terça-feira, 9 de agosto de 2016

Voz de Maurits Hendriks

Foi uma decisão muito difícil, mas este comportamento é inaceitável. É terrível para o Yuri, mas não temos outra escolha diante de tamanha violação dos nossos valores.” – Maurits Hendriks, chefe de missão da Holanda aos Jogos Olímpicos, ordenando o regresso a casa de Yuri van Gelder, holandês de 33 anos, campeão mundial das argolas em 2006, porque consumiu bebidas alcoólicas nos festejos da sua passagem às finais da competição de argolas dos Jogos do Rio’2016.

Nota do Mundo Botafogo: Eis o melhor exemplo de como se preservam valores para o futuro e se garante a consagração do caminho a seguir por todos os atletas. Ao contrário de uma parte de botafoguenses (e certamente de muitos outros não botafoguenses) que perdoam as maiores indisciplinas desportivas e os piores comportamentos pessoais (por exemplo, os sucessivos perdões de dirigentes e torcedores do Botafogo a Jobson após desrespeitosamente drogar-se, embebedar-se, bater na mulher e até mesmo ser alvo de acusação de estupro], os holandeses e todas as equipes competitivas do mundo não hesitam em punir atletas pelos seus maus comportamentos mesmo que isso implique não ganhar uma medalha dourada ou um título.

Não punir um atleta em tais condições não significa bondade, mas sim uma atitude perniciosa de laxismo que não ajudará o atleta, que, sabendo-se imune a punições e sujeito a perdões sucessivos, não muda o seu comportamento – pelo contrário, agrava-o face ao comportamento laxista de dirigentes e torcidas. Em especial no futebol, enquanto novos comportamentos de dirigentes e torcedores permanecerem no primitivismo atual, não haverá futuro risonho. Preocupo-me pelo Botafogo, que poderia ser o maior Clube brasileiro e não passa daquilo que é já há algum tempo – o Botafogo e todos os outrora grandes clubes brasileiros, ausentes de uma final da Libertadores disputada entre… Atlético Nacional e Independiente del Valle…

Imagem: Reprodução / Instagram

5 comentários:

José Carlos Milito disse...

Como dirigente do Botafogo nos anos 50/60, terias a vontade/coragem de punir o Mané, por suas seguidas mostras de indisciplina, Rui?

Ruy Moura disse...

Os tempos e os valores eram outros, José Carlos. Não há comparação. Nesse tempo o futebol não era profissionalizado e exigente como hoje. Se fosse, na verdade eu não teria que punir Garrincha, porque Garrincha jamais passaria no departamento médico seja de que clube for. Nesse tempo, a arte dos craques era a chave praticamente única do futebol e por isso Garrincha, Didi, Quarentinha faziam as indisciplinas que fizeram, mas hoje não fariam se estivessem em clubes de ponta da Europa, porque seriam dispensados. Mas hoje um clube depende imenso de diretorias profissionalizadas, de esquemas táticos, de estratégia de treinador, de equipamentos sofisticados, de metodologias inovadoras, de preparação física e de muito trabalho em treino. As exigências são outras: hoje o profissionalismo é de uma exigência absolutamente impensável há uns anos para qualquer clube que queira competir ao mais alto nível. Garrincha hoje não teria condições de jogar futebol devia à perna curta seis centímetros, mas se jogasse, não tenha dúvida que eu puniria Garrincha. Nem calcula o que fiz durante a vida sempre que é necessário assumir posições fortes para assegurar que o futuro não venm em derrocada por causa dos erros do presente. Hoje, o Botafogo é resultados de inúmeras indisciplinas, de todos os perdões a dirigentes incapazes, de todas as covardias ocorridas, como a do Conselho Deliberativo ter permitido que Assumpção continuasse à frente do clube mesmo depois de ser colocado em causa em várias operações financeiras que efetuou. É o que eu penso, meu amigo, e convicto que se o futebol brasileiro está no fundo deve-o a uma completa falta de valores, disciplina e competência ao longo de décadas. A suspensão de Del Nero pela FIFA poderia ser o ponto de partida para uma nova Era, mas... apenas se novos valores forem adotados. Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

José Carlos, ocorre-me, sobre Garrincha, dizer que aquele tempo pouco profissionalizado tinha a vantagem de não padronizar tudo como hoje. As exigências de hoje podem esconder certas 'artes' que no tempo antigo sobressaíam devido a uma maior liberdade de expressão dos futebolistas. Foi o caso de Garrincha, que hoje não teria oportunidade de encantar o mundo como fez na Copa de 1962. Abraços Gloriosos.

José Carlos Milito disse...

Entretanto, tem quem goste mais do esporte como ele é hoje (eu incluído). Vendo imagens do mundial de 1970, por exemplo, me dá uma certa angústia ver Gerson parando, pensando, coçando a cabeça antes de fazer um lançamento - nos dias atuais, ele perderia a bola numa fração de segundo. Não satisfeito, ainda fazia propaganda de cigarro: https://www.youtube.com/watch?v=fh9u_amafFI

Propaganda essa, aliás, que popularizou o infame orgulho brasileiro de querer "levar vantagem em tudo". Mas isso é para outro post, noutro dia...

Ruy Moura disse...

Verdade, José Carlos. Essa foi uma das razões da Europa ter deixado para trás Brasil e Argentina. Além da suprema corrupção no futebol brasileiro e argentino, o modo lento e gingão de jogar está completamente desatualizado. E os treinadores são inócuos, tanto fazendo um como outro. O anúncio de "levar vantagem em tudo" foi de uma grande infelicidade...

Ainda sobre o Garrincha: os livros do Carlos Vilarinho mostram que a relação entre dirigentes e Garrincha, Nilton Santos e Didi, entre outros, nem sempre eram as melhores e os atletas eram pressionados muitas vezes devido aos seus excessos. Inclusive através de notas oficiais do presidente, o extraordinário Paulo Azeredo.

Abraços Gloriosos.

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