sábado, 20 de agosto de 2016

Botafogo 3x0 Sport


Tenho-me enganado algumas vezes com treinadores quando lhes atribuo créditos excessivos, e a desilusão rapidamente chega. Talvez porque o desejo de um treinador a sério seja forte, eu tenha tendência a iludir-me de vez em quando.

Porém, à medida que o tempo configura a pobreza de treino e de treinadores, as minhas ilusões fenecem perante treinadores do tipo Dodô, que penduram as chuteiras e vão treinar equipes de futebol sem que se tenham preparado convenientemente – para um mês depois ser demitido como ocorreu recentemente com Dodô.

É verdade que o futebol brasileiro não possui boas escolas de jogadores, de treinadores e de árbitros, mas também é verdade que, sendo assim, um candidato a treinador deveria inteirar-se da evolução da carreira, de novas estratégias e dinâmicas de jogo, de novos conceitos táticos e métodos de treino, entre outros aspectos.

Atualmente, face à nova realidade do futebol mundial, o peso do treinador nas manobras das equipes aumenta à medida que os atletas obedecem a rigorosos critérios de preparação técnica, física e emocional, tornando o técnico o centro das atenções de todos os preparativos dos jogos.

Jair Ventura assegurou categoricamente: “Eu preparei-me!” – e eu quero acreditar que seja verdade!

Não obstante as convicções que mencionei, a verdade é que Jair Ventura mudou o comportamento à beira e dentro campo: à beira do campo transmitiu a energia que não existia, corrigindo constantemente jogadores que não foram preparados para a disciplina tática exigida nas suas manobras; dentro do campo insuflou a dinâmica desaparecida ao dotar o futebol botafoguense de mais alegria e, aqui e ali, de mais explosão sincronizada (que não resultou melhor devido a falhas técnicas individuais).

Pelo menos no conjunto destes dois últimos jogos isso ocorreu, apesar de o jogo contra o São Paulo ter sido genericamente mal jogado e não ter acrescentado nada de essencialmente novo. Por isso, é muitíssimo cedo para validar esta nomeação, claramente de risco face à realidade do Clube na tabela classificativa e, sobretudo, as dificuldades que Jair terá que superar com um plantel muito mediano como o nosso – mas que, bem conduzido, dá para não passarmos sufoco até ao fim do campeonato.

Para já, fez o que Gomes não conseguiu neste ‘brasileirão’: duas vitórias consecutivas (DEVDDDEVDEVDVEEDVD-VV)

Talvez a saída de Gomes tenha sido a nossa ‘sorte grande’ e o azar de um certo clube paulista que, sistematicamente, atira para o lixo toda e qualquer ética, toda e qualquer atitude desportiva moral.

Na breve crítica ao jogo anterior escrevi: “O jogo revela, em traços largos, que o Botafogo pode dar-se bem apostando num sistema de contra-ataque, já que não tem uma ofensiva consistente. […] Apostar num esquema defensivo forte, bem treinado e preparado, pode ser a chave para, em contra-ataque, e aproveitando os inúmeros erros dos adversários, consigamos ganhar jogos suficientes que nos livrem do sufoco até ao fim do campeonato. […] As deficiências sistemáticas dos demais 19 clubes permitem alguma esperança para o futuro imediato. […] Ganhar o próximo jogo seria quase ouro sobre azul.”

Pois bem, ganhamos, e de goleada. Três pontos cheios de beleza em três gols sem beleza, mas inteiramente feitos com oportunidade e eficácia futebolística.

A equipe jogou mais solta, parece ter mecanizado mais o jogo, imprimiu uma nova dinâmica com aberturas a um espectro mais alargado de terreno, preenchendo melhor as lacunas que posicionamentos equívocos geravam. Joga com persistência no erro do adversário, e isso foi suficiente para uma goleada na equipe do ‘sargento zero zero’, também conhecido por ‘monge’.

E Sassalotelli!...

Sim, Sassá brilhou em duas partidas consecutivas. Se Jair foi destaque à beira do campo, Sassá foi o homem dentro de campo. Não sendo um jogador de elevada craveira técnica, sempre me agradou pela sua postura desde as categorias de base: trabalhador, presença de área e tirando partido do bom domínio do seu corpo meio desengonçado que engana os adversários.

Sassá é o craque da humildade e da perseverança!

Tanto a torcida ‘bateu’ no humilde, trabalhador e incansável Sassá  valorizando outros 'mascarados' vindos de base que não aproveitaram as oportunidades  e, afinal, vale mais sozinho que os Salgueiros, os Lizios e os Núñez da mercosul juntos… Decidiu muitos mais pontos a nosso favor do que meia dúzia de contratações equívocas e é vice-artilheiro do campeonato com muito menos jogos do que os atacantes mais eficientes. E, já agora, senhor Antônio Lopes, por onde andam também os ‘craques’ brasileiros que dão pelo nome de Geovane Maranhão, Anderson Aquino ou Dudu Cearense?

Jair Ventura conseguirá superar a barreira dos treinadores impreparados? Jair tem muita experiência das bases, e nos casos em que assumiu ocasionalmente a equipe principal, não seu deu mal. Saberia ele que o seu dia havia de chegar face à demissão de um treinador principal? Preparou-se, por isso, para o efeito? Tem estofo para enfrentar a execrável gestão de contratações feitas por Lopes? É ele diferente dos outros treinadores que se relacionam excessivamente com empresários e que escalam à medida de certos interesses?

Desejo a tudo que sim: que se tenha preparado, que tenha estofo, que seja diferente! Não irei ao ponto de alimentar a irrazoabilidade de desejar que brilhe como treinador tal como seu pai brilhou como jogador. Aliás, nem sequer deve ser comparado ao pai ou a ele relacionado, já que o futuro de cada homem deve pertencer ao próprio homem. Mas desejo que seja, ainda, o nosso treinador em 2017. Seria um bom auspício!

FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x0 Sport
» Gols: Sassá, aos 45'+2 e aos 51' e Camilo, aos 90’+2
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 20.08.2016
» Local: Estádio Radialista Mário Helênio, em Juiz de Fora (MG)
» Árbitro: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS); Assistentes: Leirson Peng Martins (RS) e Maurício Coelho Silva Penna (RS)
» Público: 4.771 presentes
» Renda: R$ 64.540,00
» Disciplina; cartão amarelo – Dierson (Botafogo); Samuel Xavier, Paulo Roberto (Sport)
» Botafogo: Sidão; Luís Ricardo, Renan Fonseca, Emerson Santos e Diogo Barbosa; Airton (Dierson), Rodrigo Lindoso, Fernandes (Leandrinho) e Camilo; Neilton e Sassá (Rodrigo Pimpão). Técnico: Jair Ventura.

» Sport: Magrão; Samuel Xavier, Matheus Ferraz, Ronaldo Alves e Renê (Túlio de Melo); Paulo Roberto, Rithely e Everton Felipe (Lenis); Gabriel Xavier, Rogério e Edmílson (Luís Ruiz). Técnico: Oswaldo de Oliveira, vulgo ‘monge’ ou ‘sargento zero’.

2 comentários:

Zatonio Lahud disse...

Oremos pela boa ventura do Jair.

Ruy Moura disse...

Zatonio, o pai diz maravilhas dele, ele diz que se preparou, quando esteve a conduzir ocasionalmente a equipe principal não perdeu - ainda é virgem quanto a derrotas. Pode ser - e desejo - que acerte. Seria a 'fortuna' dele, a do Botafogo e a nossa!

Mas... a equipe é ruinzinha, né?... O Jair vai quebrar a cuca para endireitar a geringonça criada pelo Lopes.

Abraços Gloriosos.

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