No dia de aniversário do Glorioso, o Jornal do Brasil, de 12.08.1984, Sandro Moreyra, saudoso jornalista botafoguense, publicou o seguinte na sua coluna Bola dividida:
“O Botafogo é um clube realmente diferente. Outro dia fez 90 anos. Hoje está fazendo 80. Caso raro, não? Mas não foi o título suíço que rejuvenesceu o velho clube. A história é outra. O Botafogo aniversaria, em verdade, três vezes ao ano. Explico. O atual Botafogo é o resultado da fusão do Botafogo de Futebol com o de Regatas. Este nasceu em 1894. O de futebol, em 1904. Juntaram-se em 1942, a terceira data a ser comemorada.
O aniversariante de hoje é, pois, o Botafogo de Futebol. Aliás, o mais autêntico, o mais forte, o de maiores glórias. Essa afirmação assim deve causar estranheza às gerações mais novas, que tem do Botafogo a falsa idéia de um clube perdedor, mais para pequeno do que para grande. Ledo engano, meus jovens. A começar pela imensa torcida que possui, o Botafogo não é e jamais será um pequeno clube.
A imagem distorcida de hoje resulta de um somatório de erros que seus dirigentes vêm cometendo de uns dez anos para cá. Principalmente daqueles que ao vender a sede e o campo de General Severiano arrancaram o Botafogo de suas raízes, de seu ambiente, de sua gente. Atirado em Marechal Hermes, o clube perdeu a sua personalidade. No distante subúrbio militar continua sendo um estranho e um intruso. Ficou sem seus frequentadores da Zona Sul e não ganhou nenhum do local.
Antes disso a história do clube era escrita em termos luminosos. Por muitos anos o Botafogo viveu intimamente ligado aos melhores momentos do futebol brasileiro. Sua presença foi marcante nos três títulos mundiais, através da colaboração de craques como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zagalo, Amarildo, Gérson, Jairzinho, Paulo César, Roberto. Nenhum clube em nenhuma época cedeu tantos jogadores à Seleção Brasileira quanto o Botafogo.
Nas homenagens que a França prestou aos 80 anos de Maurice Chevalier, perguntaram ao cançonetista famoso se ele chorava sobre seu passado. Chevalier iluminou-se, ao responder: - Por que vou chorar se meu passado é magnífico? Ao ver seu clube fazer 80 anos, os velhos botafoguenses não têm por que chorar pelo passado, que foi também magnífico, mas se revoltar pelo presente ao ver o Botafogo tragicamente entregue a tanta incompetência e tanto desamor.
Os autênticos botafoguenses só podem lamentar essa situação. Raros deles vão ao clube. Mas continuam amando o Botafogo e ainda se enternecem quando vêem, tremulando nos estádios, a velha bandeira da estrela solitária que não tem culpa dos erros que em seu nome cometem e, lá no seu mastro, balança modesta e grave como convém a quem tanto lutou e tanto venceu.”
Referências: Jornal do Brasil, 12.08.1984; texto de enquadramento de Rui Moura (Mundo Botafogo); notícia digitalizada e gentilmente cedida por Mauro Axlace, colaborador do Mundo Botafogo e editor do blogue Aqipossa.
2 comentários:
Rui,
Não sei se é a idade ou a situação do Botafogo, mas sempre que leio essas notícias que nos remetem ao passado Glorioso me emociono.
Já comentei isso!
Veja que essa matéria é de 1984, ou seja, passados 27 anos está atualizadíssima.
Estou convicto que se não mudarem os estatutos do clube pereceremos!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Concordo, Gil. Os Estatutos do BFR são profundamente antidemocráticos. É o controlo por uma camarilha que nada tem a ver com o perfil varguardista de outrora do Botafogo.
Abraços Gloriosos!
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