O
Sporting Clube de Portugal teve uma série de presidentes seguidos que não
estiveram à altura do cargo de presidente de um dos maiores clubes do mundo,
que é o 3º melhor do mundo em títulos coletivos mundiais e europeus
conquistados em todas as modalidades (atrás de Barcelona e Real Madrid), que
possui a 2º melhor Academia do mundo e cujo enraizamento nos quatro cantos do
planeta se faz através de 300 filiais.
Particularmente
o último presidente, que não durou mais de dois anos e teve que se demitir por
pressão dos sócios, foi quase tão pernicioso como o NÓDOA, atual presidente do
Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Há um ano e meio, Botafogo e Sporting
equivaliam-se quanto a desastres presidenciais. O Sporting obteve a sua pior
classificação de sempre no campeonato nacional de futebol e não foi às competições
europeias. O clube estava publicamente tão enxovalhado como o nosso Botafogo. Todos
o desconsideravam, tal como desconsideram o Botafogo, ambos os casos em virtude
de passados gloriosos que nenhum dos adversários brasileiros e portugueses têm.
Eis
quando o candidato que perdera as eleições há dois anos – porque não inspirava
confiança por ser muito jovem e prometer a entrada de capitais que não revelou
as origens (o que é normal, guardando o trunfo para si no futuro) – se
apresenta ao sufrágio de abril passado. Como diz o provérbio popular que
“perdido por cem, perdido por mil”, eis que os associados – todos com direito a
exercer os seus votos consoante a sua antiguidade – decidiram votar em Bruno de
Carvalho (BdC), o jovem e enigmático presidente.
Normalmente
as esposas dos vencedores asseguram à comunicação social que o clube, o país,
ou outro beneficiário qualquer, ficam bem servidos de presidente. A esposa de
Bruno de Carvalho – que tratou de se sumir da comunicação social, como é normal
– disse apenas estas palavras aos microfones da comunicação social: “Saiu a
sorte grande ao Sporting”.
Gravei
a frase, mas não acreditei. Por tanto mal que os cartolas fizeram ao Sporting,
a prudência aconselhava a uma postura racional, tanto quanto os adeptos do
vencedor o cognominaram “Presidente do Povo”. E eu gosto pouco de popularismos
que muitas vezes acabam mal.
Pois
bem, meus amigos, hoje pode-se dizer que há um ano e meio saiu a sorte grande
ao Sporting.
O
presidente, no seu primeiro ato, reescalonou a dívida do clube junto das
entidades bancárias, que pensavam ser BdC um alvo manso a enrolar como fizeram
com os outros presidentes. O homem levantou-se da mesa de negociações e bateu
com a porta, responsabilizando a banca por ter critérios diferentes daqueles
aplicados ao Benfica e ao Porto. Botou a boca no trombone, a banca chamou-o
novamente à mesa de negociações e BdC conseguiu a reestruturação financeiura
que queria.
A
seguir, fez uma reorganização administrativa, demitindo os amiguinhos dos
cartolas anteriores e até mesmo dirigentes que há anos viviam à custa do
Sporting. Depois foi buscar um novo diretor de futebol sportinguista, que já
foi campeão pelo clube como jogador e treinador, e também contratou um jovem
treinador sportinguista que estava treinando um clube grego.
Em
seguida negociou com todos os atletas que ganhavam exorbitâncias, enxugou os
custos mensais dos salários e foi contratar novos atletas aos estados Unidos da
América, à Argélia, à Colômbia, ao Japão, enfim, a uma série de sítios aos
quais enviou os seus colaboradores mais próximos para referenciação de atletas
prometedores, fazendo aí as novas contratações e estiuopulando cláusulas de
rescisão no valor de 30 a 45 milhões de euros a fim de segurar os jogadores
relativamente aos ‘poderosos’ da Europa que têm dinheiro para comprar este
mundo e o outro. Por exemplo, BdC vendeu um centroavante por 10 milhões de
euros e comprou outro centroavante pouco conhecido, que se tornou artilheiro,
por 5 milhões, com uma cláusula elevada. Sobraram cinco milhões para investir.
Outro exemplo: foi buscar Marcos Rojo a um clube russo e Slimani a um clube
argelino – Rojo em muito má fase de carreira e Slimani completamente
desconhecido, comprados por apenas 300 mil euros. E, contudo, recusou a venda
do goleiro da Seleção de Portugal por 12 milhões de euros, uma quantia
absolutamente exorbitante para o passe de um goleiro. Porém, ele sabia que
aquele era o Jefferson sportinguista, o goleiro que agarra tudo e defende penalties. Finalmente, fixou o orçamento
para o plantel de futebol em 25 milhões de euros para a temporada e partiu para
a luta. Abreviando: terminou o campeonato em 2º lugar, com seis pontos de
vantagem sobre o tricampeão Porto e garantiu entrada direta para a fase de
grupos da Liga dos Campeões, assegurando desde logo um prêmio da UEFA no valor
de 8,6 milhões de euros, que podem ir a 12 milhões se o Sporting se classificar
na fase grupos e mais ainda se conseguisse manter-se na competição.
Ao
longo de um ano e meio, BdC recuperou a credibilidade do clube, levou-o
novamente à elite europeia e fez os adversários respeitarem-no novamente. Foi o
primeiro presidente de todos os clubes a fazer frente ao presidente do Porto,
Pinto da Costa (PC), no cargo há mais de 30 anos e dinossauro do futebol português.
Quando PC atacava, BdC retrucava com um ataque mais forte ainda. Quando PC quis
impugnar um jogo que perdeu para o Sporting por alegada pressão pública sobre
as arbitragens (altamente favoráveis ao Porto e ao Benfica), BdC sugeriu que a
senilidade é uma doença que costuma atacar depois dos 70 anos. E chegou ao
ponto de afirmar que depois de PC partir, ele ainda ficará por cá muitos anos…
Eis,
então, que surge a Copa do Mundo. O Sporting tem cinco atletas convocados,
quatro dos quais titulares: Rui Patrício e William Carvalho (ambos revelados na
Academia), pela Seleção de Portugal; Marcos Rojo, pela Seleção da Argentina;
Slimani, pela Seleção da Argélia.
Todos
os quatro se saíram bem, mas especialmente Marcos Rojo e Slimani, porque as
suas Seleções seguiram em frente, e uma das quais foi à final, destacaram-se
aos olhos dos caçadores de talentos.
BdC
não queria vender nenhum desses jogadores. Rui Patrício (o nosso Jefferson)
estava fora de questão; Marcos Rojo e Slimani seriam para aguentar pelo menos
por um ano; William Carvalho, o melhor de todos, seria muito assediado, mas a
sua cláusula de multa é de 45 milhões – e dificilmente alguém se arriscaria a
comprar o atleta.
BdC
rejeitou as propostas de venda de William Carvalho, e as propaladas propostas
por Marcos Rojo e Slimani não apareceram. Eis senão quando Slimani se recusa a
jogar sem aumento de salário e Marcos Rojo falta a um treino após o Manchester
United anunciar que o compraria por 20 milhões de euros. Estávamos a uma semana
da abertura do campeonato nacional e toda a estratégia contava com Marcos Rojo
na zaga e Slimani em centroavante.
Que
faria o presidente do Botafogo? – Todos sabemos que ele não soletra o verbo
“fazer”, mas sim o verbo “não fazer”. E quanto a BdC, que fez?
BdC
reuniu a cúpula Sportinguista nesse mesmo dia, suspendeu preventivamente ambos
os jogadores e instaurou dois processos disciplinares aos atletas.
No
caso de Marcos Rojo, deve-se dizer que o membro de um Fundo que detém parte do
passe de Marcos Rojo, chegou a Alvalade falando inglês e anunciando-se como
delegado do Manchester United e, simultaneamente, o empresário do argentino
ameaçava, através de mensagens de celular, que se o Sporting não vendesse, Rojo
iria criar ‘problemas’ na Academia.
Tudo
bem montado para dar a volta à cabeça de Marcos Rojo, já que jogar no
Manchester United é o sonho de quase todos os atletas. Porém…
Porém,
existe BdC. No ano passado, Bruma, uma revelação da Academia, fez braço de
ferro com BdC alegando que os dois anos de contrato haviam chegado ao fim e
queria sair a CUSTO ZERO (!) para um clube russo. O empresário fez declarações
televisivas em várias frentes (apoiado pela imprensa benfiquista) e fez um
ultimato ao Sporting. BdC respondeu assim: (a) colocou Bruma a treinar com a
equipa B; (b) antes desse contrato caducar, Bruma havia assinado outro que
estava em vigor, e então BdC apelou ao Tribunal. Bruma apercebeu-se que iria
ficar sem jogar e entregue a treinos na equipe B, o que se agravou quando o
tribunal favoreceu as pretensões do Sporting por unanimidade. Então, Bruma
dispensou o empresário e decidiu que já não queria sair a custo zero, mas após
negociações. E saiu pelo valor que BdC entendeu adequado.
Depois
foi o brasileiro Elias – cathartiforme do clube carioca e cathartiforme do
clube paulista – cujo paizinho pensava que o Sporting ainda era a Casa da
Joana. Novo Braço de Ferro porque BdC só vendia Elias por 8 milhões. O paizinho
de Elias andou minando toda a imprensa portuguesa e brasileira, fazendo de
Elias um mártir às temíveis mãos de um carrasco impiedoso. A imprensa
brasileira embarcou na conversa do paizinho de Elias, e cheguei a ler que o
Sporting estava falido e que era absurdo não aceitar a venda de Elias por 5
milhões. BdC manteve-se sereno e Elias perdendo oportunidaes de jogar e de
render, afigurando-se um horizonte em que não conseguiria sair do Sporting e
não conseguiria jogar – arruinando a carreira. O Corinthians acabou por
comprá-lo por 8 milhões…
Voltemos
a Rojo e Slimani. Ambos suspensos. Ambos sem serem sequer integrados na equipe
B. Ambos com contratos ainda de três anos. Ambos com cláusulas rescisórias de
30 milhões de euros.
BdC
deu uma entrevista à TV Sporting da qual destaco as seguintes palavras
(citações; negrito da responsabilidade do Mundo Botafogo):
“O
meu discurso não mudou. O Sporting não advoga nenhum gênero de vedetismo. O
Sporting age da mesma maneira com um jogador que foi ao Mundial, que não foi ao
Mundial, ou que tenha propostas de milhões ou que não tenha proposta nenhuma.
Mais importante que ter um grupo de jogadores é ter um grupo de trabalho que se
sinta preparado. Há dois jogadores que não compreenderam as alterações que
foram feitas no Sporting.”
“Rojo
e Slimani estão sob a alçada disciplinar do Sporting. A ambos falta cumprir
três anos de contrato. Têm contrato. O
Sporting não cede a chantagens, pressões, interesses de agentes e muito menos
de fundos. Não cede a atitudes de interesses que desrespeitam o clube.”
“Em
primeiro lugar, o clube; em segundo lugar, os seus associados e adeptos; em
terceiro lugar os grupos de trabalho. Eu
não troco a honra do clube, a história do clube, a honra dos nossos associados
e do nosso grupo de trabalho por qualquer tipo de atitude de vedetismo seja de
quem for.”
“E
não jogam no sábado. Garantidamente não jogam. Nem na equipe A, nem na B, nem
na C, nem na D, nem na E. Ambos os jogadores tomaram decisões que lhes
provocaram uma situação de indisciplina acentuada dentro do Sporting. Deixo um
recado à navegação: todo o jogador que não siga as regras do clube, esses dois
ou outros, podem ter as pretensões e as vontades todas, mas com esta direção a
situação complica-se. Não usem a imprensa, sejam profissionais. Vamos ver quanto é que este processo vai demorar. Pode
demorar pouco, pode durar muito, mas sábado não está resolvido. O processo pode
acabar com a saída dos jogadores ou pode acabar por terem de cumprir três anos
de contrato.”
Alguns comentários de internautas após a entrevista de BdC e
antes da retratação de Marcos Rojo:
“Curto
e grosso! Muito bem!”
“Que saudades que eu já tinha de ter um presidente assim!”
“Grande presidente! Por mim, até Dezembro ficavam encostados.
Depois, logo se via e caso existisse mudança na atitude, ponderar-se-ia a
questão. Mas até lá querem jogar? Haja quem pague a cláusula.”
“Mais do que os que lá estão, temos que
lançar um aviso aos jogadores que no futuro venham a assinar contrato com o
Sporting: juízo que esta m…. não é o da Joana e os contratos são para cumprir.”
“Temos
um presidente e uma direção, que serve o clube, logo este tipo de jogadas de
bastidores estão lixadas, nem que tenham de ficar os três anos que lhes resta
de contrato sem jogar... Ah pois é, querem brincar? Então aguentem. É melhor
retratarem-se enquanto têm tempo porque a coisa não vai ser fácil, aliás, para
os adeptos eram queridos e agora têm tolerância ZERO.”
“Viva o Sporting! O jogo de sábado vale muito
mais do que três pontos…”
Entretanto,
o Sporting rescindiu, alegando justa causa, o contrato que tinha com o Fundo de
Investimento que detém parte dos direitos sobre Marcos Rojo. BdC liquidou mais
um empresário / Fundo metido a espertalhão.
O
caso Slimani está por resolver. O caso de Marco Rojo foi fácil, fácil. Ante a visão de poder arriscar não jogar
até o Sporting decidir o contrário, ou alguém bater a cláusula dos 30 milhões, Rojo
conversou com o presidente do Sporting, na sexta-feira, e no sábado foi
entrevistado pela TV Sporting. Eis o teor das suas declarações (citações):
“Foi tudo um
mal-entendido, eu estava de cabeça quente, não pensei no que estava a fazer.
Estou arrependido, sinto que não fui profissional. Agora vou corrigir a
situação.”
[Leia-se:
o meu empresário pressionou-me, agi sem profissionalismo e agora vejo que se
não corrijo a situação estarei em ‘maus lençóis’]
“Na última sexta-feira
conversei com o presidente. Já nos entendemos, voltei a treinar na Academia.
Confio no Sporting. O Sporting contratou-me
quando eu não estava no meu melhor momento, deu-me a oportunidade de jogar numa
grande equipa da Europa. Agradeço ao Sporting e a quem trabalha no
clube.”
[Leia-se:
o presidente deu uma lição de ética a Marcos Rojo, deixou bem clara a grandeza
do Sporting e disse-lhe – certamente – que teria que ir a público retratar-se
se quisesse treinar e voltar à titularidade do time principal ou até mesmo negociado noutras condições.]
“Quero dizer a todos
que não procedi bem, mas gosto muito do clube. O que será da minha carreira
depende do clube, do Sporting. Queria deixar bem claro que estou muito feliz no
clube, que gosto muito da forma como me tratam e do carinho que me transmitem
no Sporting.”
[Leia-se:
o futuro imediato de Rojo ao Sporting pertence, e se quer sair para um clube
europeu ricaço, tem que ser como o Sporting quer, sem prejuízo de nenhum dos
lados.]
Hoje, Marcos Rojo foi reintegrado no plantel e já treina com
os seus companheiros.
Em suma, meus amigos, a decisão de BdC
não se pauta pelo imediatismo, pela resolução a qualquer custo de um problema,
pela cedência ao vedetismo e à chantagem; BdC decide em função do futuro. De
agora em diante, qualquer jogador e qualquer empresário que quiser jogar fora
das regras, já sabe com o que conta.
Que grande presidente!
4 comentários:
Realmente o Sporting tirou a sorte grande com BdC e nós, nós botafoguenses temos um dos cavaleiros. A grande diferença entre o BdC e o NÓDOA é que o 1º ama e sabe a importância histórica de seu clube e acima de tudo é HOMEM. O segundo é um oportunista que viu em seu clube uma forma de se dar bem enxovalhando sua rica e incomparável história, e acima de tudo é um frouxo. Simples assim meu caro Rui. Realmente o Sporting tirou a sorte grande. Abs e SB!
Rui,
Acho que nunca veremos atitudes como estas no Botafogo.
Haja visto que os candidatos, todos, participaram da péssima gestão do NÓDOA por um bom período e nas duas gestões.
Parabéns ao Sporting!
Pobre do atual Botafogo!
Pobre de nós, Torcedores!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Concordo inteiramente, Sergio. É um frouxo. Além de mentiroso e, evidentemente, de oportunista.
O que me espanta nestes homens que têm a necessidade de se aproveitarem dos clubes é verificar que conseguiram viver tantos anos sem os benefícios dessa liderança e em boas condições socioeconómicas. Então, porquê a filosofia do 'eu' e da 'ganância'? Fará parte da cultura? É intrínseco a quem assume o poder em clube brasileiros ou só no Botafogo é que há Montenegros, Rolins, Palmeiros e Assumpções?
Abraços Gloriosos.
Pois é, Gil. O que me assusta é que nenhum dos candidatos é coisa nova, nem parace ter programa novo sustentado em filosofia nova.
Temo mais do mesmo, e mais do mesmo nesta fase, é o abismo.
Em suma: Pobre do atual Botafogo! Pobres de nós, Torcedores!
Abs. Gloriosos.
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