segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

João Saldanha: entre a ficção e a realidade

por Gustavo Grohmann, jornalista

João Alves Jobim Saldanha foi um dos melhores jornalistas que o Brasil já produziu. Audacioso, crítico, astuto, João foi um marco no jornalismo brasileiro, principalmente com suas fantásticas histórias. Se verdade ou não, era apenas um detalhe.

Certo dia, no ano de 1976, estava na redação do Jornal do Brasil. Na época, apenas um foca, seguia de pertinho os passos do botafoguense fanático Roberto Porto. João Máximo, então editor do JB, me chamou em sua sala e pediu pra que entregasse a Roberto Porto uma pauta sobre o Botafogo. Porto deveria fazer uma espécie de funéreo da sede do Botafogo, de General Severiano, vendida à Vale do Rio Doce. Lembro-me que o título da matéria era “Botafogo vende sua história a metro quadrado”. Roberto Porto me confidenciou que acha, até hoje, um dos melhores títulos já pensados por ele.

Porto investigou, pegou informações aqui e ali, ligou para o pessoal do Botafogo, e mergulhou em seu texto. Lá pelas tantas, João Saldanha chegou ao lado de Porto e com a curiosidade que lhe era peculiar, soltou: “O que é que você está escrevendo tão absorvido?”. Eu, menino novo, resolvi poupar Porto da resposta e expliquei toda a pauta, tim-tim por tim-tim. Foi então que Saldanha, fazendo um gesto espalhafatoso com as mãos, interrompeu as dedilhadas de Roberto Porto e, olhando em nossos olhos, falou: “Pois vou lhes contar uma coisa que vocês não sabem. Em 1912, quando o Botafogo recebeu o terreno por aforamento do Ministério da Saúde, um português que consertava carruagens e tílburis, tinha um barraco no meio do terreno, e de lá, não queria sair. Eu então, chamei uma rapaziada (nisso, virou-se para Sandro Moreyra, também jornalista do JB, como para confirmar a história), inclusive o Sandro, e à noite fomos lá e tacamos fogo no barraco. Só assim, o português deu no pé”.

Após o relato, João se despediu e saiu. Eu e Roberto Porto nos entreolhamos, com uma única indagação, mas que não se fazia necessária: “Será que é verdade, ou é mais uma história de Saldanha?”. Foi então que Sandro Moreyra, curioso sobre o assunto chegou perto e perguntou: “O que é que João contou a vocês e me fez confirmar?”. Explicamos toda a situação e Sandro respondeu para Roberto Porto: “É melhor você não colocar isso aí. O João nasceu em 1917, e eu, em 1919. Ele disse que isso aconteceu em 1912, portanto...”.

Depois da confissão de Sandro, Roberto Porto, logicamente, não escreveu nada sobre isso. E mais uma das fantásticas histórias de João Saldanha, passaria em branco... pelo menos, até agora.

Esse era João Saldanha. Jornalista, crítico de arte, gastrônomo, crítico de cinema, enólogo, técnico de futebol... sobretudo, um excelente contador de histórias. Pra falar a verdade, não era necessária tanta criatividade. Sua vida era uma verdadeira história, mesclando ficção e realidade, causando sempre uma polêmica. E tudo começou muito cedo, logo com seu nascimento.

2 comentários:

Unknown disse...

Por essa e outras que sou fa incondicional do Joao sem Medo.

Ruy Moura disse...

E eu idem aspas aspas. Só não votava nele para presidente porque ele dedendia que o BFR devia ter apenas a modalidade de futebol. De resto, poderia ser um presidente fundamental para varrer o lixo que se acumula nos cantos da casa e debaixo dos tapetes de General Severiano.

Abraços Gloriosos!

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