“Na madrugada de terça-feira [24
de agosto de 1954], após ouvir o ultimato de Zenóbio e Mascarenhas de Morais
(chefe do EMFA), Getúlio escreveu a Carta-Testamento e suicidou-se. Atendendo
ao libelo do presidente morto, que a “imprensa sadia” não podia censurar, no DF
e em várias capitais, multidões tomaram as ruas, procurando destruir tudo que
se referisse ao imperialismo, à UDN e ao resto da reação. “Morram Lacerda,
Eduardo Gomes e Roberto Marinho” – gritava a massa enfurecida. A Rádio Globo
foi atacada. Exemplares do jornal O Globo
foram empilhados e incendiados nas ruas. Os carros da reportagem desse
jornal foram virados. Na fachada da Tribuna
da Imprensa, os funcionários foram obrigados pela multidão a hastear a
bandeira nacional a meio-pau. Um popular foi preso quando gritava: “Queremos a
cabeça de Lacerda”. Foram apedrejados os edifícios da Standard Oil, Light
(Blond & Share), Companhia Telefônica Brasileira (ITT), etc. A Embaixada
dos EUA só escapou porque a Polícia do Exército instalou no saguão um ninho de
metralhadoras. Dezenas de dirigentes de sindicatos operários foram presos pelo
nazista Cecil Borer, chefe do setor trabalhista do DOPS. Na quarta-feira, dia
do translado do corpo de Vargas para São Borja, gigantescas manifestações
enfrentaram a repressão.
Abellard França chegou a convocar
o Arbitral, propondo a interrupção do campeonato por uma semana. Entretanto,
recuou na quarta-feira e o futebol seguiu em frente.
No domingo, o Botafogo compareceu
a Conselheiro Galvão, de tantas más recordações (1949, 1951). Foi respeitado 1
minuto de silêncio por Vargas. Em sinal de luto, o Botafogo usou meias cinzas
(pela primeira vez).”
Excerto autorizado pelo autor. In: VILARINHO, C. F.
(2013). O Futebol do Botafogo 1951-60. Rio de Janeiro: Edição do Autor, pp. 103
e 104.
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