Rogério, Gérson, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo César: o fabuloso quinteto de ataque na década de 1960
José de Oliveira Ramos
18 de janeiro de 2009
Nascido Gérson de Oliveira Nunes no dia 11 de janeiro de 1941 - acabou de completar 68 anos -, Gérson, ‘o Canhotinha de Ouro’, iniciou a carreira futebolística nas peladas da praia Santa Rosa, em Niterói, onde também nasceu. Visto jogando por alguns "experts", foi convidado a trocar a areia da praia pela quadra de Futebol de Salão, quando essa modalidade ainda era chamada de "Esporte da bola pesada".
Aos 16 anos Gérson começou a jogar futebol. Iniciou no Canto do Rio, clube de Niterói, extinto na década de 60. Em 1958, portanto aos 17 anos, Gérson chegou ao Flamengo para jogar na então equipe juvenil. O futebol vistoso o levou ao time profissional em 1959, exatamente quando conquistaria o primeiro título da sua promissora carreira profissional.
De 1958 até 1963 Gérson defendeu as cores do Flamengo, de onde foi praticamente banido a pedido do então técnico Flávio Costa, com quem o jogador se desentendera durante treinamentos e jogos.
Ainda conhecido apenas com Gérson, o meia foi convocado para a seleção brasileira no mesmo ano de 1959 defendendo o país nos Jogos Pan-Americanos daquele ano. No ano seguinte, 1960, foi convocado para defender a seleção nos Jogos Olímpicos de Roma.
Gérson sempre teve personalidade muito forte. Certamente por conta disso, era admirado por uns e muito criticado por outros. Já com alguns anos de Flamengo cometeria sua primeira discrepância pública. Durante um treinamento que corria solto na Gávea, quebrou a perna do jogador Mauro, um juvenil, passando, a partir dali, a ser visto como um jogador violento.
Gérson foi praticamente expulso do Flamengo, em 63, muito mais pelos constantes desentendimentos com Flávio Costa que pelo acidente contra o jogador Mauro. No clube rubro-negro Gérson conquistou o título de campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Rio-São Paulo) em 1961, e campeão carioca pelo mesmo Flamengo em 1963.
Corria o ano de 1962 e o Botafogo tinha um time capaz de assustar qualquer adversário. O ataque, formado por Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Amarildo e Zagallo. Garrincha, titular absoluto da ponta-direita da seleção tinha acabado de ser considerado o principal atacante do Brasil na conquista do bicampeonato mundial, no Chile. Estava numa forma esplendorosa.
O técnico do Flamengo, Flávio Costa, vitorioso no passado, havia retornado para dirigir o clube. O Flamengo encontrou o Maracanã lotado, com a sua imensa torcida dividindo os espaços com a do Botafogo, embora, no primeiro turno o alvinegro tivesse encaçapado 3 a 1 no time da Gávea. 146.287 torcedores assistiram o Flamengo entrar em campo com: Fernando; Joubert, Vanderlei, Décio e Jordan; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Henrique Frade, Dida e Gérson.
Com Garrincha em tarde inspirada, fazendo ‘gato e sapato’ com Jordan, o Botafogo chegou fácil a 1 a 0. Veio do túnel rubro-negro a ordem de Flávio Costa para que Gérson ajudasse o lateral flamenguista na marcação a Garrincha. Gérson se negou a fazê-lo - e talvez nem adiantasse! - e o Botafogo continuou triturando o adversário. No segundo tempo o deslanche com Garrincha infernizando a vida do Flamengo. Vinda do túnel flamenguista mais uma vez, a ordem de Flávio era para Gérson ajudar na marcação. O meia não obedeceu e foi retirado de campo, cedendo espaço para Germano. O time de General Severiano chegou aos 2 a 0 e, a poucos minutos do final, aos 3 a 0, confirmando a conquista do título carioca de 1962.
A indisciplina de Gérson foi contornada e o jogador permaneceu na Gávea até ser campeão carioca em 1963. Foi quase que literalmente expulso da Gávea por mais uma indisciplina, indo parar no Glorioso de General Severiano, onde jogou até 1969, sendo um dos principais líderes do time.
Pelo clube de General Severiano, Gérson foi campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Rio-São Paulo) em 1964 e 1966. Bicampeão carioca em 1967 e 1968. Campeão da Taça Brasil em 1968.
Transferiu-se para o São Paulo em 1969, sagrando-se bicampeão paulista em 1970 e 1971. Ainda em 1970, pela seleção brasileira, sagrou-se tricampeão mundial no México. Permaneceu no São até 1972. Foi também campeão do Torneio Independência do Brasil, em 1972, pela seleção brasileira.
Em 1973 transferiu-se para o Fluminense, seu clube de coração, onde sagrou-se campeão carioca.
Sua primeira participação importante defendendo o Brasil foi na Copa de 1966, na Inglaterra. O jogador foi muito discutido pela crônica esportiva na época, sendo taxado de covarde. Paraná, ex-ponta-esquerda do São Paulo, afirmou que ele foi um dos jogadores da seleção brasileira a comer pasta de dente para sentir indisposição e não enfrentar Portugal, partida decisiva para que o Brasil passasse às quartas-de-final. Realmente, ele não estava em campo naquele jogo em que não só Pelé foi uma vítima da força de Eusébio e companhia. Ele estava doente, com um mal posteriormente diagnosticado como pedra nos rins.
Era chamado de ‘o Canhotinha de Ouro’ pelo futebol inteligente e habilidoso que praticava. Tinha grande sentido de organização e estratégia, era um técnico dentro de campo; lançamentos perfeitos de perto ou de longe, capaz de colocar a bola no peito do atacante a 40 metros de distância; chutes fortes e precisos; ótimo cobrador de faltas; liderança, não tinha papas na língua quando fosse preciso orientar o time ou até mesmo xingar um companheiro, daí o apelido de "Papagaio".
Foi com sua melhor característica, o lançamento, que fez de Roberto e Jair artilheiros no Botafogo, e mais tarde Toninho e Terto, no São Paulo. Mas, além disso, sua grande inteligência lhe deu a posição de comandante não só do meio-campo, mas do time inteiro. Um líder autêntico, que obteve como principal jogador do São Paulo em 70 a 71, dois títulos paulistas que tiraram o São Paulo de uma longa fila. Tanto sabia dar esses lançamentos citados, como um chutão para o lado, quando a coisa estava feia, ou até mesmo atrasar uma bola para seu goleiro após várias fintas na área.
Em 1969 deixou o Botafogo e foi para o São Paulo. Gérson foi um dos maiores estilistas do futebol brasileiro. A técnica e a liderança eram completadas com uma inteligência rara para enxergar o futebol. Sua consciência tática era impressionante. Todo esse talento compensava o fato de fumar como poucos, até mesmo no intervalo das partidas. Foi um dos grandes líderes da seleção de 1970 ao lado de Carlos Alberto Torres e Pelé. Encerrou a carreira no Fluminense em 1975.
Em sua carreira, Gérson quebrou a perna de três jogadores. Um deles num lance acidental (Vaguinho, do Corinthians, em 1971). Os outros dois, não. Um deles foi Mauro, num treino dos juvenis do Flamengo. "Ele vinha para quebrar; eu apenas escorei", disse Gérson. A outra foi num amistoso no Maracanã entre Brasil e Peru. "O De La Torre já havia batido numa porrada de gente. Pedi para o Pelé passar uma bola dividida e entrei com a sola".
A campanha brasileira na Copa de 70, no México, com uma magnífica atuação, não somente de Gérson, mas também de todo o time, deu ao canhotinha um espaço imortal na galeria dos maiores craques que já vestiram a camisa verde e amarela. Em 70, depois da Copa, Pelé, maior ídolo do futebol em todos os tempos, afirmou que Gérson foi um dos jogadores da seleção brasileira com grande parcela de responsabilidade na conquista do tricampeonato. Realmente, ele não só estava em campo naqueles oito jogos sem nenhuma derrota ou empate, como transformou-se, através do noticiário da imprensa mundial, num dos maiores ídolos já aparecidos num campo de futebol. Na Copa do México realizou 3 lançamentos geniais, dos quais um deles contra a Tchecoslováquia foi o mais sensacional, proporcionando a Pelé apenas e tão somente matar a bola no peito e encobrir o goleiro Ivo Viktor.
Em 1976, o jogador protagonizou o que seria um inocente comercial de cigarros. Acontece que o slogan "você também gosta de levar vantagem em tudo, certo?" acabou se tornando o símbolo do Brasil dos aproveitadores. A frase ganhou o nome de Lei de Gérson.
Gérson tinha duas características constantes: no campo era um jogador corajoso, valente, e um líder acima de tudo. Numa bola dividida jamais levou desvantagem. Fora de campo, tinha muito medo de viajar de avião e sempre que podia, evita isso, ele preferia viajar em seu carro, desde que pudesse se integrar à delegação de outro estado.
Gérson abandonou o futebol em 1974, de maneira até certo ponto precoce, pois tinha 33 anos, quando defendia o Fluminense, seu time de coração. “Eu poderia ter continuado no futebol por mais um ano, e o próprio presidente do Fluminense, Francisco Horta, queria isso, me colocando no time para jogar ao lado de Rivellino, revivendo a dupla de 70, no México. Ele me convidou para participar do Campeonato Carioca, Campeonato Nacional, e de uma excursão à Europa. O Dr. Horta queria que eu fizesse um contrato de um ano e fiquei de lhe dar uma resposta. Após consultar minha esposa preferi seguir os conselhos dela para encerrar a carreira."
13 comentários:
Apesar do Gerson ter defendido cores menos nobres além da alvinegra aqui no rio de Janeiro - além de sua preferência confessa pelo time das massas cheirosas - creio que ele merece uma daquelas estátuas no Estádio Olímpico, pois sem dúvida formou um das maiores linhas de ataque do futebol mundial de todos os tempos e soube defender a Estrela Solitária e seus ideais de forma exemplar e magistral. Sou fã do canhota.
Esse é o ponto de todas as questões, Antonio. Não podemos querer atletas só botafoguenses, mas atletas que honrem a camisa e defendam o clube até à última gota de suor da ética, defendendo os nossos ideais. Gérson, pelo que foi e fez no Botafogo, não é menor por torcer por outro clube (Didi torcia pelo mesmo clube) ou por ter ido para outro clube (outros grandes atletas nossos também foram).
Ademais, o Gérson disse há tempos que era 50% Fluminense e 50% Botafoguense. Acredito que tenha uma grande % alvinegra.
Também sou 'fã' do atleta - não do comentarista - porque ele e Didi eram mestres a colocar a bola exatamente onde queriam. Notável!
Abraços Gloriosos!
Boa tarde.
Acredito que Gerson (acabo de ver sua assinatura, sem, no JB, carta endereçada ao FFC, solicitando aposentadoria) seja 33% botafoguense e 67% tricolor. No último 3 a 2, do Fogón sobre o Flu, percebi que ele tinha mais queda para os do talco.
Saudações Alvinegras.
Sim, deve ser isso. Afinal, os do talco foram os primeiros a brilhar aos olhos dele. Mas foi sempre impecável a defender as nossas cores.
Abraços Gloriosos!
Sei não Rui. Até pode ser. Uma estátua. A lista é grande antes dele. PCLima, Didi,Quarentinha, Amarildo, Heleno,Tulio,Manga,Roberto, Loco em espera,
Bem, não pensei em estátuas nem em fila para elas, Loris. Mas, pensando nisso, em minha opinião o Amarildo e o Roberto não foram tão importantes quanto o Gérson; o Túlio pode esperar que ainda está no ativo e é muito novo; e o Loco... bem... eu sou fã do Loco, mas... a emoção do momento não pode toldar a razão de décadas... O Loco fica pelos calcanhares, no máximo pelos joelhos de cada um deles...
Abraços Gloriosos!
Esse aí dispensa comentários, tá certo!?
É, Júlio, dispensa. Ele era notável. Nunca me esquecerei dos seus lançamentos.
Abraços Gloriosos!
Eu tive o privilégio de no Maracanã assistir a 2 finais da taça gb e 2 do carioca em que vencemos todas com grandes atuações do camisa 8 alvinegra e diversas com a amarelinha.Que jogador cerebral que falta faz.Abraços a todos
Luiz Carlos
De fato, o canhotinha merece um lugar no pavilhão de ídolos alvinegros. Afinal, torcendo ou não por outro clube, nunca se dedicou menos ou deixou de desequilibrar a favor do Botafogo.
Quanto ao fato de torcer pelo Fluminense, só podemos lamentar que fora de campo ele não fosse tã genial quanto dentro.
Só uma correção, o Canto do Rio Foot-ball Club nunca encerrou suas atividades. Pelo contrário, está ativo e ainda é um dos mais importantes clubes de Niterói.
A única diferença é que não se dedica mais ao futebol profissional, mesmo tendo tentado retornar alguns anos atrás, quando disputou a terceira divisão carioca.
Concordo, Daniel. Aliás, há cerca d eum ano, quando lhe perguntaram quanto é que torcia opelo Botafogo e quanto torcia pelo Fluminense, ele simplesmente disse: "Boa aí 50% para cada."
Creio que o autor do texto referia-se à extinção do Canto do Rio enquanto time de futebol, não enquanto clube. Talvez o 'português' não lhe tenha saído adequadamente... (Obrigado pela nota)
Abraços Gloriosos!
Todo grande jogador deve ser homenageado, são nossa memória esportiva,Gerson (canhotinho) é um deles.
Sem dúvida! Fala-se perjorativamente de quem fica relembrando o passado. Ora, é o passado que dá Glória a um Clube e reconhece os seus artistas. Por isso temos que saber alimentar cada presente para que o nosso passado nos encha a memória de coisas boas e felizes.
Abraços Gloriosos.
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