De 'vergonhoso' a 'imbatível'

Roberto Porto, o jornalista botafoguense que designa o nosso clube como o seu maior amor imaterial, exemplifica bem como os botafoguenses se comportam nos momentos de maior tristeza e de maior alegria.

Porto, após a derrota do Botafogo por 6x0 para o Vasco da Gama no campeonato carioca deste ano, escreveu o seguinte:

“Justamente no ano em que completa 100 anos da sensacional conquista do Campeonato Carioca de 1910 e que recebeu da imprensa o apelido de ‘O Glorioso’, o Botafogo tomou do Vasco uma surra homérica. (…)

Não vou dizer que desisto, que tiro meu time de campo, porque sou profissional do jornalismo. Mas que me dá vontade, isso dá.

A partir de domingo, renegando histórias de heroísmo (…) vou tratar o clube como ‘Botafogo – O Vergonhoso’. (…)

O que falta para maltratar ainda mais nossa apaixonada torcida?

Nada, rigorosamente nada.

Por isso, meu blog de hoje termina aqui, sem foto, de luto e sem esperanças de dias melhores.” [o realce a negrito é da minha autoria]

Um torcedor exagerado, à Botafoguense clássico, queimou a bandeira em pleno estádio.

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Porém, menos de três meses após, justamente 84 dias depois, Roberto Porto escreve, sob o título ‘Botafogo abate urubu a tiros’, não apenas com esperança, mas com muitas certezas, o seguinte:

“O Botafogo de Futebol e Regatas – eterno orgulho do futebol mundial – conquistou o título de campeão carioca de 2010 justamente diante de seu mais odiento rival, o Clube de Fragatas da Beira da Lagoa. (…)

E mais: o Botafogo impediu, jogando de maneira febril, armado até os dentes e atirando nos urubus, que o Clube de Fragatas da Beira da Lagoa conquistasse o seu tão sonhado título de tetracampeão carioca.

O Urubu, agora, vai entrar em crise.

Chora, urubu, chora, o título agora é do imbatível Botafogo...” [o realce a negrito é da minha autoria]

Um presidente exagerado, à botafoguense clássico, acrescentou que com o time do campeonato estadual iria até à Lua.

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E depois da premonição de Roberto Porto, o urubu entrou mesmo numa crise da qual ainda não vislumbrou sair!

Companheiros, que botafoguense não se revê nos textos ‘extremistas’ de Roberto Porto?...

Se há dúvidas, leiam os leitores o que se escrevia acerca da torcida botafoguense já em 1907 [composições minhas com base nos textos dos jornais e usando citações].

Os sócios apresentavam fitas pretas e brancas nos chapéus e "torciam de maneira ostensiva e exagerada pelo time protegido, vaiando os adversários mesmo quando esses estavam machucados e invadindo o campo para comemorar os feitos", manifestando um comportamento inédito nos gramados brasileiros (Correio da Manhã, 1907).

Os botafoguenses chegaram a “apupar senhoritas presentes aos estádios”, que, “chocadas com a algazarra”, abanavam-se sem parar, abrindo os seus “leques franceses e ameaçando toda sorte de desmaios e ‘faniquitos’ contra os deselegantes botafoguenses” (Gazeta de Notícias, 1907).

Companheiros, sendo certo que Flamengo e Vasco da Gama ainda não possuíam equipas de futebol, terá sido o Botafogo, entre os leques das escandalizadas senhoritas tricolores e os assobios de torcedores entusiasmados, que inaugurou uma fervorosa paixão futebolística e uma relação especial entre jogadores, torcedores e o próprio clube – coisa que se mantém até hoje de modo absolutamente único.

Na verdade, em 2009, assisti no estádio do Maracanã, ao vivo, a uma modesta e ululante torcida botafoguense – a qual também integrei – tornar absolutamente muda a dita ‘maior torcida do mundo’.

BOTAFOGO, PAIXÃO e FUTEBOL são uma mesma coisa!

Texto de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)

Blogue de Roberto Porto, Correio da Manhã e Gazeta de Notícias