por Gustavo Grohmann,
jornalista
João Alves Jobim Saldanha foi um dos melhores
jornalistas que o Brasil já produziu. Audacioso, crítico, astuto, João foi um
marco no jornalismo brasileiro, principalmente com suas fantásticas histórias.
Se verdade ou não, era apenas um detalhe.
Certo dia, no ano de 1976, estava na redação do Jornal
do Brasil. Na época, apenas um foca, seguia de pertinho os passos do
botafoguense fanático Roberto Porto. João Máximo, então editor do JB, me chamou
em sua sala e pediu pra que entregasse a Roberto Porto uma pauta sobre o Botafogo.
Porto deveria fazer uma espécie de funéreo da sede do Botafogo, de General
Severiano, vendida à Vale do Rio Doce. Lembro-me que o título da matéria era
“Botafogo vende sua história a metro quadrado”. Roberto Porto me confidenciou
que acha, até hoje, um dos melhores títulos já pensados por ele.
Porto investigou, pegou informações aqui e ali, ligou
para o pessoal do Botafogo, e mergulhou em seu texto. Lá pelas tantas, João
Saldanha chegou ao lado de Porto e com a curiosidade que lhe era peculiar,
soltou: “O que é que você está escrevendo tão absorvido?”. Eu, menino novo,
resolvi poupar Porto da resposta e expliquei toda a pauta, tim-tim por tim-tim.
Foi então que Saldanha, fazendo um gesto espalhafatoso com as mãos, interrompeu
as dedilhadas de Roberto Porto e, olhando em nossos olhos, falou: “Pois vou
lhes contar uma coisa que vocês não sabem. Em 1912, quando o Botafogo recebeu o
terreno por aforamento do Ministério da Saúde, um português que consertava
carruagens e tílburis, tinha um barraco no meio do terreno, e de lá, não queria
sair. Eu então, chamei uma rapaziada (nisso, virou-se para Sandro Moreyra,
também jornalista do JB, como para confirmar a história), inclusive o Sandro, e
à noite fomos lá e tacamos fogo no barraco. Só assim, o português deu no pé”.
Após o relato, João se despediu e saiu. Eu e Roberto
Porto nos entreolhamos, com uma única indagação, mas que não se fazia
necessária: “Será que é verdade, ou é mais uma história de Saldanha?”. Foi
então que Sandro Moreyra, curioso sobre o assunto chegou perto e perguntou: “O
que é que João contou a vocês e me fez confirmar?”. Explicamos toda a situação
e Sandro respondeu para Roberto Porto: “É melhor você não colocar isso aí. O
João nasceu em 1917, e eu, em 1919. Ele disse que isso aconteceu em 1912,
portanto...”.
Depois da confissão de Sandro, Roberto Porto,
logicamente, não escreveu nada sobre isso. E mais uma das fantásticas histórias
de João Saldanha, passaria em branco... pelo menos, até agora.
Esse era João Saldanha. Jornalista, crítico de arte,
gastrônomo, crítico de cinema, enólogo, técnico de futebol... sobretudo, um
excelente contador de histórias. Pra falar a verdade, não era necessária tanta
criatividade. Sua vida era uma verdadeira história, mesclando ficção e
realidade, causando sempre uma polêmica. E tudo começou muito cedo, logo com
seu nascimento.
2 comentários:
Por essa e outras que sou fa incondicional do Joao sem Medo.
E eu idem aspas aspas. Só não votava nele para presidente porque ele dedendia que o BFR devia ter apenas a modalidade de futebol. De resto, poderia ser um presidente fundamental para varrer o lixo que se acumula nos cantos da casa e debaixo dos tapetes de General Severiano.
Abraços Gloriosos!
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