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Do céu para a Alemanha
16/junho/2014
[Paulo Marcelo Sampaio é o autor destas crônicas,
interpretando os protagonistas pelos quais assina; as crônicas publicadas no
Mundo Botafogo são uma gentileza do autor.]
Franz, querido!
Tudo parece muito recente. O tempo por aqui é relativo. Às vésperas da Copa
do Mundo da Espanha, entrávamos num Maracanã que colocava gente pelo ladrão. Lá
reencontramos a seleção brasileira. A mesma que um ano antes nos sapecara duas
derrotas: uma pelo Mundialito, em Montevidéu, em 1981, por 4 a 1. E a outra, em
Stuttgart, menos vexaminosa. Isso não me preocupava muito. Derrota faz parte da
vida. Tínhamos Schumacher, tínhamos Stielike, tínhamos Schuster, tínhamos Hansi
Müller. E tínhamos um maestro, como você foi nas Copas de 1966 e 1974.
Rummenigge não jogava na mesma posição que você, mas era líder. Um líder que
não tinha nascido para isso. Mas aprendera à base de carões. Ainda juvenil,
dando voltas no campo depois de um treino exaustivo, se queixou com o
preparador físico. “Vou parar. Nos joelhos estão doendo. O campo tá muito
duro”, reclamou. “Não é o campo que está duro. Você é que é mole”, respondeu o
preparador. Dali em diante, mudou o foco e se transformou.
Rummenigge ainda era uma criança – tinha 10 anos – quando viu você, um
Beckenbauer pré-Kaiser, jogar com o braço numa tipóia, na final contra a
Inglaterra, naquele que poderia ter sido nosso segundo título mundial, não
fosse o roubo do juiz suíço, com a conivência do bandeirinha soviético. Aquele lance
em que a bola que bateu no travessão e pingou na linha do gol liquidou vocês.
Cansados, exauridos, a partir daquele instante vocês jogavam contra treze. Não
acreditei quando vi o Tofik Bakhramov ser homenageado em Baku. Virou estátua e
nome de estádio no Azerbaijão. E, ainda por cima, numa cerimônia com a presença
de Hurst, o inglês autor do gol que não houve. Muita cara de pau.
Mas eu dizia daquele confronto com o Brasil em 1982. Seguramos até o
finalzinho o empate. Até que um croulinho cheio de ginga inventou um passe e
Junior fez o gol. Perguntei dia desses ao Telê Santana por que ele não levou o
Adílio pra Copa. “Não tinha vaga pra ele!”, me respondeu. “Nem na reserva?
Porque na minha ele seria titular, absoluto”, retruquei. Naquela Copa não nos
encontramos. Talvez por isso cheguei à final. Mas nela também, quem diria!, vi
um outro brasileiro, dessa vez vestido de preto. Será que Arnaldo Cézar Coelho
não nos deu sorte?
Franz, me preocupa essa sua suspensão imposta pela FIFA. Espero que tudo se
esclareça. Você sempre foi um homem reto, que nunca sujou as mãos de lama, a
não ser numa disputa de bola. Seu futebol elegante, sem apelar para os chutões,
inspirou gerações. Verdade que ganhar uma Copa com um gol de pênalti não é das
melhores coisas. mas e ganhar uma Copa em disoputa de pênaltis? Pior? Não
creio. Título é título. Em 2006 não repetimos a façanha de 1974. Mas numa
Alemanha já unificada, unificamos nossa nação. Perdemos. Mas perdemos unidos.
Unidos estaremos. E como reza o nosso hino, Alemanha acioma de tudo.
O melhor dos abraços do
Jupp Derwall
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