sábado, 14 de maio de 2011

Botafogo, 21 anos sem títulos?! (VIII)

Na senda da desmistificação de 21 anos sem títulos publica-se as considerações jornalísticas acerca da conquista do Botafogo, por antecipação, do segundo turno do campeonato carioca de futebol, competição organizada pela Federação Estadual de Futebol do Rio de Janeiro, que foi premiada com a Taça Augusto Pereira da Motta.

A imprensa realçou que o Botafogo não jogou como noutras partidas, tendo perdido o seu ‘cérebro’ Marinho logo nos primeiros minutos de jogo, mas outros atributos lograram a obtenção do título, tal como, por exemplo, a postura de Dirceu referida pelo JB: “pode não ser um craque, mas combate em todas as partes do campo.” Eis a notícia publicada em 16.06.1975 no Jornal do Brasil:

Botafogo vence invicto 2º turno e está na final

“A saída de Marinho, contundido aos sete minutos, quase pôs tudo a perder, mas aos poucos o time do Botafogo voltou a mostrar aplicação e espírito de luta, conquistando invicto o título do segundo turno do Campeonato Carioca ao vencer o Fluminense por 2 a 0, ontem à tarde, no Maracanã, gols de Ademir e Carlos Roberto, um em cada tempo. O time garantiu sua presença nas finais do Campeonato.

O Fluminense aproveitou-se da desarrumação do Botafogo, após a saída de Marinho, e criou várias chances de gol. Mas seu time, evitando dividir as jogadas, porque terça-feira estreia no Torneio de Paris, acabou perdendo para a determinação dos seus adversários. Arnaldo César Coelho foi um ótimo juiz, mas os bandeirinhas se confundiram em alguns impedimentos. A renda somou Cr$ 988 mil 680, para um público de 55 mil 978 pagantes. Assis, Miranda e Ademir foram advertidos com o cartão amarelo.

Equipas: BOTAFOGO – Zé Carlos, Miranda, Chiquinho, Artur e Marinho (Carbone); Carlos Roberto e Ademir; Cremílson, Nilson, Puruca (Rogério) e Dirceu. FLUMINENSE – Félix, Toninho, Silveira, Assis (Edinho) e Marco Antônio; Zé Mário, Cléber e Erivelto; Cafuringa, Manfrini e Mário Sérgio.

Aos quatro minutos a torcida do Botafogo ficou em silêncio: Marinho, só na defesa, deitou no campo, com a mão sobre a coxa. Foi para a lateral, recebeu massagens, mas voltou mancando para o campo, onde ficou apenas alguns minutos. O suficiente para ver uma bela defesa do goleiro Zé Carlos, numa boa conclusão de Manfrini após uma jogada de Cafuringa e Cléber. Logo saiu, para dar lugar a Carbone.

Sem o animador do time, o jogador que atua para o gol, que incentiva os companheiros, o esquema ficou desarrumado. Uma pequena torcida do Flamengo, muito interessada no resultado, chegou até mesmo a vibrar mais que a do Fluminense.

Sem objetividade

Aos oito minutos, o Fluminense teve novamente o gol à sua disposição. Cafuringa investiu pela direita e deu ótimo passe para Manfrini. A conclusão foi boa, mas Zé Carlos voltou a defender com segurança.

O Botafogo, sem ameaçar Félix, marcou seu primeiro gol aos 19 minutos. Silveira fez uma falta sobre Nilson, na quina da grande área, e Dirceu cobrou com um toque para Ademir. A defesa adversária não parecia atenta à cobrança e o jogador colocou a bola entre o goleiro e a trave direita. 1 a 0, o Maracanã vibrou.

Apesar da vantagem, o Fluminense continuou mandando no jogo, dando a impressão de que estava decidindo o título. Tanto forçou que aos 25 minutos Erivelto recebeu uma bola de Mário Sérgio e de dentro da grande área chutou na trave direita de Zé Carlos. No contra-ataque, Puruca ficou livre na frente do gol, mas chutou para fora.

Aos 30, Mário Sérgio, com um drible pela esquerda, deixou Miranda sentado no chão e pouco depois Artur salvou um gol que Toninho ia marcar, depois de boa jogada de Cafuringa.

Futebol antigo

Sem Marinho e Fischer, e com a equipe mostrando um futebol bem inferior ao de algumas partidas anteriores, Zagalo não vacilou em voltar ao seu esquema antigo. Deixou o time todo na defesa e apenas Nilson na frente. A intenção óbvia era fazer gols de contra-ataque, pois sabia que o Fluminense tentaria o empate.

Mas ao adversário, como sempre acontece, faltou objetividade e o Botafogo ampliou o marcador aos 14 minutos. Uma falta de Silveira em Puruca, quase na risca da grande área e que Carlos Roberto cobrou muito bem, no canto direito de Félix, encobrindo o goleiro. 2 a 0, participação assegurada na decisão do campeonato.

O Fluminense então sentiu que não dava mais. Jogava bonito com bom toque de bola, mas, como sempre, nada de gol. Aos 20 minutos a torcida do Botafogo deixou de comemorar o título e voltou a ficar muda. Erivelto investiu com a bola dominada desde o meio-campo, passou por todos os zagueiros, mas demorou a chutar, deixando a defesa se recompor. Logo depois, Erivelto, em outro lance individual, chutou rente à trave de Zé Carlos.

Aos 23 Puruca armou uma boa jogada, deu a Nilson, mas este finalizou por cima e aos 32 Félix teve que ir nos pés do atacante, quando ele entrava livre pela área adentro.

Aos 40 minutos, Manfrini quase marcou, mas o remate de cabeça foi nas mãos de Zé Carlos. A essa altura, a torcida do Botafogo já se sentia campeã.

Botafogo

ZÉ CARLOS – Excelente atuação. Foi o melhor da partida, realizando duas defesas sensacionais logo no início, quando o Fluminense era todo ataque. Apesar de ainda jovem, mostrou a tranquilidade de um veterano.

MIRANDA – Marcou. Mário Sérgio com perfeição, dominando tranquilamente o seu setor.

CHIQUINHO – Atuação firme e sóbria, além de demonstrar grande espírito de luta. Não comprometeu em momento algum.

ARTUR – O melhor dos quatro zagueiros. Joga fino, mas quando se faz necessário decide a jogada como pode.

MARINHO – Só jogou sete minutos. Teve um estiramento muscular ao cobrar uma falta.

ADEMIR – Começou no meio campo, mas acabou jogando 80 minutos na lateral esquerda, onde se saiu bem. Marcou um gol de oportunismo e inteligência.

CARLOS ROBERTO – Incansável no combate aos adversários. Muita garra. No gol de falta, mostrou categoria.

CARBONE – Entrou no lugar de Marinho e não comprometeu, embora atuasse discretamente.

DIRCEU – Pode não ser um craque, mas combate em todas as partes do campo. Por isso mesmo foi muito útil ao esquema que Zagalo adotou.

CREMÍLSON – Atuação muito abaixo da média dos companheiros.

PURUCA – Correu muito, mas mostrou precipitação em vários contra-ataques perigosos do Botafogo.

ROGÉRIO – Entrou quase no fim, mas assim mesmo quase marcou um bonito gol.

NILSON – Mesmo sem ser o bom atacante de outras partidas, deu trabalho aos zagueiros adversários.”

Texto de enquadramento de Rui Moura (Mundo Botafogo); notícia digitalizada e gentilmente cedida por Mauro Axlace, colaborador do Mundo Botafogo e editor do blogue Aqipossa; fotos do gol de Carlos Roberto e da comemoração de Dirceu.

2 comentários:

Aqipossa Informativo disse...

A Taça Augusto Pereira da Motta era como se fosse a Taça Guanabara ou a Taça Rio. Hoje, essas duas últimas Taças são consideradas como títulos. Assim como naquela época, os campeões dos turnos decidiam o Campeonato. Em 1975, infelizmente sabemos que não fomos campeões, mas um título conquistamos.

Como a imprensa hoje quer apenas fazer com que torcedores botafoguenses esqueçam o passado glorioso para que eles possam enganar que o Botafogo é só um time qualquer, a FlaPress, (a única que tem motivos para nos difamar) se aproveitou do fato de termos ficado 21 anos sem um campeonato estadual, e fez com que todos pensassem que eram 21 anos sem título algum.

Felizmente há o Mundo Botafogo que trás o passado à tona de forma concreta e eficaz, para quem quiser ver. Essas informações podem ser encontradas em dicersos locais na WEB, mas só aqui se tem a informação chamando a atenção para detalhes imprescindíveis para que o amor ao alvinegro nunca seja apagado.

Nessa campanha no segundo turno que rendeu o título da Taça Augusto Pereira da Motta, a invencibilidade é apenas mais um toque de qualidade ao troféu.

Mas como o Botafogo é um clube ímpar, uma interessante curiosidade deve ser contada em relação à essa Taça:

O final do primeiro turno em 21 de Abril foi com derrota para o Fluminense. Logo depois, o time viajou para Brasília onde venceu um amistoso contra o CEUB por 4x1. (lembra do CEUB da Taça Independência?)

O início do segundo turno trouxe então a vitória contra o CEUB para a lista dos 11 jogos, ficando assim 12 jogos invictos.

Mas não para por aí. Após o fim do segundo turno, o Botafogo foi novamente à Brasília jogar novamente contra o CEUB. Dessa vez a vitória foi por 3x0 em 21 de junho. Ah... 21 de Junho...

E se você pensa que acabou, a curiosidade é que após esses 14 jogos sem perder, quem nos derrotou novamente, foi o Fluminense em 6 de Julho no início do terceiro turno.

Portanto, iniciando a campanha da Taça Augusto Pereira da Motta uma derrota para o Flu e uma vitória contra o CEUB, ao final da Taça, uma vitória contra o CEUB e uma derrota para o Flu.

Tem coisas que só acontecem ao Botafogo? Claro que tem. A grandeza vem desses detalhes.

Ruy Moura disse...

Mauro, essas coisas só podem acontecer porque no Rio, quiçá no resto do país (não sei se sim se não), os campeonatos e os torneios estão sempre a mudar de designação e de regras. É uma bagunça: Torneio Rio São paulo, Robertão, Taça Brasil, Taças isto e aquilo que são equivalentes à Taça Guanabara e Taça Rio, 2 turnos, três turnos, por decisão, por pontos corridos, etc. Então, é mais fácil menorizar uma conquista quando se pretende ou maiorizar uma conquista quando interessa. E a Flapress é especialista nisso...

Abraços Gloriosos!

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...