segunda-feira, 16 de maio de 2011

Botafogo, 21 anos sem títulos?! (X)

Na senda da desmistificação de 21 anos sem títulos publica-se as considerações jornalísticas acerca de o Botafogo conquistar o segundo turno do campeonato carioca de futebol, competição organizada pela Federação Estadual de Futebol do Rio de Janeiro, que foi premiada com a Taça José Wânder Rodrigues Mendes.

A imprensa referiu que o Botafogo não era a melhor equipa do campeonato e que o seu treinador, Paulo Amaral, “jamais (…) exigiu deles um futebol de muita técnica. O que pediu sempre foi luta, empenho, garra, disposição e coragem. (…) Em Campos, [apresentou-se] um Botafogo sem a empolgação do Fla e sem o brilho do Flu, mas unido, aplicado, sério e consciente. (…) Por isso, com justiça, o Botafogo foi, sem dúvida, o time do segundo turno”. Eis a notícia publicada em 19.07.1976 no Jornal do Brasil:

Um time sério e consciente, assim foi o Botafogo no segundo turno

Nada reflete melhor o que foi o segundo turno do Campeonato Carioca de Futebol do que o comportamento dos três principais candidatos nos dois jogos de ontem: no Maracanã, um Flamengo empolgado, mas taticamente mal armado, sem opções de jogada para suprir a falta de seu melhor jogador, Zico; ainda no Maracanã, um Fluminense tecnicamente brilhante, de futebol ofensivo e vistoso, mas pagando caro pelo estrelismo de alguns de seus craques, pela indisciplina de outros e pelos nervos tensos de outros mais; e em Campos, um Botafogo sem a empolgação do Fla e sem o brilho do Flu, mas unido, aplicado, sério e consciente.

Por isso, com justiça, o primeiro lugar ficou com o Botafogo. Por isso, também com justiça, Flamengo e Fluminense ainda não asseguraram uma vaga no turno final e já se sabe que pelo menos um dos dois ficará mesmo de fora.

O Botafogo foi, sem dúvida, o time do segundo turno. O melhor exemplo disso pode ser tirado de uma passagem do jogo de ontem, em Campos. Aos 20 minutos, Carbone sentiu o joelho esquerdo e teve que deixar o campo. A princípio ainda tentou continuar, mas não conseguiu. A perna estava bamba e ao tentar um passe, acabou caindo. Levantou-se e pediu substituição. Rubens, um moreno de mais de 1,80m de altura e peito largo, se aqueceu com o preparador físico Luís Henrique e com passadas longas ficou se movimentando na lateral, enquanto aguardava a saída de Carbone, que era lenta, muito lenta, porque o jogador não conseguia pisar certo, devido à contusão.

A torcida, que naquele instante aplaudia a entrada de Rubens, não pôde notar o desespero de Carbone, que caminhava para o vestiário vagarosamente, com os olhos cheios de lágrimas. Nesse instante, Paulo Amaral correu para junto do jogador, que aumentou seu choro abraçado ao braço forte de seu técnico. Pelo escuro corredor, Carbone continuou com sua dor, amparado pelo supervisor Dante e, mais tarde, pelo Dr. Lídio Toledo. No intervalo da partida, todos os jogadores desceram depressa ao vestiário, preocupados com o companheiro.

Esse gesto de união e amizade serve bem para mostrar a razão do Botafogo ter conquistado o segundo turno. No clube não existe a vitória individual e sim a força do conjunto. Todos vibram juntos, como na festa do gol de Nilson, quando técnico, supervisor, médico, diretor e reservas formaram um só bloco em torno do atacante, que havia corrido até eles em mais uma festa de gol.

Assim tem sido sempre. O Botafogo jamais conseguiu agradar pelo futebol artístico, da técnica individual de um jogador, e sim pela luta e disposição com que todo o time soube buscar a vitória.

O importante é que o técnico Paulo Amaral conseguiu fazer de uma equipe desmotivada no primeiro turno – no qual chegou em último lugar – a campeã do segundo. Tudo na base da amizade. Bastou uma conversa amiga com Mário Sérgio, um incentivo a mais para Miranda, um aplauso firme para Ademir e mais tranquilidade e confiança para Cremilson, Marco Aurélio e outros jogadores.

O certo é que jamais Paulo Amaral exigiu deles um futebol de muita técnica. O que pediu sempre foi luta, empenho, garra, disposição e coragem. Felizmente para o técnico, isso os jogadores souberam oferecer. Em todo o segundo turno o time nunca se preocupou em jogar bonito para sua torcida. O Botafogo foi nessa fase uma equipe de trabalhadores do goleiro ao ponta-esquerda. Às vezes, um ou outro conseguiu se destacar quase por necessidade, nunca com a intenção de ser superior ou de se exibir.

O ambiente de humildade e união ganhou tanto destaque que até mesmo Marinho, estrela maior da equipe, sentiu-se inseguro em voltar a sua posição, preocupado em não quebrar o ritmo constante, executado atualmente por todo o time. Talvez por isso e que Marinho foi ontem, em Campos, um jogador bem mais sério que em outras ocasiões. Jamais se excedeu num drible. Esteve sempre preocupado em participar do conjunto e mesmo assim conseguiu buscar lances de maior categoria.

No fim do jogo, o time todo se abraçou. O técnico justificou a vitória dizendo que tinha sido mais uma tarde de luta. Mário Sérgio guardou sua camisa molhada de suor e, no canto do vestiário, se abraçou ao presidente e a ofereceu de presente. Carbone, deitado num dos bancos, com saco de gelo sobre o joelho esquerdo, agradecia o carinho dos companheiros, que não se cansaram de abraçá-lo. Paulo Amaral brincava com os jogadores, com a alegria de uma criança em dia de aniversário.

A verdade é que foi esse ambiente que fez o Botafogo, um time de futebol modesto, mas de muita luta e coração, vencer uma fase do campeonato, onde nem sempre a técnica e a arte de uma equipe são suficientes para levá-la à vitória.

Texto de enquadramento de Rui Moura (Mundo Botafogo); notícia digitalizada e gentilmente cedida por Mauro Axlace, colaborador do Mundo Botafogo e editor do blogue Aqipossa.

Sem comentários:

Botafogo Campeão Metropolitano Sub-12 (todos os resultados)

Equipe completa. Crédito: Arthur Barreto / Botafogo. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo sagrou-se Campeão Metropolitano...