domingo, 5 de setembro de 2010

Entre sonhos e desmandos...


Ano após ano, mês após mês, semana após semana, acaba tudo por repetir-se. Ontem a equipa de Santana 2010 pareceu-me reviver a equipa de Cuca 2007: atuações parciais brilhantes, erros crassos dos atletas e do técnico, empate. Fazemos dois gols? Tomamos outros dois. Fazemos três gols? Tomamos outros três. Estamos à beira da glória?... A falta de confiança e de orgulho esbanja o inesbanjável.

Um técnico mau a escalar e a substituir contra o Internacional, bom contra o Prudente, mau contra o Grêmio – no próximo jogo deve ter bom desempenho. Ou talvez tudo esteja mesmo a depender de estarem em campo ao mesmo tempo Marcelo Mattos e Jobson, já que o treinador não parece fazer a diferença sem eles.

O treinador não soube ‘ler’ o jogo, não tratou de o ‘matar’ no momento próprio, não antecipou a saída de quem estava mal e acabou por fazer substituições sem critério que estraçalharam a equipa. Tudo isto cansa, amigos. Quando se chega próximo do topo o medo paralisa os medíocres que não deviam lá estar. 2x0 em casa aos vinte minutos não é suficiente para quem não tem os dotes que os botafoguenses aspiram.

Três jogos: uma vitória, um empate, uma derrota. Faz mesmo lembrar 2007 – em pontos, em escassa ambição, em falta de agressividade de atitude. E faz lembrar a defesa rota de 2007. Bastas vezes falei que esta defesa não servia e era necessário contratar. Mas os ‘especialistas’ da bola alvinegros trataram de fechar um plantel desequilibrado uma vez mais. Sempre avisei o receio que tenho desta defesa. Leandro Guerreiro era a chave do sucesso da defesa nos últimos jogos, não era Antônio Carlos?...

Sinceramente, tudo isto faz não se acreditar em vencer seja o que for além de um ‘campeonatinho’ regional, típico de bairro, que outrora foi charmoso e hoje não passa de prémio de consolação para quem não consegue fazer melhor fora do seu ‘bairro grande’.

Nem sequer o estuporado Renato Gaúcho foi fonte para a gana de vencer. E a minha raiva precede qualquer atitude racional que eu possa ter acerca de comportamentos assim – porque nunca pactuei com o medo nem com o desleixo.

O provérbio diz que “quem tem medo compre um cão”. Como cachorro já temos e medrosos também, estamos todos bem protegidos do sonho. E consola-me saber que às vezes exagero e que, afinal, está tudo bem, porque este ano não teremos o sufoco da segunda divisão. Consolo bom para o time de Flávio Ramos, Mimi, Nilo, Carvalho Leite, Heleno, Didi, Nilton Santos, Garrincha, Jairzinho e Túlio Maravilha, não é mesmo?

FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x2 Grêmio
» Gols: Antônio Carlos 15' e Herrera 20' (Botafogo); Jonas 53' e Jonas 41' (Grêmio)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 04.09.2010
» Local: Estádio João Havelange, o ‘Engenhão’, no Rio de Janeiro
» Público: 16.921 (pagantes); 20.592 (presentes)
» Renda: R$ 430.390
» Arbitragem: Ricardo Marques Ribeiro (MG); Márcio Eustáquio Sousa Santiago (MG) e Enio Ferreira de Carvalho (DF)
» Cartões amarelos: Herrera, Maicosuel, Alessandro e Edno (Botafogo); Adilson, Borges, Souza, Lúcio e Gilson (Grêmio)
» Botafogo: Jefferson, Antônio Carlos, Leandro Guerreiro e Fábio Ferreira; Alessandro, Fahel (Caio), Marcelo Mattos, Maicosuel e Marcelo Cordeiro; Herrera (Renato Cajá) e Loco Abreu (Edno). Técnico: Joel Santana.
» Grêmio: Victor, Gabriel, Vilson, Rafael Marques e Lucio; Adilson, Fábio Rochemback (Leandro), Gilson (Roberson) e Souza (André Lima); Jonas e Borges. Técnico: Renato Gaúcho.

22 comentários:

Roma disse...

Prezado Rui,

Concordo com suas observações, mas acho que o principal mesmo é a incompetência do setor de meio de campo. Nosso time só sabe atacar e se defender (leia: observar, passivamente, o adversário jogar).

Esta forma de atuar já se fez presente mesmo nesta última sequência de jogos que nos levaram a posições avançadas na tabela.

É impressionante a incapacidade de manter a posse de bola e assumir o domínio da partida. Foi assim contra o Grêmio, Prudente, Inter, Ceará, Avaí... Ou só sabemos atacar de forma atabalhoada ou ficar na defesa vendo o adversário jogar. Ninguém sabe colocar a bola "no bolso".

E nem é difícil de perceber por que isso acontece, visto que o meio de campo não serve para fazer o que dele se espera. Fahel, Marcelo Matos e seus "alas-auxiliares" Marcelo Cordeiro e Alessandro não têm a menor competência para trocar três passes certos, o que dirá de dar o ritmo de jogo quando necessário. Incluo aí também o Somália, nosso super-voluntarioso jogador, mas que está longe de fazer diferença neste sentido.

Já estou cansado de ver o pobre Jefferson e zagueiros entregarem a bola ao adversário em bicões pra frente (por vezes para os lados) e o time observar, passivamente, o adversário jogar.

Com um meio de campo um pouco mais consistente, poderíamos estar bem mais confortáveis na classificação, mesmo sem o salvador da pátria, Jobson.

abraços e parabéns pelo excelente site de sempre, Roma

Ruy Moura disse...

Assino por baixo, Roma. Tenho ficado contente com as últimas vitórias, mas, sem dúvida, a equipa nãoé consistente nas derrotas, não é consistente nos empates, não é consistente nas vitórias. A sua única consistência é Jefferson - porque defender com as mão é trabalho individual. O ataque são uns vislumbres de Jobson e Maiocsuel. Nada mais.

Tenho que me vacinar de vez e não perder tempo com tão mau futebol. Que o campeonato brasileiro é competitivo, sem dúvida. Mas competitivo abaixo da mediania. Como pode uma equipa inconsistente como a nossa estar em 3º lugar?

A única esperança de bom futebol nos próximos tempos chama-se 'Mano Menezes'. Oxalá que resulte como treinador de tão bons jogadores que despontam e que vão para a Europa deixando o Brasileirão 'viúvo'.

Abraços Gloriosos!

IBR FÉ ICAPUÍ disse...

Assim como você, meu sentimento é de raiva e a toda hora me pego pensando como poderia estar feliz com uma bela e tranquila vitória que se desenhou e que mais uma vez disperdiçamos. Em casa!(PKWZRYÇ!)
A atuação de ontem realmente lembrou aquele time treinado pelo Cuca. Em alguns momentos nos encheu os olhos com toques rápidos, verticais, belos e inteligentes. Infelizmente também se assemelhou com os gols perdidos - que falta faz o Jobson; o descontrole emocional - que falta um meio campo que consiga cadenciar o jogo, como analisou o Roma; e as falhas da defesa - apenas cerca, mas não combate, assiste. O ataque combate mais do que os volantes e a defesa. Os alas não conseguem atacar e nunca estão na defesa quando somos atacados, forçando a saída da cobertura, sempre com consequências perigosas. Se não fosse o Jeferson...
Penso que repetir as substituições que deram certo no jogo passado não obteve êxito pelo simples fato de que os adversários possuem características muito diferentes.
Ou seja, a substituição não pode ser uma questão de sorte, mera superstição, mas estudo do adversário, conhecimento do elenco e leitura do jogo.
Somos exigentes sim, impulsionados por nossa história gloriosa e pelo mesmo motivo um tanto exagerados, mas sempre fiel - "características inscritas no DNA botafoguense". Afinal estamos no G4 e continuo acreditando que estaremos na Libertadores em 2011.
Abraço, melhoras. Saudação botafoguense!
E.T:
O historiador Thomaz Pompeu Sobrinho cita a Ponta-Grossa, em Icapuí - terra da lagosta, distante cinquenta quilômetros da praia internacional de Canoa Quebrada, como o primeiro lugar aportado por Vicente Pinzon - navegador espanhol, meses antes de Cabral na Bahia. Até qualquer dia! (rsrsrs)

Anónimo disse...

Rui,
Quando fizemos dois a zeros aos vinte minutos, pensei... é hoje, vamos aplicar uma goleada histórica. Aos poucos o jogo foi mudando e comecei a lembrar-me do Atletico Paranaense, quando ganhavamos de 2 a 0 e perdemos por 3 a 2. Será sempre assim ? Como podemos viver com a imprensa tentando transformar o entregador LG em heroi botafoguense? É demais.
abs.
Carlos

Ruy Moura disse...

É isso mesmo, Augusto. Parece futebol de ceguinhos em que tudo acontece ao acaso. Não parece haver estudo nem plano dos jogos. Qualquer equipa de bom nível envia técnicos auxiliares para estudo do adversário, prevê alternativas e faz substituições táticas e de jogadores consoante o andamento dos jogos, e não como se tudo acontecesse sempre de igual modo. Falta cada vez mais inteligência aos protagonistas do nosso futebol.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Carlos, a qualidade da imprensa é tão má quanto a qualidade dos futebolistas que destaca. Por exemplo, o tão propalado 'professor' Lúcio Flávio seria capaz de ensinar o quê a quem?

O que me custa é que não sejamos capazes de nos livrar dos mesmos erros de sempre. Parecem garotos imbecis incapazes de aprender o b-á-bá. E acham isso normal, pelo que se depreende das suas declarações ao nível de uns 50 de Q.I.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

ANARQUIZANDO O FUTEBOL

Onde está o futebol libertário?



jogadores

Antes eram chamados de boleiros, tinham um estilo próprio que combinava paixão pelo futebol e uma certa atitude própria de... boleiro, quase sinônimo de vagabundo. Hoje são atletas. Submetidos a todo tipo de investimento médico-fisiológico ou psicológico, exibem sua dócil conduta babaca e conciliadora no mercado da bola, que são os cadernos especializados, os sites e, sobretudo, os programas de TV do tipo mesas redondas. Nestes, alimentam a sanha autoritária e/ou marketeira de apresentadores. São capital humano do mercado da bola, na mão de espertos empresários.

técnicos

Erigidos como o mais alto grau dos especialistas da bola, são chamados, subservientemente, de professores. Maus humorados, folgados ou mandões, são administradores do capital humano. Tem um que adora ser chamado de manager: um profissional especializado do mercado da bola. Expandem seus negócios de clube-empresa e escalam os times segundo o grau de subserviência dos jogadores e os lucros possíveis. São os donos da bola: ganham sozinhos e perdem em conjunto.

torcedores

Muitas vezes é um trouxa que paga ingresso ou a assinatura da TV para ser regularmente desrespeitado pelos negociantes e suas mercadorias. Mas é, também, o covarde agrupado em gangues, que são chamadas de torcidas, para dar vazão à sua vontade de extermínio como compensador de emoção na sua vida babaca. São relegados aos currais da arquibancada e se portam como gado; às vezes há um estouro da manada. Mas, aí, a polícia entra em cena e contém a situação... na porrada.

a paixão e a revolta

Diante desse festival de babaquice, caretice e gente babaca, o que resta, para quem gosta de futebol, é a paixão e a revolta. Paixão pelo seu clube e revolta diante de um futebol que, além de tudo o que foi dito, é de péssima qualidade, ou melhor, é ruim. Nele falta o que faz o futebol para um apaixonado: a liberdade e o risco, bola e o jogadores soltos em campo e na vida, partindo para cima dos adversários como um a-ni-mal!

Anónimo disse...

Fonte:

Boletim eletrônico do
Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertária
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
Ano IX, no. 100, agosto de 2008

Gil disse...

Rui,
Como estás?

Será que a culpa está nos jogadores que não possuem espíritos vencedores? De 2007 até hoje temos o lento flavio, alessandro, leandro guerreiro e outros. A partir do treinador cantor, chegaram cone fahel e mais alguns.
Além disso temos dirigentes que se revezam no comando e pensam pequeno.

Quando passei um tempo fora do Rio de Janeiro, percebi o quanto precisamos de conquistas nacionais, pois ficava irritado com as gozações dos campeonatos regionais e a estigma de fogo de palha ou cavalo paraguaio.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Caro amigo 'anarquista', eu poderia ter escrito isso, porque é exatamente isso que penso. E o que me sobra do futebol é apenas paixão pelo clube e raiva de tanta mediocridade de dirigentes federativos, de arbitragens, de dirigentes de clubes, de comissões técnicas e jogadores. Salvo raras exceções, são verdadeiramente 'babacas'. Basta ouvi-los com metade da nossa inteligência e sentimo-nos agredidos. Cada vez estou mais longe do futebol. Lentamente... mas cada vez mais longe.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

São medíocres, Gil, quase todos os que andam em volta do futebol. No nosso caso precisávamos de um dirigente acima da média que fizesse uma 'limpeza gestionária' total.

Todos nós vibrámos com o campeonato carioca por falta de títulos e pelo prazer dos cathartiformes serem penta-tri-vice, mas sejamos claros: campeonato do Rio é uma espécie do campeonato de Lisboa que foi extinto há décadas por falta de interesse - e tinha três grandes clubes à época: Sporting, Benfica e Belenenses.

Abraços Gloriosos!

'anarquista' disse...

Frente à boa recepção(melhor do que eu esperava) ao artigo do Nu-Sol, não veja problema em divulgar outro artigo acerca do futebol sob a perspectiva libertária. Dessa vez mais focado em um dos romancistas-filósofos ao qual mais admiro - Albert Camus, Nobel de Literatura de 1957:

http://www4.pucsp.br/ponto-e-virgula/n3/pdf/2-pv3-acacio.pdf

Espero que aprecie!

Ruy Moura disse...

Meu querido amigo 'anarquista' você está positivamente 'abusando' de mim: eu fui goleiro desde sempre na escola e no exército (durante o serviço obrigatório), Camus é um dos meus autores preferidos e as minhas primeiras leituras políticas aos 14 anos, que estendi para toda a minha vida, foram Kropotkine, Malatesta, Proudhon e Bakunine. Também li Stirner, mas trata-se de um individualista absolutamente radical que abandonei. Não obstante, foi por causa de Stirner que nunca me filiei num partido político, apesar de ter feito vida política como 'independente'. A frase de Max Stirner, que cito de memória era a seguinte: "Não me posso filiar num partido político que me aceite como seu filiado". É notável. E artigo sobre Camus e o futebol também é notável - e poderia também ter sido escrito por mim.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

O Nu-sol é muito bom.

Abs.

'anarquista' disse...

Isso me é uma grande (e boa) surpresa.

Passei nesse excelente blogue que costumava visitar tempos atrás (quando ainda não tinha me desligado do fanatismo por esse apaixonante clube que é o Botafogo) e despretenciosamente resolvi repassar um pequeno texto que li faz uns meses. O que acontece é que me deparo com um conhecedor de teoria anarquista (quiçá da prática), algo que, convenhamos, é bem raro! Fico muito feliz pela surpresa.

Dos citados não cheguei a ler Stirner ou Malatesta, mas consegui através de outros estudos ter uma noção do pensamento de ambos. [Camus inclusive teve bastante influência de Stirner, e disserta sobre sua filosofia no livro "O Homem Revoltado".]

Eu não tenho ligação com o pessoal do Nu-Sol, apenas acompanho assiduamente as publicações deles. Mas colaboro com o site "Protopia", que reúne textos dos anarquistas clássicos(ou precursores do anarquismo, como Etienne de La Boétie), fazendo traduções do inglês, do espanhol, e às vezes, do frânces, e também temos um grande número de textos de anarquistas contemporâneos, a exemplo de Bob Black e Hakim Bey.

Se tiver interesse, é muito bem-vindo:
http://pt-br.protopia.wikia.com/wiki/P%C3%A1gina_principal

Abraços!

Ruy Moura disse...

Estimado amigo ‘anarquista’, a razão pela qual fui durante toda a vida consistentemente irreverente e incómodo deve-se a ter juntado uma ‘alma propícia’ com certos ‘textos propícios’ que me acompanharam na praxis. Na verdade, tenho um certo individualismo ‘stirneano’ associado à profunda solidariedade de Malatesta, por exemplo, mas faço sempre opções à maneira de Kropotkine.

Concilio-me na vida profissional dedicando-me à investigação e à publicação de estudos que traçam linhas estratégicas para a qualidade de vida das populações, em diversos domínios da vida social. A crítica ao mundo contemporâneo que estraçalha os estados puros / relacionais da ‘qualidade de vida’ e a defesa de um devir que recoloque a utopia no seu lugar privilegiado são coisas essenciais. Para mim continua a ser importante fazer perceber às pessoas que todos os meios imateriais e materiais de que dispomos resultam de um longo percurso de utopias iniciadas na vida das cavernas. “Ir à Lua” é uma coisa interessante como lema, porque permite-nos lembrar aos homens que, realmente, foram materialmente à Lua, mas, simultaneamente, as suas almas demitiram-se de ir à Lua todos os dias da sua vida.

É certo que hoje assestamos as nossas baterias nesse neoliberalismo humanamente infame, mas tudo começou quando, em plena revolução industrial, decisiva na opção de um modo de produção, Marx ganhou a luta contra Bakunine e os comunistas destruíram todos os bastiões anarquistas e anarco-sindicalistas, ou simplesmente engoliram-nos dentro do partido, como aconteceu em Portugal, deixando o caminho livre ao que temos hoje. Os maoístas perceberam bem a semelhança entre as hierarquias e as autoridades fascista e comunista.

Mas creio que a essência da alma humana é anarquista e não comunista, razão pela qual os ideais do anarquismo como “forma suprema da ordem” existirão enquanto o homem existir. Entre outras opções, penso que a corrente eco-anarquista tem uma abordagem muitíssimo interessante a uma certa espécie de inumano, isto é, o centro do universo não somos nós, mas todos os seres vivos em interação – além, claro, de uma crítica justíssima à direção dada à tecnologia ao serviço do capital.

Evidentemente que só entende isto quem persegue a utopia. Um dia, numa conferência em que eu era palestrante, uma pessoa da assistência questionou-me, no período de perguntas e respostas, se o que eu defendera não seria ‘utopia’. Sorri e respondi-lhe: “Obrigado pelo elogio.”

Duas notas: (1) tenho lecionado uma disciplina de sociologia do trabalho e forneço ‘bibliografia alternativa’ ao stato quo; por isso, um ‘livrinho’ fácil de ler, denominado “A Abolição do Trabalho” (Bob Black), faz parte; (2) o sítio Proptopia é de uma qualidade inexcedível.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Perdão, o sítio chama-se 'protopia' e não 'proptopia'.

Aconselho os leitores a entrarem no 'protopia'.

Abraços.

Ruy Moura disse...

Caro amigo, aceda a http://www.botafoguismo.blogspot.com/ e leia os símbolos e as 'entrelinhas'.

Abraços Gloriosos

'anarquista' disse...

Amigo Rui, penso que todo ser busca, de maneira ou de outra, uma utopia, digo, um 'lugar ideal'. Como a palavra utopia ganhou historicamente outro sentido além do estritamente terminológico, e agora é simplesmente traduzida como 'lugar impossível', a maioria das pessoas levianamente nega seguir qualquer tipo de utopia.

A utopia da sociedade de controle, da democracia onde seremos todos "cidadãos do bem", empregados amantes dessa condição, que lutam - segundo o protocolo estatal-reformista - por MAIS trabalho, mais segurança(ou seja, mais vigilância, controle e repressão). Infelizmente estas são utopias que estão a serviço da hierarquia.

Me recuso a perseguir tais utopias tirânicas! [Ou melhor, essas 'distopias' com máscaras democráticas]




Tenho algo a dizer sobre o movimento anarquista: desgraçadamente os episódios de calúnia por parte de Marx acerca dos primeiros anarquistas (Bakunin e Proudhon) na Primeira Internacional, acredito eu, foram decisivos para que a história tivesse o rumo que teve. É de certo um pouco angustiante constatar isso. Mas a URSS caiu e acho que agora o anarquismo tem uma chance de se sobressair no ativismo anti-capitalista. Não mais pelo sindicalismo, que hoje não tem nada de revolucionário, mas por novas táticas.

Não sei se, viajando ao redor do mundo, você teve a oportunidade de conhecer Okupas (ou "Squatts"), que na minha opinião constituem no mais importante do movimento anarquista atual. Embora me agrade mais as táticas "ocultistas" propostas por Hakim Bey, se forem aliadas as noções de "Zona Autônoma" com as das antigas comunidades intencionais. Prefiro o ocultismo e o anonimato porque muito da contra-cultura e das mais novas formas de constestação social foram absorvidas pelo Estado ou pelo capital, como por exemplo os diferentes estilos de vida como o hippie e o punk, que se tornaram mera mercadoria - e não prevejo futuro diferente para o "folklife" que possui grandes festivais, principalmente em Seattle.

É ótimo para o status quo "legalizar" essas okupas, absorvê-las! Caso que me lembra de Vargas e a norma-lização sindical.

Sigamos perseguindo o lugar ideal, ou pelo menos nos aproximando ao máximo deste, libertando-nos agora dos diversos autoritarismos exercidos não só pelo punho do Estado, mas também pelas mãos dos cidadãos do bem.

Desculpe de me excedi demais no número de caracteres ou numa eventual expressão de paixão nas minhas palavras.

Abraços!

Ruy Moura disse...

Caro amigo, sempre me recusei a ceder às autoridades que eu próprio não legitimo. Cheguei ao ponto de não apertar a mão a uma alta autoridade, escapulir-me de um jantar oficial, etc.

Porém, não é fácil fazê-lo mediante comportamentos individuais ou células pouco expressivas. Por exemplo, os okupas em Portugal acabaram anulados pelas autoridades e, de alguma forma, são marginais à sociedade humana predominante que usa os movimentos 'marginais' para reforçar o seu próprio poder no longo prazo. Ora, eu não quero ser 'marginal' à sociedade humana nem objeto de reforço do poder, pelo contrário. Eu quero mudar a sociedade. Eu quero uma coisa muito mais justa do que MAIS trabalho, eu quero MENOS E MELHOR trabalho. Por exemplo, defendo isso publicamente e escrevo-o nas conclusões dos meus estudos.

Os okupas são válidos, o manifesto Unabomber foi importante, mas são movimentos razoavelmente isolados e datados. Pelo menos foram-no em muitos países. Mesmo as propostas de Hakim Bey - é necessário aprofundá-las na linha que o meu amigo defende.

Por outro lado, ios cidadãos protagonistas são geralmente pessoas sem estrutura suficiente para, no futuro, perseguirem a utopia. Conheci algumas dessas jovens pessoas e, passados 10-15 anos, a maioria foi absorvida pelo sistema, trabalha que nem escravo para sustentar o filho que nasceu, etc. Muitas das opções dos jovens tornaram-se, como muito bem disse, meras mercadorias absorvidas pela nova onda de consumo.

Ora, o que eu preconizo são associações ativas, com associados militantes, sejam ligadas ao eco-anarquismo sejam ligadas a outras correntes libertárias, que consigam estruturar um manifesto, uma política, um método e uma prática visando atingir utopias pelo esfacelamento de práticas meramente capitalistas. O tema central, quanto a mim, é a criação da 'sociedade do lazer' na qual cada um de nós terá espaço e autonomia.

Mas isso é difícil explicar por este meio. Porém, creio que o Marx afundou-se nas suas calúnias, o Lenine abriu o caminho a Stalin e depois de 1989 há caminho para as teorias libertárias reganharem fôlego porque correspondem aos anseios profundos do cerne humano.

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Veja com o que sonha uma ex-okupa portuguesa: http://cadernosociologia.blogspot.com/2009/01/okupas-em-portugal.html

O sentido da intervenção comunitária foi-se...

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Abraços Gloriosos!

'anarquista' disse...

Suas colocações acerca das okupas são importantes. Falta realmente um estruturação da tática. Não tenho sinceramente nenhuma objeção a fazer quanto ao que disse.

Desfocando um pouco o assunto, anteriormente você falou um pouco sobre seus estudos e que leciona na área da Sociologia. Gostaria portanto de convidá-lo à, se houver algum artigo de sua autoria seja sobre o Anarquismo ou qualquer que tema sob uma abordagem contestadora do status quo, publicá-lo lá no Protopia.

Não quero de maneira alguma que você se sinta obrigado à fazê-lo. Mas enfim, se tiver interesse eu posso te auxiliar lá no site, mas basicamente qualquer um pode divulgar e editar textos até mesmo preservando o anonimato - e sinceramente não me lembro de um caso sequer de vandalismo. [E mesmo que houvesse, são facilmente reversíveis devido ao sistema Wiki.]

Abraços!

Ruy Moura disse...

Caro Anarquista, obrigado pela sua oferta. Há muito tempo que não escrevo textos contestatários, por razões diversas e, sobretudo, por questões táticas. Há diversos modos de lutar, e a melhor forma é, muitas vezes, no território do 'inimigo' com as tais táticas de 'ocultação'.

Tenho pugnado por sistematização técnica de um conjunto de ideias práticas que desenvolvo a partir dos estudos. Mas se pensar em sistematizar algo relativamente ao que propõe, contarei consigo. Obrigado.

Meu e-mail: mundobotafogo@gmail.com

Abraços Gloriosos!

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