por CARLOS VILARINHO
especialmente para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário e historiador do Botafogo de Futebol e Regatas
[A narração que se segue reporta-se ao II Volume da coleção ‘O Futebol do Botafogo’ e ao ano de 1961]
Advertido por Paulo Azeredo contra a “autossuficiência excessiva”, na quinta-feira (dia 7 de dezembro), o Botafogo enfrentou o São Cristóvão, no Maracanã. Forçando as jogadas com Garrincha, marcado severamente por três jogadores, o Botafogo custou a abrir o placar. Mas aos 25, Mané chega ao fundo, dribla o lateral Nei e cruza na área. Zagalo apanha do outro lado e manda à boca da meta. Orlando se atrapalha com a presença de Neivaldo e solta a bola. Amarildo aproveita e estufa o filó: 1x0. Nos primeiros 15 minutos da etapa final, o São Cristóvão desperdiçou três magníficas oportunidades. Na primeira, Ivo falhou ao tentar driblar Manga. Depois, Manga defendeu dois tiros à queima-roupa de Russo. No terceiro lance, Nei acertou a trave. Mas aos 23, Neivaldo cruza do fundo. Orlando solta e Amarildo fecha o placar: 2x0. Mais 10 mil de bicho!
Faltando 10 pontos em disputa, o Botafogo (16 pg) conservou a vantagem de 5 pontos sobre o Flamengo e o Vasco da Gama, que afastou o Bangu do páreo. Amarildo chegou aos 12 gols, ainda atrás de Henrique (15).
Na sexta-feira, nasceu a sétima filha de Garrincha, que mal pôde vê-la, pois se concentrou no sábado. Na tarde de domingo, o Botafogo enfrentou o Olaria. O sarrafo comeu solto. Navarro, Haroldo e Casemiro de um lado, Rildo, Zé Maria e Chicão do outro. Aos 4, o Olaria evolui desde a sua defesa e marca um golaço através de Didi: 0x1. Aos 10, Neivaldo levou um chute na região dos rins e não conseguiu voltar ao gramado. O jeito foi deslocar Didi para a direita, fazendo o vaivém. Garrincha descambou para o centro. Aos 20, refletindo o grande poder de reação do alvinegro, numa linda jogada de Didi, Amarildo iguala o marcador: 1x1.
Na fase final, com o apoio de Zagalo, Didi e Ayrton dominaram a meia-cancha. Aos 20, bem lançado por Ayrton, Garrincha atira da entrada da área e vira o placar: 2x1. Mas aos 22, Rildo se contundiu e foi fazer número na ponta esquerda, enquanto Ayrton ocupou a lateral. Nilton Santos se desdobrou em técnica e raça. Na meia-cancha, plantados: Didi e Zagalo (dois gigantes). E na frente, Garrincha e Amarildo prendendo a defesa quase até o fim. O Botafogo ultrapassou o mais difícil obstáculo no caminho do título.
No vestiário, suspeitando de um “incentivo” pago ao Olaria, Sergio Darcy desabafou: “Não podemos condenar os nossos jogadores, porque o gesto deles foi um natural revide aos que desde o início da partida mostraram deslealdade nas disputas. Neivaldo foi seriamente atingido e saiu do campo para o hospital; e Didi, Amarildo, Zagalo e Rildo também eram constantemente visados. O Olaria jogava para ganhar de qualquer maneira e teve o troco. Mas os violentos foram eles e a prova está nos desfalques que sofremos. A atitude do juiz [Guálter Portela Filho] foi absurda e ele é responsável por tudo o que ocorreu”.
O Botafogo (18 pg) conservou grande vantagem sobre o Flamengo (13 pg). O Vasco (12 pg) praticamente saiu do páreo, pois empatou com o Fluminense (0x0). Amarildo chegou aos 13 gols, perto de Henrique (16).
07/12/1961 – 2x0 São Cristóvão, gols de Amarildo. Time: Manga, Rildo, Zé Maria, Nilton Santos e Chicão, Ayrton e Didi, Garrincha, Neivaldo, Amarildo e Zagalo.
10/12/1961 – 2x1 Olaria, gols de Amarildo e Garrincha. Time: Manga, Rildo, Zé Maria, Nilton Santos e Chicão, Ayrton e Didi, Garrincha, Neivaldo, Amarildo e Zagalo.
Fonte do excerto: VILARINHO, C. F. (2016). O Futebol do Botafogo 1961-1965. Edição do Autor: Rio de Janeiro.
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