quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Botafogo 2x1 Madureira

As minhas observações ao jogo têm em consideração que estamos à beira de entrar na Taça Libertadores, que privilegiamos, e não em busca de um simples título carioca.

Se o objetivo fosse o campeonato carioca, eu diria que a equipa deu boas indicações de evolução futura e certamente estaria em condições de atingir o auge da sua forma nas semifinais e finais do campeonato carioca, embora o seu treinador tivesse que fazer um grande aprendizado ao longo desse percurso e a equipa tivesse que realizar um esforço grande jogando sem suplentes à altura do time principal.

Porém, o objetivo é a Taça Libertadores, e os erros que a precedem são enormes.

Em primeiro lugar, deve-se realçar que Chico Fonseca garantiu que tínhamos a equipa formada até ao Natal de 2013, mas a verdade é que ainda temos como referência atacante… Henrique!!!

Em segundo lugar, há um erro de nomeação de um treinador sem qualquer experiência de direção de uma equipa principal, que tem mostrado a sua inexperiência nos três jogos que fizemos, designadamente ontem quando desarticulou a equipa com uma substituição mais ou menos absurda para quem está a ganhar por 2x0, tem o jogo na mão e lhe basta gerir o tempo.

Em terceiro lugar, a equipa deveria ter rumado mais cedo para Quito e feito jogos-treino locais; a não fazê-lo, identifica-se o quarto erro, porque tendo ficado no Rio de Janeiro, e não havendo ainda uma equipa entrosada, o time principal deveria ter disputado o 1º e o 3º jogos do campeonato carioca para ganhar ritmo e entrosamento.

Em suma, estamos perante uma gestão absolutamente amadora e desastrosa em vésperas de Libertadores com a agravante de a diretoria permitir mais um desmanche do time, quando a ideia seria reforçá-lo. Uma gestão que implicitamente promete ‘mundos e fundos’ ao deixar passar para a comunicação social negociações com atletas que depois se diz que não é possível contratar porque o seu salário é elevado. Ora, a diretoria não sabia isso previamente? Pensa a diretoria que assim consegue cobrir de poeira os olhos dos torcedores? Na verdade, torna-os ainda mais descontentes por identificarem uma gestão desastrosa, sem quaisquer planos, na esteira de todos os anos anteriores em que apenas conseguiu planear bem uma única contratação: a de Clarence Seedorf. No mais, ou contratou atletas pífios, ou teve sorte nalgumas contratações, como foi o caso de Loco Abreu, oferecido ao Glorioso a custo zero, ou a influência de Loco Abreu sobre Lodeiro, trazendo-o para o Botafogo.

Quanto ao desempenho do jogo de ontem, em vésperas de Taça Libertadores, considero que fica muito aquém do apuramento de forma que deveríamos ter. Sente-se que este já não é, globalmente, o Botafogo de Oswaldo Oliveira, que viveu quase exclusivamente da inteligência e da qualidade de Seedorf. Este futebol parece mais solto e eu não diria que é um 4x5x1 como foi anunciado pela imprensa. Inclino-me mais para que seja um 4x3x2x1, que pode variar em 4x5x1, é certo, mas, sobretudo, tem a potencialidade de se poder alongar num 4x3x3 com os contributos de Lodeiro e de Jorge Wagner pelas pontas. É claro que não temos time propriamente para isso, porque não temos pontas de raiz, mas creio que qualquer desses dois atletas pode dar contributos nesse sentido, fazendo num trio avançado com El Tanque.

El Tanque é, neste momento, a grande incógnita e, quiçá, a peça decisiva para o sucesso ou insucesso já nesta 1ª fase da Libertadores. A sua presença é fundamental, mas não se sabe se estará presente, nem se estará em forma, arriscando-nos a termos no ataque a referência de… Henrique!

Neste jogo viu-se que Jorge Wagner e Bolatti podem trazer contributos importantes, assim como Lodeiro, se subir de forma e se decidir ficar no Botafogo. Porém, o caso do J. Wagner deve ser tratado com ‘pinças’, porque com 35 anos está realmente ‘velho’ para um futebol competitivo, mostrando dificuldades físicas na 2ª metade da partida e perdendo muitas jogadas no corpo a corpo. Ainda assim, dos seus pés saíram bons lances e uma estreia divinal com um belíssimo gol, que teve a sorte da barreira ter errado ao desmanchar-se antes de tempo. Aliás, é fundamental, no futebol de hoje, termos atletas bons na cobrança de faltas, coisa que não ocorreu nos últimos anos e agora ocorre com J. Wagner e Edílson – e que nos pode garantir pontos preciosos.

Bolatti mostrou-se muito importante com a liberdade que lhe foi dada pelo treinador, podendo derivar para qualquer parte do terreno e abrir brechas nas defensivas contrárias. Ontem, apesar de um jogo apenas razoável, contra um adversário cansado, não ganhamos por 3 ou 4 gols porque não existe referência de ataque.

O trio de volantes pode ser uma boa solução, mas as exigências a Gabriel são muitas, já que joga no lado contrário da sua preferência, o que só não se torna um erro porque Gabriel é muito versátil e batalhador.

Na 2ª parte, a substituição de Bolatti por Sassá pode ser considerado um estudo de caso em como um treinador pode ser peça fundamental na vitória ou na derrota. O trio de volantes que segurava a defesa atrás de Bolatti fazia sentido com o esquema montado por Húngaro, mas deixou de funcionar quando se abriu um buraco descomunal no meio campo por onde o Madureira penetrou de uma forma absolutamente ESCANDALOSA! Isto é, o Botafogo deixou de ter relacionamento entre o trio de volantes e os dois atacantes em campo, permitindo que um atleta de um clube pouco competitivo corresse 30 ou mais metros sempre a meio do campo (!!!), em direção ao gol, sem ser intercetado ou importunado, e tendo tempo para escolher o estilo de remate e o canto da baliza onde enfiar a bola. Em três minutos a desorientação foi de tal ordem que o Madureira, com um pouco mais de sorte, poderia ter empatado e talvez mesmo virado o resultado. Ora, isto é INACEITÁVEL!

A situação ocorreu devido à absoluta inexperiência de Húngaro, que destruiu o seu próprio esquema ao substituir Bolatti por um avançado, coisa que ainda estou para compreender a razão. Em qualquer jogo com uma equipa competitiva, nunca mais nos encontraríamos até ao final da partida e teríamos outro desastre à moda do River Plate em 2007. Por outro lado, deve-se realçar a 'inocência' da equipa, porque jogadores experientes internacionalmente cometeriam uma falta, punível com cartão amarelo, a meio percurso por onde Carlinhos corria, anulando o contra-ataque.

Identificando o seu erro, Húngaro retratou-se imediatamente, retirando Sassá que entrara e substituindo-o por Fabiano para segurar o resultado. Duas conclusões saem daqui: Eduardo Húngaro assumiu o seu erro e procurou colmatar a falha quando se apercebeu dela, o que mostra o seu caráter. Caráter completamente contrário ao de Oswaldo Oliveira, que não assumiria o erro, persistiria nele e acabaria por empatar ou perder a partida, atribuindo à fraca torcida presente a derrota que seria exclusivamente sua. Portanto, neste capítulo, conclui-se que Húngaro mostrou que não é o treinador adequado nesta fase; que Húngaro é honesto ao reconhecer o seu erro e redimir-se; que pode trazer um problema sério a Sassá se não assumir, perante os jogadores, o seu erro, ilibando Sassá de qualquer responsabilidade.

Em suma, se tivermos a sorte de passarmos esta fase da Libertadores e termos mais alguns reforços, poderemos fazer uma boa Libertadores se priorizarmos, efetivamente, esta competição, e não o campeonato carioca. Mas é fundamental, entre outras necessidades, que Wallyson ou qualquer outro mostre atleta qualidade de ataque, capacidade de parceria com El Tanque e boa definição no remate final.

Uma palavra final sobre Eduardo Húngaro. Ele é o treinador que temos, mostrou-se completamente diferente da desonestidade intelectual de Oswaldo Oliveira e vamos apoiá-lo nesta tarefa árdua de montar uma equipa sem tempo útil para o fazer. Boa sorte, Duda!

Escrevi demais. Fico-me por aqui por hoje.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x1 Madureira
» Gols: Jorge Wagner, aos 27' e Henrique, aos 46’ (Botafogo); Carlinhos, 81'
» Competição: Campeonato Carioca
» Local: Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro (RJ)
» Data: 23.01.2014
» Árbitro: João Batista de Arruda (RJ); Auxiliares: Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ) e Francisco Pereira de Sousa (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – André Oliveira (Madureira)
» Público: 2.208 pagantes
» Renda: R$ 45.295,00
» Botafogo: Jefferson; Edilson, Bolívar, Dória e Julio Cesar; Bolatti (Sassá, 68' / Fabiano, 88'), Marcelo Mattos, Gabriel, Jorge Wagner e Lodeiro; Henrique (Yguinho, 61'). Técnico: Eduardo Húngaro.
» Madureira: Yan; Marquinhos, Leozão, André e Gabriel (Luiz Paulo, Intervalo); Victor Bolt, Gilson, Ryan e Carlinhos; Vitor Borges (Allan, 37') e Robert (Tiago Barreiros, 57'). Técnico: Antonio Carlos Roy.

8 comentários:

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

O time parece bem acertado. O esquema têm falsos 3 volantes. O Bollati se movimenta bem e até o Gabriel apareceu no ataque. Gostei do Jorge Wagner, parece estar em forma.
Júlio César bem, acertou um cruzamento milimétrico na cabeça do Henrique. Só errou o Eduardo Húngaro ao tirar um volante e abrir o meio na hora errada, colocando o Sassá e depois tendo que tirá-lo, mas este tipo de erro o Oswaldo cansava de cometer e outros técnicos também.

E o Henrique mostrou que não desaprendeu a fazer gol. Pode ser que aconteça o mesmo o que ocorreu com o Rafael Marques.
Lodeiro correu, mostrou alguma vontade..jogou na média.

Com o Ferreyra, Wallyson e quem sabe Jadson, dá para o time marcar mais gols e mostrar um futebol mais redondo ainda.
Parece que o Jadson está vindo mesmo.
Acompanho bastante o futebol paulista e vejo que ele pode ser muito útil ao time. Faz muitos gols e apoia bem.
O Botafogo jogou razoavelmente e o Húngaro mostrou que teve tempo para dar cara e um padrão tático ao time.
Não esqueçamos que foi o primeiro jogo da temporada e ter mostrado algum padrão tático, sem copiar o xiliquento do Oswaldo, foi bom.

Ruy Moura disse...

Aurélio, Húngaro mostrar-se honesto depois de dois anos com um sujeito intelectualmente desonesto, é algo que deve ser realçado positivamente.

Não sou tão otimista quanto ao acerto do time pela simples razão de temer que a escassez de tempo para entrosar a equipa, por absoluta incompetência da diretoria em montar um time atempadamente, possa ser decidiva para a nossa eliminação precoce. Se passarmos, então, sim, poderemos pensar que o acerto vai acontecer á medida das necessidades. Se, atenção, tivermos suplentyes à altura dos titulares e se a Libertadiores for mesmo priorizada.

Posto isso, concordo genericamente com as suas observações, com as ressalvas de (1) J. Wagner estar em forma para sua idade, mas não para as nossas necessidades, porque não tem o vigor de outrora e (2) Henrique não tem a 'elasticidade' de Rafael Marques e não terá lugar na equipa principal, em minha opinião.

Abraços Gloriosos!

MAM disse...

Eu gostei do time e da sua movimentação acho que a defesa se mostrou mais segura apesar da fragilidade do Madureira. O que me preocupa são algumas coisas

Primeiro, quando tínhamos o Seedorf eu não me preocupava com a questão do técnico. Hoje não, sem o holandês não vejo o Húngaro em condições de conduzir a equipe.

Segundo, temos que desde já ter um plano B para questão tática. O Osvaldo fez um belo trabalho mas era um time que jogava numa nota só.

E finalmente o time toca, toca toca... Mas não tem alguém realmente efetivo para colocar a bola para dentro do gol. O Henrique tinha tudo para ser um grande jogador, talvez ate tenha tempo para isso, mas positivamente não é o centro avante que HOJE nós precisamos.

Ruy Moura disse...

Marco, segundo li, o Húngaro pretende montar uma defesa sólida, e eu concordo em absoluto que as viotórias começam por um bom goleiro e uima boa defesa. Temos tido defesas desastrosas, e só mesmo em 2013 a defesa foi razoável. Mas precisamos de uma que seja boa. Foi nessa base, e muitas vezes em contra-ataques rápidos, que as nossas equipas da década de 1960 foram campeãs. nesse iotem a realidade do futebol permanece a mesma. Sem defesa não há campeões.

Também achei a movimentação boa, mas sem o entrosamento necessário para um jogo pela Libertadores para a semana. Esperemos que o Quito tenha feito más contratações (foram 17) e que a crise deles continue bem viva.

Também temo a capacidade de liderança do treinador. Em campo não sei s eo J. Wagner poderia cobrir, de algum modo, a falta das orientações do Seedorf.

O ataque continua um desastre. Ou resolvemos isso super-rapidamente, ou não temos chance na Libertadores.

Abraços Gloriosos!

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

Considero que Wallyson, se mostrar seu verdadeiro futebol (o do Cruzeiro), pode ser muito util. Se Jadson vier, como parece que vem, também será muito importante.

E tenho certeza que se ontem fosse o Oswaldo, manteria o erro e tomariamos o empate..

Ruy Moura disse...

Aurélio, não sei se a forma dessas dois estará 'famosa', mas vamos esperar que sim e que sejam úteis.

Quanto à sua nota sobre o Oswaldo também tenho a CERTEZA ABSLOTUTA que não chegaráimos ao fim com a vitória.

Abraços Gloriosos!

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

Oswaldo diria:
"Empate bom..não estou preocupado..estou tranquilo...esses desocupados me vaiam porque não têm o que fazer.."

Ruy Moura disse...

Exatamente, Aurelio. Palavra por palavra era isso que ele diria.

Abraços Gloriosos!

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