
Tenho-me enganado algumas vezes com treinadores quando
lhes atribuo créditos excessivos, e a desilusão rapidamente chega. Talvez
porque o desejo de um treinador a sério seja forte, eu tenha tendência a iludir-me de vez em
quando.
Porém, à medida que o tempo configura a pobreza de treino
e de treinadores, as minhas ilusões fenecem perante treinadores do tipo Dodô,
que penduram as chuteiras e vão treinar equipes de futebol sem que se tenham
preparado convenientemente – para um mês depois ser demitido como ocorreu
recentemente com Dodô.
É verdade que o futebol brasileiro não possui boas
escolas de jogadores, de treinadores e de árbitros, mas também é verdade que,
sendo assim, um candidato a treinador deveria inteirar-se da evolução da
carreira, de novas estratégias e dinâmicas de jogo, de novos conceitos táticos
e métodos de treino, entre outros aspectos.
Atualmente, face à nova realidade do futebol mundial, o
peso do treinador nas manobras das equipes aumenta à medida que os atletas
obedecem a rigorosos critérios de preparação técnica, física e emocional,
tornando o técnico o centro das atenções de todos os preparativos dos jogos.
Jair Ventura assegurou categoricamente: “Eu preparei-me!” – e eu quero acreditar
que seja verdade!
Não obstante as convicções que mencionei, a verdade é que
Jair Ventura mudou o comportamento à beira e dentro campo: à beira do campo
transmitiu a energia que não existia, corrigindo constantemente jogadores que
não foram preparados para a disciplina tática exigida nas suas manobras; dentro
do campo insuflou a dinâmica desaparecida ao dotar o futebol botafoguense de mais
alegria e, aqui e ali, de mais explosão sincronizada (que não resultou melhor devido a falhas técnicas individuais).
Pelo menos no conjunto destes dois últimos jogos isso
ocorreu, apesar de o jogo contra o São Paulo ter sido genericamente mal jogado
e não ter acrescentado nada de essencialmente novo. Por isso, é muitíssimo cedo
para validar esta nomeação, claramente de risco face à realidade do Clube na
tabela classificativa e, sobretudo, as dificuldades que Jair terá que superar
com um plantel muito mediano como o nosso – mas que, bem conduzido, dá para não
passarmos sufoco até ao fim do campeonato.
Para já, fez o que Gomes não conseguiu neste ‘brasileirão’:
duas vitórias consecutivas (DEVDDDEVDEVDVEEDVD-VV)
Talvez a saída de Gomes tenha sido a nossa ‘sorte grande’
e o azar de um certo clube paulista que, sistematicamente, atira para o lixo
toda e qualquer ética, toda e qualquer atitude desportiva moral.
Na breve crítica ao jogo anterior escrevi: “O jogo revela, em traços
largos, que o Botafogo pode dar-se bem apostando num sistema de contra-ataque,
já que não tem uma ofensiva consistente. […] Apostar num esquema defensivo
forte, bem treinado e preparado, pode ser a chave para, em contra-ataque, e
aproveitando os inúmeros erros dos adversários, consigamos ganhar jogos
suficientes que nos livrem do sufoco até ao fim do campeonato. […] As deficiências sistemáticas dos
demais 19 clubes permitem alguma esperança para o futuro imediato. […] Ganhar o
próximo jogo seria quase ouro sobre azul.”
Pois bem, ganhamos, e de goleada. Três pontos cheios de
beleza em três gols sem beleza, mas inteiramente feitos com oportunidade e
eficácia futebolística.
A equipe jogou mais solta, parece ter mecanizado mais o
jogo, imprimiu uma nova dinâmica com aberturas a um espectro mais alargado de
terreno, preenchendo melhor as lacunas que posicionamentos equívocos geravam.
Joga com persistência no erro do adversário, e isso foi suficiente para uma
goleada na equipe do ‘sargento zero zero’, também conhecido por ‘monge’.
E Sassalotelli!...
Sim, Sassá brilhou em duas partidas consecutivas. Se Jair foi destaque à beira do campo, Sassá foi o homem
dentro de campo. Não sendo um jogador de elevada craveira técnica, sempre me
agradou pela sua postura desde as categorias de base: trabalhador, presença de área e tirando partido do bom domínio do seu corpo meio desengonçado que engana os adversários.
Sassá é o craque da humildade e da perseverança!
Sassá é o craque da humildade e da perseverança!
Tanto a torcida ‘bateu’ no humilde,
trabalhador e incansável Sassá – valorizando outros 'mascarados' vindos de base que não aproveitaram as oportunidades – e, afinal, vale mais sozinho que os Salgueiros, os
Lizios e os Núñez da mercosul juntos… Decidiu muitos mais pontos a nosso favor do que meia dúzia de contratações equívocas e é vice-artilheiro do campeonato com muito menos jogos do que os atacantes mais eficientes. E, já agora, senhor Antônio Lopes, por onde
andam também os ‘craques’ brasileiros que dão pelo nome de Geovane Maranhão, Anderson
Aquino ou Dudu Cearense?
Jair Ventura conseguirá superar a
barreira dos treinadores impreparados? Jair tem muita experiência das bases, e
nos casos em que assumiu ocasionalmente a equipe principal, não seu deu mal.
Saberia ele que o seu dia havia de chegar face à demissão de um treinador
principal? Preparou-se, por isso, para o efeito? Tem estofo para enfrentar a execrável
gestão de contratações feitas por Lopes? É ele diferente dos outros treinadores
que se relacionam excessivamente com empresários e que escalam à medida de
certos interesses?
Desejo a tudo que sim: que se tenha preparado, que tenha
estofo, que seja diferente! Não irei ao ponto de alimentar a irrazoabilidade de
desejar que brilhe como treinador tal como seu pai brilhou como jogador. Aliás,
nem sequer deve ser comparado ao pai ou a ele relacionado, já que o futuro de
cada homem deve pertencer ao próprio homem. Mas desejo que seja, ainda, o nosso
treinador em 2017. Seria um bom auspício!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x0 Sport
» Gols: Sassá, aos 45'+2 e aos 51' e Camilo, aos 90’+2
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 20.08.2016
» Local: Estádio Radialista Mário Helênio, em Juiz de Fora (MG)
» Árbitro: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS); Assistentes:
Leirson Peng Martins (RS) e Maurício Coelho Silva Penna (RS)
» Público: 4.771 presentes
» Renda: R$ 64.540,00
» Disciplina; cartão
amarelo – Dierson (Botafogo); Samuel Xavier,
Paulo Roberto (Sport)
» Botafogo: Sidão; Luís Ricardo, Renan Fonseca, Emerson Santos e Diogo
Barbosa; Airton (Dierson), Rodrigo Lindoso, Fernandes (Leandrinho) e Camilo;
Neilton e Sassá (Rodrigo Pimpão). Técnico: Jair Ventura.
» Sport: Magrão; Samuel Xavier, Matheus Ferraz, Ronaldo Alves e Renê
(Túlio de Melo); Paulo Roberto, Rithely e Everton Felipe (Lenis); Gabriel
Xavier, Rogério e Edmílson (Luís Ruiz). Técnico: Oswaldo de Oliveira, vulgo
‘monge’ ou ‘sargento zero’.
2 comentários:
Oremos pela boa ventura do Jair.
Zatonio, o pai diz maravilhas dele, ele diz que se preparou, quando esteve a conduzir ocasionalmente a equipe principal não perdeu - ainda é virgem quanto a derrotas. Pode ser - e desejo - que acerte. Seria a 'fortuna' dele, a do Botafogo e a nossa!
Mas... a equipe é ruinzinha, né?... O Jair vai quebrar a cuca para endireitar a geringonça criada pelo Lopes.
Abraços Gloriosos.
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