Na senda da desmistificação de 21 anos sem títulos publica-se as considerações jornalísticas acerca da extraordinária vitória do Botafogo sobre a seleção da União Soviética.
A imprensa evidencia que o Botafogo fizera “contra a seleção soviética, uma das forças do próximo mundial, a melhor partida da sua excursão”. Eis a notícia publicada em 05.02.1970 no Jornal do Brasil:
Botafogo mostrou técnica e bravura contra URSS
Carlos Eduardo Novais
Especial para o JB
“Caracas – Fim de partida. Os jogadores do Botafogo recebem os aplausos do público venezuelano e correm para o vestiário. Um verdadeiro carnaval estava preparado por alguns brasileiros residentes nesta capital. Dirigentes, técnicos e jogadores se abraçavam. A vitória um tanto inesperada contra os soviéticos, anteontem, por 1 a 0, serviu para que todos esquecessem por momentos as saudades da família e a perda de título no pentagonal do México.
Os dribles desconcertantes de Zequinha, o gol de Roberto, a segurança de Nei e o grande espírito de luta de toda a equipe foram exaltados em meio à vibração geral. Não era para menos. O Botafogo fizera contra a seleção soviética, uma das forças do próximo mundial, a melhor partida da sua excursão. Zagalo lembrou que o time parecia o mesmo da campanha do bicampeonato carioca.
Entre os 15 e 30 minutos do segundo tempo, a equipe brasileira parecia estar em estado de graça. Trocava a bola de primeira, exibia-se em velocidade e técnica. Os soviéticos estavam na roda. Só durante os primeiros 10 minutos de jôgo o adversário conseguiu mostrar alguma coisa, obrigando Cao a realizar grandes defesas. Mas daí em diante foi o Botafogo que dominou. Depois do gol de Roberto, aos 44 minutos do primeiro tempo, aproveitando um passe de Humberto, o time se soltou mais, levando perigo constante até o final dos 90 minutos ao gol soviético. Um pouco mais de calma nos chutes e o placar seria outro.
No vestiário continuava a festa. Alguém lembrou a chegada da delegação, que muitos jogadores atuaram à base de sacrifício. Roberto entrou enfaixado na cintura, ainda sentindo dores da pancada que levou contra o Partizan, no México, quando ficou desacordado. Moreira vomitou muito no intervalo, mas fez questão de continuar. A gratificação foi aumentada para 120 dólares – cerca de NCr$ 540,00.
Quanto aos soviéticos, só o técnico mexicano, Raul Cardenas mostrava-se contente com a sua exibição:
- “Como jogaram mal, que beleza. Tomara que contra a seleção mexicana eles repitam a dose.”
Ontem a delegação botafoguense acordou satisfeita, a maioria dos seus integrantes buscando ansiosamente os jornais locais para saber a opinião da crítica. Alguns jogadores levantaram cansados. O esforço da véspera fora demasiado. Por isso, Zagalo resolveu que não haveria treinamentos, apenas duchas e massagens. Agora resta esperar a partida contra o Spartak, quando o time carioca estará defendendo uma longa invencibilidade em Caracas e tentando desforrar-se da derrota para esta mesma equipe no México durante o pentagonal.”
Texto de enquadramento de Rui Moura (Mundo Botafogo); notícia digitalizada e gentilmente cedida por Mauro Axlace, colaborador do Mundo Botafogo e editor do blogue Aqipossa; imagens de uma Copa do Mundo com Nilton Santos fazendo bicicleta e Garrincha bombardeando a baliza de Yaschin, em jogo contra a URSS.
3 comentários:
Rui,
A tal invencibilidade em Caracas devia-se aos 11 jogos realizados nesta cidade até aquela data. A última, (por sinal a única até 2006(?)) foi contra o Barcelona-ESP no dia 4 de Julho de 1957.
Os 11 jogos que se seguiram até o jogo contra o Spartak Trnava da Tchecoslováquia, resultaram em 8 vitórias e 3 empates.
O Botafogo só voltaria a jogar em Caracas em 1993 contra o Caracas pela Conmebol totalizando 13 jogos de invencibilidade. Essas são as minhas contas pelo menos até o ano de 2006.
Antes dessa invencibilidade quebrada pelo Barcelona em 1957, houve outra que durou 12 jogos com 8 vitórias e 4 empates. As vitórias incluem as 5 primeiras que foram seguidas. Os resultados foram expressivos:
Todos em amistosos em 1950.
6x1 Universidad-VEN
7x2 Combinado La Salle/Loyola-VEN
7x0 Club Itália-VEN
6x3 Combinado La Salle/Loyola-VEN
11x0 Seleção da Venezuela.
A segunda série de invencibilidade que dura até pelo menos 2006 (se houve outros jogos após 2006, por favor me corrija) tem 13 jogos com 10 vitórias e 3 empates. Os últimos 6 jogos foram vitórias alvinegras sendo as 5 últimas sem sofrer gol.
Foram no total, 81 gols marcados e 25 sofridos em 26 jogos onde houveram 18 vitórias, 7 empates e apenas 1 derrota.
3 jogos foram contra seleções:
11x0 Venezuela
1x0 Argentina (Taça Dr. Julio Bustamante)
1x0 União Soviética (Tema da postagem)
Esse é o Botafogo que quase ninguém conhece.
Saudações.
Boa resenha, Mauro. Na etiqueta 'grandes excursões' encontram-se muitos desses jogos. Foi esse Botafogo que rendeu dividendos para hoje ainda ser tão conhecido em todo o mundo, apesar de não ter feito nada em especial no estrangeiro há vários anos.
Abraços Gloriosos!
Os últimos anos foram tristes.
Uma errata minha mesmo:
Errei quando disse que os últimos 5 jogos foram sem sofrer gols. Na verdade, nos 5 jogos só sofremos um. Justamente o do Spartak. No afã de contribuir, anotei apenas 1x0 contra o Spartak, quando na verdade, veremos que foi 2x1.
Sobe assim para 82 gols marcados e 26 sofridos em 26 jogos.
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