Publicação da 3ª parte de excerto inédito extraído do
III volume de O Futebol do Botafogo, obra de Carlos Vilarinho, ainda por
publicar. O I volume desta grandiosa e magnífica obra de pesquisa sobre a vida
botafoguense pode ser adquirido nas principais livrarias ou através do sítio www.ofuteboldobotafogo.com.
3ª
Parte do excerto extraído do III volume:
por
CARLOS FERREIRA VILARINHO
especialmente para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário e historiador do
Botafogo de Futebol e Regatas
“Na terça-feira, o Brasil decidiu sua
sorte. Como era provável a vitória da Hungria sobre a Bulgária, o Brasil teria
de vencer Portugal por 3x0 ou mais. Então, Feola enforcou-se com a própria
corda, fazendo nove alterações. Manga (na falta de Gilmar) e Rildo entraram
numa fria. Denílson voltou, mas quem saiu foi Gérson (crucificado). Jairzinho
foi escalado na direita. Silva foi imposto pela imprensa. Pelé voltou com tudo.
Nascimento e Paulo Amaral queriam Tostão, mas Feola não cedeu (ameaçou
demitir-se): escalou Paraná.
Rola a pelota. Com 40 segundos, batendo
uma falta próxima ao bico esquerdo da área, Eusébio vence a barreira com um
tijolo que quica no chão e explode no peito de Manga. Orlando protege. Simões
tromba com ele. O couro espirra. Orlando divide com Torres. Manga mergulha,
abraça o couro, mas se machuca. Aos 2, Torres corta um passe de Denílson. Gira
no grande círculo e toca para Eusébio. Deste a Simões. Eusébio recebe nas
costas de Brito e atira outra bala (desviada na zaga). Aos 9 e meio, próximo à
meia lua, Pelé gira, mas leva um pontapé de Morais. Coluna completa o serviço.
Aos 15, Simões toca para Eusébio, que bate Brito com um giro de corpo e cruza
do fundo. Manga só consegue tocar a bola com a ponta dos dedos e Simões enfia a
testa: 0x1. Um soco resolveria. Portugal, armado em 4-5-1, dita o ritmo
(frenético). Aos 26, Coluna cobra a falta de Rildo em Eusébio. Torres vence
Brito e cabeceia para Eusébio, que supera Orlando e enfia a testa, cara a cara:
0x2. O Brasil desperta do sono. Aos 30, Jairzinho cruza. Silva disputa na
cabeça, mas perde para Morais. Pelé apanha a sobra, mas leva um chute de
Morais. Pelé cai de quatro, tenta se levantar, mas sofre uma segunda agressão,
ainda mais violenta. O inglês George McCabe se limita a apontar a falta. Só aos
33, Pelé sai de campo, amparado nos ombros de Hilton Gosling e Mário Américo.
Aos 36, Lima estica para Jairzinho, que invade a área pela esquerda. Vicente é
driblado e dá a rasteira. Morais completa com um tranco por trás. Pênalti!
Parado no grande círculo, McCabe acha normal. Meio minuto depois, Pelé retorna
mancando. Aos 37, Silva divide. Jairzinho apanha a sobra, invade em diagonal e
fuzila quase da pequena área, mas Pereira defende com muita chance. Aos 45, na
cobrança de uma falta violenta sobre Paraná (na direita), Silva atira uma bomba
que raspa o travessão.
Na etapa final, Pelé voltou com o joelho
direito enfaixado e plantou-se na esquerda, deslocando Paraná para a outra
ponta. Rildo e Lima adiantaram-se. Aos 5, Simões desarma Fidélis e dispara até
o bico da área. Eusébio recebe, passa por Fidélis e fuzila de canhota, quase do
bico da pequena área, mas Manga defende sensacionalmente e Brito alivia. Por um
triz, Jairzinho não reduz aos 14. Aos 19, Jairzinho ganha a disputa, penetra e
atira violentamente do bico da pequena área, mas o couro passa zunindo, rente à
forquilha direita. Aos 25, Manga pratica uma defesa espetacular num tiro livre
executado por Eusébio de longa distância. Aos 28, Pelé toca para Rildo (ótimo).
Próximo à meia lua. Jairzinho recebe e devolve para Rildo, que dispara da
entrada da área, vazando o canto direito: 1x2. Aos 32, na risca da grande área,
Silva recebe de Paraná e toca para Jairzinho, que invade a pequena área e
devolve, mas não encontra Silva, parado lá atrás. Aos 40, lançado por Morais,
Eusébio bate Rildo na corrida, invade a grande área e fuzila a meia altura no
canto direito, mas Manga evita o gol certo. Córner! Eusébio toca para Simões
cruzar. Torres sobe mais que Brito e cabeceia para Eusébio (mais rápido que
Orlando) queimar de sem-pulo: 1x3. Manga não merecia este gol.
Na quarta-feira, o circo pegou
fogo. Em várias capitais, a polícia reprimiu multidões que tentavam agredir
cidadãos ou apedrejar estabelecimentos comerciais identificados com Portugal.
Feola e Nascimento foram “enterrados” e “enforcados”.
Em Liverpool, a Hungria derrotou a
Bulgária (3x1) e ficou com a segunda vaga. Foi-se o tricampeonato.”
Excerto autorizado pelo autor. In: VILARINHO, C. F. O
Futebol do Botafogo 1966-70. Rio de Janeiro: Edição do Autor, no prelo.
7 comentários:
Esse jogo esta quase completo no youtube, apesar do resultado negativo para nós brasileiros, foi realmente um jogaço e com jogadas de alto nível técnico, como era de costume naquela época. O jogo anterior Brasil x Hungria está numa lista das maiores partidas da história da copas. Nível técnico altíssimo, parecia "Harlem globe trotters" Tanto do lado brasileiro como do húngaro foi um festival de jogadas de pura categoria!
Eu tenho o jogo completo. Passou na TV portuguesa há pouco tempo e gravei. Grande jogo. O jogo que mostrou aos brasileiros mais idiotas (todos os povos têm os seus idiotas) que embora Portugal fosse / seja um país pequeno, é grande no futebol.
Eu estava no Brasil e ainda me lembro de terem assaltado lojas de portugueses em represália...
Em Portugal, quando o Brasil nos ganha justamente, reconhecemos, e quando o Brasil ganha aos outros, ficamos contentes.
Um locutor desportivo disse esta semana, durante a Gala da FIFA, a propósito das escolhas de Ronaldo e de uma aopresentadora brasileira para a final ideal - em que ambos escolheram para a final da CM 2014 o Brasil contra outras seleções que não Portugal - o seguinte: "os brasileiros são irmão para nós, mas nós não somos irmãos para eles". Uma pena, porque Portugal teve bum papel fundamental na emergência do Brasil desde que a corte Portuguesa rumou para o Rio de Janeiro em 1808, levando 15.000 pessoas da nobreza e a modernidade europeia da época, além de ter sido o colonizador das Américas Central e do Sul a não dividir as terras em mil países, como fizeram os espanóis para reinarem dividindo, mas traçando fronteiras para a constituição de um grande país.
Abraços Gloriosos!
Ah... e terminámos fazendo o trabalho completo ao ser um príncipe português a declarar a independência do Brasil.
Abraços Gloriosos!
Marco, e se fizesses uma charge sobre 'El Tanque' para publicar assim que ele fosse anunciado?...
Abraços Gloriosos!
Faço sim...
Eu sinceramente não sabia desse episódio lamentável, que vergonha!
Essa camisa da seleção Portuguesa era uma das camisas mais bonitas que eu ja vi um selecionado usar, linda!
Eu cheguei a comprar uma réplica com o numero 13 verde as costas e dar ao meu pai que era português, sportinguista e botafoguense, é lógico.
Caramba, eu e seu pai temos características bem comuns: português, botafoguense, sportinguista!
Não há uma foto dele com a camisa do Glorioso para publicação? Seria uma honra...
Abraços Gloriosos!
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