi que eu não era o único pilhado. Aos 30 segundos de
jogo, um jogador do Botafogo chutou a cabeça do adversário e foi expulso. Foi a
expulsão mais rápida da história da Libertadores. Meu time começou bem,
quebrando um recorde.
O Botafogo ia ter que jogar com
um a menos contra um adversário que, nos últimos quatro jogos da Libertadores,
marcou 5 gols e tomou 1. Jogamos na retranca, o que curiosamente é melhor para o
Botafogo. Marcamos dois gols no final do 1º tempo. Pensei que poderia relaxar
no 2º tempo. Ledo engano! No 1º minuto tomamos gol de cabeça de um... baixinho,
em cobrança de escanteio. Tem coisa que só acontece com o Botafogo.
O Atlético jogou muito no 2º
tempo, que foi tão tenso como o 1º. O 3º gol do Botafogo só surgiu no último
lance do último minuto da prorrogação. Quebrou-se outro tabu, em vez de tomar
gol no último minuto, o Botafogo marcou. Quando terminou o jogo, eu estava
eufórico e pensei em beber algo para comemorar.
Aí descobri que eu já estava de
porre. Eu tinha tomado um porre de felicidade. Tomo duas únicas drogas
estimulantes, o café para me animar e o álcool para relaxar. Naquele dia mágico
fiquei excitadíssimo sem cafeína, depois relaxadíssimo sem álcool.
Mais que relaxado, me senti em
estado de graça, no paraíso. Por pouco não vivenciei a súbita iluminação de
Buda e me transformei num santo.
Iniciei a comemoração do título
botando no Spotify o samba enredo de 1989 da União da Ilha, Festa Profana:
"Eu vou tomar um porre de
felicidade, Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade."»
https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/juca-kfouri/2024/12/06/o-botafoguense-e-o-porre-de-felicidade.htm
4 comentários:
Também fiquei tenso nos dias que antecederam a decisão, mas estranhamente no dia do jogo eu estava muito calmo, não sei é explicar a razão, talvez porque no fundo no fundo eu sentia que o Botafogo seria campeão. Não vou negar que com a expulsão aos 30 segundos veio um desânimo e pensei: ficou difícil. Mas eis que me apoiei na decisão da taça GB de 1967 quando o Jairzinho foi expulso eesmo com 10 o Botafogo foi campeão com um show do PC Caju. E nem levei em consideração a diferença entre perder um atacante e um volante, simplesmente quis me apoiar no fato de nós os times terem tido um jogador expulso. Felizmente fomos campeões, e não vou negar, estou em êxtase até hoje e choro toda vez que vejo algo sobre a conquista, o jogo mais emocionante que presenciei do Botafogo em minha vida. A Glória Eterna.
Abs e SB!
1967, 3 gols de PC Caju com vitória por 3x2! Inesquecível!
Após a expulsão na Libertadores já não consegui sossegar. Como estava em espaço aberto com telão andei para lá e para cá o tempo todo. Só assisti aos gols depois da 'explosão' da torcida. Não conseguia, eu todo tremia, temendo que, uma vez mais, a sorte se virasse contra nós, mas JS fez-me o belíssimo favor de terminar o jogo como eu tinha dito aos meus amigos antes do jogo, isto é, com gol dele mesmo para fazer os dois dígitos na artilharia!
Abraços Gloriosos.
Esse não tomou o pretinho que satisfaz. Mas eu mantive a tradição. Sempre saio para o café e sai gol ou o jogo acaba. Com o América de Natal faço o mesmo e dá certo. (Rsrs)
Abençoado 'pretinho'... 😄😄😄
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário